Revenga escrita por S Joker


Capítulo 6
The kiss and the shoot




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E lá estava eu mais uma vez seguindo a estrada até a metade do caminho até Chelmsford. Dessa vez nenhuma banda ou música embalava a minha viagem. Eu tinha que me concentrar. Tinha que tomar coragem,apertar o gatilho e acertar o lugar certo dessa vez. O coração dele. Ou que restar dele.Se é que ele tinha coração. Girei o volante entrando no matagal,sentindo minha cabeça girar. Eu não podia ter tontura agora,nada podia me atrapalhar desta vez. Queria poder ter o prazer de eu mesma acabar com ele,por mais que Shawn fosse um ótimo atirador. Já foi fuzileiro do exército por dois anos antes de ser expulso por ter side pego com crack dentro do quartel. Lamentável.Estacionei o carro de frente para a faixada da casa. Encostei a cabeça no volante para controlar minha tremedeira e peguei a pistola que Shawn havia me dado. Caminhei com passos firmes até a casa,desci o alçapão para continuar o meu percurso. Destravei todos os cadeados com destreza e puxei a maçaneta,abrindo a porta metálica. Coloquei a pistola dentro da braguilha da calça e joguei a blusa por cima,adentrando a salinha. O procurei pelos arredores,não o achando em lugar algum. Ok,aquilo não era nada bom.Com o cenho franzido de preocupação fui andando calmamente pelo quarto,olhando para cada canto em que era possível ele estar,mas nada. Isso não fazia sentido,não tinha como ele sair dali,não tinha sequer uma brecha pela qual ele conseguisse fugir.

– Relaxa,eu não fugi.- a voz conhecida disse,vinda de trás de mim. Respirei fundo com alívio e me virei para trás topando com aqueles olhos azuis,próximos até demais de mim. Levantei uma sombrancelha,sentindo sua respiração quente e ainda ruidosa,pela falta de ventilação creio eu.

– Você não seria tão burro à ponto de fazer isso. - ele nada respondeu,somente continuou me encarando,imóvel,com o rosto contorcido enquanto parecia pensar consigo mesmo. Certo,aquilo era desconcertante. - Posso saber qual o seu problema? - limpou a garganta e abaixou a cabeça,se afastando pra trás. Agradeci por isto em minha cabeça. - Essas algemas devem estar incomodando não é? - usei meu melhor tom amigável,o vendo erguer novamente seu olhar pra mim. Quase libertei o riso que queria sair ao ver seu semblante de confusão.-Estão?

– O que você está planejando fazer? - disse hesitante me observando andar na sua direção. Rolei os olhos e puxei o molho de chaves de dentro do meu bolso.

– Perguntei se estão incomodando,Poynter. Porque senão nem vou me dar ao trabalho de tirar elas. - perdi um pouco da paciência,ele ainda com os olhos desconfiados. Apenas acentiu,e eu lhe tomeu as mãos,passando a chave nas algemas que logo livraram seus pulsos alvos,que certamente ficaram marcados. Dougie os massageoou com certo alívio. - É,finalmente você está livre não é verdade?- sorri com falsa simpatia. - Pena que eu vou ter que te matar agora mesmo. - suspirei tristemente,puxando a pistola enquanto os olhos de minha vítima se arregalaram minimamente. Ri sarcasticamente. - Achou mesmo que eu ia te deixar ir?

– Amber,pelo amor de Deus,já se fazem mais de 5 anos. - sua voz tinha um ar de misericórdia,desesperada. Carreguei três balas na arma e fechei o compartimento,voltando a olhá-lo.

– A polícia já sabe que o corpo está desaparecido. - comentei casualmente. - Eu tenho que fazer alguma coisa. Se eles acham que você está morto,não vou dar a decepção para eles de acharem seu corpo com vida. - dei de ombros,posicionando meus dedos de forma correta perto do gatilho,sem disparar. Ele engoliu à seco,me lançando um olharde desculpas. Desculpas não serviam agora. Se ele achava que ia me amolecer e me fazer de idiota de novo com aquele olhar,estava redondamente enganado. Eu já estava curada dele,e não voltaria mais atrás com a minha decisão. Sustentei o seu olhar por longos minutos,seus olhos tentavam a todo custo fazer com que eu o poupasse.Eu não iria ceder. Arranhei a garganta e apontei a porta com a cabeça. - Vou te dar a oportunidade de ver o céu antes de morrer. - ouvi minha voz dizer com uma frieza que assustou até á mim.Dougie percebeu que não haveria negociações e apenas sorriu com melancolia,sem dizer nada,foi saindo pela porta. Eu o segui e fechei a mesma. - Nem pense em tentar correr,estou bem atrás de você com uma pistola apontada pra sua cabeça.

– Não se preocupe,sei aceitar o meu destino. - foi a última coisa que disse antes de continuar a caminhar,mudo.



A luz do sol invadiu nossos olhos e eu pude perceber que ele piscou algumas vezes. Parou na varanda da casa,olhando ao redor,como se quisesse memorizar aquilo. Rolei os olhos pela dramática cena,dando um cutuque com a ponta da pistola no ombro dele,que entendeu e desceu as escadinhas.

– Então querido. - parei de frente pra ele que evitava me olhar. - Onde prefere ser morto? No lago,perto do mato alto,ou aqui mesmo no centro do chalé? - abri um sorriso de rancor,não recebendo nenhuma resposta dele. - Ok,acho que aqui fica mais fácil para que te achem. - apontei a arma para ele que ainda tinha o olhar perdido no horizonte.

– Então vou morrer assim,sem a chance de me explicar.- falou finalmente pousando seus olhos em mim.

– Não precisa de explicação. - rosnei entredentes apertando o cabo da pistola com irritação. - Você simplesmente acabou com a minha vida.

– Eu te disse que não tinha outra escolha pra mim,Amb. - sua voz se tornou desesperada,na defensiva. - Me colocaram em uma encruzilhada,eu não podia simplesmente dizer não...

– CALA A PORRA DA BOCA! - berrei com ódio,minhas mãos tremendo. Merda,ele tinha que abrir a maldita boca. - Eu não quero mais saber,será que não entende?

– Mas você precisa acreditar em mim. - ele deu um passo pra frente,o olhei ameaçadoramente.

– Acreditar? Em você? - sério,eu não estava ouvindo aquilo. - Você realmente se acha confiável? Eu já confiei demais em você. Acreditei em todas as malditas promessas que me fez. E olha só aonde eu cheguei! - me exaltei sentindo meus olhos lacrimejarem. Seu rosto se retorceu mais uma vez,uma expressão de dor. - Por favor para de fingir.

– EU TE DISSE QUE ME ARREPENDI! - ele gritou desta vez,ficando vermelho pela força que fez. - Todos estes malditos 7 anos eu passei refletindo sobre a merda que eu fiz com você. Ainda mais quando vi o estado em que Tom,Harry e Danny ficaram quando eu contei que você tinha...- não conseguiu terminar a frase,e eu senti as lágrimas virem com mais força à menção de Tom,Harry e Danny. Meus melhores amigos.

– Que eu tinha morrido? - ri sem humor,tentando manter a arma firme em minhas mãos. - Engraçado não é,Dougie? Olha só quem vai morrer agora.

– Eles não ficaram pior do que eu fiquei. - ele ignorou minha última frase,me encarando. - Fui tão burro de não recusar o que me obrigaram a fazer. Nem a banda completou o vazio que ficou sem você. Seus amigos são as pessoas mais fodas do mundo,me sinto um lixo por ter mentido esse tempo todo. Eu estava no seu lugar,mas não estava com você. Nada é igual sem você,eu só fui perceber isto depois que te perdi. - eu já não controlava o choro,me sentindo uma droga por isto. Era minha culpa,se eu já o tivesse matado,não precisava ouvir estas coisas.

– Não fale como se sentisse minha falta.

– Foi o que eu mais senti. - ele resmungou deixando que só o silêncio falasse agora. Conversa fiada,tudo lorota.Por quê diabos eu estava dando ouvidos à ele?

– Olha pra mim e fica parado,só tenho 3 balas. - falei num tom cortante,recebendo sua atenção. - Não quero que nenhuma delas pegue no lugar errado.

– Só me deixa fazer uma coisa antes disso. - pediu com os olhos carregados de algo que eu não soube definir,mas que era intenso. Concordei silenciosamente e ele veio em minha direção,sem em nenhum momento demonstrar insegurança. Parou de frente pra mim,sustentando um contato visual forçado por ele. - Eu sei que não vai mudar nada,e que você pode me odiar ainda mais,mas não tenho nada a perder. - sua voz rouca estava baixa como uma brisa,seus dedos afastaram um fio de cabelo do meu rosto. O que merda ele estava fazendo? - Eu vou morrer mesmo. - suspirou e se inclinou,selando seus lábios nos meus com certa fraqueza. Não consegui ter nenhuma reação,enquanto apenas sentia sua língua em meus lábios,tentando à qualquer custo passagem. Só cedi à ação quando seus dedos apertaram minha cintura,fazendo com que em um ato automático eu entreabrisse os lábios pra ele que aproveitou a deixa. Sua língua passeava pela minha boca com uma liberdade e destreza implicantes,enquanto eu somente me mantinha parada,a arma firme em meus dedos,o cano espremido contra o seu peito,que incosciente do fato,se pressionava cada vez mais contra o mesmo. Franzi meu cenho e movimentei minha língua sobre a sua por um breve momento,o que foi o bastante para que ele soltasse um grunhido assustadoramente necessitado,que me causou arrepios. Eu estava me deixando levar de novo,e isso não podia,não tinha nenhuma probabilidade de acontecer. Eu tinha que fazer,tinha que aproveitar a sua distração,senão a chance estaria perdida. Senti seus dentes deslizarem pelo meu lábio inferior e perdi o controle de meus dedos,que para não agarrarem a nuca de Dougie,se fecharam contra o gatilho. Primeiro veio o barulho do disparo,depois o silêncio. Senti uma última gorfada de ar sair dos pulmões dele e bater no meu rosto,antes de seus lábios se afastarem dos meus,seus olhos antes fechados agora pareciam apavorados me olhando. Abri um pequeno sorriso de canto vendo a sua boca entreabrir. Dougie se encheu de compreenção e soltou um riso baixo e rouco,que foi se transformando aos poucos em um sorriso de conformismo.

– Você...- ele sussurrou,ainda com o sorriso no rosto,eu respirei fundo,não acreditando no que eu tinha feito. - Não acredito nisso.

– Some da minha frente,não quero ter que ver isso.


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