Sempre Existe Um Anjo ! escrita por ItsAllAboutReadingAndWriting


Capítulo 3
Capítulo 3 - Memórias Enterradas


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, mas quando um problema aparece nunca vem sózinho.
Vá, espero que gostem do cap novo.
Encontramo-nos lá em baixo ;)



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(Bring Me To Life - http://www.youtuberepeat.com/watch/?v=bUpaJqyfVjk)


"Nada é suficiente para nos absorver da realidade de modo a ver-mos a vida com outros olhos...até ao exacto momento em que eles se fecham e ameaçam não mais abrir!" - Era das poucas frases que me faziam lembrar o meu avô. Homem sábio e organizado, esta tinha sido a imagem que me tinha deixado, isso e a enorme alegria e amor que sempre tinha de sobra. Nunca reflectira muito no que me dissera por longos anos até partir. Talvez por não querer saber ou mesmo por não entender o verdadeiro sentido das palavras, nunca tinha entendido o que tudo aquilo significava. Algo que mudara nos últimos dias. Disso tinha certeza, por muito que não me lembrasse do porquê.

...

Já devia ter passado uma hora desde que acordara, e por muito que tentasse recordar o motivo de ali estar a resposta que o meu cérebro me devolvia era uma enorme névoa cinzenta, da qual não conseguia ver-me livre. Não tinha forças para me levantar da cama, provavelmente devido às drogas que estavam a consumir-me. Para mim os medicamentos nunca passaram de drogas, logo não seria agora que isso iria mudar. Perguntava-me como ainda era possível, pensar, visto estar medicada ao ponto de não conseguir mexer-me o suficiente para sair dali (se calhar a intenção deles era essa).

Não pude deixar de reparar no tom surpreso de uma enfermeira que entrou de rompante onde eu estava. Será que não deveria ser normal, eu estar acordada? Ou viva? Provavelmente apercebeu-se do que me passava pela cabeça, pois tentou logo trocar o ar de surpresa por um sorriso amável, porém cuidado e repleto de pena.


– Estás há muito tempo acordada? -disse enquanto apontava num bloco algo proveniente de uma das máquinas que tinha á volta, salvo erro a única que se encontrava ligada.


Limitei-me a acenar a cabeça negativamente, não queria criar contacto com estranhos. Tinha visto a quantidade necessária de filmes, para saber que não se pode confiar em qualquer pessoa no serviço público (ou o que quer que aquilo fosse) pois nunca se sabia se aquela pessoa era mesmo trabalhadora do local em questão. Apenas queria encontrar um médico que me explicasse toda esta situação, e, que o meu irmão me viesse buscar o mais rápido possível.

Outra enfermeira, mais nova, entrou no quarto fazendo a mesma expressão que a primeira tinha feito, mas ao contrário desta, não tentou disfarçar. Dirigiram-se para um dos cantos da sala. O máximo que podia ouvir era um burburinho, e só adivinhei que falavam de mim porque os dois pares de olhos estavam focados na minha direcção (coisa difícil de adivinhar...). Entre um sussurro e outro, pude ouvir a mais nova dizer " Parece que vamos ter um bom dia com esta!". Apesar de parecer ser algo positivo não me deixei levar pelo seu comentário, nem pelo facto de me ter tratado por "esta". Ela sabia o meu nome, podia ter sido mais comedida e ter-me tratado por "Érica" ou "Ela", o determinante que usara só dava a entender o desprezo e frialdade que passavam por ela. Mas por muito que quisesse barafustar não teria forças para isso, e também não queria perder o meu tempo com tal coisa. Esperei que ela saísse, pois não me sentia segura o suficiente para lhe confiar as minhas palavras, e só então, questionei a outra enfermeira.


– O que ela quis dizer com " vamos ter um bom dia com esta"? -a minha voz parecia forçada a acordar de um grande sono, daí o som inicial ser meio estridente.


– Ela estava a referir-se ao teu estado, que tem vindo a melhorar desde o último ataque. – Tentava ser calma e natural em tudo o que fazia, parecia não querer afectar-me em nada.


– Não estou a perceber dona … - olhei para o crachá preso na bata de modo a encontrar o seu nome, o que aconteceu com sucesso - … Sara.


Ela semicerrou os olhos e franziu ligeiramente as sobrancelhas após a minha intervenção. Era como se o que eu tivesse dito não deveria, nunca, ter saído da minha boca. Veio na minha direcção e mediu-me a temperatura, que traduziu-se por um valor normal, algo que entendi pela sua reacção.


– Estranho! Sentes alguma dor, qualquer dor Érica?


– Para além de sentir uma leve dor de cabeça, não sinto
nada… Deveria sentir?


Aquela agitação começava a preocupar-me, pelo facto de tudo o que eu respondia provocar, sempre, alguma reacção estranha por parte da enfermeira.


– Não … não deverias sentir – aos meus olhos, parecia-me absorta nos seus pensamentos, enquanto ficava especada a olhar para mim.


– Há pouco falou em ataque. Do que estava a falar exactamente?


– Não deve ser nada com certeza … Eu … Acho que deves ser vista pelo teu médico, não tenho qualificações para… Não interessa … - disse enquanto se dirigia para a saída do quarto.


Nada do que dissera fizera qualquer sentido. Para além disso, toda aquela situação deixava-me intrigada. E o facto de não ter o Daniel ali comigo já começava a preocupar-me. Eu sabia lá, o que estava a fazer no meio daquele sítio.


– Desculpe, pode só dizer-me quando o meu irmão vem buscar-me ou sequer ver-me? – Apesar de meia rouca, a minha voz fez-se soar no quarto parando Sara, que ficou mais estática do que uma estátua.


– Ah… não sei Érica – retomava o seu caminho, mas do nada deu meia volta, virando-se de novo para mim com um ar mais pesaroso que alguma vez vira – Érica, o que te lembras dos últimos dias?


– Dos últimos dias? – Decidi abrir o jogo e contar o que realmente passava pela minha cabeça, queria sair dali o mais rápido possível por isso qualquer ajuda só melhorava. -Na realidade eu não me lembro de muita coisa dos últimos dias, é como se tivessem sido apagados. Por isso a ultima coisa que me lembro de fazer foi o jantar em que o Daniel me apresentou a nova namorada e depois a conversa, chata de sempre, que ele teve comigo devido a negócios familiares. Eu sei que algo me escapa, mas é assim muita coisa? – Na minha cara o medo devia ser notado, pois ela retraiu-se imediatamente, não me dando espaço para muitas perguntas.


– Nada de alarmante Érica, agora descansa que dentro de pouco tempo o encarregado pelo teu processo virá aqui. – Saiu da sala do mesmo modo que tinha entrado, rápida e com uma expressão curiosa que por muito que tentasse, eu, não conseguia decifrar.


Após o encarregado sair do quarto e de me aconselhar a não fazer determinadas coisas para não piorar o meu estado que me era completamente desconhecido, decidi levantar-me da cama. A minha cabeça era agora mais pesada que o resto do corpo. Pequenas tonturas passaram por mim, algo muito leve, mas ainda assim suficientes para eu entender que já não me punha de pé há bastante tempo.


Pela janela vi um parque de estacionamento repleto de uma grande panóplia de carros com variadas cores. Era um frenesim de carros que tanto chegavam como saíam. O “pano de fundo” não me era estranho… Eu conhecia aquele cenário, apenas não sabia onde ou quando o vira.


A enfermeira jovem que tinha estado comigo horas antes, entrou no quarto dirigindo-me palavras breves e proferidas num tom frio, o qual eu ainda não entendia a razão.


– O doutor diz que quer avaliar-te. Segues o corredor até ao fundo, viras á direita no final e depois tornas a seguir o outro corredor até á zona dos consultórios. É só procurares numa das portas o nome “Doutor Albuquerque”. Consegues fazer isso sozinha ou também precisas de ajuda? – Nem tempo deu para, eu assimilar toda a informação, saindo do quarto quase a correr.


Aquela mulher tinha algum tipo de problema?! E depois dizem que maus profissionais não existem, as pessoas é que os tratam mal … Eu não lhe tinha feito nada e ela quase me matava com palavras.


Não lhe queria dar muita importância. Estar num hospital sem saber o porquê, e ainda por cima, envolta de mistérios superiores á capacidade da minha mente para imaginá-los, já era mau o suficiente.


Segui pelo corredor fora. Não podia deixar de olhar pelas portas, não é que fosse descobrir algo relacionado comigo naquelas salas, mas a curiosidade de uma possível resposta atarantava-me por isso qualquer porta semi-aberta era motivo de uma espreitadela inocente.


Por entre uma minoria de quartos vazios encontravam-se idosos, adultos e até mesmo crianças. Mal olhava para todas essas pessoas logo me apressava a virar o meu olhar noutra direcção. Sentia que ao olhar estava a tirar a pouca da privacidade que ainda restava a todas aquelas pessoas.


A sala desse doutor parecia fugir-me, apesar do meu esforço para encontrá-la. Algo esclarecido após atravessar os últimos metros do corredor que davam acesso aos consultórios. O consultório que me esperava era um dos primeiros, o que facilitou a minha procura. Do nada, o coração começou a acelerar mas tentei não dar importância pois a probabilidade de ser um resultado da minha ânsia, por saber o que se passava, era demasiada alta. Com algum receio bati na porta.


–Entre por favor – uma voz máscula e bastante grave saiu de lá de dentro enquanto abria a porta. – És a Érica correcto?


Acenei a cabeça afirmativamente enquanto o admirava. Era um homem com alguma idade, provavelmente na casa dos 45-50 anos, mas tinha uma aparência bastante cuidada. Tinha o semblante carregado o que levou a crer que boas notícias não me esperariam.


– Podes recostar-te se assim preferires.


– Prefiro estar de pé – não liguei ao tom frio como me dirigira ao homem.


– Acho melhor que o faças … - apesar da forma como lhe falara, respondeu-me num tom menos ardente completamente preenchido de cólera e sob um olhar terno e protector – Não o tomes como uma ordem, porque não o é, aceita como um concelho.


A questão era até que ponto poderia, ou não, ser para meu bem. Das duas, uma: ou eu estava mesmo mal ou estavam a exagerar. Apostava sempre na segunda hipótese, por uma questão de auto-defesa. Acabei por me sentar, queria que aquilo acabasse o mais rápido possível e não me apetecia, de todo, ter que ouvir qualquer tipo de raspanete.


– E então o que se passa comigo? – Tive que dar o primeiro passo de modo a que parasse de me avaliar e me explicasse que raio se passava.


– Acho que não é a pergunta que queres fazer …- quase me atrevi a contestar o que o médico dissera, mas este não me deu tempo para que o fizesse.- A principal pergunta é o que é que te lembras?

_Uma pessoa a perguntar aquilo já era estranho, duas ainda pior._


– Outra vez isso? Já disse que última coisa que me recordo de fazer foi o jantar com o meu irmão em que me apresentou a nova namorada. Será que a porcaria do jantar é assim tão relevante? – O doutor pareceu assustado com a minha resposta, algo não batia certo.


– Érica que dia é hoje?


_ Jura que ele fez aquela pergunta? Será que o homem não tem, sei lá, relógio, telemóvel ou até mesmo computador para ver a data? Mas…que dia era mesmo hoje?_


Fiz um esforço para me lembrar que dia era. O meu senso para saber em que dia estava nunca tinha sido bom, e agora com a panóplia de drogas, que provavelmente, me tinham dado era ainda mais complicado.


– Bem, acho que deve ser segunda?! Não me pergunta o número
do dia porque nunca presto atenção nessas coisas. – Apesar de todo o mau
ambiente que eu provocava, com as minhas respostas secas e frias, consegui
fazer com que esboçasse um sorriso, se bem que logo o retirou da cara dando lugar á expressão preocupada que já fazia desde que eu entrara na sala.


–Tens a certeza?


_Mas ele estáva a brincar comigo? É claro que não tinha a certeza…se tivesse não demoraria a responder. E é claro que não podia ter a certeza depois de a enfermeira Sara ter falado em “últimos dias”, quando o que me eu recordava parecia ser parte do dia anterior._


Acenei com a cabeça afirmativamente.


– Pode ser directo de uma vez? Se for para me dizer que estou a morrer, prefiro que o diga de uma vez em vez de fazer todos esses rodeios.


– Vou tentar ser o mais directo possível então Érica.


– Na última semana, tens tido ataques de pânico. Quase todos os dias. Os ataques, que tens vindo a ter, acontecem em alguns minutos. Nesses momentos perdes o controlo das emoções e do teu próprio comportamento. Costumas ficar com alguma falta de ar, fortes dores no peito, transpiração e o teu coração acelera. Essas sucessões de ataques, levaram-te a uma exaustão nervosa. E
claro, essa perda de memória é uma das consequências da semana por que passas-te.


– Sério mesmo que eu estou aqui por causa disso? – Pareceu surpreso com a minha resposta que demonstrava a falta de atenção que eu estava a dar para o “caso”. -Isso não me vai matar!


– Não mata, mas pode provocar efeitos colaterais.


– Entenda, esses ataques de pânico ou crises de ansiedade, não me são totalmente desconhecidos. Desde pequena, mais propriamente desde o acidente com os meus pais, que fazem parte de mim senhor. Sou vista regularmente por pessoas especializadas, e sei que não é nada de alarmante.


– Érica desta vez é mais complicado do que imaginas… Essas crises, começaram devido a um assalto.


– Assalto?! – Logo a minha cabeça começou a divagar, e agradeci, ainda que mentalmente, por o médico me ter dado a sugestão de me sentar.


– Bem me parecia que não tinhas o controlo. Na semana passada, na segunda para ser concreto, fizeste parte de um grupo de reféns num banco local. Lembras-te porque lá foste?


Não foi preciso fazer muito esforço, a imagem de eu e o Daniel discutindo, pela manhã no apartamento, para eu ter que assinar os papéis da conta, logo me aflorou á memória.


– Ah… algo relacionado com uma conta familiar salvo o erro. -Levantou-se
e sentou-se numa cadeira posicionada a meu lado.


– Algo mais?! – Fiquei ali, parada, tentando me lembrar de algo que parecia não querer ser recordado; acabei por acenar negativamente. – Esta é a parte complicada, e aqui encontra-se o motivo de todas as crises, pois sempre que aprofundas as recordações desse dia acabas por te fechar e crias uma protecção que passa por esses ataques.


– Na real?! Conheço-me o suficiente para perceber que algo aconteceu, daí essas barreiras que crio com o exterior. Por favor, diga-me o que aconteceu.


Inspirou e expirou algumas vezes até arranjar a força e coragem para voltar a falar para mim.


– Acontece, que de alguma forma, um dos assaltantes no meio da confusão criada, acabou por disparar. E o Daniel … - não era preciso dizer mais, mas precisava de ter a certeza. Algumas lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, agora, e mais do que nunca, pálido e desabitado. – foi atingido, não tendo nenhuma oportunidade de sobreviver.




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Notas finais do capítulo

Já era de esperar o final do Daniel, certo? Espero não ter decepcionado ninguém.
Alguma coisa, é só deixar review.
Beijo grande ^^