Acordei meio tonta, sem saber onde estava e o que havia acontecido. Percebi que estava em cima de uma maca e logo vi mais três idênticas a que eu estava deitada. Deduzi que era a enfermaria. Mas porque eu estava ali? Algo deve ter acontecido, e eu não lembro de nada, obviamente. Vi que uma moça com traços jovens e olhos claros se aproximava de mim, - totalmente vestida de branco – e enquanto sorria, me anunciou a notícia que tanto esperava, sobre o que havia acontecido comigo.

– Você já esta bem. Agradeça ao “cara lá de cima” por nada grave ter acontecido. Só tome mais cuidado na próxima aula de Educação Física, ok? A atenção e concentração são prioridade quando se esta jogando vôlei. – ela saiu dando “risinhos” do que tinha dito. Ela tinha sido grossa, na verdade brincalhona, quando disse suas últimas palavras e saiu rindo.

Espera... é isso. “A atenção e concentração são prioridade quando se esta jogando vôlei” as palavras se repetiam em minha mente junto com sua risada sem graça. Eduarda. Tinha sido ela. Senti algo molhado escorrer pelo meu rosto, até chegar a minha boca e eu sentir o gosto salgado das... lágrimas. Mas dessa vez não eram de tristeza. Eram de raiva.

Levantei-me da maca num pulo, e sai andando em direção ao dormitório torcendo para que ninguém me visse, ou eu ficaria com mais raiva ainda por conta do interrogatório idiota que sempre fazem quando você esta chorando. O pior, é que te interrogam não porque se importam, mas sim porque querem saber da sua vida. Querem “fofocar” que nem as senhoras que fingiam estar tricotando, enquanto fofocavam sobre a vida dos outros que moravam na minha antiga rua. Apenas ignorei quem me olhava, e fechei a porta do quarto com força o bastante para chamar a atenção de todas que estavam no corredor do dormitório feminino.

Não aguentei, afoguei meu rosto no travesseiro e comecei a gritar comigo mesma e apertá-lo com força o bastante para rasgá-lo, tentando diminuir a raiva que estava dentro de mim. Porém, foi em vão. Peguei meu diário, peguei uma caneta qualquer em meu estojo, e decidi desabar minha raiva. Sempre dava certo.

31 de fevereiro de 2012

O QUE EU FIZ PRA AQUELA VADIA ME ODIAR TANTO?

Não suporto mais ver aquela garota de modo algum. Tento ser calma, e até tento ser amiga dela, mas parece que é em vão. Se eu pudesse, agora mesmo, eu esmurrava a cara dela até ela MORRER. Mas felizmente não sou disso, e eu não iria conseguir fazer isso quando chegasse perto dela. Ela faz eu me sentir... Fraca. Infelizmente. E admito, sou muito vulnerável a tudo. simples palavras fazem eu ficar magoada demais por dentro. Eu tento ser forte. Mas ás vezes não tem como segurar, e então desabo com alguém ou choro até encher uma caixa d’água, se possível. Tenho que mudar isso, esse é o meu maior defeito. Com essa garota me atordoando, vai ser difícil. Mas vai ser com meu sofrimento que vou aprender a ser fria.

Realmente, eu melhorei. Meu rosto já não estava mais inchado, e pelo menos parte da minha raiva havia passado. Fui tomar um banho gelado, pra esfriar minha cabeça e relaxar, e assim que terminei, coloquei meu pijama para dormir e esquecer esse dia. Eram 8hrs da noite, e eu poderia conversar com o Harry sobre isso. Mas ele é um garoto, talvez até soubesse como me ajudar, mas eu estava cansada demais pra isso. Peguei meu ipod, coloquei no aleatório, e dormi sem antes o desligar deixando que ele descarregasse durante a noite.

[...]

Abri os olhos e me levantei da cama cambaleando um pouco. Vi que Eduarda estava na cama do meu lado, dormindo. Fui até o banheiro tentando fazer o mínimo de barulho para evitá-la. Eu sei que o que estou fazendo é idiotice, e também sei que um dia vamos ter que nos resolver, ou não... Mas até lá, eu quero evitá-la o máximo possível.

Fiz minhas higienes, me vesti e fui tomar café sem nenhuma compainha (lê-se Harry). Sabe quando você quer ficar sozinha, longe de tudo e de todos? Pois é, hoje eu estava assim.

As aulas passaram rapidamente, e finalmente consegui entender o que os professores falavam depois do “Bom dia” ou “Boa tarde”. Nada de interessante aconteceu. Porque afinal, essa é a vida da Isabella, onde de TUDO pode acontecer. Ri sozinha do meu próprio pensamento idiota, enquanto estava á caminho do dormitório, já que as aulas de hoje haviam terminado ás 15:00.

– Rindo sozinha? – finalmente, pude ver aquele sorriso de novo. Era o garoto que eu havia “conhecido” na aula de violão. Forcei para lembrar o nome dele, mas acho que ele não me falou sobre isso.

– É... das idiotices que fico imaginando em minha mente.

– Sabe que também sou assim? Começo a pensar em coisas que despertam meu humor, e começo a rir loucamente e até mesmo falar sozinho. Meus amigos acham estranho...

– Não é estranho, é... Diferente. – o interrompi. - Ser normal é chato.

– Ah, e agora você ta me chamando de anormal? – ele falou rindo.

– Não, não é isso. É que... – me embaralhei entre minhas próprias palavras durante um tempo, e então, consegui continuar a conversa - essas pessoas que tem algumas manias diferentes, de algum modo, elas meio que me encantam. Sei lá. – abaixei a cabeça envergonhada, e sorri bobo.

Enquanto caminhávamos, ele não falou mais nada depois que tinha dito aquilo. Não deu pra ver sua expressão facial por eu ter abaixado a cabeça com vergonha. Droga. Talvez eu tenha feito besteira.

Ele continuou andando, e quando chegamos na porta do meu quarto, ainda em silêncio, ele olhou pra mim, e disse:

– Foi bom conversar com você, mas agora tenho que ir. Até qualquer hora. – ele sorriu, e ficou meio sem jeito. Depois, fez um movimento como se fosse me abraçar, e então voltou ao seu lugar. Então tomou coragem, se aproximou, e beijou minha bochecha.

– Até. – foi a única coisa que consegui falar naquele momento. Pois estava com a sensação de haverem borboletas dentro do meu estômago.