Era a décima sétima vez que ela andava para a direita. Décima sétima vez para a esquerda. Agora a décima oitava vez para a direita. Rose andava de um lado para o outro lado nervosa. Não imaginou que eles apareceriam. Não imaginou que Ammie levaria Matthew até lá... Ou que ela não conhecesse Londres...

- Espere. – murmurou Rose estática. – Ela conhece! – exclamou Rose chocada olhando para a porta. – Ela nos disse no jantar que sua família era antiga aqui... – comentou Rose perdida em seus pensamentos. – Que salafraia! – exclamou Rose indignada. – Mentir sobre a própria família! – exclamou ela brava. Mas então respirou fundo e percebeu que Ammie não era a única a fazer isso. Não iria conseguir ficar ali parada. Resolveu ir para a cozinha.

            Rose viu a salada espalhada pela cozinha, o camarão fora da geladeira e o ovo no chão. “Você é Rose Weasley, minha companheira”. Sorrindo com aquelas palavras e foi arrumando as comidas. Olhando o livro, Rose foi fazendo a salada Caesar. Arrumou tudo em dois pratos e foi fazer o camarão.

            Olhou no relógio, Scorpius ainda não havia voltado. Havia se passado mais de uma hora e meia, e nada. A salada estava pronta e o camarão com ervas finas, como dizia o livro, estava pronto. Suspirou. Olhou para a mesa de jantar, arrumada. Voltou para os pratos. Respirando fundo e tentando conter a preocupação, Rose foi fazer a sobremesa. Morango com calda de chocolate.  Morangos... Sua mãe sempre ia na horta colher morangos frescos. Rose fechou os olhos, podia ver os morangueiros numa pequena horta. Podia sentir a terra. Podia sentir o cheiro de... Menta? Abriu os olhos assustada e se virou. Viu Scorpius com os braços no balcão, sorrindo para ela.

- Estava perdida em pensamentos? – perguntou ele apertando a cintura dela.

- Estava... – murmurou ela sorrindo com as lembranças que teve. – O que aconteceu? Você demorou tanto. – disse ela preocupada.

- Demoraram para atender ele. – disse Scorpius com uma careta. – Ficou preocupada?

- Fiquei... – murmurou ela abaixando o rosto. Scorpius sorriu e ergueu o rosto dela.

- Linda. – disse ele beijando a boca dela. – Vejo que fez o almoço que eu devia ter feito.

- Você não chegava nunca. – começou ela nervosa, gesticulando. – E eu estava ficando nervosa e...

- Tudo bem. – disse ele segurando os pulsos dela. – Venha. Vamos almoçar. – disse ele puxando ela para a sala.

- Sente-se. – chamou Scorpius sentando numa cadeira que tinha na sacada. Rose sentou na cadeira ao lado de Scorpius. Ambos seguravam uma taça com morangos e cerejas coberto de chocolate.

- Então, como está Matthew? – perguntou Rose.

- Os médicos disseram que ele ia passar uns dias lá. – respondeu Scorpius. – Minha vez.

- Sua vez? – perguntou Rose confusa.

- Cada um tem direito a uma pergunta. – disse Scorpius. - Joga?

- Jogo. – disse ela rindo. – Sua vez.

- Seu nome.

- Rose. – disse ela. – E o seu?

- Scorpius H. Malfoy. – disse ele. – Seu signo.

- Amm... Por que essa pergunta? – perguntou Rose. Scorpius deu ombros.

- Tudo bem. No que pensava quando cheguei? – perguntou Scorpius. Rose suspirou.

- Numa horta com morangos que eu tinha com mamãe em casa. – disse Rose.

- E como...

- Minha vez. – disse Rose. – Onde está sua família? – perguntou Rose.

- Minha família... Vejamos... Uma parte dela está no hospital e outra... Do meu lado.

- Como assim?

- A parte que está no hospital é Matthew. E a que está no meu lado, é você. – disse ele olhando para Rose.

- Não tem pai ou...

- Minha vez. – disse Scorpius imitando Rose, que apenas riu e rolou os olhos. – Por que se tornou escrava?

- Eu... – murmurou Rose. – Eu não quero...

- Confie em mim. – pediu Scorpius.

- Não Scorpius, não quero. – disse ela negando com a cabeça e fazendo menção que iria se levantar.

- Não! Tudo bem. – disse Scorpius segurando a mão de Rose. – Eu vou refazer a pergunta. – disse ele rapidamente, querendo que ela se sentasse. Rose concordou e sentou-se na cadeira. – Deixe-me ver... Cadê a sua família?

- Mortos. – respondeu Rose.

- Sinto...

- Não, tudo bem. – disse ela comendo um pouco da sobremesa. – Fruta preferida.

- Morango. E a sua?

- Não tem graça. – murmurou Rose. – Também gosto de morango. Mas também gosto de cereja. – disse ela mordendo a cereja.

- Não comece. – pediu Scorpius.

- Ou o quê? – perguntou ela mordendo a cereja.

- Não vai querer saber. – disse ele.

- Ah eu vou sim. – disse ela com a taça se sentando no colo dele.

- Então venha. – disse ele puxando Rose pela nuca para um beijo voraz.

- Scorpius...  – chamou Rose tentando se afastar de Rose.

- Diga... – murmurou Scorpius beijando o pescoço de Rose.

- Ouvi algo no jardim. – respondeu ela. Eles ergueram a cabeça e apenas viram um jornal caído. – Solte-me. – pediu ela sentando na cadeira ao lado dele.

- Mas...

- A noite. – disse ela marota. Scorpius negou com a cabeça e voltou a terminar sua sobremesa.

- Uma pergunta... Me fale da sua família. – pediu ele.

- Acho melhor não. – disse ela se focando na sobremesa.

- Por que não fala dela?

- Eu não gosto. – disse Rose.

- Ela tem um passado ruim? – perguntou Scorpius. Rose bufou.

- Tem um passado ruim. – respondeu Rose.

- Qual é o passado?

- Não é bem passado. – disse Rose. – É... Eu não quero falar sobre isso.

- Mas... É algo muito ruim.

- Não quero falar sobre isso. – disse ela se levantando e segurando sua sobremesa.

- Mas Rose... – começou Scorpius.

- CHEGA SCORPIUS! – gritou Rose vermelha. – CHEGA!

Scorpius a olhou abismado. Nada era dito, não era preciso dizer nada. Rose olhava apavorada para Scorpius enquanto ele olhava abismado para ela. Ele ouviu uma fungada vindo dela e viu ela se virar e correr para o seu quarto. Scorpius respirou fundo, o que tinha de errado em querer saber da família dela? O que tinha a família dela, afinal?