As Rosas De Hogwarts escrita por everyrose


Capítulo 25
A Ilha do Medo




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Caí de boca no chão. Parecia ter uma textura rígida e rochosa. A chave de portal havia nos tele transportado para outro lugar, evidentemente, apesar de que não era possível desaparatar para fora de Hogwarts. Sendo Dumbledore o homem que nos ajudou, tivemos privilégios. Eu me sentei. Toquei na minha testa, estava sangrando. O clima havia mudado de súbito. Estava extremamente quente, o sol escaldante rachava nossas cabeças. A única coisa que amenizava era uma leve brisa.

         Olhei ao redor, e contemplei um oceano azul inteiro nos circulando. Estávamos em uma ilha, em alto mar e a razão para o chão ser áspero, era por ser provavelmente formado por corais e rochas marítimas. As ondas avançavam em linha rasteira, perfurando e desgastando aos poucos as covas rochosas. Derramavam-se minuciosamente pelo cascalho, e eram tão cristalinas que possível era distinguir a cor destes debaixo d’água. Inspirei o ar seco e profuso, minhas pernas cansadas de tanto fugir. Ron pingava suor. Hermione levantou-se franzindo a testa, pois os raios de sol a cegavam e escamavam; também, a sua pele. Ela abaixou-se na altura da água do mar e tocou-a. Esquadrinhou o horizonte e tudo ao redor.

Hermione: Estamos no Oceano Índico. Na Grande Barreira de Corais.

Lola: Perto da Austrália. (Completei)

         Verdade inquestionável era que havia diversas ilhas de corais a alguns metros. Nenhuma era tão grande quanto esta. Ron alcançou os óculos que haviam caído no chão a Harry. Ele colocou-os e novamente sondou o lugar. Entrementes eu caminhava observando tudo.

Lola: Por que Dumbledore pediu a você que entregasse a chave a mim? (Disse a ele)

Harry: Eu não sei. Ele disse algo sobre você ser um tipo de... Guardiã ou sei lá.

         Fiz uma cara interrogativa. Meu braço raspou em algo e vi que me debati com uma estranha caverna colada em uma grande falésia. O fim da ilha levava à falésia, já que o lugar não era realmente muito grande. A caverna era preta e repleta de penumbra e umidade. Toquei na lateral e senti uma teia de aranha. Fiz menção de entrar cuidadosamente.

Ron: Lola... Não sei se é uma boa idéia.

         Não dei ouvidos a Ron e entrei mesmo assim. Sentia com a sola do meu sapato a areia escorregadia e lamacenta. Acendi a varinha, murmurando “Lumos”. Eu deixava rastros de pegadas enquanto caminhava.

Hermione: Lola? (Ela gemeu) Está escurecendo aqui fora...

         Instantaneamente senti que os raios de sol que iluminavam a beira da caverna iam se desintegrando. O céu devia ter nublado, era típico da Austrália ter um clima temperamental. Conforme caminhava, iluminava o teto, pelo qual pingava gotas de água. Nas paredes, via algumas lagartas e caranguejos rastejando. Talvez algumas aranhas formando teias. Senti um arrepio na espinha, sorte minha que estava acostumada com criaturas... Porém só com criaturas mágicas.

         No fundo da caverna avistei alguma coisa. Me aproximei. Havia túmulos ali dentro. Era uma espécie de mausoléu? Chamei meus amigos para ali dentro. Ouvi os barulhos de seus passos e de suas varinhas. Ron choramingava baixinho.

Hermione: Cale a boca, Ronald... Elas não vão te fazer nada.

Ron: Sim, e quanto a Aragogue? AH! (Desviou de uma rocha, tremendo)

         Os túmulos estavam cobertos de poeira, mofo e musgo. Passei a varinha sobre a parte de cima de uma lápide para esvoaçar a poeira. Lá, havia um nome escrito.

Tobias Haunsen

1607 - 1635

A Morte é apenas o começo

         Meu queixo caiu. Era o túmulo de meu tataravô! O que o túmulo dele faria naquela ilha deserta no meio do nada? Não fazia sentido. Senti um interminável e repentino desejo de depositar flores e me ajoelhar ao seu jazigo, com a impressão de que aquilo era o correto a fazer. Com um feitiço tirei toda a poeira de seu túmulo e o contemplei. Senti meu rosto esquentar e umedecer. Hermione apertou meu braço e deitou sua cabeça em meu ombro. Ela sussurrou tão baixo que chegava a ser quase inaudível.

Hermione: Foi feito de uma pedra rara... Titânio e Quartzo fundido, mesclados. É perfeito.

         Era realmente perfeito, de um cinza lustroso que tinha forma trigonal e havia uma camada cristalizada por cima, capaz de não mostrar reflexos à pessoa que a contemplava. Eu sacudi a cabeça e me recompus. Pude ouvir do lado de fora o barulho das ondas. Limpei a inscrição de uma lápide ao lado.

Bernadete Bolena

1613 – 1643

Reminiscência, de seu amado

E de seu filho

         Dessa vez, não foi só eu que fiquei abismada. Harry, Ron e Hermione soltaram uma exclamação. Bernadete não era ancestral de Harry, afinal. Era uma ancestral de Ana Bolena. Esfreguei os olhos e encarei aquelas letras novamente. Eu e Harry nos entreolhamos, cabisbaixos, perplexos.

Harry: Ela era uma Bolena, por santo Merlim...

Lola: O quê? N-não, eu sou... Não posso ser...

         O trio adivinhou o que eu estava pensando: Parente. Não queria ter de ser parente de Harry, mas muito menos parente de Ana Bolena. Por essa eu não estava esperando. Harry limpou a poeira de uma terceira lápide.

Harry: Aqui está escrito Annabeth Lirah Haunsen.

         Ron percebeu que havia uma quarta lápide. Desconfiado, limpou a poeira com os próprios dedos. Percebemos que o local de sepulcro era muito menor que os outros três.

Charles Lirah Haunsen

1635 - 1635

Em vosso leito; recém esculpido,

Veneno adormecido

Ron: Que diabos isso quer dizer?

         Li o epitáfio novamente. Parecia falar sobre um leito de morte recém esculpido onde haveria veneno. Isso não fazia o menor sentido, eu devia estar interpretando errado.

Hermione: É um bebê. É filho de Annabeth e Tobias, veja o sobrenome.

Ron: E por que colocariam um epitáfio tão horrível aí?

         Vi os olhos de Hermione focalizarem as palavras fixamente e quase ouvi as engrenagens de seu cérebro rangendo.

Hermione: O leito sobre o qual fala... Não tem significado de jazigo. Pelo menos não literalmente.

         Ela recitou as palavras.

Hermione: Em vosso leito; Acho que está falando de algum berço, de um lugar onde o bebê dormia. Recém esculpido; Uma criança que mal chegou à vida, que fora recém formada. Veneno adormecido; morta com veneno...

Harry: A poção envenenadora que o pai a ensinou a fazer, que estava na carta! Ela usou para matar o bebê de Annabeth e Tobias. E no mesmo ano, 1635, Tobias foi morto por uma foice pertencente aos Caçadores de Bruxas e à Bernadete.

Hermione: Exatamente, Harry!

Ron: Bom, e porque a maldita mataria o bebê deles?

Lola: Porque ela tinha ódio e asco de Tobias, depois dele ter a largado. Obviamente quis matá-lo.

         Eu tirei de minha bolsa o livro da minha família. Abri suas páginas mofadas e parei na árvore genealógica. Ligado ao nome de Annabeth e embaixo desta, estavam os três filhos. Um deles era Charles Haunsen.

Lola: Olhem... Lembram-se do que Bolena falou? Sobraram outros dois filhos.

         Eu virei as páginas até chegar às fotografias do livro. Encontrei as fotos em preto e branco de meus ancestrais, e então, vi uma foto da mulher que parecia ser Annabeth com duas crianças morenas ao seu lado, muito parecidas e de mesma estatura. Na realidade, pareciam gêmeos.

Lola: Os filhos de Bernadete... Annabeth os criou como se fossem dela.

Harry: Mas filhos de Bernadete com quem?

Hermione: Com Tobias, é claro. Por que motivo Bernadete se livraria dos dois filhos? Por terem o mesmo sangue daquele que a deixou.

Ron: Mas Hermione... Eles podem ser bruxos, como você vai saber?

Hermione: Escutem, eu estou estudando em Aritmancia, Probabilidade Mágica. Para originarem uma família trouxa inteira com exceção de Lola, NÃO HÁ possibilidade dos dois filhos serem bruxos. Se os dois; portanto, são trouxas, NÃO HÁ novamente possibilidades de serem realmente filhos de Annabeth e Tobias, já que ambos eram bruxos de famílias de puro sangue.

         Olhei mais uma vez o epitáfio do túmulo de Bernadete. Era uma dedicatória de um suposto marido e filho.

Lola: Ela deve ter casado de novo e ter tido outro filho.

Ron: Mas ela nunca se casaria com um bruxo de novo, ela não arriscaria passar pelas mesmas dificuldades.

Hermione: É isso, Ron... Ela se casou com um trouxa. Ambos trouxas tiveram um filho bruxo que originou a família Bolena!

Harry: E a razão para o filho dos dois trouxas ser bruxo é porque o pai de Bernadete era bruxo!

Lola: Perfeito... Então Annabeth teve um filho com Tobias que foi morto envenenado. Tobias foi morto por uma foice no mesmo ano e Bernadete teve gêmeos com Tobias. Seu ódio mortal pelo ex-amante fez com que se livrasse de seus filhos trouxas e Annabeth acabou cuidando deles sem talvez saber que eram filhos de Bernadete. Bernadete casou-se de novo com um trouxa, mas como seu pai era bruxo, foi capaz de procriar um filho bruxo. Este deu continuidade à família Bolena.

Ron: Ainda acho que falta uma peça nessa história...

Hermione: Falta descobrirmos como Annabeth acabou ficando com os filhos da outra. E o que isso tem a ver com...

         Eu caminhei até o túmulo decrépito de Bernadete. Era sombrio e os desenhos esculpidos em sua lápide eram estranhamente perturbadores. Meus passos faziam barulhos sutis no chão. Encostei a mão na tampa de pedra que tapava a sua cova. Arrastei-a, era pesada. Quando Harry percebeu o que eu estava fazendo, pediu para que eu tomasse cuidado. Desisti do trabalho de mão-de-obra e peguei minha varinha.

Lola: Vingardium Leviosa.

         Ainda pesada, sustentei a pedra flutuante e depositei-a ao lado da cova. Um odor nojento de podridão e de imundície infestou o ar ao nosso redor. Tapamos o nariz devido a repulsa. Com a respiração trancada iluminei o buraco onde os restos do corpo de Bernadete deveriam estar. Tinha um aspecto cadavérico. Os garotos também se aproximaram.

Ron: Olhe, tem alguma coisa ali dentro.

         Ele estava falando de um pequeno livro. Deveria estar carcomido pelas larvas, mas mesmo assim, qualquer pista que servisse já estava bom.

Lola: Accio livro.

         O livro lançou-se à minha mão e diretamente vi que tinha um cadeado o fechando. Percebi que era um diário. No mesmo instante, a caverna começou a tremer. Nos olhamos apavorados, sem saber o que ia acontecer. Me amparei na parede rochosa do lugar para não cair. Uma enorme pedra quadrangular se ergueu detrás das lápides e algo estava inscrito nesta.

SE VIOLADO O TÚMULO

NÃO HÁS ESCAPATÓRIA

TERÁS QUE PAGAR POR TUA MEMÓRIA

         Um estrondo irrompeu do nada. Os pedregulhos no teto da caverna começaram a desmoronar e a cair sobre nós. Hermione gritava, angustiada, e eu protegia minha cabeça com as mãos.

Harry: Reparo! Reparo!

Hermione: Protego!

         Nenhum feitiço funcionava. De repente, cadáveres fúnebres saíam de dentro da cova de Bernadete como zumbis nauseabundos no nosso encalço. Eram esqueléticos e no lugar dos olhos deparavam-se buracos pretos. Rugiam como monstros, como se estivessem sendo controlados por alguém. Um deles conseguiu puxar a perna de Ron, que estava tentando sair de baixo de um monte de pedras. Ele começou a gritar desesperado, mas nós mal conseguíamos nos mexer, pois a quantidade de cadáveres era tão grande que era impossível se livrar deles. Eu lançava feitiços para todos os lados.

Lola: EXPULSO! AAAH! ESTUPEFAÇA! ESTUPEFAÇA!

         Mais cadáveres puxavam meus cabelos e se agarravam com muita força ao meu corpo. Eu me debatia enlouquecida, mas as mãos esqueléticas deles não me largavam.

Lola: AAH, SAIA DAQUI, MALDITO! INCENDIO!

Hermione: RON! ESTUPEFAÇA!

         Uma pedra caiu batendo na lateral de Hermione, derrubando ela bruscamente no chão. Por sorte, ela estava perto de Ron. Agarrou-o com toda a força pelos braços, lutando com o cadáver que o pegava pela perna.

Ron: MINHA VARINHA, ELA ESTÁ EMBAIXO DA PEDRA!

Hermione: NÃO POSSO LARGAR VOCÊ, RON!

         Os dedos dele escorregavam no suor da mão dela.

Lola: AAAAAAAAAAH ACCIO VARINHA!

         A varinha estava tão presa na pedra que apenas tremia quando eu a chamava. Havia um enxame de cadáveres dentro daquela caverna, milhões e milhões deles inacabáveis e infinitos percorriam-na. Eram fortes o suficiente. Quando percebi, alguns cadáveres estavam me segurando enquanto outro viera por trás e tentava me sufocar. Meu pescoço doía. Eu virei minha varinha para trás para acertá-lo.

Lola: AGH... ESTUP... EST... (Tentava ao mesmo tempo tirar as mãos dele do meu pescoço para poder falar)

         Harry estava preso também, se debatendo.

Harry: LOLA, O FEITIÇO DO SANGUE!

         Os zumbis eram tão fortes que ao me prenderem, deixavam marcas de seus dedos no meu corpo. Senti os dedos afundarem cada vez mais, como se fossem cortar meus membros ao meio. A dor era insuportável. Enfiei a varinha a fundo com dificuldade, meu rosto já roxo, no meio do buraco do olho do cadáver. Ele cedeu por um segundo, e neste instante consegui atingir-lhe na cabeça.

Lola: SECTUMSEMPRA!

         Ele voou longe se desmaterializando. Vi que um bando de cadáveres tentava arrastar Ron até perto dos túmulos, circulavam em volta dele, prendendo-o. Era como se aquilo fosse um tipo de ritual. Hermione estava sendo arrastada junto, não largava Ron. Ela sacudia a cabeça enojada, horrorizada.

Hermione: LARGUEM ELE, LARGUEM-NO! BOMBARDA!

         Mas a sua varinha atingia apenas o chão, pois não podia mirar nos zumbis ou seria forçada a largar os braços de Ron.

Harry ofegava atirado no chão, estava ficando realmente pálido. Ele respirava com dificuldade.

Harry: Lola, querem jogá-lo dentro da co...

         Eu me ajoelhei ao seu lado, pasma. Eu previa o que estava para acontecer. Uma questão de tempo... Ajudei-o a se sentar, sustendo-o na parede de rochas. Estava todo arranhado, o sangue escorrendo pelos lábios, o suor pingando. Ele tremia como se estivesse queimando de febre. Suas palavras saíam com dificuldade da sua boca.

Lola: Eu não devia ter trazido você aqui, não devia...

Harry: Ron... Querem jogá-lo dentro da cova...

         Olhei para eles aflita, o que deveria fazer? Estavam se aproximando cada vez mais da sepultura. Harry respirava profundamente e cada vez mais lentamente. Vi que havia um rasgão na sua calça na altura do joelho, e dentro da ferida enormemente aberta havia cacos de rocha. Gemi ao ver aquilo.

Harry: Eu estou bem! (Irritado)

         Assenti, e apesar de ver que ele não estava nada bem, tive de deixá-lo. Vi que os cadáveres se dirigiam a ele também e me perguntei se ele teria forças para rebatê-los. Nesta altura Ron estava se segurando na borda da abertura da cova, estava praticamente enfurnado nela, com os pés apoiados na borda contrária.

Ron: AAAAAAAAAAAAH, HERMIONE! LOLA, HARRY! SOCORRO!

         Eu passei pela pedra gigante que estava em cima da varinha de Ron. Rezando para que esta não estivesse quebrada, bradei:

Lola: REDUCTO!

         A pedra quebrou-se em pedaços, e a varinha estava intacta. Peguei-a rapidamente e me dirigi até os bilhões de cadáveres em volta de Ron. Era uma visão do inferno. Eles o empurravam para dentro, alguns até mesmo haviam entrado dentro da cova e o puxavam de lá. Era evidente que a entrada de Ron naquele buraco significaria morte na certa.

Lola: SAIA DA FRENTE! (Hermione se afastou) BOMBARDA MAXIMA!

         Os cadáveres e as pedras no caminho explodiram em pedaços, alguns foram lançados para longe. Hermione conseguiu agarrar Ron e tirá-lo dali. Eu joguei a varinha a ele. Saímos correndo o mais rápido possível para a direção da saída da caverna, tropeçando nas rochas. Vi Harry caído ali, ele havia conseguido espantar os cadáveres que tinham ido ao seu encalço; estavam jogados do outro lado, espatifados.

         Ele segurou em meu braço e levantou-se, correndo junto conosco. Acho que nunca tinha corrido tão rápido em toda a minha vida. Cada pedaço dos meus ossos tremia de pavor e meu coração batia apreensivo. O fedor de esgoto continuava em nossos narizes, pois os cadáveres nos perseguiam. Eram milhares e estavam quase nos alcançando. O desespero percorreu meus olhos quando olhei para trás, algumas mãos quase alcançavam meu pescoço. Um barulho infernal de range-range agudo consumia meus ouvidos, eu fechei os olhos desejando chegar ao fim do túnel depressa.

         Senti as mãos geladas daqueles zumbis em minha pele, as unhas sujas raspando na minha perna. Joguei-me no chão, para fora da caverna, junto com meus amigos. Raspei meu braço com força no chão rochoso e senti-o abrir-se até a altura da axila. Soltei um grito de dor. Um segundo depois, tocamos ao mesmo tempo o guarda-chuva de bolinhas.

Olhei para meus amigos. Estavam acabados. A blusa de Ron estava ensopada de sangue; e de sua cabeça, escorriam pingos vermelhos. Ele ofegava cansado, curvado para frente, devido à dor no abdome.

Ron: Achei que... Ia... Morrer...

         Voltamos a Hogwarts. Deparávamos-nos na sala de Dumbledore, que por sinal, estava vazia. O chapéu seletor encontrava-se em cima da mesa do diretor.

Hermione: Harry...

         Olhei-o depressa. Ele estava cada vez pior. Seus olhos estavam entreabertos como se tudo o que conseguisse ver fossem coisas embaçadas. Ron e Hermione se entreolharam sem saber o que estava acontecendo.

Chapéu: Eu se fosse vocês, me vestiria junto...

         Uma fenda abria-se no chapéu toda a vez que este falava. Tinha uma voz rouca de quem é sábio. Entreolhamos-nos.

Ron: Por que nós vestiríamos você? Nem é um chapéu bonito...

Eu peguei o chapéu só por precaução.

Lola: O Chapéu Seletor nunca fica na mesa do professor Dumbledore, e sim na estante de cima. Talvez isso signifique alguma coisa... Rápido, precisamos achar aquele espelho.

         Eles não questionaram. Ron colocou Harry nas suas costas e o carregou consigo, como um bom amigo. Descemos pela gárgula rapidamente e coincidentemente o espelho estava lá, parado, sustentado no nada. Respirei fundo. Aquela era a hora. Se eu o destruísse, todos os meus desejos realizados pelo espelho desapareceriam. Isso incluía a minha amizade com todos os meus amigos de Hogwarts. Mas se não o destruísse, os meus pesadelos se realizariam, e Harry estaria em grave perigo, talvez até morto. Eu vi uma gota de sangue brotar de seu olho. Aflita, lembrei o que o professor Dumbledore havia dito. Só pode ser destruído por um feitiço. Mas o feitiço Reducto já tinha sido usado por mim antes, quando eu e Harry estivemos na Floresta Proibida e eu havia tentado destruí-lo sem sucesso.

         Olhei para o Chapéu Seletor. Talvez Dumbledore tivesse descoberto alguma coisa da qual não sabíamos. Tomando coragem, me dirigi a Ron, Hermione e Harry, que estava sentado em um degrau. Suspirei.

Lola: Escutem... Eu tenho que destruir o espelho. (Hesitei) Harry está assim... Por minha causa. E a única maneira de dar um fim nisso é destruindo-o. Eu não quero que... (Olhei para Harry de esguelha) Se eu destruí-lo... Nós não seremos mais amigos.

         Ron e Hermione correram até mim, me abraçando. Senti lágrimas úmidas tocarem meu rosto, não só as minhas, mas também as de Hermione. Ficamos por alguns segundos reconfortados naquele abraço quente. Eu não queria largá-los nunca mais. E quando o fiz, uma pontada de dor atingiu meu coração.

Hermione: Tem certeza do que está dizendo?

         Eu assenti. Tentei olhá-los sorrindo. Caminhei então até Harry e me ajoelhei, tocando sua mão. Seus olhos estavam mais abertos desta vez e ele parecia ter consciência do que eu falava. Sua voz soava cansada e rouca.

Harry: Você sabe que... Não precisa fazer isso.

         Eu acariciei seu rosto, já manchado de sangue. Falei com determinação:

Lola: É claro que eu preciso fazer isso. Eu vou fazer.

Harry: Não, Lola... (Ele implorou, sua voz sumindo) Por favor...

Lola: Confie em mim.

         Harry fez algo que achei ser impossível que fizesse naquele estado: Sorriu.

Harry: Você sabe que eu não vou esquecer você.

         Eu sorri, comovida. Beijei-o suavemente nos lábios de um jeito doce e calmo. Olhei-o pela última vez nos seus olhos azuis.

Lola: Eu te amo.

Harry: Eu também te amo.

E invés de lágrimas transparentes e ternas escorrendo pelo seu rosto, sangue pingava lentamente de seus olhos. Eu deixei-o para trás e voltei em direção ao espelho. Ron e Hermione sentaram-se ao lado de Harry. Os três, abraçados um no outro, apoiaram suas cabeças levemente uma nas outras e fecharam os olhos, como se estivessem apenas em um sonho.

         Então era isso. Esta era a hora. Ninguém nunca mais se lembraria de mim e nem de nenhum momento que passamos juntos. Eu voltaria sozinha para a escuridão, voltaria a procurar irremediavelmente a luz. Eu não teria conhecido o amor, a amizade, a confiança, pois todos os momentos e todas as memórias passariam como páginas e páginas de um livro em branco, que uma vez foram inundadas de tinta; agora, borrada. Não sabia como minha vida seguiria daqui para frente sem Harry, Hermione ou Ron. Sem Luna, Neville, Fred, Jorge e todos os outros. O passado sumiria, evaporaria como fumaça. De qualquer modo, eu merecia aquilo. Afinal, alguém que não conseguiu conquistar seu sonho com suas próprias mãos, não merece tê-lo realizado para sempre. Encarei o Chapéu Seletor em minhas mãos. Dele, saía de dentro uma espada. Peguei-a. Lancei-a para frente, e olhando para o espelho, no qual apenas minha imagem estava refletida, cravei-lhe a espada na altura do meu coração, e tudo o que pude ver foi o meu reflexo se desintegrando e uma força sombria saindo do objeto pelas fendas do vidro que se estilhaçava. O grito de Harry foi a ultima coisa que ouvi.


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