As Rosas De Hogwarts escrita por everyrose


Capítulo 26
De Volta ao Lar




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Acordei em um lugar monocromático. O ambiente estava silencioso e calmo. Ao abrir os olhos, enxerguei um teto branco, onde uma pequena aranha fazia seu ninho de teias. Ouvi barulhos de esparadrapos sendo tirados e colados, e de uma cortina sendo fechada. Estava na ala hospitalar. Olhei a janela. O dia estava ensolarado e um pequeno passarinho pousado no parapeito piava alegremente. Os raios de sol iluminavam o outro lado do castelo: sua coluna monumental de teto pontudo onde a torre de Astronomia ficava.

Percebi que meu braço estava enfaixado da axila até o cotovelo. Vi Madame Pomfrey entrar no recinto com um garotinho jovem que continha algo grudento e verde na sua perna. Ele reclamava da dor, enquanto a curandeira removia.

Pomfrey: Sh, pronto, pronto, querido. Agora vai ficar um pouco vermelho, mas pode ir. O que essas crianças não inventam hoje em dia...

Não conseguia me lembrar de nada que havia acontecido antes de eu estar na ala hospitalar. Eu forçava meu cérebro para que a memória viesse, mas não adiantava. Chamei Madame Pomfrey.

Pomfrey: Ah, você já acordou? Rápido, tome isso.

Ela me entregou um copo contendo outro de seus líquidos estranhos. Tomei-o inteiro e fiz uma cara de nojo.

Lola: Ai, minha cabeça... Parece que levei um balaço na testa.

Pomfrey: Sim, não se preocupe. Esse remédio vai ajudar, querida.

Ela já ia se retirando quando a chamei de novo.

Lola: Madame Pomfrey! Eu... Como vim parar aqui?

Ela sorriu.

Pomfrey: Bom, você e seus amigos foram achados no último andar, desmaiados.

Franzi a testa. Eu e meus amigos... Então uma luz invadiu minha cabeça: eu lembrei. Lembrei dos acontecimentos no campo de rosas, lembrei da estranha ilha em que fomos parar e do espelho. Provavelmente; no entanto, Hermione, Ron e Harry não se lembrariam mais de mim, a essas alturas. Eu teria que encarar, encarar essa perda. Então percebi que estava muito cansada. Minhas pálpebras pesaram e eu adormeci.

No dia seguinte, já tinha autorização para ser liberada da ala hospitalar. Vesti meu uniforme grifinório e caminhei lentamente pelos corredores. Tudo e todos pareciam normais. Era como se nada houvesse acontecido durante todo esse tempo. O Professor Flitwick repreendia um aluno da Corvinal que andava fazendo gracinhas. Os enxames de alunos, que conversavam animadamente, continham livros sob os braços e usavam suas capas de cor conforme suas casas. Pequenas coisas e familiaridades faziam eu me sentir em casa. Era como se eu tivesse feito uma longa viagem para longe de Hogwarts. De certa forma, eu estaria longe de meus amigos.

Entrei no Salão Principal, bonito como sempre. Desta vez não havia decoração especial. Eram apenas as mesas de madeira e os alunos, que acabavam de tomar café. Restos de torradas e omeletes deparavam-se nos pratos de inox. Alguns ainda liam a edição do Profeta Diário desta manhã. Cheguei perto da mesa da Grifinória. Três adolescentes estavam em pé ali do lado, conversando entre si. Um deles, virou a cabeça e olhou para mim sorrindo.

Harry: Lola!

Eu fiquei boquiaberta. Corri direto até eles e os abracei em grupo. Harry tinha algumas bandagens no rosto que cobriam seus ferimentos. Seus olhos já não mais sangravam, estavam da cor de um azul incrível. Hermione tinha cicatrizes nas mãos e Ron estava com a barriga enfaixada por baixo da camisa e de sua capa que disfarçava. Como isso era possível?

Lola: Vocês... Lembram?

Hermione: É claro.

Ron: Sem dúvidas.

Harry: Sempre.

Eu sorri, animada. Uma explosão de adrenalina e de alegria eclodiu dentro do meu corpo. Mal podia acreditar, minhas emoções simplesmente se misturaram e eu nem sabia o que estava sentindo. Alegria, espanto, alívio, dúvidas?

Harry: Dumbledore quer falar com você. No escritório dele.

Eu concordei. Dei tchau e caminhei até o outro lado. Conforme caminhava, alguns dos meus amigos me cumprimentavam. Luna, Neville, Dino, Fred, Jorge... Parece que todos realmente se lembravam de mim. Mas o que teria acontecido? Será que a teoria de Dumbledore estava errada? Apesar disso, eu sentia que alguma coisa estava faltando. Não sabia o que.

Subi até a pequena torre do último andar. Falei a senha para a gárgula e subi em seus degraus. Ela girou como sempre para cima e revelou o pequeno corredor que dava para a sala do diretor. Estava silencioso. Bati duas vezes na porta, educadamente. Não recebi resposta. Decidi abrir a porta e entrar na sala mesmo assim.

A sala de Dumbledore estava exatamente como antes. A única mudança fora o local onde houvera posto o Chapéu Seletor; antes, este se encontrava na mesa; agora, comparecia em uma estante no alto. Seus artefatos misteriosos ainda deparavam-se ali, e as estantes cobertas de livros antigos serviam como um belo cenário. Passei pela sua linda fênix cor de fogo amparada no poleiro, e subi os poucos degraus até a mesa. Havia um peculiar relógio de ponteiro estagnado ali, e seus ponteiros, invés de seguirem o percurso normal do passar das horas, giravam para o lado contrário, como se estivessem contando o tempo passado.

Dumbledore: Ah, você e o senhor Potter... Únicos de um tipo só.

Ele entrou no escritório com suas longas vestes de mago. Um anel prateado brilhava no indicador da mão direita. Dumbledore sentou-se em sua poltrona acolchoada, fitando-me com aquele olhar perturbador de quem lê a alma.

Lola: Ah, me desculpe, senhor... Devia ter esperado do lado de fora.

Dumbledore: Não é necessário, Lola. (Ele sorriu) Sente-se. Presumo que muitas perguntas devem estar se passando por sua cabeça.

Eu sentei, constrangida. Ficamos em silêncio por um momento, enquanto eu admirava sua fênix, que voava pelo cômodo. Dumbledore remexeu sua longa barba.

Dumbledore: Primeiramente, eu lhe devo sinceras desculpas, Lola. Cometi um engano. Achei que confiando a chave a Harry seria mais fácil persuadir vocês dois a freqüentarem o jardim das rosas juntos, assim como Annabeth e Tobias fizeram em seus tempos de Hogwarts. Quando descobri que você era a guardiã da chave, já era tarde demais.

Lola: Mas isso não mudaria nada.

Dumbledore: Mudaria, pois qualquer artefato mágico que possua um guardião, sempre permanecerá mais seguro com o próprio. É como se o guardião o lacrasse e o impedisse de ser furtado. Você é a guardiã da chave de ouro, pois a herdou de seu tataravô.

Lola: O senhor tinha dito que era possível destruir o Espelho de Ojesed com um feitiço.

Dumbledore: Você deve ter uma leve recordação de quando disse que o espelho parecia ser indestrutível, já que eu e o professor Snape havíamos feito de tudo para eliminá-lo. Descobri que não era impossível fazê-lo. Descobri que apenas você, sendo herdeira de Tobias, podia destruí-lo. No entanto, não percebi as severas consequências a que esse espelho poderoso estava a incluindo. Reverter o efeito original do espelho para o seu oposto; a realização de pesadelos, só poderia ser um feito de uma magia realmente negra. Lord Voldemort o transformou em uma Horcrux: um dos pedaços de sua alma aprisionada que o impede de ser um mortal comum.

Lola: Por isso só pode ser destruído por uma espada... Não por um feitiço qualquer.

Dumbledore: Exatamente. Tudo isso, é claro, já foi esclarecido com o senhor Potter.

O diretor ofereceu-me um doce crocante que estava em um prato e lembrava-me muito a baratas. Recusei, com o pretexto de que estava sem fome. Por algum motivo, Dumbledore sempre me parecera um tanto excêntrico, mas com um espírito de um velho sábio.

Lola: Professor, Você-Sabe-Quem estava usando o Espelho de Ojesed e a mim mesma para prejudicar Harry, mas eu não entendo o que Ana Bolena tem a ver com isso.

Dumbledore: Ana Bolena serviu de interlúdio entre você e Lord Voldemort. Quando ela claramente viu que você e Harry se tornaram realmente importantes um para o outro, decidiu usá-la para feri-lo, e não apenas para satisfazer os desejos de seu mestre, mas também para satisfazer os seus. Como você descobriu naquela ilha, Bernadete Bolena era possessa de um ódio mortal por Tobias Haunsen, pois este a havia abandonado. Ela perdera o seu grande amor. Ana Bolena achou que matar você, Lola, não seria suficiente, não causaria a dor necessária. Escolheu usar de seus artifícios para ferir Harry Potter e simultaneamente fazer você sofrer, pois você perderia seu grande amor. Ela achou que seria muito pior se você o perdesse do que se você morresse.

Eu corei ao ouvir aquelas palavras.

Dumbledore: Você sofreria assim como sofreu Bernadete.

Lola: Vingança... Ela quis se vingar. Afinal, eu sou uma Haunsen. Sou a única Haunsen bruxa.

O fato de Dumbledore saber sobre minha vida pessoal não fez eu me sentir mais confortável. Era, de certa forma, óbvio que ele saberia. Desviei de seu olhar rapidamente, para observar o Chapéu Seletor.

Dumbledore: Você parece preocupada, Lola. (Ele disse suavemente)

Eu olhei para a beirada da sua mesa de madeira, evitando contato com os seus olhos, com medo de que lesse meus pensamentos.

Dumbledore: Sabe, Lola... Você não é igual à Ana Bolena. Apesar de terem uma distante relação sanguínea e de sua família se originar de Bernadete, a verdadeira fundadora foi Annabeth. O que realmente importa dentro de uma família, não é apenas o que é passado de sangue para sangue, mas sim os valores que são passados de geração para geração.

Mais uma vez, ele preencheu minha mente com suas palavras consoladoras. Eu sorri. Outra pergunta extremamente relevante percorreu minha cabeça.

Lola: Professor, por que a memória de meus amigos não apagou quanto a mim, uma vez que eu destruí o espelho?

Dumbledore: Nem sempre nossos sonhos são feitos de ilusões, mas quase sempre, de pura realidade.

Ele sorriu.

Dumbledore: Ás vezes, Lola, desejamos tanto certas coisas que nem percebemos que já as tínhamos antes mesmo de desejá-las.

Eu continuei a olhá-lo, esperando por outra resposta, mas o diretor continuou sorrindo calmamente.

Dumbledore: Bom, suponho que seus amigos estejam esperando ansiosamente por você...

Ele se levantou, e eu também, frustrada por não ter conseguido respostas melhores. Dirigi-me até a porta, mas parei para lhe fazer uma última pergunta.

Lola: Só mais uma coisa, senhor. Para que exatamente foi feito aquele campo de rosas?

Dumbledore: Tem certeza de que já não sabe a resposta?

Ele mostrou seu último sorriso perfurando-me com seus olhos, e então me retirei, fechando a porta.


O fim do ano letivo se aproximava rapidamente. Passava as tardes inteiras estudando com Harry, Ron e Hermione na Sala Comunal ou na biblioteca, já que os N.O.M.S seriam realizados no mesmo mês. Ron nunca parecia estar muito disposto a se concentrar, portanto Hermione passava o tempo inteiro pedindo que ele se calasse, ou passando sermões. Eu, apesar de ter escolhido uma profissão relacionada com Trato das Criaturas Mágicas, ainda não eliminara a opção de ser música. Por isso, tinha que tirar ótimas notas nas matérias relacionadas com animais mágicos e com a arte.

Reparei que houve um distanciamento entre Carter e Hermione, o que fazia Ron se sentir mais confiante e feliz. O mesmo aconteceu com Ron e Lilá Brown. Talvez a compreensão deles de que não era impossível nos separarmos fez nosso circulo de amizade ficar mais próximo. Depois de tantos conflitos e de um quase adeus, tudo o que queríamos fazer era ficar mais perto um do outro. Assim ocorreu com Luna, com os gêmeos Weasley e com o resto dos grifinórios.

O dia dos exames chegou extremamente turbulento. Os alunos estavam exaltados, nervosos e apreensivos. Alguns N.O.M.S requeriam provas práticas também, o que só piorava a situação. A prova era individual, e os estudantes deveriam fazer fila para serem chamados. No fim, enfrentei tronquilhos ameaçadores e tive de identificar qual das comidas depositadas deixariam um unicórnio doente; a preparação de uma poção curadora, e diversos feitiços que eu deveria fazer conforme os professores mandavam. No começo estava tão nervosa que invés de transformar as bordas de uma janela azul em laranja, acabei transformando o vidro em laranja também. Transfiguração estava realmente difícil, já que McGonagall requereu que fizéssemos o feitiço do desaparecimento. História da Magia foi uma das provas mais chatas que já havia feito. Sim, nosso grupo de História da Magia não foi o ganhador, mas nem o dos meus amigos fora. Enfim, o mais difícil foram as provas práticas, pois as escritas fazíamos sem pressa em uma sala a prova de cola mágica.

Passado todo o estresse, passamos os últimos dias de Hogwarts na rua, aproveitando o sol. Os resultados dos N.O.M.S só seriam entregues no fim das férias, um pouco antes das aulas começarem. Todos fizemos uma roda embaixo de uma árvore e comentamos com boas risadas sobre nossas provas dos N.O.M.S. Neville havia cometido sérios erros, mas isso não parecia o preocupar. Simas falava da tentativa imbecil de duas garotas da Sonserina de colar na prova escrita. Agora que estávamos sem professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, um substituto havia aparecido para aplicar a prova feita pelo Ministério. Hermione insistia em dizer que o substituto era um homem bonito, enquanto Harry argumentava que ele tinha um enorme nariz e bochechas inchadas demais.

No dia de partirmos para o Expresso de Hogwarts, todos me deram seus endereços para que pudéssemos nos corresponder. Prometemos um a um que iríamos mandar notícias freqüentes dentro do possível. Harry estava um pouco desapontado por ter de partir e ter de ficar com seus tios abusados. Para ele, os poucos meses de férias que tínhamos eram eternos. Quando nossos olhares se encontraram, corei ao lembrar as suas últimas palavras antes que eu fosse destruir o espelho.

Quando chegamos à plataforma 9 ¾ e desembarcamos, olhei para o grande trem que sempre nos levava de volta ao nosso lar. A fumaça saía e encostava os céus, e uma massa de estudantes se despedia e encontrava suas famílias. Era claro para mim a razão pela qual os Malfoy queriam que eu e Harry nos separássemos. Simplesmente porque tudo ficaria mais fácil para que eles entrassem no campo, para que eles roubassem a chave. Como eles penetraram no campo em Hogwarts? Eu não sabia.

Ao olhar para Ron, Hermione e Harry percebi que Dumbledore sempre esteve certo. Eu havia conquistado a amizade dos três antes mesmo de desejá-la. Estava tão infiltrada em meus pesadelos que nem mesmo havia me dado conta. Não foi o Espelho de Ojesed que realizou meu desejo, fui eu. Aquele campo de rosas fora outra invenção de meu tataravô. Por alguma razão, duvidei de que aquele lugar pudesse ser amaldiçoado como o espelho foi. Por alguma razão, eu sabia que as rosas de Hogwarts ainda estavam lá e que não teve outro motivo para aquele campo ser construído, a não ser para cultivar o amor e a amizade. Assim como Tobias e Annabeth, assim como eu e Harry. E um lugar onde há amor, e não ambição, nunca poderá ser enfeitiçado. Eu estava desapontada porque minha chave havia sido roubada. Mas eu ia conseguir ela de volta. Eu ia.

FIM


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