Dirty Little Princess

Era o nosso último treino antes do jogo contra a lufa-lufa, e até eu tinha que admitir, estávamos jogando bem, melhor que nunca eu diria. Finalmente os artilheiros passavam mais tempo segurando a goles do que mergulhando para recuperá-la.

-VESTÁRIO! – Eu gritei, esperei que todo o time descesse e guardei as bolas,todos me esperavam na porta do vestiário masculino, fiz um gesto indicando para que entrassem e acho que eles entenderam que eu queria conversar. Seria impossível fazer isso em qualquer outro lugar já que os alunos da Grifinória estavam eufóricos com a partida que estava por vir, o time não poderia andar reunido ou iria chamar muita atenção.

Logo todos estavam sentados me encarando, respirei fundo e comecei.

-Em primeiro lugar, parabéns a todos! Fizemos um treino épico, se jogarmos no sábado como jogamos hoje, não vai ter pra ninguém! – Falei fazendo meus companheiros de time sorrir.

-Todos vocês, estão jogando muito bem, todos entenderam as jogadas, pelo visto estudaram as táticas de defesa e ataque que eu passei e bom ,só posso agradecê-los por isso. Esse é meu último ano então mais do que nunca eu quero vencer, nós temos capacidade pra isso basta querermos. Não tenho mais nada pra falar pessoal, quero que agora se concentrem na partida, nada de festas até lá. Hugo, isso serve pra você também, durmam cedo, acordem cedo, se alimentem bem e estejam prontos para acabar com a Lufa-lufa no sábado!  - Encerrei com animação.

Logo estava voltando sozinha para o salão comunal da Grifinória, eu e Hugo não vínhamos conversando muito desde a noite do dia das bruxas. Sempre que por algum motivo nos víamos obrigados a ficar sozinhos no mesmo espaço ficava um clima estranho e desembestávamos os dois a fazer comentários vazios e sem nexo apenas para preencher o silêncio, o que era potencialmente estranho.

 Quando cheguei no salão comunal Sara e Heloíse estavam sentadas de frente para a lareira conversando, a primeira com um livro de feitiços no colo e uma barra de chocolate nas mãos e a segunda concentrada em passar mais uma camada de esmalte púrpura em suas unhas, levei um susto quando Berlioz pulou em meu colo.

-Esse seu gato é louco. – Comentou Sara rindo enquanto eu dava um jeito de ajeitar Lioz em meu colo.

-Cuidado! Dizem que os animais de estimação costumam ser o reflexo de seus donos! – Brincou Lise.

-Muito engraçado vocês duas! Estou morrendo de rir...- Comentei sendo sarcástica e me deixando cair em uma poltrona.

-Pois é gato louca, dona bebum...-Lembrou Sara, fazendo com que Heloíse começasse a gargalhar.

- Ainda não acredito que você ficou bêbada Lily, fico imaginando o Hugo e a Prescott te carregando para a tal Sala Precisa! – Falou Lise entre seu riso contagiante enquanto apontava para mim com pincel do esmalte fazendo Berlioz fungar em meus braços.

- O que você fez com meu gato para ele temer você?- Perguntei fitando-a enquanto ela adquiria uma cor parecida com a de seus cabelos e Sara começava a rir.

- Ela deu uma incrementada nas unhas do bichano!- Respondeu Sara apontando para as garrinhas agora púrpuras de Berlioz, encarei horrorizada para as unhas do meu gato.

- Mas o que é isso, meu gato é muito macho, assim ele passará a idéia errada para as gatinhas!- Reclamei enquanto Lise ria e Sara resmungava sobre como é terrível quando nos vemos forçados a acabar com os nossos dias de garanhões.

- Garanhões é Sara?- perguntei caindo na gargalhada junto de Lise.

- Ei, mas você está desviando do assunto. – Lembrou Sara - O que te levou a entornar tantas doses do whisky de fogo?- perguntou ela por de trás da barra de chocolate enquanto empunhava o livro precariamente em uma das mãos e ao mesmo tempo tentava amarrar os cabelos mas sem largar o doce.

- Falou a rainha do whisky de fogo!- comentou Lise rindo e relembrando da festa em que Sara havia entornado mais de cinco garrafas de whisky de fogo.

-Ei essa é uma história antiga! E de mais a mais como você ficou sabendo?- Perguntou a castanha derrubando o livro, com certeza estava se lembrando do fiasco da festa do ultimo ano envolvendo uma aposta, uma mesa redonda de bar, um moreno de olhos azuis “irritante”, musicas bregas e muitos, muitos whiskys.

- Sabe como é, as histórias circulam muito por aqui.- Afirmou Lise evitando meu olhar enquanto eu fazia o mesmo com a Sara, às vezes ela me assustava com aquele olhar de EU-SEI-QUE-FOI-VOCÊ!

Por fim não agüentei e soltei uma risadinha me entregando.

-LILY!!!-Gritou ela antes de começar a xingar em russo, ou eu acho que ela estava xingando, enquanto eu lhe lançava meu melhor olhar de EU-SEI-O-QUE-VOCÊ-FEZ-NO-VERÃO-PASSADO!

Depois que Lise se recuperou do ataque breve de histeria olhou para mim levantando uma sombrancelha.

- A Lily enrola, enrola, mas não conta o motivo da bebedeira- afirmou ela dando um sorrisinho de lado – vai ver que ela também não agüenta dizer não a apostas ou a musiquinhas bregas, apesar de que a musica estava mais para olhe o meu sex-a-peal do que para Push it desajeitado.

-HEY- Reclamamos eu e Sara ao mesmo tempo. (Push it era uma das tais musiquinhas...)

- Eu tenho muito jeito para dançar! - Afirmou Sara categórica fazendo com que eu e Lise quase caíssemos dos sofás de tanto rir.

- Talvez eu não tenha tanto sex-a-peal quanto Lily mas estou começando a tomar jeito! E pelo menos eu não bebi tanto, quem fez isso foi a ruiva desmiolada –Falou a morena apontando para mim e rindo com Lise em seguida ao ver minha careta.

 -Parem com isso vocês duas, todo mundo fica bêbado um dia. – Ralhei enquanto puxava o livro de feitiços que estava no colo de Sara.

-Não, não e não! Você não vai estudar justo agora! Faz um bom tempo desde que agente não tem um tempinho para conversar decentemente! Ou você está treinando ou estudando ou correndo como se tivesse vocação para papa-léguas. –Eu nem acreditava que era minha amiga super aplicada falando aquilo apontando a barra de chocolates já pela metade para mim... Nunca pensei que uma barra de chocolate fosse parecer tão ameaçadora.

-Quem é você e o que fez com a Sara? – Perguntei rindo um pouco. Após um tempo e apesar de todas as minhas tentativas de desviar do assunto festa do dia das bruxas as duas sempre voltavam a ele.

-Conheci seus irmãos na festa! – Falou Lise animada.  – São bem legais e bem gostosos! – disse ela pegando o livro de feitiços abandonado e se abanando com ele fazendo sua melhor cara de safada.

-Ugh, eca eca! Não fale assim dos meus irmãos! Não é mentalmente saudável ouvir essas coisas! James é legal mas é um nojentão e Alvo é muito chato, com aquela mania de sou responsável e minha vida é tão animada quanto a de um velho de noventa anos. – Afirmei categoricamente.

-Mas os dois ainda assim continuam sendo gostosos, e eles são seus irmãos então é claro que você nunca vai entender o que estou falando. – Tornou a afirmar Lise, Sara parecia querer se manter fora desse assunto e eu sabia que era por causa de sua complicada relação com James.

-O que é mesmo que eles estão fazendo? – Perguntou Heloíse interessada, completamente alheia ao desconforto da outra.

-James, o mais velho é auror como meu pai, já Alvo o mais novo é curandeiro especialista em traumas. – Expliquei sentindo uma pressão ali, eu era a mais nova e meus dois irmão mais velhos mesmo sendo jovens já tinham carreiras de sucesso, havia muita expectativa sobre meu futuro.

-Uau. – Exclamou minha amiga parecendo impressionada, Sara por outro lado olhava para o nada como vinha fazendo em vários momentos desde a bendita festa, o que me deixou muito irritada, afinal ou ela estava me escondendo algo, que queria e ao mesmo tempo não queria que eu soubesse ou então estava tendo visões de narguilés.

-Já, chega! Desembucha logo Sara! O que está acontecendo entre você e o meu irmão? – Perguntei brava fazendo-a se sobressaltar e me lançar um olhar meio culpado. A castanha não respondeu de imediato, mas eu sabia que ela estava pensando em como verbalizar este assunto que sempre fora tão delicado pra ela.

- Não sei do que você está falando!- Ou então pelo visto tentar aplicar a sua tão conhecida tática de vou fugir dos meus problemas e fingir que eles simplesmente não existem.

Eu lancei um olhar duro para ela e Lise comentou como a observadora inocente da história já que do rolo-que-não-é-rolo deles ela não sabia praticamente nada.

- É você tem andado estranha.

Ela bufou e se contorceu no sofá, com certeza pensando em uma maneira de desviar do assunto.

- Então, como foi o treino de quadribol?- Perguntou ela me olhando animada e eu já abria a boca para responder sobre as minhas novas táticas com certeza infalíveis quanto percebi. Cara ela era boa, quase me enrolou fazendo com que eu começasse a falar de meu assunto preferido para escapar da conversa.

Cerrei meus olhos para ela que não demonstrou reação. Se eu não a conhecesse há anos não teria percebido que uma das mãos dela retorcia o papel de chocolate de um modo nervoso.

- Pode ir falando Srta. Hale que dessa vez você não me enrola.

Ela olhou em volta e notando que não havia escapatória se aprumou no sofá e encarou o meu olhar.

-Ele diz que me ama, que eu sou a mulher da vida dele e que quer namorar comigo. – Falou tudo sem hesitar como se fizesse o relatório de uma missão ou fosse apenas uma observadora externa dos fatos que ela relatava sem demonstrar um pingo de animação com isso. Enquanto o papel do chocolate era mais do que amassado em suas mãos. Heloíse por outro lado batia palmas e quicava sentada de animação, tendo uma vaga semelhança com uma foca.

-Que coisa mais linda! E você disse o que? – Perguntou ela.

-Nada, eu fiz uma bem elaborada saída estratégica e vim para o dormitório. – Respondeu a castanha, e eu fui acometida por uma súbita vontade de bater nela até ela criar juízo naquela cabecinha oca e repleta de cabelos emaranhados. E acredite se quiser foi exatamente o que eu fiz, peguei o livro mais próximo que para o azar dela era o de história da magia contendo mais de mil páginas e comecei a bater com ele em sua cabeça.

Sara me olhava de olhos arregalados e parecia querer me matar, Lise ria olhando a cena, e eu continuava com o livro na mão e falando sem parar.

-Eu não acredito!-bum, pancada na cabeça- Sara,-bum- meu irmão –bum-deve-bum- ter-bum- ficado-bum-arrasado!

-Ai, para Lily sua louca! – Gritava minha amiga tentando tirar o livro de minha mão.

-Ele é apaixonado por você! E agora? E se ele resolver cometer suicídio por sua culpa? E se ele virar um velho amargurado com o coração partido em mil pedaços e acabar com treze gatos com nomes como Scrinfles, Bulhufofo e Merry? E se ele resolver fazer um voto de castidade e resolver nunca mais se envolver com nenhuma mulher depois desse trauma?– Perguntei dramaticamente encarando os olhos castanhos de Sara, ela segurava meus braços para impedir que eu continuasse com a estapeação.

-Não acho que ele vá fazer isso Lily, seu irmão é um adulto, diferente de você. – Falou olhando de leve para o livro que eu segurava. Me tocando do papelão que eu fazia em pleno salão comunal me afastei dela e voltei a me afundar em minha poltrona macia.

- E de mais a mais faria até que um bem ao James Sou o Maior Garanhão Potter não se envolver por algum tempo com outras mulheres. Mas eu duvido que ele em algum momento venha realmente a optar pelo celibato.- Afirmou ela e por detrás destas palavras era fácil para quem a conhecia perceber a insegurança e uma certa dose de raiva ao falar da vida amorosa do meu irmão.

Minha amiga não disse mais nada, ficamos em um constrangedor momento de silêncio que foi quebrado pela inconveniência de Heloise.

-Tomara realmente que ele não opte pelo celibato!- Disse ela com um ar sonhador encarando Sara logo em seguida com um olhar curioso- Mas pela calcinha fio dental de renda vermelha de Morgana, por que você dispensou o cara depois desse quase pedido de casamento? – Quase ri com isso, mas de certo modo estava bem mais interessada na resposta que Sara daria.

-Não é óbvio? Vou pra Rússia dentro de nove meses, por que começar um namoro agora? – É até que fazia sentido, por outro lado...

-Você está louca? Quem liga para o que vai acontecer daqui a nove meses? – Perguntou Lise, meio que verbalizando meus pensamentos. –Aproveite o tempo que ainda tem pra fica com ele!

-Não sei o que fazer, quer saber vou dormir cansei desse assunto. – Sem mais nada a declarar Sara catou seus materiais e subiu para o dormitório.

-Isso fuja do assunto! É o que você sempre faz não é Sara? Quando as coisas apertam você vai embora correndo! – Gritei pra ela, minha amiga nem olhou pra trás mas pude ver suas costas se retesarem enquanto ela seguiu seu caminho e eu sabia que na manhã seguinte teríamos problemas no paraíso. Afinal, eu tinha cutucado a ferida, Sara odiava admitir, mas em alguns casos se comportava como uma grande covarde. Casos que exigiam uma relação mais profunda com sentimentos em especial.

Fiquei encarando as escadas por algum tempo e notei que Lise estava um pouco quieta, era bem típico dela fazer isso, em alguns momentos ela parecia estar em outro mundo com o pensamento longe.

-E você dona Heloíse? Algum sortudo em mente? – Perguntei tentando animá-la, pelo visto consegui já que ela abriu um sorriso ao me responder.

-É podemos dizer que sim, mas ele tem namorada o que acaba complicando um pouco... – Nem pensei antes de concordar com ela.

-Nem me fale Heloíse! – Talvez ela não tenha percebido o modo como eu tinha me entregado ali, ou talvez tenha percebido e preferiu não comentar nada, ficamos em silêncio até que resolvi subir para o dormitório também, sem dizer nada Heloíse Chase me acompanhou.

Ao entrar no quarto não foi nenhuma surpresa encontrar Sara supostamente dormindo, com as cortinas fechadas ao redor da cama. Não precisava ser Dumbledore para entender o recado. Nada de conversas.

(...)

Estávamos tomando café da manhã e as coisas estavam um pouco tensas, eu e Sara não estávamos conversando mais que o necessário, o que era esquisito já que costumávamos não calar a boca quando juntas.

Heloíse tentava manter uma conversa estranha sobre a cor da manteiga servida em Hogwarts eu tinha certeza que era só pra quebrar o clima pesado. Finalmente Hugo chegou, para meu azar vinha acompanhado de Lana Prescott, outra que eu preferia não encarar desde o baile.

-Vai tomar café da manhã Potter? – Me perguntou a loira cobra após se sentar.

-Não Lana, estou sentada aqui guardando lugar pro almoço! –Respondi mal humorada sorrindo afetadamente para ela. Como podem notar eu estava com vontade de brigar com alguém, odeio sentimentos reprimidos...

-Lily dá um tempo. –Falou Hugo enquanto enchia sua torrada de geléia.

-Não precisa ser idiota Potter só perguntei por que você vive de dieta então imaginei que... – Lancei meu melhor olhar maligno e falei.

-Dieta, quem? Eu? – E para reforçar meu teatro peguei um pedaço de bolo de chocolate enorme.

-Sim você. – Nem acreditei quando ouvi Sara falando isso, hei ela tem que me apoiar!

-Sara! Qual é o seu problema afinal? – Perguntei brava olhando pra minha amiga.

-Meu problema? Você quem disse que eu fujo das coisas, mas pelo visto você está agora mesmo fugindo da verdade. –Respondeu ela sem me olhar e apertando a faca com que cortava um pedaço de bolo até a junta de seus dedos ficarem brancas.

-Vou relevar a segunda parte do seu discurso Hale, falei sim que você foge de tudo e quer saber foge mesmo! Sempre que as coisas se tornam sérias ou complicadas você dá um jeito de escapar! – Quase gritei isso, sem me conter me levantei brava, Sara fez o mesmo para me responder e uma estranha energia parecia circular ao seu redor, era como se ao menor movimento as coisas fossem começar a vibrar ou voar ao redor de sua cabeça enquanto seus olhos pareciam me lançar faíscas.

-Haha! Não é verdade, porque eu vou para Rússia e vou ser auror, vou lidar a minha vida inteira com coisas sérias ou complicadas!  - Nesse momento eu tinha noção que o salão inteiro prestava atenção na gente. E também que meus cabelos lisos esvoaçavam, não havia vento nenhum no salão, talvez fosse magia involuntária como quando somos crianças.

-Você sabe que não é disso que eu to falando! Você é horrível em relacionamentos, toda vez que algo começa a se tornar sério, toda vez que você se envolve de mais, você cai fora! Não sabe lidar com isso! – Acusei apontando pra ela, meus olhos estavam marejados, por que mesmo que agente estava discutindo? Éramos tão bobas e orgulhosas... mas eu não iria dar o braço a torcer.

-Há! Falou a especialista em relacionamentos saudáveis! Não sei se está lembrada mas não sou eu que venho beijando meu primo há dois anos! Sendo que ele tem namorada! – Gritou Sara, apontando para Lana e Hugo. Ok, agora a porra ficou séria, ela não tinha esse direito! Aliás como ela sabia disso? Logo Lana estava em pé também e eu não sabia se ela estava do meu lado ou do lado da Sara.

-Escuta aqui Hale, você devia calar essa boca e parar de falar de coisas que não te interessam. – Gritou a loira furiosa, certo agora estava consumado, todo mundo prestava atenção em nós, tenho certeza que vi até algumas orelhas extensíveis! Como se não estivéssemos gritando suficientemente alto.

-Quem você pensa que é sua loira aguada para falar assim com minha amiga? – Perguntei me contendo para não voar no pescoço de Lana, confuso eu sei, mas só EU posso brigar com a Sara! E quem havia chamado ela para a briga para inicio de conversa?

-Poupe-me Potter, você estava até agora brigando com sua amiguinha! E não sei se está lembrada mas ela acabou de contar para escola inteira sobre o seu caso com o meu namorado- Sibilou a loira para mim lançando um olhar raivoso para Sara em seguida, que pareceu não se abalar.

-Caso com o seu namorado? Eu não estou dormindo com Hugo como se fosse a amante dele, eu não estou tendo um caso com ele, isso é ridículo! – Respondi com raiva.

-Não, mas está beijando ele, ai Merlin isso é ridículo, a Prescott sabia o tempo todo! O quão baixo uma pessoa vai para manter um relacionamento?  –Apontou Sara olhando para a Lana para em seguida completar- Ou manter as aparências?

-DE QUE LADO VOCÊ ESTÁ? – Eu e Lana perguntamos ao mesmo tempo, nos olhamos assustadas enquanto a morena respondia levantando os braços sobre a cabeça e os chacoalhando exasperada.

-DO MEU LADO! – Quando achei que a coisa sairia totalmente do controle e que nem mesmo o grupo especial de aurores conseguiria identificar as partes de nossos corpos após a briga eminente (ou seria porrada evidente?), a professora Lucy e Paul, apareceram meio que do nada ali do lado.

-Já chega meninas, já chega! – Fala o professor Cook em um tom de voz alto, e a professora Prado já me segurava pelos ombros, talvez com medo que eu avançasse em uma das duas.

 -Meninas, é o suficiente, acalmem-se ou todas levarão detenção. – Pediu Lucy com sua calma natural, Lana em resposta saiu furiosa do salão principal, Sara fez algo inimaginável, lançou um olhar venenoso para a professora e voltando a se sentar começou a comer furiosamente. Eu fiquei lá parada encarando Hugo, que alternava o olhar entre a porta por onde sua namorada acabara de passar e eu.

Pela primeira vez depois do ocorrido no baile, percebi a confusão que minha vida estava, por mais que estivesse usando o quadribol e as corridas matinais para ocupar meus pensamentos eu ainda tinha tanta coisa pra resolver.

Voltei o olhar para Heloíse que tinha assistido toda a confusão. Ela me olhava de um modo estranho, e imaginei que depois de saber a vadia que eu era ela não ira mais querer falar comigo. E Sara? Bom, ela continuava a espetar a comida com fúria, agora que parei pra prestar atenção vi que ela não comia muito, o que mais fazia era cortar a comida em pedaços mínimos.

Bom, antes a comida do que eu, foi meu último pensamento antes de deixar o salão principal. A pergunta era como ela havia descoberto? Será que estava tão na cara assim? Mas agora não faria diferença de qualquer forma. Hogwarts inteira saberia de tudo antes que eu pudesse dizer pomo de ouro.

(...)

Não sei se você já se sentiu vazio, se sentiu sabe do que estou falando, se nunca sentiu acredite, tem muita sorte.

Qualquer coisa é melhor que não sentir nada, raiva, decepção, amor, felicidade, tristeza, dor ou ódio. Tudo isso pode ser controlado de alguma maneira, sempre há um jeito de lidar com os sentimentos, a não ser que você seja alguém como Sara que consegue complicar uma situação simples e de solução obvia. Lidar com o vazio, porém é impossível, lutar contra o nada não te leva a lugar nenhum. Porque no fim você fica esperando sentir algo. Qualquer coisa. Esperando em vão se livrar daquela sensação de inércia. Era como se dentro de mim não houvesse mais nada. E eu apenas ficava ali esperando o tempo passar.

- Vocês tem que pensar em coisas felizes, só assim farão um Patrono eficiente... - Fala o professor Paul Cook, ecoando em meus pensamentos.

Sara ainda não falava comigo, parecia realmente brava, e honestamente ela tinha razão em estar, sabe quando dizem que você só sente falta daquilo que possui quando o perde? Pois é era bem assim que eu me sentia, não que eu acreditasse que Sara nunca mais voltaria a falar comigo, mas uma manhã já era o suficiente pra mim. E eu sabia que se não fosse eu a voltar a falar com ela, poderia esperar sentada que aquela cabeça dura não iria dar o braço a torcer.

Quanto a Heloíse eu não fazia idéia do que estava acontecendo, um pouco antes da primeira aula ela correu para o banheiro, preocupadas eu e Sara a seguimos juntas, mesmo que nos ignorando completamente. A garota de cabelo rosa vomitou todo seu café da manhã. Sua melhor explicação foi a de que havia tomado muito suco de abóbora.

Não, eu não tinha acreditado e conhecendo Sara como conhecia sabia que ela também não tinha engolido a desculpa fajuta. Desde o café da manhã eu e Lise havíamos trocados apenas uma meia dúzia de palavras e pela minha observação ela e Sara também não estavam conversando. Talvez porque Sara parecia a ponto de duelar com qualquer um por qualquer motivo o que considerando as suas habilidades era preocupante. Já Lise parecia não querer muito assunto com ninguém, talvez fosse por estar enojada com o meu suposto envolvimento com o Hugo e a suposta conivência secreta de Sara com relação. O fato é que sua cara não era das boas e ela parecia a ponto de repetir o incidente pós café da manhã.

Qual era o problema com ela?

-Lily? Tudo bem? Estou te chamando a algum tempo. – Olhei assustada para o professor de Defesa Contra as Artes das Trevas que me encarava curioso. Será que ele também estava pensando que eu era uma vadia como com certeza mais que metade do castelo provavelmente pensava?

 -Sinto muito professor, perguntou algo? – Pedi olhando para ele, me sentindo envergonhada.

-Queria que a senhorita tentasse executar o patrono. Sei que o faz com perfeição desde o ano passado. – Sim era verdade, Alvo e James tinham me ensinado, eu conjurava uma bela águia prateada.

Me levantei e segurando a varinha tentei me concentrar em coisas felizes. Tentei me lembrar das coisas que costumavam me animar, a primeira vez que montei em uma vassoura talvez? A primeira vez que voei.

Garotinha fraca, eu também vejo você Potter! Acha que nunca vi como corre todas as manhãs, como quase não come....mas deixa eu te ensinar uma coisa. Tudo depende da estrutura óssea, a minha me favorece eu sempre vou ser esguia e magra enquanto você, bom, é melhor que reforce sua vassoura se quer mesmo jogar quadribol.

A voz de Lana Prescott ecoou em minha cabeça como se eu estivesse revivendo aquela lembrança. Fechei os olhos e lutei para manter a compostura dentro da sala de aula, só precisava de uma maldita lembrança boa. Algo forte o suficiente para meu patrono, pensei naquele natal quando Hugo me beijou pela primeira vez, segurei a varinha com firmeza e ouvi o barulho da pulseira que ele me deu, a lembrança material daquele dia.

Eu amo você, mas amanhã ainda vou querer namorar com Lana.

Além disso, tem essa outra garota agora, que anda meio que ocupando meus pensamentos.

As palavras de Hugo me machucavam, era ainda pior lembrar delas assim, tentei me concentrar novamente, e a imagem de Sara apareceu, nós duas com 11 anos rindo como bobas, nós com 13 anos brincando de verdade ou desafio, 15 anos em nossa primeira festa na sala precisa. Nós duas com 17 anos discutindo.

Há! Falou a especialista em relacionamentos saudáveis! Não sei se está lembrada mas não sou que venho beijando meu primo há dois anos! Sendo que ele tem namorada!

-Lílian, está tudo bem mesmo? Se não quiser não precisa fazer o patrono. – Falou o professor diante de minha imobilidade.

Minha salvação foi a sineta, sai da sala o mais rápido que pude, mas então algo me chamou a atenção, havia um bando de alunos olhando para um mural, eu escutava risos vindos de lá, e assim que me aproximei começaram a me lançar olhares furtivos.

Quando cheguei ao ponto de interesse quase não acreditei no que via, o mural estava cheio de fotos minhas, de Hugo e de Lana, a maior ao centro era uma foto do dia do baile, eu usava o belíssimo vestido de princesa e dançava com Hugo. Sobre a foto em vermelho estava a frase.

Dirty Little Princess (Princesinha suja)

Outra foto, era claramente uma montagem muito bem feita, eu e Lana, com sua fantasia de Marylin, estávamos muito próximas e apesar de nossas imagens estarem uma de costas para outra havia uma nova frase.

Já que dividem o mesmo homem, que tal um Ménage?

Eram muitas fotos e muitas frases, mas uma em especial era usada muitas vezes, dirty little princess, eu não conseguia mais conter as lágrimas, não conseguia acreditar que alguém tivesse tido a maldade de fazer aquilo. Ouvi a voz de Lana Prescott, em meio aquilo tudo, diferente de mim que fiquei paralisada a loira sabia o que fazer, ela estava furiosa e começou a arrancar as fotos e meio a gritos de que alguém pagaria pela humilhação.

E eu sentia novamente aquela sensação que já estava se tornando familiar para mim. A sensação e vazio.

Assim que terminou ela me encarou furiosa com aqueles perfeitos olhos azuis, pensei que fosse gritar comigo, pensei que fosse me falar que a culpa era minha, o que não deixava de ser verdade mas ela apenas me encarou. Lágrimas escorriam de seus olhos, e eu me lembrei de nossa discussão no lago...

Porque eu sou a bruxa má da história! Eu sou a vilã?Posso até ser, mas definitivamente você não é a princesa Potter. Por que se eu sou a ruim da história, você é pior muito pior!

Essa lembrança infeliz foi meu último pensamento antes de apagar completamente.