Harry Potter e o Prelúdio de Inverno escrita por Thierry Grima


Capítulo 9
Capítulo 8º: Minha queda será por você


Notas iniciais do capítulo

Informações antes do capítulo:
1º: As reviews estão respondidas no fim deste capítulo, abaixo das notas do autor como de costume;
2º: Escolhi essa música por um único motivo, além de amá-la, ela começou a tocar no exato momento em que eu comecei a escrever. (Ah, EnigmaticPerfection me informou que também gosta dessa música, logo depois que eu havia escrito esse capítulo!)
3º: A letra da música do epílogo deste capítulo combina muito com a última cena (ao meu ver).



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CAPÍTULO OITAVO - MINHA QUEDA SERÁ POR VOCÊ

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“Minha queda será por você
Meu amor estará em você

Se você for aquele que me ferir
Eu sangrarei eternamente”

Ghost Love Score – Nightwish

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A paisagem passava rapidamente por seus olhos, lagos que se estendiam ao margearem os trilhos do trem e findarem-se em extremidades congeladas. O céu estava cinzento como de costume, não havia pássaros ou um resquício ínfimo de sol. Os dias frios desfolharam as árvores e tudo que lhes restava eram mórbidos esqueletos de celulose e lignina. Os dedos desenhavam ávidas imagens sem sentido no vidro da janela onde a água condensava.

O arrependimento era uma constante e a vontade de se lembrar, de ter a sua vida de volta, uma grande e solitária aspiração. Hermione Granger era – agora – uma estranha para si mesma. Não havia grandes coisas para se lembrar, e este era o que talvez mais a assombrava. Rony era um borrão de memórias recentes, Harry um ainda maior e mais antigo. Escrever a vida de volta seria o sonho cobiçado de muitos, mas mal sabem eles que seria também o mais cruento.

Ele estava ali, Harry Potter, em sua frente. Trajando uma camisa polo vermelha – que ela particularmente não gostava – encoberta por uma jaqueta de couro preta e uma calça jeans no mais profundo azul petróleo que poderia existir. Os óculos caiam insistentemente sobre a ponta do nariz, e mesmo dormindo em sono leve ele empurrava-os para trás, voltando a cruzar os braços em seguida. Sua boca era sempre úmida e parecia quente aos olhos dela.

Lembrou-se do beijo que ele havia roubado dela na sala de Rowena, as mãos hábeis tateando-a em busca de proximidade, o toque dos lábios nos dela. Ela confirmou para si mesma, eles não pareciam quentes, eles simplesmente eram quentes e deliciosamente úmidos.

Alguns solavancos do trem o faziam mover a cabeça, isso mostrava o pescoço alvo e longo dele, ela sentiu vontade de tocar e beijá-lo, sentir o sabor e a maciez de sua pele. Os cabelos partiam de um giro amplo na porção mais parietal de sua cabeça e faziam com que os fios espetassem para todos os lados como um jovem rebelde. Ela não conseguia ver os olhos dele, mas ainda sim àquele verde lhe embriagava, eram como dois jades polidos e minuciosamente cortados adornassem a esclera branca de seu globo ocular.

Olhos, aqueles que dizem ser a janela para a alma, a entrada mais rápida para o coração. Os dela mantinham-se fixos sobre ele. Sentia a respiração dele, escutava o leve ressoar do som da expiração e da inspiração, numa maresia constante. Queria levar a mão até a face do moreno e tocá-la, só queria poder estar envolta daqueles braços e afogada em carícias tenras e demoradas.

– O que observa tanto? – A voz baixa e suave rompeu sua linha de pensamento como se partisse um fino fio de costura, ela fitou Agnes com surpresa, tornando-se rubra.

Agnes estava do lado dele – e por opção da própria Hermione, diga-se de passagem – agarrando-se em seu longo sobretudo lilás de lã turca. Ela sorria enquanto aquecia as mãos esfregando-as uma noutra. Tinha olhos tão negros quanto a mais profunda escuridão, e mesmo assim eles conseguiam expressar o carinho constante que ela emanava. Era uma pessoa formidável Agnes, com certeza.

– Eu não posso acreditar que tenha me esquecido dele. – Sentiu brotarem lágrimas de seus olhos, sentiu o sabor salgado quando elas tomaram a linha que dividia seus lábios.

– Você não quis esquecer-se dele, quer dizer, você quis. – Agnes colocou uma mão à fronte para tentar encontrar as palavras corretas, parecia que qualquer coisa que falasse só poderia piorar o que já estava extremamente ruim. – Mas foi por ele e por todos que fez isso.

– Nobre a minha atitude. Salvei a todos e enterrei a mim mesmo em uma cova que agora eu não encontro. Grande utilidade eu tive, não é? – Disse com aspereza. Sabia das intenções da outra, eram boas, mas não poderiam diminuir o que estava sentindo, essa tristeza e opressão de se sentir vazia.

Agnes teve a fisionomia completamente reestruturada depois desta frase. Há pouco, antes de cair junto com Harry num cochilo, tinha perguntado tantas coisas – e se assustado com muitas delas inclusive – daquele trem. Espantou-se ao máximo quando,dos alto-falantes, ressoara o aviso de que uma estação de carga se aproximava, ela indagou sobre “as caixas falantes” e os examinou minuciosamente por um bom tempo, com uma expressão infantil adorável. Mas agora, sua expressão era firme e detinha uma sabedoria distinta.

– Perdoe-me Hermione, mas não vejo nada em você além de egoísmo e uma grande vontade de se menosprezar! – Hermione sentiu as mãos apertarem a barra de seu casaco de lã fina e começarem a suar intensamente de prontidão. Agnes falava pela primeira vez com uma autoridade que ela não apreciava. Ela não entendia o que acontecia ali, não da forma como deveria entender.

– Você não sabe o que eu sinto, eu não sei quem eu sou e muito menos quem eu fui, meu coração me trai a cada olhar! – As palavras eram praticamente cuspidas sobre a outra morena.

Ela sentiu arquear o corpo sobre os joelhos enquanto tentava se aproximar de Agnes e falar o mais agressivo o possível em um volume que Harry não pudesse ouvir.

– Eu não sei! Realmente minha vida sempre foi muito pacífica. – Agnes mantinha o dedo em riste na direção de Hermione. – Mas eu estou aqui agora porque eu acredito no que vocês sentem. E não se preocupe com quem você é, toda vez que olhar no verde dos olhos dele você vai entender exatamente quem é você. Para ser sincera, Hermione, ele tem muito mais de “você” do que você, propriamente dita, neste momento.

Hermione voltou à posição confortável que estava antes, olhando de forma vidrada para fora. Agnes sabia como silenciar alguém com as palavras. Aquele era um dom que ela usava com maestria. Ambas se encaravam com escárnio, provavelmente era momentâneo, mas ainda sim ele existia e as deixava em extremo desconforto.

– Ainda bem que vocês pararam. – Harry disse ainda sem abrir os olhos. – Essas discussões nunca levam a nada, ainda mais sendo as duas como são. Donas da palavra.

– Como você... – Hermione perguntou exasperada virando o torso para observá-lo mais de perto. – Você estava dormindo!

– Ele nunca dorme Hermione, não quando está preocupado com algo. – Agnes disse voltando-se para a paisagem que passavam ágil pela sua vista. Hermione sentiu uma singela inveja despontar em seu peito, pelo simples fato de que ela deveria saber aquilo, não Agnes.

– Exato Agnes, está correto. – Ele assentiu, sem abrir os olhos. Hermione pode perceber um leve sorriso montar-se em seus lábios, desconcertando-a.

– Você não fica nada bem de vermelho! – Ela disse rápido, sem pensar no que falaria exatamente. Só precisava falar algo, e isso estava na ponta da sua língua.

– Você sempre disse isso. – Ele finalmente abriu os olhos, fitando-a profundamente. Hermione sentiu-se arrepiar e o estômago revirar-se incomodado em seu abdômen. – Eu a coloquei justamente na esperança de ouvir essa frase.

– Por quê? – Perguntou ela. Agnes pareceu curiosa também, e voltou a observá-los.

– Eu só gosto de como você fala, desse jeito mandão. – Seu sorriso era jocoso e ao mesmo tempo cativante naquele momento. Hermione corou e olhou para baixo, tímida, enquanto Agnes tentou segurar sem sucesso um riso tapando a boca com a mão.

– Viu Hermione, está perdendo tempo se martirizando. – Agnes trajava uma ironia desigual ao despojar aquelas frases. – Você nem mudou esqueceu tanto assim de como era! – Ela riu gostosamente.

Hermione pensou em responder a altura, mas percebeu que não era uma ofensa ou algo que deveria parecer uma ofensa. Era só uma inteligente constatação, era sim mandona e não iria mudar isso nem que lhe houvessem roubado o cérebro. Deixou-se sorrir junto a Agnes, embalada por um sorriso encantador de Harry.


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– A refeição lhe faz bem?

– Sim! Está sublime realmente. – Rony fartara-se de vasilhames repletos de carne de diversas origens, havia coxas de frango e codornas ao molho de cogumelos que lhe fizeram delirar. Agora se sentia realmente acolhido como um convidado. – Agradeço a hospitalidade Sir. Mordred, é muito gentil de sua parte.

O loiro sorriu e debruçou-se sobre a ampla mesa de vidro, apoiando o queixo sobre as mãos. Observava o ruivo alimentar-se como um canibal faminto. Uma cena com certeza totalmente atípica aos seus costumes requintados da corte, uma verdadeira afronta aos seus princípios.

– Sir. Mordred, quando Gina virá nos encontrar? – Perguntou entre uma mordida e outra.

Novamente o homem sentiu os lábios formarem um sorriso cínico e cheio de falsos escrúpulos. Uma gargalhada fria ecoou em sua mente e os longos dedos tatearam a mesa como se tateassem as teclas de um piano, produzindo uma escala de sons ocos e repetitivos.

– Em breve ela estará conosco. – Seu tom cordial se dissipou quando o serviçal surgiu de emaranhados de fumaça cinzenta, o rosto demonstrava preocupação e medo, havia incrustado em suas mãos uma capa de veludo negro.

– Senhor... – Fez uma reverência com o corpo languido e falou em sussurros apreensivos. – Precisamos conversar meu senhor.

Ambos se afastaram da mesa, onde Rony ainda esbaforia-se ao se alimentar. Mordred seguiu a sombra ínfima do servo com passos firmes, parecia levitar com os próprios passos tamanha elegância que lhe apetecia. Os braços cruzados faziam com que dedos encontrassem os antebraços contralaterais e continuasse a dedilhá-los como a um piano devido à impaciência.

Adentraram em uma sala decrépita cheia de vastos livros empoeirados que sustentavam mórbidas teias de aranha onde traças jaziam secas e desprovidas de vida. O homem pequeno e velho pôs-se de joelhos em frente ao seu mestre e começou a frase tremulante, estendendo o manto negro.

– Eles falharam mais uma vez, meu senhor. – Mordred sentiu os olhos pesarem sobre a imagem do ser digno de pena em sua frente, poucos tufos de cabelo grisalho lanzudo saltavam do couro cabeludo e o faziam parecer só mais uma aberração.

– Meu caro Cereus você já não trabalha mais como antigamente... – Arrancou-lhe a capa negra das mãos do criado e a apertou nas mãos, desfazendo-a em poeira negra. – Esse é o único meio de controlá-los, sem a capa eles não passam de ilusão das brumas. – Disse o loiro apontando para a poeira residual da capa. - Os outros encobriram todos os vestígios?

– Sim meu senhor. Não deixaram nem os ossos. – Cereus tremia, seus olhos eram relutantes no intento de fitar o seu mestre, ele o aterrorizava só com o olhar. – Os instrui a alimentar-se dos que caírem, assim também consigo fazer com que se sintam oprimidos.

– Imbecil... – O outro ria com desdém, como se as frases do criado fossem só uma ligeira piada. – Eles não têm alma, não sentem nada, muito menos são oprimidos.

– Sim, sim mestre! – Cereus assentia expandindo à vista do outro os dentes que faziam curvas tortuosas e quase saltavam de seus alvéolos e abrigavam séculos de incrustação de sujeira. – Eu sabia disso, senhor, eu, com certeza, jásabia!

– Mande outros cavaleiros, precisamos somente da mulher, não quero visitas inoportunas. – O homem assentiu com a cabeça que ainda estava tremendo junto ao corpo. Levantou-se e reverenciou Mordred mais uma vez, antes de dar as costas e começar a andar em passos curtos e rápidos. – Espere! Cereus.

– Sim mestre, algo mais? - O velho virou-se novamente para ele e pôs-se a abaixar a cabeça.

Mordred se dirigiu a porta, próximo de onde o velho se encontrava, apontou para a mesa onde Rony se alimentava com desespero típico. O loiro fitou o homem apreensivo, com a testa frisada. O homem olhou com atenção para o ruivo e depois se voltou para seu mestre com os olhos de típicos de um lunático.

– Tem certeza de que é “isso” que nos servirá? – O escárnio era visível em seus olhos e tão mais em sua voz. Era como uma indagação irônica e desconfiada.

Ronald continuava a descarnar com os dentes amplas coxas de frango, despedaçando-as como se fosse um lobo selvagem, deixando pedaços de carne espalhar-se por todas as proximidades da mesa. Cereus riu, uma risada estranha e esganiçada como uma hiena, sendo repreendido veemente pelo mestre.

– Sim mestre! Tenho certeza, a abóbada de cristal trilhou a linha dele até vós. – Mordred assentiu, enquanto o homem parecia incessante ao falar. – Eu pedi que preparassem o alimento dele como vossa senhoria desejou, logo ele estará ao seu dispor de plena vontade.

– Ótimo, Cereus... Agora vá, não disponho de tempo para suas divagações eloquentes. E é bom que esteja certo, demorei muito para conseguir abalar as estruturas mágicas das brumas e poder trazê-lo até aqui.

– Estou certo meu senhor, eu estou. – Dispersou-se novamente em névoa cinzenta.

– Ainda não satisfeito? – Mordred perguntou a Ronald com um leve sorriso de canto dos lábios.

– Ah sim, quase satisfeito! – Rony disse sem perder a vista dos alimentos. O outro sorriu com escárnio, novamente. Era realmente uma visão grotesca aos seus olhos.


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Atenção passageiros do trem 2093, Londres – Bristol. Estaremos chegando a nosso destino nos próximos minutos.


A voz feminina da gravação seguiu-se uma microfonia enfadonha e de alguns gritos de desespero de Agnes – novamente – em direção aos alto-falantes. Hermione olhou para Harry com o clássico tom inquisitivo que possuía, afinal gostaria de saber por que diabos estavam parando em Bristol se o destino final era Glastonbury.

– Não iríamos para Glastonbury? – Perguntou ao moreno.

– Não há um trem direto para lá. – Ele arqueou as sobrancelhas quando ela murmurou algumas coisas sem sentido. – Não se preocupe. Nós chegaremos lá, só não hoje. –Sorriu largamente, retorquindo as reclamações infundadas de Hermione enquanto saiam do vagão.

– Uhhh! Estou precisando mesmo de um bom almoço e descanso! – Agnes agitava os braços sobre a cabeça, estirando os músculos e os aquecendo logo após saltar pelas escadas do vagão. Hermione a retalhou com os olhos, tinha pressa, não só para – possivelmente – encontrar Ronald, mas para encontrar suas respostas. Com certeza ficar se atrasando não era o que desejava.

– Hey, não fique assim. – Harry disse colocando uma das mãos sobre seu rosto enquanto a outra desprendia o coque bem feito que lhe sustentava os cabelos. O vento era forte o suficiente para fazê-los esvoaçar. – Gosto deles assim.

Ele tocou os lábios nos dela com carinho, não se prolongou, somente aquele toque já bastava naquele momento. Sentiu que ela ficou sobre a ponta dos pés, receptiva. Era um selinho tímido, cheio de necessidade e carência. Era simplesmente uma demonstração de amor, dos pés a cabeça, amor puro e singelo.

– Desculpe, eu não... – Ela sorriu, não respondeu as desculpas dele, só virou-se para o guichê de informações e seguiu para lá. Agnes sorriu fracamente para Harry, fazendo um sinal positivo com o polegar.

Hermione voltou pouco depois, encontrando Harry e Agnes em uma conversa incessante sobre a tecnologia sonora do trem, a morena parecia exasperada quando Harry lhe falou que não havia nenhum feitiço na caixa e o som saia naturalmente com auxílio da eletricidade.

– Não há mais trem para Glastonbury hoje. O último partiu há aproximadamente 30 minutos. – Os dois assentiram e levantaram-se logo após uma conversa rápida com relação aos panfletos de hotéis - e quais deles poderiam ser bons para hospedagem - que Hermione trazia consigo.

– Podemos pegar um taxi para ir até CliftonHouse, parece ser um hotel confortável e o preço nos favorece. – Disse Hermione revirando a carteira em busca de alguns euros.

– Não há problema quanto ao preço, eu fiz o câmbio de galeões em Gringotes. – Harry disse pouco antes de parar um taxi e abrir a porta com elegância para as moças.

– Mas eles não fazem mais o câmbio para euros.

– Fazem sim se você for Harry Potter, querida Hermione. – Ele piscou, adentrando após ela, sentando-se desconfortável no interior do automóvel enquanto Agnes tentava ponderar melhor seus comentários sobre “trouxisses”.

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– Gostaríamos de três quartos individuais, por favor. – Harry realmente aprovara a opinião de Hermione, o hotel era aconchegante e ao mesmo tempo não era luxuoso e custoso. Havia um pequeno bar onde um músico entoava canções boêmias ao som de uma cítara. Alguns homens bem apessoados acompanhavam o ritmo da música ostentando nas mãos copos cheios de bebidas das mais diversas origens. Um jardim bem arranjado margeava o hotel e lhe dava uma aparência reconfortante, além de aparentemente não haver nevado ali. Os móveis lustrados brilhavam e os lustres antigos pareciam grandes coleções de lágrimas cristalinas, Hermione estava maravilhada com a arquitetura, tal qual Agnes com o bar e com seus frequentadores.

– Sinto muito senhor, mas com as épocas festivas de Natal só dispomos de duas suítes, uma individual e uma para casal. Ainda deram a sorte de chegarem cedo, após as dezesseis horas sempre há procura de quartos. – Harry olhou para ambas, elas estavam absortas cada uma em algo diferente. Hermione observou rápido para ele depois de assimilar as palavras da moça, antes de pronunciar alguma coisa Agnes olhou para Harry, depois para o Bar e então Hermione.

– Eu fico com o individual, com certeza eu fico! – Acenou para alguns dos boêmios e depois piscou para Hermione, que a olhava com total indignação, afinal o ocorrido no trem ainda era algo que precisava ser disperso em sua mente.

– Hermione, se houver algum problema nós podemos procurar outro hotel. – O sorriso dele era incerto, de uma forma suplicava que aceitasse, de outra, lhe dava segurança da outra opção.

– Nós ficaremos com os quartos. – Ela disse por fim para a atendente, uma moça ruiva de olhos castanhos bem claros e uma alegria estonteante, que logo lhes entregou a chave de quartos vizinhos.

– Ah! Obrigada Hermys! – Agnes a abraçou de relance e despontou alegre para o bar, remexendo o quadril totalmente fora do ritmo. A morena sorriu ao observar a outra se distanciando com alegria, como poderia ficar brava com ela?

– Eu preciso de um banho... Estamos no meio da tarde e eu já me sinto extremamente cansada. – Segurou instintivamente a mão de Harry e o arrastou para o quarto. Ele estava atônito de certa forma, mas ao mesmo tempo uma alegria idiota tomava conta de si.

Entraram no quarto e logo Hermione já comentava sobre o lindo edredom carmim que recobria um confortável colchão de penas, vangloriou-se por ter escolhido o hotel e logo já fazia com que a bagagem de ambos voltasse ao seu tamanho natural. Havia quadros com belíssimas paisagens de Bristol, a que mais a agradou foi um campo florido que albergava ao fundo um grande campo de críquete, esporte típico da região, onde o céu estava estranhamente azulado e ensolarado.

Harry sentou-se em uma poltrona que dava de frente para a janela, uma ampla visão do jardim estava presente e o ar fresco entrava pela janela fazendo com que os cabelos negros dele espetassem ainda mais para os lados. Estava absorto em um livro de James Dashner, e nesse instante possuía a intrigante atenção de Hermione.

– Eu gosto quando você se concentra, seu rosto se alonga. – Ele respondeu a colocação dela com um simples sorriso, sem lhe dirigir o olhar. Não poderia dar esse gosto a ela. – Também gosto do seu sorriso, mesmo quando você não o apresenta pra mim.

Ela parecia entreter-se arrumando as roupas desajeitadas na mala, trocando-as de lugar ou somente redobrando. Mesmo assim Harry percebeu que ela conseguia captar as intenções daquele sorriso e lhe dispensou outro elogio. Era assim que funcionava antes, e que estranhamente, funcionava agora.

– Eu gosto quando você me entende. – Ele disse baixo.

– Sempre te entendo. Não preciso de memórias para isso. – Ela se aproximou, abaixando-se em frente a ele. – Eu só preciso estar ao seu lado, te olhando, sentindo seu perfume... Isso me esclarece tudo.

Ele arrepiou-se, Hermione parecia tão vulnerável, tão delicada. O completo oposto do que realmente era aquela mulher, digna das maiores aspirações de coragem e lealdade. Sentiu o corpo todo estremecer quando as mãos dela tocaram seus joelhos e os olhos voltaram-se para ele, suplicantes.

– Eu não preciso que se lembre de mim... – O sorriso carinhoso que ela detinha desmanchou-se rapidamente. – Mas eu preciso que me permita te conquistar, um dia de cada vez. Nem que tenha que lhe conquistar todos os dias até que eles para mim se acabem, e se um dia achar que eu falhei em minha conquista, estará livre novamente da minha presença. Eu preciso que você continue sendo a mulher da minha vida. A minha queda será por você, só por você.

Hermione suspirou, sentiu o coração batendo mais rápido, tão rápido quanto achou que seu peito suportaria. Os olhos lacrimejaram e por fim as mãos encontraram as dele, um sorriso mórbido nasceu em sua face, cheio de medo. Ele estava entregando o coração para ela, lhe demonstrando qual era o seu ponto mais fraco, lhe dando as armas para que todo aquele sofrimento acabasse, mas ainda sim, ela não sabia o que fazer.

Esboçou então um gesto de concordância com a cabeça, um gesto que não explicitava um sim ou um não, era completamente neutro. Encheu-se de culpa e autopiedade para fazer aquilo, mas o fez.


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Passaram-se algumas horas desde que o silêncio se apossara do cômodo, Hermione já estava deitada debaixo de duas cobertas confortáveis e extremamente quentes. Harry estava no banho, havia alguns bons minutos. O olhar dela ia do livro até a sua margem mais superior, caindo sobre a porta do banheiro, dispersando-a da leitura completamente, já havia lido pelo menos seis vezes a mesma frase em menos de dois minutos.

Por fim a porta se abriu e ela voltou ligeiramente os olhos às páginas do livro, como se a porta nunca tivesse existido à sua vista. Harry trajava um pijama típico de um tecido fino e confortável, verde água - quase branco - que incontestavelmente daria sono em qualquer um. Ele havia feito à barba - e ela percebeu, por mais que esta barba fosse quase imperceptível antes de aparada - e ajeitado os cabelos, ou pelo menos tinha tentado ajeitá-los.

Dirigiu-se a poltrona ainda sem lhe dirigir a palavra, como um protesto silencioso. Deixou o corpo cair sobre ela e os braços puxarem uma manta fina de fios de lã. Ele tinha o olhar fixo na paisagem externa e parecia inebriado por pensamentos.

– Harry, você pode deitar-se à cama. – Disse derrotada com a imagem do homem solto sobre a poltrona. – Não terá que ficar desconfortável só por mim, seria injusto.

– É tão “por mim” quanto por você, Hermione. – O olhar dele ainda estava voltado para a paisagem.

– Por favor, eu realmente ficarei me sentindo mal se não vier. – Ela abaixou o livro sobre o colo e olhou para ele carinhosamente, sentiu o coração aquecer quando ele levantou-se solícito e deitou ao seu lado, repousando a cabeça no travesseiro e virando-se para o lado oposto.

– Boa noite.

– Boa noite Harry. – Desfez-se do livro colocando-o sobre a cabeceira, desligou a iluminação e também deitou. Estava cansada e obviamente não demoraria a dormir. Passaram-se alguns minutos até que os olhos estivessem fechados por completo.

Não os manteve muito tempo assim fechados, logo Harry se virou ainda dormindo, tocou a cabeça na nuca dela, respirando com profundidade. Uma das mãos dele deslizou sobre o abdômen dela, abraçando-a, procurando mais aproximação entre eles. Sentiu o corpo estremecer com o toque dele sobre a sua camisola, permitiu a sua mão unir-se a dele no medo de que a retirasse de lá. Suspirou enquanto novamente adormecia; agora sentindo o calor que emanava dele ao transpassar ao seu, e a respiração dele na sua nuca excitá-la.

Harry sorriu de olhos fechados, ele simplesmente deu-se por vitorioso na conquista daquele dia. Aproveitou-se a situação, onde ela realmente acreditava em seu sono e sussurrou ao pé do ouvido da moça – como era de costume – “Eu te amo Hermione...”

“Te amo Harry”, sussurrou sonolenta, antes de apertar mais a mão dele contra si, dando-lhe a vitória.

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– Acho que o perdemos... – Os olhos de Gina estavam mais uma vez repletos de lágrimas, o doce sorriso que sempre mantinha em face, timidamente agradável, agora era sobreposto por lábios desidratados e esbranquiçados.

Tal qual, estava Draco Malfoy. Ao seu lado, confortando-a a todo custo. Tentava convencer a si mesmo que precisava dela bem se quisesse escapar daquele local, mas algo lhe dizia que era por pura vontade, ensejo de tocar sua pele e seus cabelos, acariciar sua face e secar suas lágrimas. Os olhos deles continuavam a se encontrar, repetidas vezes durante o dia, apesar de o silêncio reinar na maior parte do tempo, com exceção do canto em língua celta das mulheres que insistia em permear todos os minutos do dia.

– Se acalme Ginerva, a qualquer momento eles o trarão de volta. – As palavras que dizia eram totalmente contraditórias aos seus pensamentos, não acreditava que veriam Rony novamente, da mesma forma que não acreditava que escaparia daquele lugar. Mas se manteria firme em sua opinião até que lhes fosse exposto o contrário.

– Eu nunca imaginei que seria você Malfoy. – A voz dela tinha um peso descomunal, um peso de fome e cansaço desigual.

– Nunca imaginou o que? – Ela deu um fraco sorriso para ele antes de deixar a cabeça despencar sobre o ombro dele.

– Que seria você que me teria nos braços antes da morte. – Um riso sádico e fraco ecoou pelo lugar. Draco assentiu com um sorriso tênue.

– Você não vai morrer, Weasley. – Ela negou com a cabeça, em discordância. – Não nos braços de um Malfoy, não merece tal honra. Então trate de ficar bem viva.

– Oh sim, senhor Malfoy. Não desonrarei o seu sangue vil e puro. – Ambos riram, não havia muito que se fazer no momento.

– Preciso que fique bem, seja forte. Logo sairemos daqui. – Abraçou-a novamente. Acreditava que se passara quase um dia desde que Rony havia sido levado, e não houve mais nenhum movimento no local.

– Eu estou com medo Draco. Por Rony, por mim, por você. – Apertou-se no abraço, unindo sua cabeça ao peito dele pela segunda vez em pouco tempo. De alguma forma ele dava a segurança que ela precisava sentir.

– Não tema por mim, estarei aqui com você. – Abaixou a cabeça e tocou os lábios ásperos na proximidade de sua orelha, sussurrando. – E depois também, se assim quiser.

Ela sorriu, deixando as lágrimas mais uma vez desprenderem-se, indesejadas, de seus olhos. Ambos deixaram-se embriagar pelo silêncio que agora reinava, enfim as moças que cantavam haviam parado. Ele percebeu que já era noite, onde quer que estivessem.


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“Eu tive o que eu mereci
Não tenho nada mais a perder
Este é meu renascimento procurando por você”


Wing-shaped Heart – Visions Of Atlantis

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Notas finais do capítulo

AGRADECIMENTOS: A minha beta PamyMalfoy (ou mais conhecida como PamyPotter) que tem aguentado ler essas minhas insanidades e ter o desprazer de corrigir elas! Obrigado de coração Pamy!
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N/A¹: Eu disse que poderíamos ter surpresas maquiavélicas nesse capítulo de acordo com o meu humor, porém, ele não foi dos melhores essa semana então... Estamos sem ação nesse capítulo, só temos algumas informações adicionais e um grande enfoque no romance, que também precisa acontecer, afinal é um dos gêneros dessa fic! No próximo eu prometo mais ação, ok?
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N/A²: Estou pensando em fazer um capítulo bônus talvez uma songfic - com as cenas da Agnes no bar do hotel, uma coisinha pequena de mais ou menos 1000 palavras. O que vocês acham?
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N/B: Eu voto pelo capítulo bônus! A Agnes é contagiante e uma diversão cairia bem nesses momentos de apreensão. Minha opinião é que a songfic cairia muito bem nessa altura do campeonato. Eu nem preciso falar nada sobre o capítulo, não é gente? Minha frase preferida desse capítulo, não é bem uma frase. É uma fala:
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- Não tema por mim, estarei aqui com você. Abaixou a cabeça e tocou os lábios ásperos na proximidade de sua orelha, sussurrando. E depois também, se assim quiser.
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Draco Malfoy sendo romântico! Quem diria, o que uma prisão não faz com a pessoa... Eu amo D/G, é algo totalmente inimaginável, mas que funciona inimaginavelmente bem. E do jeito que o Thierry fala parece mesmo um sacrifício betar a fic. Na verdade parece que eu só leio o capítulo antes de vocês, hehe.
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RESPOSTA AOS REVIEWS DO CAPÍTULO PASSADO
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GOSTARIA DE AGRADECER TAMBÉM A TODOS QUE SE INSCREVERAM PARA RECEBER AS ATUALIZAÇÕES DA FIC E A FAVORITARAM. MUITO OBRIGADO!
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PamyMalfoy: Beta querida, que bom que gostou da capa, você se lembra que eu te falei que foi quase um parto para fazer não é? *risos* Quanto ao comentário do capítulo, oras... O Rony não é quase uma crucificação, ele é a própria! Hehehe! Como você pode perceber, o capítulo é um tanto quanto decepcionante, não há visões ou um ataque. Só romance mesmo, quando eu estou depressivo é só romance que sai. Além do que, eu pensei que viagens de trens e ataques estão muito batidos já. Quem sabe um ataque em algum ônibus? XD
Que bom que está gostando do livro, a primeira página já consegue fazer você se prender à leitura, eu particularmente amo As Brumas de Avalon. Quanto a idéia do lago com a Hermione, é realmente uma idéia MUITO BOA! Meu precipício pela Hermione seria tipo um grand canyon com uma cena dessa!
Beijos, obrigado pela betagem e pelo comentário!
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Isis Brito: Que bom que gostou do capítulo Isis! Hahaha! Sobre os zumbis, a idéia era mais ou menos essa, tirando o fato de que não são zumbis, mas eu não posso ficar dando spoilers aqui! *risos*. Você, que como eu, tem uma queda por romance provavelmente vai gostar desse Isis. Não achei que ficou um capítulo excepcional, mas tentei trabalhar bem os romances. Quanto à morte da Mione... MuaHaHA!!! Não posso dar detalhes, mas se ela morrer, prometo que mando ela pro céu! Não, eu provavelmente não irei matar a Mione... Ou sim, talvez... Sei lá! *risos enlouquecidos*. Ok, agora chega de loucuras! Obrigado por ler e comentar Isis! Espero que continue gostando!
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EnigmaticPerfection: Hahaha! Eu me mato de rir com seus reviews! Sempre divertidos e ao mesmo tempo cheios de conteúdo! Até eu fiquei com um pouco de dó do Harry quando a Mione ficou chorando, mas acho que com esse capítulo eu me redimi um pouquinho com eles e com vocês! (Não sei se o papel do Ron será legal, sei lá... Estou pensando em algo bem malvado pra ele!) Como eu disse acima, esse capítulo ficou pobre em ação, mas eu tentei compensar nos romances. Estava com um humor horrível pra escrever alguma ação essa semana! Quanto a Agnes e o Harry, não será um shipper, mas vai se surpreender. Meu lado maquiavélico deve estar voltando de viajem e assim que chegar eu começo a escrever outro capítulo! MuaHaha!!! (Sem mais por aqui, depois a gente termina o papo pelo e-mail! Rsrsrs) Beijos, obrigado pelo comentário, pelos e-mails e por continuar acompanhando!
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ClaraGnutzmann: Que bom que está gostando! É muito bom saber que a história está agradando vocês! Espero que continue lendo e achando essa fic boa! Obrigado pelo comentário!
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Minha Isa: Eu poderia ter matado alguém oras! Seria bem legal! (Eu dou muita risada quando me chama de peste! XD) Pois é, eu achei que o quarto da Agnes deveria ser assim, pois parece algo que remete a infantilidade e ela é infantil, ao mesmo tempo que tem a sagacidade de uma mulher (e enlouquecida pelos homens). Quanto aos seres desconhecidos (por enquanto), eu também os imagino MUITO feios, muito feios mesmo, e sim, eles comem seus amigos no café da manhã. Sobre lóbulos de orelhas, bem eu escrevi pensando em você mesmo. Novamente eu te coloquei aqui por último só pra você ter o gostinho de reclamar de alguma coisa a mais! Beijos minha Isa birrenta e super mala sem alça!



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