Crônicas Dos Dois Mundos escrita por TakeruTakashi


Capítulo 3
Confiança na Dor


Notas iniciais do capítulo

Personagens principais: Joe, Cody, Chikara
Pequena participação: Mimi, Izzy, Matt, Kari, Tai, Yolei



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Confiança na Dor

Era uma manhã clara, sem sequer uma nuvem no céu. Matt, Joe, Mimi e Izzy estavam no shopping comendo fast-food.

-Hey, Matt, você não está preocupado? – pergunta Izzy.

-Com o que?

-Sabe, a possibilidade nem um pouco remota do Tai acabar matando o seu irmão.

Mimi dá um pequeno riso e depois Matt fala:

-O Tai nunca faria isso... – de repente, Matt troca a frase – Ele nunca faria isso porque sabe que a Kari faria pior...

-Falando em morte – Mimi fita Joe – Você vai mesmo à faculdade de medicina?

-Muito engraçada... Pois saiba que vou sim!

-E quando vai ter acesso às vítimas... Quero dizer, os pacientes? – pergunta Matt.

-No terceiro a...

Joe é interrompido quando seu celular toca.

-É a namorada? – pergunta Matt, com uma sobrancelha levantada.

Joe ignora e atende:

-Alô?

-Oi Joe – era Cody, com voz desanimada.

-Oi Cody. Aconteceu alguma coisa?

-Ahn... Você poderia me encontrar agora? É importante.

-Cla-Claro! Onde você está?

-Estou no hospital central de Odaiba.

Todos os alertas na cabeça de Joe são disparados quando Cody fala onde estava. Imediatamente ele altera seu tom de voz e fala:

-Certo, vou o mais rápido que puder...

Joe desliga o celular e Matt pergunta:

-O que foi Joe? Parece que você viu um fantasma...

-Eu tenho que ir gente... Sinto muito!

Joe se levanta e parte em disparada. Os outros três ficam confusos, quando Izzy fala:

-Deve ser sério... Ele abandonou o lanche dele!

-Então... É meu!

Matt ataca a comida de Joe, o que deixa Mimi com vontade de matá-lo em uma interminável tempestade de tapas.

-VOCÊ DEVIA SE ENVERGONHAR! SEU AMIGO ACABOU DE SAIR CORRENDO E VOCÊ NEM QUER SABER O QUE ACONTECEU!

-Seja o que for – agora Matt fica Mimi sério – Ele não vai me falar porque ele nem sabe o que aconteceu... Sem dizer que não vou jogar essa comida fora!

-Mal educado...

...

Joe sai correndo e chega ensopado de suor ao hospital. Ele vê Cody andando de um lado para outro na porta do hospital, então grita:

-HEY! CODY!

Cody se vira e fica grato por ver o amigo. Joe chega ofegante e levanta a mão em sinal de “Me dê um segundo”.

-O que aconteceu com você? – pergunta Cody, estranhando o estado do amigo.

-Eu sai com tanta pressa... Que deixei meu dinheiro no shopping... Tenho certeza que a Mimi vai torrar ele todinho... Mas e você? Que diabos aconteceu?

Cody fecha o rosto. Alguns minutos depois, eles estavam num dos quartos da unidade de emergência, Cody não dissera uma palavra. Joe se assombrara ao ter lido o nome escrito nele: “Hida Chikara”.

Joe fica ainda mais assustado ao ver o estado do avô de Cody: várias máquinas conectadas ao seu corpo, entre elas um monitor cardíaco. “Deve ter sido grave...” pensa Joe.

-Ele foi encontrado assim na rua – a fala de Cody estava tão embargada que Joe mal a reconhecia – Os médicos disseram que não sabem ainda o que foi...

-Cody...

-Eu... Não quero passar por isso de novo! – Cody começa a chorar – Eu não vou suportar! Quando eu perdi meu pai... Chorei tanto! Não quero perder meu vô!

-Por que você me chamou aqui? E não o TK?

-É que... Você quer ser médico... E o TK deve estar com a Kari. Eu não quero estragar o dia dele com isso... Então eu achei melhor chamar você... – Cody olha com várias lágrimas em seus olhos para Joe – Você tem como me dizer se ele vai ficar bem?!

-Olha Cody, não posso fazer isso – Joe vê como Cody estava desesperado – Não fiz a faculdade de medicina ainda. Mas posso te dizer isso: não faça isso! Não entre nesse desespero! Eu já conversei com o seu avô! E sei muito bem que ele vai passar por isso!

-Mas Joe... Eu ouvi a mesma coisa... Quando meu pai morreu...

Aquilo atinge Joe como um soco. Seria mais difícil do que ele pensava tentar passar confiança para Cody, mas esse era seu dever como digiescolhido da confiança.

-Cody, você quer que seu avô morra? – as palavras de Joe saem num tom tão frio que Cody olha para o mais velho do grupo extremamente surpreso e mais ainda ofendido.

-Você está falando sério?! Lógico que não!

-Então acredite nisso! – Joe olha mais intensamente para os olhos de Cody – Então acredite com todas as suas forças que ele vai ficar bem! Acredite que isso será o suficiente! Eu já vi seu avô algumas vezes e sei o quão forte ele é! Você mais que ninguém deveria saber disso! Então nunca, repito, nunca pense que ele vai morrer!

Cody fica em silencio, encarando Joe sem acreditar que aquelas palavras saíam mesmo da boca do tímido Joe.

-Mas e se...

-Cody – agora Joe falava com mais calma – Não pense em “e se”s, não pense no que pode acontecer, mas pense no que é: seu avô está vivo. Ele pode não estar bem, mas está conosco. O que você acha que ele falaria se visse você desse jeito? Ele pode ter desmaiado por qualquer motivo bobo – Cody coloca as duas mãos nos ombros de Cody – Sem dizer que em breve, sua mãe deve estar chegando. Se o pior acontecer, você será o único com quem ela poderá contar! Você tem certeza que quer que ela suporte isso tudo sozinha?

Cody fica alguns segundos olhando para Joe, sem falar nada. Sua mente escapa para a mais interior camada de sua alma. As dolorosas memórias da morte de seu pai ali estavam, a dor mais profunda que ele já sentira. Próximas estavam as memórias da morte de Yukio Oikawa. Ele já havia testemunhado tanto sofrimento para alguém de sua idade que se tornava injusto a possiblidade de ele ter que passar por isso de novo. Dessa vez, porém, se tivesse que lidar com aquilo, ele iria com um prepara emocional muito maior.

...Duas semanas depois...

Cody fica olhando para o rosto de seu avô. O sorriso dele era algo que sempre lhe despertara força de vontade, ele sempre ficava feliz porque significava que ele estava prestes a dar mais uma aula de kendo ou comprara alguns daqueles sucos que era viciado.

Para alívio de Cody, agora aquele sorriso seria eterno. A única coisa que Cody se lembraria de agora em diante. Depois de uma semana e meia lutando contra uma forte pneumonia, adquirida quando ele fora testemunhar a luta dos digiescolhidos contra MaloMyotismon em uma nevasca, Hida Chikara faleceu.

Apesar de chorar por muito tempo, as palavras de Joe soaram nos ouvidos de Cody e ele sabia que deveria enterrar aquela dor pelo bem de sua mãe.

Na casa lotada dos Hida, estava a família de Cody, incluindo tios e primos, os digiescolhidos das duas gerações e alguns amigos de Chikara. Cody não saíra um momento sequer do lado do caixão, nem mesmo parara de olhar aquele sorriso da foto que serviria de última lembrança de seu tão querido avô. O sorriso estava maior que o normal, e Cody sabia muito bem o porquê.

Flashback on

-HEY, CODY! – era a primeira vez que todos os digiescolhidos haviam ido no casa de Cody. Era o aniversário de Chikara  e ele pensava em uma única coisa – SUA AMIGA TROUXE MAIS DAQUELES SUCOS?!

-Vô! Que jeito de perguntar é esse?! – Cody cochicha nos ouvidos do avô, envergonhado de ele ter perguntado daquele jeito, porém Yolei não se importa em responder com um sorriso:

-Claro que eu trouxe senhor Hida! Inclusive... – Yolei levanta duas enormes sacolas, totalmente cheias e pesadas – Uma dessas é só pro senhor! Meus pais me deixaram pegar metade do estoque pro seu aniversário, porque eles sabem como o senhor gosta disso!

Chikara sorrira de tal forma que Kari não resistira a tirar uma foto com sua câmera portátil que já se mostrara várias vezes útil.

-Kari! Você sabe que tirar fotos dos outros assim é falta de educação! – reclamara Tai, sem muita crença na sua repreensão.

-Ah, mas não resisti...

Flashback off

Cody era pessoalmente grato à Kari, que permitira possível que Cody tivesse uma lembrança do último aniversário de seu avô.

Sua concentração na foto é quebrada quando Joe toca seu ombro, com todos os digiescolhidos atrás dele.

-Cody, sinto muito... Sei quanto você gostava dele. Quando eu fui no hospital aquele dia, eu...

-Joe, não se preocupe – Cody dá um sorriso triste e olha novamente para a foto – Se não fosse você, talvez eu não conseguisse passar por isso. Agora eu que tenho que ajudar minha mãe, mas sei que meu avô vai estar comigo, me ajudando. Não é porque ele não está mais aqui que tudo que ele me ensinou, seus conselhos, o kendo, as palavras amigos, não estarão mais comigo... Eu só tenho que agradecer você.

Joe olha bem para o mais jovem dos digiescolhidos. Apesar de sua idade ser pequena, seu coração já era o de um adulto.

“O mundo pode ser um lugar hostil e cruel para alguns de nós. Não é fácil viver em lugar assim. Isso se torna impossível sem ter alguém em quem confiar. Essa pessoa pode não ter todas as respostas nem ser capaz de mudar sua realidade, mas devemos acreditar que nela podemos encontrar todo o apoio que será necessário. Confiar pode ser um dom, mas merecer a confiança de alguém é um dom maior ainda”. Creditis fidelibus.


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