Um Pardal Que Tinha Medo De Voar... escrita por Sweet Mia


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Bem, meus amores, desta vez nem demorei assim tanto a postar pois não? Agradeço às minhas queridas leitoras Pegoretti e Green Eyes os reviews que deixaram no último capítulo é bom saber que alguém lê aquilo que eu escrevo. =)
Bem este capítulo foi difícil de escrever, o Lucas não estava particularmente cooperante mas acho que ficou mais ou menos como eu queria.
Vemo-nos lá em baixo....



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–Nora!

Eu tinha-a abraçado devagarinho e de repente vi-a desmaiar nos meus braços. Provavelmente tocara nalgum ponto sensível. Estava assustado e precisava de ajuda e fiz a única coisa razoável. Chamei a minha irmã.

–Irene? Vem cá depressa. Preciso da tua ajuda…

A minha irmã apressou-se a chegar ao pé de nós. Pegou suavemente no pulso de Nora e depois olhou para mim.

–Porque é que não me deixaste vir ajudar-vos mais cedo? Ela está doente, Lucas, e tu sabias disso.

–Tive medo, ela estava tão fraca e nervosa…Não a queria assustar mais, tive medo que ela piorasse. Ela não devia estar a acordar?

–Está quase a acordar. Ela está muito mal, Lucas, temos de a levar ao hospital. O pulso está fraco, ela está cheia de febre e custa-lhe a respirar.

–Ajuda-me a tratar dela…Por favor. Não a leves ao hospital. Pelo menos não já… - eu sei que não estava a ser coerente, que o hospital e cuidados médicos eram o que ela mais precisava agora mas temia o que iria acontecer…Nora parecia tão frágil emocionalmente que temia que com toda a confusão, assistentes sociais, perguntas e mais perguntas que ela se fechasse ou que a levassem para longe…Que ficasse num orfanato algures, ignorada como sempre. Não podia deixar que lhe fizessem isso.

Estranhamente, Irene pareceu ler-me os pensamentos. Ela não sabia quase nada da história da Nora (não que eu soubesse muito…) mas deduzira o mais importante.

–Tens razão…É melhor não a levarmos ao hospital agora. Eu posso tratar dela..

No meu colo, os olhos verdes do meu passarinho começaram a abrir-se. Ela assustou-se ao ver Irene junto a nós, os olhos transpareciam um enorme medo e ela começou a tremer. Eu acariciei-lhe suavemente a face para lhe chamar a atenção. Ela olhou para mim. Falei-lhe gentilmente…

–Tem calma…Desmaiaste e eu fiquei preocupado por isso pedi ajuda à minha irmã. Eu falei-te da Irene lembras-te?

Ela acenou que sim. Mas ainda estava a tremer.

–Está tudo bem. Não precisas de ter medo, só te queremos ajudar. – Tentei confortá-la. Ela aconchegou-se mais a mim como se tivesse frio mas olhou para Irene com curiosidade pareceu-me que ela sempre tinha observado a minha irmã de longe e estava ligeiramente surpreendida por a ver tão perto.

Irene tinha-se limitado a observar-nos, provavelmente a tentar compreender a melhor aquela menina a quem nunca tinha ouvido a voz. Acho que se estavam a analisar mutuamente. Não tinha a certeza do que Nora estava a pensar, provavelmente se podia confiar em nós ou algo semelhante mas lia a minha irmã tão bem como se ela estivesse a pensar em voz alta. Irene estava preocupada, principalmente com o estado de saúde de Nora e a planear qualquer coisa…

–Em que tanto pensas tu, maninha?

A minha irmã, arrancada bruscamente dos seus pensamentos demorou uns segundos a responder.

–Em maneiras de vos ajudar…Principalmente a ti, Nora. – Dirigiu-lhe um sorriso e ela corou, envergonhada. – Isto é supondo que vais deixar-nos ajudar-te. Quero examinar-te como deve de ser, mas agora é melhor esconder-vos antes que venham aqui procurar-vos e obrigar-vos a ir para as aulas. Há uma porta por detrás da minha secretária. Antigamente esta escola tinha uma enfermaria ao lado da biblioteca. Agora está desactivada mas eu limpei-a e está tudo em arrumado e pronto a funcionar. Às vezes gosto de ir estudar para lá. Podem ficar lá até à hora de saída e depois logo vemos como as coisas se desenrolam. Parece-vos bem?

– Obrigada Irene. Deixas-nos ajudar-te Nora?

Ao ver todas as atenções focadas nela, o meu passarinho corou e percebi que estava a ficar nervosa.

–Shhh…Tem calma… Sabes que ficas pior se te enervares. 

 Nora conseguiu apenas acenar afirmativamente antes de ter mais um dos seus aflitivos ataques de tosse. Eu e Irene trocámos um olhar preocupado. A minha irmã apressou-se a ajudar-me a colocá-la numa posição que a ajudasse a respirar um pouco melhor.

–Consegues levá-la ao colo? -perguntou-me a minha irmã.

–Claro...Desde que ela me deixe.

Olhei para Nora. O ataque de tosse fragilizara-a. Ela simplesmente acenou novamente que sim e encostou-se a mim...

Peguei nela ao colo e fiquei ligeiramente assustado...Ela era tão leve...Sempre a vira com casacos e camisolas de mangas compridas e calças e apesar de ter percebido que ela era muito magra nunca me tinha apercebido de quão grave era exactamente o estado dela...

A antiga enfermaria era um quartinho pequenino nas traseiras da biblioteca com uma marquesa onde pousei o meu passarinho, uma secretária com um monte de livros da minha irmã lá espalhados, alguns aparelhos médicos impecavelmente limpos. Percebi que aquela sala era o recanto da minha irmã, um sítio onde ela vinha sonhar e onde fingia que tinha o seu próprio consultório, tal como quando éramos pequeninos...

Deitei Nora na marquesa que felizmente era uma daquelas reguláveis e deixei que a minha irmã a pusesse numa posição mais confortável. Os olhos dela fitavam-me com um brilho febril, e ali entre mim e a Irene percebi que ela se sentia, de certa forma, completamente encurralada. Nós sabíamos que ela estava doente, algo que ela escondia de todos e não tinha alternativa senão confiar em dois estranhos...

Afastei-lhe os cabelos da testa e comecei a brincar com eles enquanto a minha irmã ia buscar um termómetro e o estectoscópio. Já tinha percebido que havia algo nesse gesto que a acalmava e queria que ela se sentisse bem...Pareceu-me que ela relaxou um pouco e que a sombra de um breve sorriso lhe passou pelos lábios. Irene juntou-se a nós...Tinha o estectoscópio pelos ombros e um termómetro na mão.

–Podes levantar a camisola, por favor, Nora...

Os olhos dela ganharam a expressão mais assustada possível mas lentamente como se não tivesse escolha, fê-lo. O cenário era mil vezes pior do que eu temia. Não se via uma única parte da barriga e do tronco dela que tivesse a sua cor natural, quase que parecia uma pintura abstracta, cheia de tons de preto, vermelho, roxo, azul, verde e amarelo, tetricamente bela que começava na barriga e subia quase até às suas clavículas delicadas. Era um quadro vivo, um quadro de sofrimento aquele tronco magrinho completamente coberto de nódoas negras, onde até eu a olho nu conseguia perceber as marcas de algumas costelas partidas. A minha irmã estava quase em choque, acho que nunca imaginou que alguém que ela via todos os dias pudesse estar a sofrer daquela maneira sem que ela tivesse reparado...

Quando de repente, ouvimos barulho na sala ao lado e a voz do director a chamar a minha irmã...Irene apressou-se a baixar a camisola a Nora e a tirar o estectoscópio dos ombros....

–Fiquem caladinhos e eu já volto. Por favor não façam nem um som..- Murmurou ela antes de sair da sala, tão composta como sempre.

Mas a minha irmã não reparou numa coisa....A Nora estava a suster um ataque de tosse...



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Notas finais do capítulo

E agora? Será que eles vão ser apanhados? Mereço reviews?