Em Busca da Felicidade escrita por Nammyee


Capítulo 2
Buscando uma Existência


Notas iniciais do capítulo




Talvez, ninguém ou talvez todos já tenham passado por isso, assim como eu.

Se aceitar, temer que sua existência seja algo inútil e sem razão... Sentir vontade de ir embora desse mundo, acho que todos já sentiram isso uma vez na vida. O capítulo trata disso.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/1926/chapter/2





Quando eu era pequena, minha mãe que vivia presa em uma cama de hospital, costumava me dizer:

-Todos têm um propósito nesta vida. O meu foi o de ter a felicidade de encontrar seu pai e de lhe ter como filha... E você, minha querida... – a mãe da garota sorriu – Você deveria ficar feliz por estar viva. Deveria estar feliz por poder ter a chance de viver... Ter a chance de sair deste hospital depois que eu...

Mas... Me recuso á acreditar que essa é minha felicidade. Não me sinto feliz por existir, me sinto apenas incompleta. Parece que me falta algo para tornar minha existência completa... Mas o que?

Talvez, a verdadeira felicidade esteja á minha espera. Na minha segunda investida em descobrir isso, acabei parando em uma cidade grande também, uma cidade cheia de pessoas rígidas. Pessoas que exigem muito dos outros, mas elas mesmas não são nada.

Era um dia de certa maneira calmo, não chovia e muito menos parecia ter pessoas nas sarjetas, isso já era algo. Pessoas caminhavam apressadas, não podiam perder seu dia de serviço, afinal, seria um dia de pagamento pelo ralo á baixo.

Marina caminhava pelas grandes ruas daquela cidade, notara que a cidade ficava á beira de um rio que por causa das chuvas que haviam acontecido dias atrás, estava cheio e violento.
Marina também percebeu que nos becos, pessoas violentavam outras chegando até mesmo nocauteá-las apenas para roubar-lhes seu dinheiro.

-Ganância... – Marina disse á si mesma – Huh... – ela suspirou tristemente – Isso também não é o que busco.

Por que todos roubavam? Matavam? Por dinheiro? Existia alguma felicidade nisso? Talvez sim... Ou talvez não. Cada um tinha seus desejos.

Marina olhava para a imensa ponte que havia logo á sua frente, muitos carros passavam e poucos notavam o que várias pessoas faziam ali.
Marina também se perguntou sobre isso, via pessoas saltarem daquela ponte. Pareciam atormentadas com algo, pareciam dizer adeus á suas vidas e se lançavam para o esquecimento...

O tempo começara á fechar.

-Chuva... – ela percebeu pequenos pingos que deram lugar á uma verdadeira chuva forte.

A moça abriu novamente seu guarda-chuva e saiu caminhando até o local aonde uma mulher observava aflita.
Ela chorava por causa de um rapaz que estava um pouco distante dela.

-Com licença – Marina disse - Senhora, o que está acontecendo?

A mulher olhou para Marina, ela estava muito assustada e parecia estar desesperada.
Uma expressão que Marina conhecia bem, em todas as suas viagens que fizera, conhecera pessoas com expressão similar, desespero... Algo realmente triste, algo que significava a vontade de fazer algo e não conseguir.

-Ele... Aquele rapaz! - A mulher exclamou ainda chocada – Aquele rapaz quer se matar! Não posso deixar que faça isso... Ele... Ele é tudo que tenho! Meu filho...

-Matar? – Marina virou seu rosto para o local aonde a mulher apontava.

Um rapaz estava bem na beirada da ponte olhando para baixo, lágrimas escorriam de seus olhos. Ele parecia bem triste, tão triste que estava á ponto de tirar sua vida.

-Eu o criei, mas hoje... Os pais adotivos dele... – a mulher pôs-se á chorar.

-Tudo bem senhora, eu vou ver o que aconteceu – Marina saiu andando até ele. – Talvez o que possuo, possa ajudá-lo.

-Mas... – a mulher parou de falar – Ele... Mark... Er...

Marina notou que o rapaz estava ensopado por causa da chuva. Caminhou lentamente até ele o protegeu da chuva usando seu guarda-chuva.

-Olá – ela disse. – Posso ir aí?

O rapaz se virou assustado, lágrimas caíram de seus olhos e Marina percebeu que ele ofegava de medo.

-Não se aproxime! – ele gritou desesperado, mas esse desespero era de pura tristeza.

Seus cabelos balançaram, apesar de curtos, os cabelos do rapaz pingavam a água da chuva. Estavam caindo sobre seus olhos, Marina notara, os olhos daquele rapaz eram da mesma cor que seus cabelos. Um tom castanho escuro.
Ele estava muito

Ele usava um uniforme de escola, será que ele estudava em uma escola particular? Faculdade? O uniforme estava amarrotado e molhado.

-Não quero me aproximar. – Marina respondeu com simplicidade – Estava apenas curiosa, porque está na beirada dessa ponte? Pode cair.

O rapaz continuou á olhar para Marina desacreditado, será que ela não percebia o que ele estava para fazer?
Não percebia que ele estava pronto para acabar com seu sofrimento?! ACABAR COM SUA VIDA!

-Eu... Não vê?! – ele exclamou nervoso – Eu não agüento mais isso!

Marina deu um passo para frente e nessa mesma hora, um carro passara á toda velocidade derramando a água que se acumulara na rua em cima de Marina, ela ficara ensopada, mas não parecia ter ligado.

-Agüentar? – ela perguntou indiferente – Não viu aquela senhora ali do lado, ela é quem não está agüentando.

O rapaz lançou um olhar para a mulher que estava de joelhos chorando, ele começou á se desesperar mais.

-Eu não... Não queria isso! – ele gritou.

-Me conte, o que está acontecendo. – Marina disse finalmente perto dele, ela tocou em seu ombro. – Talvez eu... Eu possa ajudá-lo.

O rapaz olhou para Marina, ele abaixou sua cabeça e limpou o choro. A chuva dera uma cessada.
Ele viu que até mesmo a desconhecida estava ensopada de chuva por causa dele.

-Eu... Eu me chamo Mark Roff...

-Não preciso do sobrenome – Interveio Marina – Não é algo que vem ao caso.

Ele respirou aliviado, enfim alguém que não dava á mínima para sua origem, sua educação ou DNA.

-Mark. – disse por fim.

-Marina. – ela disse dando um ligeiro sorriso. – Me chamo Marina.

Mark olhou para baixo, ainda estava com tudo aquilo em mente. Conhecer ao iria lhe ajudar em nada, pelo menos, era o que ele pensava.

-Você provavelmente não pode ajudar alguém que nem merecia viver...

-Merecer viver?

-Desde cedo, desde que me entendo por gente! – Mark exclamou – Vivo sendo tratado como lixo, fui adotado por uma família de renome e obrigado á ser como eles...

-Como assim? – Marina disse se sentando no chão.

Mark um pouco contrariado a seguiu, ele abaixara sua cabeça para que seus joelhos pudessem servir de colo.

-Desde que fui adotado, meus pais adotivos queriam que eu fosse o modelo de perfeição... Diziam que eu seria seu filho perfeito, mas com o tempo – ele deixou lágrimas escorrerem – Fui sendo ridicularizado pelos amigos dos meus pais e eles consequentemente começaram á fazer isso também.

Marina balançou a cabeça.

-Isso realmente é algo triste. Ter pais que não respeitam seus próprios filhos e ainda por cima se deixam levar pelo que os outros pensam...

-Meus pais, há algum tempo atrás se recusam á falar comigo. Agora dizem que minha existência é algo que jamais deveria ter acontecido por eu ser uma preguiçoso e vagabundo, por mais que eu me esforce! Eles sempre dirão a mesma coisa!

Mark se ergueu de repente e novamente olhou para a beirada da ponte.

-NUNCA! NUNCA FUI PERFEITO PARA ELES! – Ele gritava para si mesmo – Jamais! Eu nunca deveria ter existido!

Ele parou de gritar e levou suas mãos ao rosto lentamente, estava de olhos arregalados com o que dissera. Mordeu os lábios e sentiu suas lágrimas escorrerem e entrarem em sua boca.
Marina sabia que ele estava sofrendo por pensar que viver era algo triste.

-Mar...

-Eu... Não mereço mesmo, eu me esforcei apenas para ter o amor deles. Se eu tivesse apenas um abraço, se eu ganhasse um abraço materno ou paterno... Eu estaria tão feliz.

-Feliz?

Marina abaixou sua cabeça tomando as dores do rapaz. Sabia que o amor dos pais, também era um tipo de felicidade, ser aceito e sentir que tem algo que o faça existir...

-Mark... Você realmente merece existir... – Marina disse calmamente.

-Você não sabe Marina – Mark disse olhando para ela com lágrimas nos olhos – Não sabe o que é ver seus pais que lhe acolheram dizer coisas terríveis como: Jamais desejei ter você, jamais quis ver você, você é apenas um estorvo... Apenas um merda.

Marina abaixou sua cabeça, Mark não podia ver os olhos da moça que começavam á criar lágrimas.

-Você não sabe... – Marina murmurou – Eu também, também...

Mark novamente caminhou para a beirada da ponte, olhou para a corredeira que o rio criara por causa da chuva.

-Se fizer isso... Se eu fizer isso – ele sorriu tristemente – Talvez eles ficarão felizes de me ver longe, o vagabundo vai deixar sua vida. A água limpa o passado, a água limpa tudo. Talvez ela limpe essa ferida que está em meu coração, a sensação de ter desejado o amor de alguém...

Mark riu enquanto deixava as lágrimas escorrerem.

-Foi egoísmo meu pensar que seria aceito por eles, pensar que seria amado!

Ele estava pronto para ir de encontro com a corredeira, sentira braços enlaçarem seu peito. Alguém o abraçara.
Primeiramente, havia ficado surpreso, olhou para os braços finos que o abraçavam e em seguida olhou para o dono deles. Marina estava com lágrimas nos olhos.

-Não diga que a sua vida não vale a pena, não diga que não deveria ter existido! – ela dizia abraçada á ele – Se a sua felicidade é ter o amor de alguém, não sofra por algo que nunca existiu... Um amor feito apenas de ilusões.

Mark se virou e abraçou Marina, a moça apenas acariciou seus cabelos.

-Mãe... – Mark começara á chorar novamente – Queria apenas saber o que é um abraço de mãe, queria saber o que era um amor de pai... Eu... Só queria ser amado.

Marina deixou uma lágrima escorrer, lembrando-se de sua mãe que por causa da saúde fraca, jamais tivera chances de abraçá-la como fazia agora com Mark.

-Um abraço, tudo que posso oferecer é isso e... – ela disse num sussurro – E dizer que você precisa aprender á andar, precisa aprender á seguir em frente... Não pode simplesmente deixar que algo assim faça-o desistir de viver. Viver é o melhor presente que tem, por hora, aprenda á viver e em seguida procure o que tanto busca.

Mark apertou Marina, ela sentiu as lágrimas dele escorrerem em seu pescoço.

-Talvez... Talvez eu tenha outro propósito – Disse Mark se separando da moça por fim – Eu... Eu sempre pensei que o que mais queria na vida era ter uma família e ser feliz... Mas isso não me tornou feliz.

-Porque a sua verdadeira família não foi encontrada ainda. – Marina explicou, ela balançou sua cabeça e espirrou por ainda estar molhada. – Ela está por aí, á sua espera.

-Eu...

-Vê aquela mulher? – Marina indagou – Certamente ela deve ser algo sua.

-Minha babá, me criou desde pequeno. Ela sim me deu o amor de mãe, mas eu estava tão obcecado em ser perfeito para meus pais adotivos... – Mark dizia tristemente. – Agora que percebo. Ela era a mãe que não tive.

-Essa mulher, estava chorando por você. Ela tomava suas dores também – Marina disse – Infelizmente, eu não posso ser mais do que uma ajuda á você, sou apenas uma moça.

Mark balançou a cabeça, ele desamarrara a gravata que usava. Sorriu.

-Não, você é mais. Você é a pessoa que me salvou, você me salvou... Não da morte, mas de continuar me iludindo com um amor que jamais tive. – ele disse levando suas mãos aos ombros de Marina – E estou feliz por isso...

-Felicidade? – Marina sorriu – Talvez essa sim seja a sua razão de viver, encontrar alguém, não é?

-Ela é minha mãe – Mark disse feliz – Essa senhora que cuidou de mim, eu a adoro. Mas... Ainda assim, sinto como se algo faltasse...

-Esse buraco representa a sua felicidade – Marina disse com simplicidade – É o que lhe fará completo e lhe dará finalmente a existência que tanto procurava.

Mark olhou surpreso, como uma menina de meros 15 anos ou menos podia dizer tal coisa?
Ele no auge de seus 18 anos, completando o colegial... Jamais havia pensado em tal coisa, de fato, ele havia pensado em se suicidar para fugir de seus problemas... E ela, o salvara da escuridão de se culpar.

-Como você... ?

-Perdi minha mãe cedo, meu pai nunca falava comigo... Eram minha única família, agora eu estou á procura de algo que não sei se vou achar – Marina disse cabisbaixa – Estou querendo achar algo que possa me dar um verdadeiro sentido de vida, procuro minha felicidade.

-E você já a encontrou?

-Não sei. – Marina respondeu tristemente – Não sinto nada de diferente, não creio que vá conseguir achá-la um dia, mas eu quero continuar tentando até descobrir o que é isso! O que é isso que todos dizem ser tão bom?

Mark sorriu, ele acariciou os cabelos da jovem viajante e se afastou dela.

-Saiba que estarei sempre grato e que desejo que encontre sua felicidade, ela deve estar em algum lugar. Assim como a minha.

-Então, um dia vamos nos reencontrar para dizer que encontramos a felicidade, certo? – Marina sorriu com meiguice.

Mark concordou com a cabeça.

-Eu sei, agora mais do que ninguém, vou abandonar essa minha vida e vou atrás daquilo que me fará feliz... Vou atrás do amor de alguém!

-Hum?

Mark fizera apenas um aceno e se afastara de Marina. A moça sorriu imaginando que seu trabalho estaria acabado.
Deu as costas, olhou para o longo caminho que a levaria para um novo lugar.

Talvez amar alguém como pai, querer ser aceito pelos outros não seja bem o que procuro.
Não tenho pais para dizer que amo, não tenho ninguém para quem eu possa querer ser aceita... Mas ainda assim, eu sei que tenho um propósito de existência, eu quero continuar existindo nesse mundo e para isso, vou encontrar minha felicidade.

Marina já estava terminando de cruzar a ponte quando viu as nuvens se afastarem, o Sol estava surgindo e mostrando um lindo fim de tarde.

-Pelo menos, alguém está feliz – Marina disse olhando para o Sol que se punha.

Ela dera uma última olhada para Mark e o vira abraçando a senhora, sorriu satisfeita de ver que ele entendera... Mas... O rapaz acenara para a mulher a agora com algo em mãos saía correndo na direção de Marina.

A moça parou de andar e com o guarda-chuva ainda aberto viu mark chegar gritando seu nome.

-ESPERA! – ele disse ofegante – Eu disse á ela que estava feliz por finalmente ter aberto os olhos, mas que agora preciso achar algo importante.

-Como?

-Preciso achar o que me fará feliz de verdade, preciso achar minha verdadeira família, aquela que me dará o amor que me falta. – Mark disse num sorriso.

Marina sorriu de volta.

-Está em uma jornada também?

Ele coçou os cabelos, parecia estar meio sem graça com tal pergunta.

-Pode se dizer que sim. – Disse no riso – Posso ir com você?

Marina concordou com a cabeça e já lhe dera as costas, sentira algo pousar sobre seus cabelos, um chapéu que lembrava aqueles que os pescadores usavam - chapéu de palha? – era branco.

-Ela disse para te dar – Mark explicou – Disse que era um agradecimento.

Marina sorriu e guardando seu pequeno guarda-chuva, ajeitou o chapéu e junto de Mark, saiu caminhando para fora da cidade.
Saiu saltitando entre as poças de água, o rapaz a seguia, mas não fazia tão bem.


Sei que todos possuem um propósito de existir nesse mundo e eu também tenho um. Ao lado de Mark, procurarei o que ainda não achei. Procuro algo que dificilmente será encontrado... Mas ainda assim, eu vou achar! Preciso achar, a ferida em meu peito se abre á cada dia desejando por algo que não sei dizer o que é.

-Não fica brava por eu estar viajando com você, certo? – Mark perguntou depois de vários minutos.

Marina balançou a cabeça.

-Uma vez, um amigo me disse: Estar ao lado de alguém não lhe fará sentir-se só, lhe fará sentir felicidade... Se eu ficar feliz ao lado de um amigo, isso não me trará raiva.

-Tem razão – ele pegou a mão da moça. – ANDA! Já está ficando tarde.

Marina fora puxada e segurando o chapéu com uma das mãos, seguiu o novo amigo para um lugar, o destino? Não sabia ainda.

Pulando em cima da água que carrega nossas dores, eu piso no que já me fez triste. Procuro apenas saber do amanhã, sem olhar para trás ou para os lados eu viso apenas o que virá á seguir.

Talvez o que me aguarda seja um mundo cheio de tristeza e dor, mas se nisso tudo eu encontrar o que busco, então ficarei satisfeita. Mas se neste caminho encontrar pessoas que precisem de mim, então eu serei a luz que os levará para seus objetivos.

-Devagar! – Marina exclamou num sorriso.

Certamente... Eu os levarei para um lugar aonde eu não cheguei ainda, mas que certamente irei chegar, para a felicidade.

Talvez a sua felicidade já esteja diante de você. Basta apenas abrir os olhos.

OoOoOo
Mais um capítulo encerrado XP

Suicídio? Achaaaaa, nem peguei pesado. Uueheuheueuue.
O próximo capítulo irá tratar de perda de entes queridos, como tratar disso... Aguardeeeem.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!