As Rosas De Hogwarts escrita por everyrose


Capítulo 16
Ana Bolena




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/193220/chapter/16

O dia seguinte foi repleto de novidades. Eu acordei suando, abalada devido àquele terrível pesadelo. Todavia, logo acabei esquecendo os detalhes sórdidos do sonho, pois algo maior incrustava-se na minha cabeça. O fato de que não tinha um grupo para História da Magia. O fato de que os grifinórios ainda me ignoravam.

Ao descer para o café da manhã, desatei a ouvir ruídos e balburdias que provinham de alunos enfileirados transversalmente a uma mesa no Hall de entrada. O professor Flitwick estava encarregado de inscrever os grupos para o trabalho. Olhei para o lado de esguelha, e vi meus amigos discutirem sobre que música seria melhor para o teatro. Mais à frente, um grupo composto por corvinais e lufanos ditava os nomes dos integrantes para Flitwick anotar. Logo atrás deles, completamente empertigados e convencidos, estavam os sonserinos.

Logan: Ali está ela!

Pansy: E então? Pensei no que eu te disse ontem, querida?

Continuei parada onde estava, fingindo que contemplava os portões, fazendo pouco caso. Logan correu até mim e segurou-me pelos ombros, designado a obter minha atenção.

Logan: Olha, Lo, sei que você odeia o Malfoy e o acha ridículo, e eu até concordo com você. Mas sinceramente, você vai estar junto comigo. E afinal, você não tem grupo, tem?

Ele indicou os grifinórios exaltados com a cabeça.

Logan: Não acho que vão te convidar para participar, acha? Pense bem no que eles falaram ontem. Sobre qual seria a pior humilhação... Talvez devesse se juntar a nós, porque em que outro grupo entraria?

Logan tinha razão. Eu estava decididamente banida pelos grifinórios, e não havia o que fazer. A idéia de participar do grupo daqueles que me agrediram fisicamente e emocionalmente não era nem um pouco agradável para mim, e nem inspiradora. No entanto, Logan me dissuadiu. Eu fiz um sinal de positivo para Parkinson, e ela ditou nossos nomes para Flitwick. Logan sorriu.

Logan: Não se preocupe, sua parte não vai ser nada demais.

Finalmente me dirigi até o Salão Principal, contrariada. Sentei-me na mesa da Grifinória e me servi de torradas e leite, com a cara mais emburrada e apática do mundo. Entrementes, as corujas largavam as correspondências para os estudantes. Diversas cartas e jornais choveram. Eu recebi uma de meus pais, e um casaco feito por minha avó.

De repente, Neville berrou. Quase que o salão inteiro parara para olhar o que estava acontecendo. Ele apenas lia uma carta repetidamente, em estado de choque e pânico.

Dino: Neville, você está bem?

Neville: Estamos em guerra... ESTAMOS EM GUERRA! A INGLATERRA ESTÁ EM GUERRA!

Ele arremessou sua carta na mesa, e pudemos ver que sua avó que havia o informado desta fatalidade. As pessoas começaram a sussurrar, aflitas.

Simas: Está aqui. Saiu até no Profeta Diário.

Ele postou o jornal no meio, e todos se inclinaram para ler a gigante manchete que se alastrava pela primeira página.

A GUERRA DOS TROUXAS: A cidade de Devon é bombardeada, ferindo inúmeros trouxas e bruxos inocentes. Ministro da Magia proclama reunião com o Ministro dos Trouxas, para evitar que um segundo bombardeio cause maiores catástrofes.

Ron: Guerra dos trouxas? Guerra entre trouxas não deve ser tão ameaçadora assim, no máximo vai tirar casquinha dos bruxos.

Hermione: Óbvio que não, Ronald! Deixe de ser presunçoso! (Ela revirou os olhos) Guerra de trouxas afeta bruxos tanto quanto guerra de bruxos afeta trouxas. Ambas são perigosíssimas e causam muitas mortes.

Neville: Meus familiares podem estar em perigo!

Fred: Pelo menos minha família mora em um lugar afastado...

Jorge: E quanto a Hogwarts? E se Hogwarts for bombardeada?

Hermione: Impossível, a magia que protege Hogwarts é mais poderosa que se possa imaginar. Além disso, estamos há KILÔMETROS de distância dos trouxas e estamos fora do mapa. Assim como todas as outras escolas de bruxaria. Vocês nunca leram Hogwarts, Uma História? Por Merlim! (Irritada)

Fred&Jorge: Na verdade não.

Simas: Diz aí que os Árabes estão disputando território com a Inglaterra!

Dino: Eu ouvi falar que a guerra tem a ver com a questão de religião.

Hermione: Os meus pais... Eles são trouxas. (Ela falou com o olhar vago e apavorado)

Lola: Os meus também...

Os olhares dos grifinórios exaltados se voltaram para mim, como se eu fosse um monstro bizarro que tivesse acabado de fazer algo bizarro. No entanto, eu não era um monstro. Nem bizarra. Apenas fazia muito tempo que eu não soltava a voz na frente deles. Conforme os segundos passavam, mais alunos entreolhavam-se desesperados, lastimando em prantos, apreensivos. Algumas garotas até mesmo choravam. De repente, o Salão Principal havia se tornado uma baderna, uma aglomeração só. Vislumbrei o diretor falando urgentemente com McGonagall, e então, ele finalmente se dirigiu ao tablado.

Dumbledore: Atenção, alunos! Não há necessidade de entrar em pânico, acalmem-se.

Ninguém pareceu escutar. Ele acomodou a ponta da varinha no pescoço, aumentando a voz.

Dumbledore: SILÊNCIO!

O salão entrou em imensa taciturnidade.

Dumbledore: Os trouxas declararam guerra, não obstante as causas da motivação ainda são plenamente vagas. As evidências de que ataques terroristas poderão tornar a acontecer são incontroversas. No entanto, não há motivos para entrarem em pânico. O Ministro da Magia e seus inspetores oficiais e eu achamos que seria impertinente deixar que qualquer um neste castelo saia dessas propriedades durante este período. Em vista disso, mandamos hoje cedo cartas para os seus familiares, convidando-os a passar o feriado de Natal com vocês aqui em Hogwarts. (Cochichos entusiasmados)

Enquanto Dumbledore discursava, não consegui conter meu olhar. Tive de contemplá-lo, Harry. Olhava Dumbledore com um rosto rígido, atento. No entanto, não era possível encontrar sinais de emoções em suas feições tão impassíveis. Ele percebeu que eu o observava, e olhou-me de esguelha por meio segundo, desviando em seguida. O Natal para Harry não devia ser uma data muito esperada. É claro que, pelo o que Ron me contava, suas visitas natalinas à família Weasley eram sempre bem recebidas e calorosas, mas todos sabem que não é a mesma coisa. Pois Harry não tinha mãe, não tinha pai, nem irmãos. Tudo o que restara de sua família fora seus tios e seu primo miserável e desprezível, que nunca o valorizara. Então não pude deixar de me perguntar. Como ele agüentaria tudo isso? Como agüentaria ver todas as famílias felizmente reunidas, trocando presentes e comendo peru? E Sirius, seu padrinho, era considerado um criminoso. Ele nunca poderia ir à Hogwarts. Se eu pelo menos pudesse ficar ao lado de Harry o tempo inteiro... Eu não podia.

“Hogwarts sempre terá a honra de receber com imensa hospitalidade a qualquer um que a precise. É claro que não temos condições de abranger famílias muito grandes, infelizmente. Os familiares que forem de sangue trouxa terão suas memórias apagadas quando voltarem. Apenas os peço que, nesses tempos árduos e tempestuosos, ajam com cautela. Podem voltar a se deliciar!”

Especulações e murmúrios voltaram a circular pelo salão. Neville ainda estava com o rosto pálido, como um fantasma.

Neville: Eu não entendo. Como vão colocar nossas famílias aqui dentro? Onde eles vão dormir?

Dino: Ora, Neville. Dumbledore é um gênio, esqueceu? Tenho certeza de que o velhinho vai dar um jeito.

Ron: É, ás vezes ele é tão gênio que me surpreende. Quando falou que os trouxas viriam para cá, achei que estava biruteando de vez. Depois quando mencionou os feitiços de memórias...

Hermione: Ron, os feitiços de memórias só serão feitos por precaução. Afinal, você acha que meus pais pensam que todo o ano eu vou para um internato de trouxas, é? É óbvio que eles sabem de tudo. Acontece que podem existir trouxas que se impressionem demais com esse lugar, e acabem revelando para alguém, ou acabem surtando e concluindo que aqui não é um lugar seguro para seus filhos.

Ron: É óbvio que eles sabem de tudo. (Disse, em um falsete) De qualquer forma, agir com cautela? Agir com cautela quanto a que? Se não agirmos...

Lola: Seria leviano de nossa parte. Existem muitas magias desconhecidas em Hogwarts. Dumbledore quis dizer que elas não devem ser exploradas.

Hermione e Ron olharam-me, inusitados. Voltei a tomar meu café, meio cabisbaixa, totalmente desmotivada. Quando saí da mesa para tocar meu plano adiante, ouvi passos pressurosos que faziam estalidos correndo pelo mármore, se aproximando. Era o ruivo e a castanha.

Hermione: Escute, Lola. Nós não agüentamos... Ficar sem falar com você.

Ron: É sério. Nós não nos importamos se os outros grifinórios não querem se reconciliar com você. Nós queremos.

Olhei para os dois um pouco surpresa, então olhei para Harry que falava com Nick-Quase-Sem-Cabeça junto de Gina. Os dois se divertiam com os malabarismos do fantasma.

Hermione: Não se preocupe com ele. Voltamos a falar com ele e... Está tudo normal. Achamos que você deveria também...

Lola: Tudo bem. Podemos voltar a ser amigos.

Eu sorri e eles me abraçaram.

Ron: E então, quais são seus planos pra hoje?

Lola: Bem... (Eu olhei-os com malícia) Querem dar uma passada na Floresta Proibida comigo?

Hermione: O QUÊ? FICOU...

Lola: Maluca? Nem! Só queria explorar o lugar, poxa!

Ron: NÃO, Nem em BILÊNIOS faça isso. Da última vez que eu estive lá... Tinham aranhas. Aranhas nojentas e (Ele falou com cara de pânico e em um estranho tom agudo) GIGANTES!

Hermione: Harry já chegou até a encontrar Você-Sabe-Quem lá. Você não pode ir, além de não permitirem, é realmente pavoroso.

Lola: Ah ta. Vocês são MUITO sem graça. Eu vou fazer isso eu mesma, com licença!

Hermione: Mas... (Ela sacudiu a cabeça, aturdida) Você acabou de dizer que se não agirmos com cautela seria leviano de nossa parte! Ei, volta aqui!

É, droga, pensei. Parecia que Hermione possuía um conservatório de palavras e frases, pois ela sempre se lembrava das exatas palavras que qualquer um acabara de dizer. Infelizmente, eu estava me contradizendo. Mas pela primeira vez, estava nem aí.

A manhã passou com lentidão, eu mal podia esperar para o almoço e nunca nada demorou tanto. Depois que enchi minha pança enquanto finalmente botava a conversa em dia com Mione e Ron (e até Neville se meteu no meio), fui para o campo de Quadribol, mais exatamente para a vazia arquibancada. Somente o apanhador e os batedores da Grifinória precisavam treinar, de modo que eu não fora requisitada. Me sentei ali e fiquei tomando nota no meu caderno. Entrementes, dava uma espreitada em Harry, que ficava extremamente fofo tentando pegar o pomo de ouro. Ele olhava para mim de segundo em segundo e casualmente eu ouvia Fred e Jorge gritarem "PARE DE FLERTAR, SEU ESPERTINHO, E PONHA SUA CABEÇA NO JOGO!", ou "VAMOS APOSTAR: SE VOCÊ PEGAR O POMO, VOCÊ PEGA ELA NO FIM DO TREINO. SE NÃO PEGAR O POMO, NÓS A PEGAMOS!". E Harry, depois dessa, desatou a acelerar a vassoura.

Eu ria eventualmente das piadas dos gêmeos Weasley e fiquei me perguntando como eles tinham coragem de fazer aquilo com a própria irmã. Será que nenhum deles aprovava o namoro de Harry com Gina? Será que não estavam nem aí para a Gina mesmo, ou será que achavam que Harry não era bom para ela? Talvez tivessem medo de que ela se metesse em encrencas se passasse a namorar Harry. Afinal, a vida dele estava sempre constantemente em risco.

A próxima aula que tínhamos era Poções. Eu “faltei”, fazia parte do meu plano. Pedi a Harry emprestado a capa da invisibilidade e fiquei assistindo o professor falar sobre coisas entediantes da pequena sacadinha que havia na sala. Ele tagarelava perversamente sobre o uso ilegal de chifres de unicórnios em poções das trevas. Ron apoiava seu rosto sobre o punho, seus olhos estavam entreabertos e ele quase babava. Neville possuía a cara apavorada e tensa de sempre. Hermione, de fato, era a única que levantava a mão para responder às perguntas, mas Snape simplesmente a ignorava totalmente. Em uma das mil vezes que Mione levantou a mão freneticamente, o professor encarou-a com um olhar fulgurante de cólera.

Snape: Alguém que não seja a senhorita sabe-tudo sabe a resposta dessa pergunta? Longbottom, talvez?

Neville trancou a respiração, nervoso, sem esperar por aquilo.

Hermione: Professor, por favor. (Ela olhou para trás, para Neville) Neville não sabe a resposta, portanto será que eu não podia...

Snape: Cale a boca, Granger! Será que a senhorita é tão ávida por atenção quanto o senhor Potter, que por sinal, não está aqui? Onde será que ele está, hein, Weasley? (Ron despertou de seu sono com um susto, e se empertigou na cadeira) Será que ele anda matando aula para cometer mais atos heróicos?

Ron: Eu... (Engoliu em seco) Eu não sei, senhor.

Cansada daquela palhaçada invariável, peguei minha sacola branca. BAM! Uma bomba de bosta parou na cabeça de Carry Woodston. A garota ficou boquiaberta, apavorada. A turma começou a rir levianamente. Outra bomba de bosta atingira o estômago de Dino Thomas, que reclamou indignado e pensou que Crabbe havia jogado nele. Então, diversas bombas de bostas atingiram vários lugares da sala simultaneamente, sujando e emporcalhando alunos: Parvati, Malfoy, Ron, Pancy, Simas... Todas jogadas por mim, eu mesma que me divertia com a cena de adolescentes com medo, apavorados e enojados, que gritavam e corriam pela sala, enquanto Snape crispava seus lábios, furioso.

Snape: QUEM É O RESPONSÁVEL POR ISSO?

Até que uns começaram a jogar bosta nos outros. Eu tentava trancar meu riso, mas estava difícil. A guerra fora declarada e os alunos se embriagavam de bomba de bosta, rindo uns das nojeiras dos outros. Subitamente... BAM! Uma bomba de bosta parara no ROSTO de Snape. A merda escorregara pelo rosto, respingando em suas vestes. Então, eu gargalhei muito. Mas espera aí! Não fora eu que jogara isso! E perto de mim, mais atrás, outra pessoa gargalhava.

Snape subia as escadas da sacada, enraivecido, vermelho como alguém em brasa. Parecia estar a ponto de explodir ou de matar. Então, sem que eu mesma percebesse, arrancou a capa de invisibilidade de mim com a varinha e arrastou Harry pelas vestes, para o meu lado. Ele falou, áspero.

Snape: Parece que eu encontrei os RESPONSÁVEIS pela bagunça, não é, Srta. Haunsen e POTTER?

Harry e eu nos entreolhamos nervosos. Porém, a turma não prestava atenção em nós, apenas se sujavam de bomba de bosta o tempo todo.

Snape nos arrastou raivoso pelas nossas vestes, chegou a me pegar pelos cabelos. Ele fechou a porta da sala com um baque surdo. Quando o olhei, encontrei desprezo e fogo faiscando de seus olhos.

Snape: ARGO!

Filch aparecera instantaneamente. Ele e suas roupas chulas, seu cabelo ralo e mal cortado, sua boca com dentes faltando e seu sorriso sádico. Madame Nora, sua pequena gata de estimação o acompanhava, miando petulantemente.

Snape: LEVE ESSES DOIS INSOLENTES ATREVIDOS FORA DAQUI! PARA A FLORESTA PROIBIDA. E SE CERTIFIQUE DE QUE ELES MORRERÃO LÁ.

O olhar de Snape se tornou mais intenso e violento ainda. Ele ansiava, babava por vingança. Filch nos arrebatou também pelas vestes e nos arrastou para a floresta.

Filch: Hagrid...

Snape: SEM o Hagrid. (Rosnou ele)

Por um instante pensei ter visto pânico nos olhos de Harry.

Filch: Pois bem. (Ele disse rouco e frio) Andem, pra dentro da Floresta Proibida. Ficarei aqui para me certificar de que vocês não sairão dela pelo menos por 45 minutos. Andem, gentalha! (E nos empurrou para dentro).

Nos afastamos de Filch. Eu saltitava alegre, pouco me importando ou notando o quão fria e apavorante a floresta parecia de noite. Harry não saltitava, estava impassível. Eu o olhei sorridente, o brilho da excitação afogando meu rosto. Contudo, Harry ainda me fitava de um jeito estranho.

Lola: Ah, qual é! (Falei indignada) É uma floresta! Vamos explorar, quero ver um Centauro ou unicórnio por aqui...

Harry: Não é só uma floresta. Você tem noção do que tem aqui? Tem noção do que EU já encontrei aqui?

Lola: Sei que você encontrou Você-Sabe-Quem. Mas duvido que ele esteja aqui, de qualquer forma! Ah, Harry! (Supliquei)

Ele ainda continuava sério, apático.

Lola: Além do mais... Estamos aqui sozinhos, nós dois... Sem Malfoy, sem qualquer um. (Eu me aproximei dele)

Harry me olhou da cabeça aos pés, não conseguiu conter o seu sorrisinho maléfico. Eu tinha pisado em um ponto fraco seu, bingo! Então ele me recostou em uma árvore grande e estendeu o braço tocando a mão no tranco, me encurralando. Como se eu fosse fugir... Ele sorriu torto, aquele seu sorriso que eu amava, e aconchegou seu rosto perto do meu, encostando seu nariz no meu e depois o roçando na minha bochecha, e depois em meu pescoço.

Harry: Seu perfume...

Nessa hora comecei a pensar em o quão TOLO era Snape. Então gargalhei. Harry olhou para mim sem compreender. Eu ri mais, era muito idiota mesmo esse professor! A raiva dele fora tanta que o cegara e o fizera desperceber qualquer possibilidade de diversão que eu e Harry pudéssemos ter sozinhos, sem sermos vigiados por algum professor.

Ouvi um ruído que parecia que algo sussurrava suavemente ou vibrava. Foi quando olhei para o chão e vi uma cobra. Era uma cobra longa e prateada, diferente de muitas que eu já havia visto. Estava logo atrás de Harry, com a língua de fora e olhos dourados vorazes. Senti um pânico horrendo, perplexa, e comecei a tremer. Minha voz saiu embargada.

Lola: Harry...

Harry: Calma.

Era a primeira vez que via Harry se comunicando com uma cobra. Sempre soube que ele era ofidioglota, afinal, quando eu tinha doze anos, aquela notícia assombrosa havia infestado os jornais de todo o mundo bruxo. Ele sibilava do mesmo modo que uma cobra, mas parecia fazê-lo inconscientemente. Finalmente, depois de alguns minutos, enquanto a cobra continuava a avançar ameaçadora, Harry virou-se pra mim.

Harry: Ela quer jantar.

Aquelas palavras sucintas foram suficientes para que eu o puxasse pelo braço e corrêssemos a toda velocidade pela floresta. Tomada de medo, sentia meu estômago afundar. Corríamos tão rápido que eu não conseguia distinguir a paisagem, minha visão estava borrada. Desviávamos das inúmeras árvores, galhos e arbustos imersos na negritude.

Senti um cheiro de queimado. Estava à ponto de alertar Harry, quando ele disse:

Harry: Olhe! Ali adiante, há fogo!

Realmente havia um grande clarão. Quando chegamos perto, vi um unicórnio sair correndo para outra direção. Era um colírio para os olhos. Fiquei tão maravilhada e petrificada que precisei que Harry me cutucasse com força no braço para voltar à realidade. Ergui a cabeça para cima, e vislumbrei um centauro.

Harry: Firenze?

Firenze: Rápido, senhor Potter! Esta cobra foi regurgitada por uma varinha, você sabe o que fazer!

Harry fitou Firenze confuso, então olhou para a cobra que se aproximava com rapidez. Onde estava Mione nessas horas?

Harry: Lembrei! FINITE INCANTATEM!

Ele atingiu a cobra em cheio com o feitiço, e ela se transformou em fuligem. Era realmente um feitiço. Voltei-me para o centauro, cheia de dúvidas e de deslumbramento.

Lola: Olá!

Firenze: Senhorita, Haunsen...

Lola: Como sabe meu nome?

Firenze: Sei de muitos nomes aqui em Hogwarts, senhorita. O que jovens indefesos como vocês estão fazendo aqui? A floresta está perigosa, desde que um espelho foi encontrado aqui. As estrelas estão alinhadas em Mercúrio.

Harry: O quê? Não me diga que é o Espelho de Ojesed.

Firenze: Exatamente, jovem Potter. Eu e meus companheiros não conseguimos sair da floresta e avisar Dumbledore. Também faz tempos que ele não nos visita.

Lola: Bom, ele deve estar fazendo aquelas suas viagens.

Firenze: De acordo com os astros, Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado está por trás de tudo.

Harry: Quê? Quer dizer que Voldemort está por trás de tudo?

Firenze: Não fale o nome dele.

Harry se calou.

Lola: Pode nos dizer onde ele se encontra?

Firenze: Eu evitaria contato direto com o espelho, jovem Haunsen. O espelho está naquela direção, aos fundos (apontou com a cabeça).

Lola: E por que a floresta está pegando fogo?

Firenze: Foi o espelho.

Eu saquei minha varinha e conjurei muita água para apagar aquele pequeno incêndio. As chamas foram desaparecendo aos poucos.

Firenze: Obrigado. Agora, deixo vocês a sós.

E o centauro se foi, galopando. Eu e Harry nos entreolhamos, e nossas mãos se entrelaçaram. Caminhamos até a pequena clareira que Firenze nos indicara. No entanto, meu olhar fixava o chão, cheio de musgos e terra seca. Pelos cantos dos olhos, conseguia enxergar a moldura do espelho. Ele parecia estar encostado em alguma árvore, envolto por cipós. Saquei a varinha.

Lola: Reducto!

Errei feio. O feitiço foi acertar em um arbusto e espantou uma ave.

Harry: Você vai ter de olhar pelo menos por um segundo.

Lola: REDUCTO!

Eu o olhei mal e mal, mas mesmo assim pude perceber o que estava refletido nele. Não havia sinal de rachaduras, nem de arranhões. Apenas um garoto, com muito sangue ao seu redor. Apenas um vulto preto e uma foice. Eu olhei para trás, assustada. Não havia nada. Olhei para frente novamente e levei um susto gigante: o vulto estava bem ali.

Ele arremessou sua foice afiada na direção de nossos pescoços, mas nos arremessamos no chão.

Harry: EXPEPLLIARMUS!

Apesar de Harry ter uma mira perfeita, a foice pesada do vulto apenas tremeu, e nada mais. O vulto atirou a foice em Harry, enquanto ele se levantava, e acertou bem em seu ombro, rasgando o moletom e perfurando a pele com força. Eu o puxei, com medo.

Lola: Harry, vamos, temos que ir, ele vai nos matar.

Eu suava frio. Sentia vertigem, sentia enjôos. Não queria morrer e muito menos que Harry morresse. Péssima idéia entrar na Floresta Proibida.

Lola: BOMBARDA MAXIMA!

Meu ataque serviu apenas de distração para que fugíssemos, pois explodiu o chão. O vulto desviara. Corríamos feito loucos, e quase tropeçávamos nas raízes grandes dos troncos. A foice foi lançada mais uma vez, então empurrei Harry para o chão, atirando-me também. Senti a ponta afiada raspar em meu cabelo. Levantei-me rápido, estávamos quase saindo da Floresta Proibida.

Lola: HARRY!

Ele se levantou, resvalando. Saímos dos limites da floresta. O rosto do garoto estava suado, sujo e continha gotas de sangue. O meu estava cheio de pavor, eu ofegava. O da professora Bolena, insatisfação e mistério.

Bolena: Que diabos vocês dois estão fazendo aqui? Esta floresta é estritamente proibida para estudantes!

Lola: Foi Filch e... Snape.

Harry: Escute, professora. (Disse ele, esbaforido) Precisamos falar com o professor Dumbledore imediatamente.

Bolena: O diretor não está. Ele está viajando e não voltará hoje.

A professora fez uma pausa, talvez esperando que falássemos mais, mas eu simplesmente entrara em estado de choque. Ela cobriu-nos com a capa, nos amparando um de cada lado, e levou-nos até o castelo. Passamos pela cabana de Hagrid, e ele estava na janela, mas não consegui distinguir sua face. Subindo as escadas com dificuldade, fomos empurrados finalmente para dentro da sala de Ana. Ela deixou a porta entreaberta e cruzou com Snape no corredor.

Bolena: O quê você pensa que está fazendo, Severo?

Snape: Nada que seja da sua conta, Ana. Os dois mereceram a detenção.

Bolena: Na Floresta Proibida? Deixou-os sem ninguém por perto! Poderiam ter...

Ela hesitou.

Snape: Se você acha que sabe tão bem o que é melhor para esses insolentes, Ana, então promova a si mesmo. (Disse, audacioso) Eu agi corretamente.

Bolena: Você está agindo impulsivamente, Severo. Agora, se me dá licença, vou tomar as devidas providências.

Ouvi seus passos se aproximando, e logo Bolena abriu a porta para depois fechá-la e encerrar-se em sua sala. Olhando-a melhor, percebi que não usava seu típico uniforme vulgar. Ela nos fez sentar. Então pegou de dentro de uma gaveta um frasco que continha um tipo de pó colorido. Estendeu-o para mim.

Bolena: Tome.

Eu os engoli, desconfiada. Eram azedos e logo surtiram efeito. Já não me sentia mais tão congelada, e minha dor no corpo havia passado. Harry tomou o pó, admirado. Talvez surpreso.

Bolena: Suponho que tenham visto o espelho, não é?

Harry: Sim. (Surpreso.) Ele tentou nos matar. Acho.

Como ela sabia sobre o espelho? Será que Dumbledore havia contado algo para a professora?

Bolena: Você viu algo incomum no espelho, Lola?

Lola: Bem... Mais ou menos. Vi algo que costumo ver em meus sonhos.

Harry olhou-me, interrogativo, provavelmente se perguntando se eu estava falando sobre algo além do vulto.

Bolena: Sabem por que Dumbledore pediu a vocês que ficassem longe do espelho, não é?

Harry: É claro que sim. Porque é perigoso.

Bolena: Exatamente. O professor Dumbledore está viajando e me encarregou de anunciar essas informações a vocês. O Espelho de Ojesed, criado por seu tataravô, foi projetado para ostentar desejos e nada mais. No seu caso, Lola, no entanto, por motivo de você ter relação sanguínea com Tobias e ser a única bruxa, o espelho pode tornar seus desejos realidade. Ou medos.

Harry: Mas Dumbledore sempre disse que isso não seria possível, se não...

Bolena: Se não seus pais estariam vivos Harry, eu sei.

Houve um silêncio constrangedor.

Bolena: O fato é que o espelho torna realidade apenas os sonhos de quem o criou e de quem herda o sangue dessa pessoa. No caso; você, Lola. Coisas estranhas vêm acontecendo ultimamente, não é?

Eu estava perplexa. Apenas aquiesci com a cabeça, pois meu olhar estava vago. Conseguia apenas visualizar todas as estranhas coisas, os peculiares momentos com aquele espelho. Não fazia sentido, afinal, eu não desejava que Harry se ferisse ou que um vulto me perseguisse.

Bolena: Deixe-me ajudá-la a compreender.

Sacando a varinha mágica, a professora sussurrou um feitiço que conjurou um translúcido painel branco pairando no ar. Nele apareceram letras, que se combinaram umas com as outras, formando o topo de uma árvore genealógica.

Bolena: Tobias casou-se com uma mulher chamada Annabeth, como pode ver na árvore genealógica, criando três filhos. Conheceu-a aqui em Hogwarts, o que significa que Annabeth era uma bruxa. Porém, como ambos poderiam originar uma família inteiramente trouxa, com exceção de você, tendo sangue mágico em suas veias?

“Convém que, antes de casar-se com Annabeth, Tobias namorava uma trouxa. Uma mulher de beleza incrível: Bernadete Potter. Ela estava grávida.”

Abismada, olhei para Harry, que franziu o rosto inteiro em uma expressão desacreditada e incrédula.

Harry: Perdão?

Bolena: Quando Tobias largou Bernadete para ficar com Annabeth, ela se sentiu traída. Sentiu-se injustiçada, magoada. Achou que ele preferia Annabeth por ela ser provida de magia. Designada a se vingar, Bernadete matou Tobias com uma foice afiada, decepando-o. Era a primeira vez na história bruxa que alguma trouxa triunfava sobre a nossa raça.

Senti um impacto estrondoso com aquela relação. Bernadete Potter? Matou meu tataravô com uma foice?

Lola: Isso não faz sentido...

Bolena: O que dizem para você, Lola? Que é tataraneta de Annabeth? Nunca lhe passou pela cabeça que poderiam ter mentido? Ou, talvez, a mentira tenha passado de geração para geração.

Harry: Quer dizer... Você quer dizer que... Lola pode ser descendente de Bernadete?

Bolena: Eu não sei, Potter, mas não duvido de nada. Quem sabe vocês sejam parentes, não é?

Lola: Espere um pouco, professora. Você quer dizer que se eu vi Harry sangrando no espelho até morrer... Quer dizer que... (Gaguejei)

Bolena: Que irá acontecer. Exatamente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Rosas De Hogwarts" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.