As Rosas De Hogwarts escrita por everyrose


Capítulo 11
O Vulto




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       Acordei pensando em como o Baile de Outono tinha sido o melhor baile da minha vida. Primeiro, porque eu nunca havia ido a um baile. Segundo, porque eu havia estado com Harry Potter. No entanto, as reminiscências vieram à tona, e lembrei que ele havia ficado com nove garotas antes de mim. Acredite se quiser, o pior não foi isso. O pior foi Draco Malfoy ter me beijado a força, sim, Draco Malfoy! Se é que posso chamar aquilo de beijo... Foi nojento, asqueroso, repulsivo! Eu simplesmente só queria afastar meus pensamentos daquela lembrança de ter encostado meus lábios naquele sonserino com bafo de cachaça. Aquele bode troglodita nauseante... Foi a pior experiência de todas, tanto que depois daquilo passei mal, e bem na hora da entrega do prêmio. Afinal, estava me sentindo um lixo, um pedaço de bosta.

         A grande novidade é que uma poção-feitiço Ilusionista foi posta na bebida da grande maioria de bruxos na Festa à Fantasia. Legal, não? Eu não fazia a mínima idéia de quem fora o imbecil que fizera isso, mas pelo menos já sabia o porquê daquela festa ter se tornado uma putaria só de uma hora pra outra. Pessoas enfeitiçadas, enganadas. E por isso eu estava tendo visões de palhaços, pessoas dobradas, cobras e borboletas com bolas de fogo. Uma ilusão. Digamos que, por hora, o que mais me preocupava era o Profeta Diário.

         Hermione largou com raiva o jornal em cima da mesa da Grifinória, no Salão Principal, provocando um barulho ressonante.

Hermione: Isso é ridículo! É mentira atrás de mentira, exagero atrás de exagero!

         Luna, como sempre, havia dado uma escapadinha de sua típica mesa da Corvinal para sentar conosco.

Luna: Ela errou nossos nomes...

Hermione: (Revirou os olhos) Não errou, não, Luna! Ela fez isso de propósito, para nos difamar!

Ron: Pelo menos meu nome não está aí...

Hermione&Lola: CALA A BOCA, RONALD!

         Ele enfiou um pão com geléia de amora na boca, receoso, antes que falasse qualquer outra bobagem. Novamente fitei aquele jornal pé-de-chinelo desacreditada, sem conseguir pensar.

Lola: Vê se pode... Ela só falou isso porque eu disse na cara dela que ninguém iria ler as matérias escrotas que ela escreve!

Hermione: Essa loira fofoqueira, repugnante, petulante!

         Hermione espumava de raiva, ver ela indignada não era algo muito incomum, já que vivia se irritando com Ron o tempo todo ou com Malfoy e sua trupe. Contudo, nesse caso, ela estava realmente invocada. Era impossível não perceber sua expressão de rancor e aversão, e quando falava, tudo aquilo estava claro em seu tom de voz. Eu possuía um pouco mais de dificuldade para demonstrar tudo aquilo tão de repente, apenas remoia por dentro.

Hermione: Mas não se preocupe, Lola. Ninguém acredita nas baboseiras que essa Skeeter fala, todos sabem que ela mente descaradamente.

         No mesmo momento, uns garotos da Sonserina passaram por nós com sorrisos debochados, e jogaram aviões de chumbinhos.

Garoto: LULINHA! QUANTO É A HORA?

Garoto2: QUER APARECER? ENFIA UM PEIXE NO CU E DIZ QUE É SEREIA! (Imitando uma sereia nadando)

         Eles seguiram o caminho rindo da minha cara, e olhando pra trás, desdenhosos. Alguns estudantes ao redor pararam para ouvir, o que só piorou as coisas. Logo em seguida, duas garotas da Corvinal passaram, e ao nos verem, começaram a rir.

Garota: Aonde vocês arrumam poções do amor tão potentes? Hahaha!

         Hermione ruborizou instantaneamente e levantou-se da mesa brutalmente, ameaçadora. Parecia que ia comer viva as duas garotas, mas elas já tinham se afastado. Eu a puxei pelas mangas, para sentar.

Ron: Então é verdade? Vocês colocaram mesmo poções do amor pra...?

Hermione: Isso, Ron, continue acreditando nessas mentiras e merdas que a Rita Skeeter fala! É tudo LOROTA! SE LIGA, PANACA! QUANDO você vai aprender? Eu estou FARTA!

         Ela finalmente saiu dali, provavelmente em direção a biblioteca. Como se não fosse o suficiente, Rita Skeeter ainda havia difamado as minhas músicas, ironizando-as! E o pior: não havia falado NADA sobre a poção-feitiço Ilusionista que deram para todos, que era o mais importante. Pressentindo um mau-agouro, decidi me levantar e segui em direção ao fim da mesa. Vi Harry abraçado em Gina, mas ignorei tal fato. Parecia que os dois já tinham se acertado. Que rápido. Ela não valia nada mesmo, ou pelo menos não sabia se valorizar. Parei na frente deles.

Lola: Preciso falar com você.

         Ele me olhou, quieto.

Lola: Sei que você já passou por isso, então conclui que é a melhor pessoa para quem eu poderia pedir algum conselho. Sinto muito pelo profeta...

Draco Malfoy passou por nós, lançando um olhar penetrante a Harry e a mim. Harry olhou para o chão, pensativo. Parecia preocupado com alguma coisa. Ele me olhou de volta.

Harry: Não, tudo bem. Não é sua culpa. Agora, se me dá licença, tenho de ir.

E saiu portão afora. Ele estava estranho, um pouco hesitante. Fred e Jorge se colocaram na minha frente, impedido minha passagem. Estavam animados.

Fred: Lola? Nós estamos sabendo de tudo o que aconteceu.

Jorge: Tudo, tudo mesmo.

Fred: E queríamos te desejar boa sorte.

Jorge: Com o treino de Quadribol de hoje.

F&J: Esperamos que entre pro time!

Fred: Mais uma coisa!

Jorge: Se você ficar cansada das pessoas te estressando...

Fred: Tente isso.

Eles me ergueram a mão me dando um pacotinho roxo escuro. Nele estava grifado: Caladores de Bocas.

Jorge: É mais um produto Gemialidades Weasley!

F&J: FAÇA BOM USO!

Eu agradeci e eles partiram. Eu quase tinha me esquecido que hoje era a decisão! O treino para ver quem entraria para o time da Grifinória. E iríamos jogar com a Sonserina, que também tinha de tomar sua decisão hoje. É claro que não era um jogo para valer, não valia pontos para a Copa das Casas. Era apenas uma maneira mais criativa de escolher seus jogadores.

         Chegando ao vestiário, me aprontei. Sentia-me estranha de uniforme. De qualquer forma, estava nervosa. Grifinória precisava apenas de um artilheiro, que era o posto pelo qual eu estava competindo. Eles dariam cinco minutos para cada jogador fazer o que puder durante a partida, e o que tiver se saído melhor, ganha.

         Espreitei por detrás da cortina. Vários alunos de ambas as casas estavam lá assistindo. Achei estranho, afinal, não era um jogo. De repente vi algo que explicou o porquê de todos estarem lá: um cartaz gigante estava suspenso na arquibancada sonserina, e gravado nele estavam enormes letras que alternavam suas cores entre vermelho e preto, “HAUNSEN SUCKS”. Levei a mão à boca. Não acreditava nisso! Aquilo era bullying na multidão!

         Esperei no meu lugar, enquanto os primeiros competidores jogavam. Eu nem ao menos havia falado direito com Harry antes do teste. Ele não jogaria, é claro, afinal eles não precisariam do apanhador no jogo, e Harry era o capitão; precisava, portanto, observar e julgar.

Quando Lino Jordan anunciou minha entrada, entrei sem respirar. Vaias e mais vaias percorreram a multidão que assistia. Lembrei-me então de respirar, é claro. Ninguém me queria ali. A torcida contra mim era tão grande que mal pude notar a torcida por mim. Todos os tipos de pessoas gritavam xingamentos para mim, sem ao menos me conhecerem. Os Sonserinos se aproximaram.

         Malfoy, o apanhador do outro time, que também não precisava jogar, se colocou ao lado de Harry.

Malfoy: Ela vai quebrar a cara. E você também, Potter.

O apito soprou, e instintivamente impulsionei minha vassoura. Um pouco bamba, devido ao nervosismo, comecei a voar. Sonserina avançava com a goles, enquanto os rebatedores arremessavam os balaços. A multidão vaiava-me e cantava musiquinhas debochadas, repetindo-as várias vezes. Tentei voar até as balizas para fazer um gol, mas antes que percebesse, a goles não estava mais em minhas mãos. Sabe o que é ter uma multidão de pessoas gritando xingamentos pra você? Sabe o que é estar jogando e dando o melhor de si e ter músicas e vaias da maioria das pessoas? SABE O QUE É? NÃO, VOCÊ NÃO SABE!

Eu não conseguia jogar! Cada vez que voava para buscar a goles, algum Sonserino roubava a bola de mim ou me derrubava nos ares, me fazendo cambalear. Era muita pressão. A multidão continuava segurando o cartaz e gritando contra mim. Agora era: "SE LIGA, LULA DEMONÍACA!". Eu não podia fazer nada, não podia olhar para meus amigos pedindo ajuda, eu estava só. Tentei alcançar o jogador com a goles, mas ele desviou de mim.

Angelina: CUIDADO, LOLA!

O balaço quase batera em minha cara, por pouco eu me abaixara. A multidão riu debochada e continuou gritando merda. Eu tinha vontade de berrar, de me esconder e nunca mais aparecer. Maldita teimosia minha de querer jogar Quadribol. Por quê? Tinha que me controlar. Eu estava agora com a goles na mão, mas um artilheiro sonserino chapava-se contra meu corpo, tentando me derrubar da vassoura a todo o custo. Ela estava quase escorregando, e eu perdendo o equilíbrio. Tudo o que conseguia ouvir era o barulho da multidão. Espera um pouco... Que barulho era aquele?

De repente ouvi uma música conhecida, muito conhecida. Liberty Walk... LIBERTY WALK! Olhei para o lado e a torcida da Grifinória estava cantando minha música e batendo palmas! E cantavam realmente alto. Tão alto que começava a abafar a torcida contrária, que por sinal, também parara de cantar para escutar. Um sorriso surgiu no meu rosto. Com toda a força que tinha me arremessei contra o artilheiro sonserino, o derrubando, cheguei à baliza mais próxima e lancei a goles para o gol. E sim... Foi gol. Grifinória gritou animada. Sonserina não parava de vaiar.

Lola: CALEM A BOCA!

Calem a boca, era isso! A partida começou de novo e Sonserina cantava e vaiava mais alto do que nunca. Parecia competição de música. Então eu peguei de dentro do meu bolso o Calador de Bocas. Joguei o pó roxo na multidão Sonserina.

Lino: E ENTÃO LOLA HAUNSEN... Espere aí... O que ela jogou na torcida verde? Será um pó? Será... Mas é claro, minha gente! OS CALADORES DE BOCAS! GEMIALIDADES WEASLEY! Pra calar a boca dessa gente escrota e imbecil!

Minerva: Jordan!

Lino: Foi mal, sorinha!

O pó roxo, logo que jogado, se transformou em fitas adesivas vivas, que cobriram a boca da torcida verde. A fita era tão forte e fibrosa, que parecia ser impossível de tirá-la mesmo com a mão. Os Sonserinos se debatiam, apavorados. Agora só se escutava a torcida da Grifinória. Os gêmeos estavam de parabéns.

         Sim, eu entrei para o time da Grifinória, se é o que você está se perguntando. Foi sorte. E na verdade, eu não tinha ido tão bem quanto queria. O que me salvou foi, além de meus amigos e suas idéias mirabolantes, o fato de que os outros competidores eram muito ruins. Harry havia apertado minha mão, me congratulando. Foi estranhamente formal, como se nunca tivéssemos sido próximos.

         Um dia depois, me encontrava sentada na biblioteca fazendo o dever de Poções. Já era tarde, e eu precisava acabar aquilo rápido, pois Snape não perdoava deveres mal-feitos ou atrasados. Minha pena escrevia sobre a Pedra da Lua e seus usos.

Usada principalmente em alquimia e no preparo de poções, a Pedra da Lua é considerada inofensiva, porém seus derivados são extremamente tóxicos. Já a Pedra de Marte, de meteorito...”

         Olhei pela janela. Já era noite e havia neblina. As pessoas passavam por mim com as caras amarradas. Ouvi ruídos e berros que pareciam soar como “Beija, beija!”. Há alguns metros, garotos e garotas do quinto ano cercavam Harry e Gina. Que ótimo. No entanto, percebi que Harry me observava de esguelha, discretamente. O que estaria acontecendo? Voltei minha cabeça para baixo, e tentei me concentrar na tarefa, mas meu olhar estava vago. Suspirei. Ouvi mais urras e vivas serem gritados, estourando meus tímpanos...

         Ron apareceu repentinamente, enfiado em uma estante de livros, perto à minha mesa.

Lola: E aí? Você aqui na biblioteca? Que milagre!

Ron: É, mas não é dever não. (Ele sorriu, estabanado) Só estou vendo se têm aqui nessa seção normal livros sobre magia negra... Pelo jeito não.

Lola: Magia negra? O que ta tramando?

Ron: Ah, bem... (Constrangido) Eu e Mione vamos... Ajudar Harry a procurar livros sobre Horcruxes. Provavelmente devem estar na seção reservada.

Lola: É mesmo? Posso ajudar também?

Ron: Er, pois é. Essa é a parte... Harry diz que não quer que você vá.

         Eu franzi a sobrancelha, interrogativa. Ron fez o favor de se explicar.

Ron: Ele está preocupado com a sua segurança.

Lola: Minha segurança? Por favor! (Cínica) Um livro não vai me matar. E quanto a SUA segurança e a da Hermione? E quanto a segurança de vocês? Ele não se preocupa com ela?

         Ron ficou sem resposta. Ele finalmente saiu da estante.

Ron: Desculpe. Foi o que ele disse.

         E partiu. Continuei a escrever, desconcertada. Até que um baque surdo despertou-me de meus pensamentos reflexivos. Era Logan, que havia arrastado uma cadeira e sentado ao meu lado.

Logan: E então? Estudando muito?

Lola: É...

         Eu não havia até agora acrescentado nada demais àquele primeiro parágrafo.

Logan: Você parece chateada.

Lola: Não se pode estar feliz quando se é humilhada em público, pode?

Logan: Sei que está sendo duro pra você. Mas eu não acredito em nenhuma palavra do que aquela Skeeter escreveu, sabe?

Eu olhei para o meu caderno.

Logan: Se eu pudesse faria qualquer coisa...

Lola: Você veio aqui pra falar disso? (Eu o interrompi)

Logan: Não... Na verdade eu vim pedir uma coisa.

         Eu o olhei, o incentivando a prosseguir.

Logan: Bem, na real não é um pedido, é uma pergunta. (Hesitante) Você... Sairia comigo? Como um encontro?

Eu paralisei, petrifiquei, congelei. Essa era a última coisa no mundo em que eu pensei ser a pergunta dele. Estava totalmente FORA do contexto. E de cogitação? Santo Dragão dourado! Ele percebeu que meu olhar estava inexpressivo e então acenou com a mão.

Lola: Eu...

Logan: Você tem uma queda pelo Potter, não é? Sei que tem. Pense, Lola. O Potter é que é o galinha aqui. Veja ele com a Gina. Voltaram.

Lola: Ele não a ama.

Logan: Não a ama, assim como não ama todas as outras. Não importa que traia Gina com trezentas garotas, como sempre fez. Ele vai continuar traindo e vai continuar com Gina. Nunca vai abrir mão dela, nunca vai largar ela. Ela serve de status pra ele.

Lola: Eu... Tenho que pensar, Logan. Tenho que pensar.

Logan: Está bem. Avise-me quando tiver decidido.

Ele saiu. Eu ferrei meus olhos no caderno de novo, mas não li nem escrevi. Apenas refleti. Deveria eu sair com ele? E o que isso significaria exatamente? Eu estava tão deprimida e focada em meus problemas sociais que tinha esquecido completamente de Logan Hoffman. E agora? Eu gostava tanto de Harry... Isso o machucaria. Porém ele estava me machucando. Por que ele não falava mais comigo? Isso eu não entendia. Será que ele havia acreditado na Skeeter? Não poderia ser... Isso seria um pesadelo. Como? Ele saberia que Skeeter é uma tratante, uma loira repugnante, como dizia Hermione.

Então olhei de novo para o lado e a multidão de garotas havia desaparecido. Apenas sobraram Harry e Gina, sentados abraçados e se beijando. Pensando bem, Logan era tão fofo e legal... Ele se preocupava com os meus sentimentos.

Encontrava-me no escuro como nos meus outros sonhos. Sozinha e solitária. Tentando achar a luz. De repente, minha imagem mudou. Agora eu andava em um campo verde clareado e ensolarado, com um vestido amarelo, meus cabelos esvoaçando. A figura de uma rosa veio a minha cabeça. Vermelha, espinhosa. O espinho picou meu dedo, fazendo-o sangrar levemente. O cenário mudou de novo, agora eu sonhava comigo mesma dentro de Swortex, quando era pequena, com 11 anos. Eu falava com um homem velho, de cara arredondada, e barbicha branca, quase sem cabelo. O homem usava uma capa azul cristal com detalhes em ouro. Em seguida, o cenário mudou de novo. A figura de uma pessoa morta no chão com olhos abertos e fixos, sangue jorrando de sua pálpebra contaminava minha mente.

O escuro me dominava novamente. Dentro de um cômodo vazio eu me encontrava em um canto. Porém, desta vez era diferente. Havia algo a mais no cômodo. No fundo do lugar, empoeirado e rachado, erguia-se um lindo espelho com as bordas douradas. O espelho mostrava refletido um vulto encapuzado.

Eu acordei de repente, suando e ofegando. Fora apenas um pesadelo. Esfreguei meus olhos, com medo. As imagens ainda preponderavam em minha cabeça. Disse a mim mesma para não pensar naquilo. Era só um sonho, nada era real. Tentei dormir de novo, mas não consegui. Olhei no relógio de pêndulo: Três da manhã. Precisava dormir, no outro dia teríamos prova de Poções.

Levantei-me da cama, vestindo meu roupão. Decidi delicadamente ir ao banheiro feminino fora dos dormitórios. Sem fazer nenhum barulho, ao sair da sala comunal, acendi minha varinha nos corredores escuros. Eu devia estar louca por perambular pela escola há essa hora. Expulsariam-me. Mas eu não me importava. Peguei um atalho até o banheiro. Fui direto à pia e enchi minhas mãos de água, lavando o rosto. Olhei-me no espelho. Eu estava horrível, com os olhos vermelhos e olheiras, toda escabelada. E pensava, como queria ter meu tataravô por perto. Queria conselhos sobre o mundo mágico, um mundo dentro do qual eu estava perdida de certa forma. Ninguém da minha família pertencia àquele mundo. Queria saber de histórias que tivessem acontecido com ele, coisas pelas quais ele passou. Eu estava isolada. E ainda tudo dava errado. Humilhada publicamente, difamada, sofrendo bullying. E sentia que meus amigos se afastavam e iam embora, me deixavam. Abandonariam-me, eu sabia.

Desejei fortemente dar um soco na cara de todos. Deixei as lágrimas escorrerem de meu rosto, lágrimas de raiva. Fiquei vermelha de raiva. Onde estava meu tataravô? Onde estavam todos? Porque todos me abandonam sempre? Porque sempre acabo na escuridão, na solidão, em um canto, porque essa tortura? Por quê? E finalmente descarreguei minha raiva socando o espelho com força, quebrando-o em pedaços.

Segurei meu punho, que doía um pouco. Eu havia me cortado. Virei-me em direção a saída do banheiro, porém, do nada, esbarrei com aquele maravilhoso espelho de bordas douradas e reflexos estonteantes. Lembrei-me de Dumbledore falando que ele era perigoso, e que eu deveria me manter longe. No entanto, o que o espelho estava fazendo ali, em um banheiro? Porque ele parecia me perseguir? Afinal, eu não estava com Harry em minha companhia. Decidi me afastar, temerosa. Contornei-o, sem fitá-lo, até a saída do banheiro. Olhei para trás, para me certificar de que ele ainda estava lá. Mas não estava. Ao olhar para frente de novo, o espelho estava diante de mim. Respirei, apavorada. Corri para outro lado, qualquer lado, para não ter que olhá-lo. Contudo, o espelho insistia em se colocar a minha frente, não importava para que lugar do banheiro eu fosse. Ele me impedia de sair dali, como se implorasse para que eu o olhasse uma última vez. Eu tapei meus olhos e gritei:

Lola: NÃO!

         Até que não houve jeito. Eu tive de fitá-lo. Meu tataravô estava refletido nele. Eu, ele e um vulto preto.


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