Um Pardal Que Tinha Medo De Voar... escrita por Sweet Mia


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Bem, eu já não escrevia aqui há tanto tempo. Posso apenas dizer-vos que as crises de inspiração são terríveis e estive quase a desistir desta história. Mas reescrevi todos os capítulos anteriores, modificando algumas coisas e acrescentando mais pormenores (por isso aconselho a que releiam a história ainda que consigam perceber na mesma se não o fizerem) e acabei por conseguir escrever este capítulo. E tenho algumas ideias para o próximo mas não prometo data para o postar aqui. Fiquem só a saber que não abandonei a história. Bem, espero que a espera por este capítulo tenha valido a pena. Vemo-nos nas notas finais. :)



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Nora POV

A senhora da biblioteca, quero dizer, a Irene saiu da sala para ir ter com o director. Conseguia ouvir as suas vozes abafadas na sala ao lado, a de Irene, calma, a do director mais alta e num tom de comando. Não queria que Lucas ficasse em sarilhos por minha causa. Ele e a irmã parecem boas pessoas e parecem dispostos a fazer muito mais por mim do que eu mereço. Mas eu não sei se isso será boa ideia, as pessoas ao meu lado parecem sempre magoar-se se tentam gostar de mim. A minha mãe é um bom exemplo disso mesmo… E agora, aqui estou eu com os pulmões contraídos e a arder como se alguém tivesse decidido enchê-los de ácido, prestes a tossir e a arruinar tudo.

–Aguenta-te. – murmura ele ao meu ouvido- acho que sei de um sítio para nos escondermos.

Olhei para ele, confusa. Ele escreve rapidamente uma mensagem no caderno que em que eu tinha escrito há bocado.

“Posso pegar-te ao colo? Prometo que tenho cuidado. Vamos esconder-nos naquele armário grande, há espaço suficiente e ele pode querer vir aqui.”

Apesar de todas as minhas inseguranças em relação ao plano era o melhor que tínhamos no momento e a última coisa que eu queria era que o director entrasse ali e nos apanhasse. Por isso acenei timidamente dando-lhe a entender que concordava com o plano. Ele cumpriu o prometido e pegou-me com extrema gentileza. Entrámos os dois no armário e ele fechou a porta devagarinho, deixando aberta apenas uma pequena fresta por onde entrava um fio de luz. Depois encostou a minha cabeça ao peito dele e murmurou:

– Podes tossir agora. Este armário é feito de madeira maciça e se tossires contra o meu peito, o som vai sair demasiado abafado para alguém na sala ao lado te ouvir.

Tinha medo, demasiado medo que alguém me ouvisse e já estava habituada a suster ataques de tosse mas as dores hoje estavam particularmente insuportáveis. Então a medo encostei a minha cabeça ao peito dele e aliviei um pouco os pulmões. Felizmente, até a mim me pareceu um ataque particularmente pouco ruidoso.

–Pronto –murmurou ele no escuro – aposto que te sentes melhor agora. Vamos só ficar caladinhos e vai correr tudo bem.

Eu acenei que sim e deixei a minha mente divagar. Eu gosto do escuro, do silêncio da noite. Da escuridão dos espaços pequenos para onde podia fugir. Não é a primeira vez que me escondo num armário, que procuro fugir de algo pensando que simples portas de madeira me vão esconder daqueles de quem quero fugir. Mas encontravam-me sempre.

Flashback Mode ON

Era um armário pequeno, com portas de madeira que cheirava a tinta e a pó. Eu devia ter uns seis anos mas mesmo assim só cabia ali muito encolhida. Eu tinha medo, muito medo do momento em que aquela porta se abrisse e me encontrassem. E o pó ali acumulado estava a dar-me uma enorme vontade de tossir que tinha de conter. Ouvi passos do outro lado da porta, passos pesados, que se aproximavam da porta do armário onde eu estava escondida.

De repente, a porta abriu-se e uma luminosidade intensa cegou-me momentaneamente. E lembro-me de uma voz masculina carregada de crueldade que me disse:

– Queres brincar, queridinha?

Flashback mode OFF

–Nora? – murmurou Lucas. – Está tudo bem? Começaste a tremer…

Nem me tinha dado conta de que estava a tremer, o medo despertado por aquela recordação adormecida ainda a correr-me nas veias. Não sabia o que responder, queria chorar, fugir e estava outra vez com vontade de tossir.  Eu não queria assustar o Lucas mas não podia escrever e não tinha maneira de lhe explicar o que se passava. Senti-o a aconchegar-me melhor no seu colo… E começar a acariciar-me os cabelos.

–Tem calma. Está tudo bem. Não precisas de ficar nervosa… eu não deixo que te façam mal. Não tens medo do escuro, pois não?

Abanei negativamente com a cabeça.

– É pena que agora não possas simplesmente escrever a dizer-me o que é que te perturbou. – sussurrou ele ao meu ouvido – só espero não ter sido eu. - Ele parecia perturbado com essa hipótese.

Acenei vigorosamente que não e encostei-me mais ele. Era verdade. Depois de tudo o que ele fizera por mim desde que o conheci que, gradualmente, comecei a sentir-me mais à vontade na sua presença do que na da maioria das outras pessoas. Senti o sorriso dele.

– Fico feliz por isso. Então foi uma recordação que te perturbou?

Olhei para ele, surpreendida. Não pensei que ele fosse adivinhar. Depois voltei a encostar-me a ele e acenei que sim.

–Não sei o que foi mas não precisas de ter medo, pardalinho. Aqui estás segura e eu vou proteger-te, está bem?

Acenei que sim e ficámos uns segundos em silêncio. Ele já não estava a brincar com os meus cabelos e eu queria que ele o fizesse. Tenho de admitir que gosto que ele o faça. É um gesto carinhoso, que me acalma mas não sinto que ele esteja a invadir o meu espaço de uma maneira que me assuste. E enquanto ele o faz, há algo em mim que relaxa e isso estava a ajudar-me a lidar com esta situação e com o medo que nos apanhem. Queria que ele continuasse… Mas não sei como pedir-lhe que o faça.

Em termos de comunicação, ou de qualquer tipo de interacção com outros seres humanos, não sou lá grande coisa. Não sei o que fazer nem como pedir-lhe isso. Quem me dera que fosse simples e fácil, sei que devia ser… Mas para mim não é.

–Nora? Estás outra vez a ficar mais nervosa…São outra vez más recordações, pardalinho? – murmurou ele num tom de voz doce e preocupado como nunca ninguém além dele usa comigo.

Eu acenei negativamente com a cabeça. E depois, hesitantemente,  peguei na mão dele e levei-a ao meu cabelo.

–Queres festinhas no cabelo?

Acenei afirmativamente e corei algo que, felizmente, ele não conseguia ver no escuro. Mas deve ter sentido o calor que assomou às minhas faces porque disse:

– Não precisas de ficar envergonhada. Fico feliz por ter encontrado algo que me ajude a acalmar-te.

Acalmava mesmo…De facto, sabia tão bem, estava tão quentinha e sentia-me tão aconchegada, ali nos seus braços que quase podia ter adormecido. Este pensamento surpreendeu-me bastante. Nunca me tinha sentido suficientemente confortável para adormecer, sequer, na mesma divisão que outro ser humano. Nunca me tinha sentido bem na companhia de ninguém. Eu fugia das pessoas e tinha bons motivos para o fazer.

Ainda estava abismada com este pensamento quando, de súbito, o pior dos meus medos se concretizou e a luz inundou o armário onde nós estávamos.


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Mereço reviews?