Revenga escrita por S Joker


Capítulo 5
Shawn Dalson




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As ruas planas de Londres já passavam novamente pelos meus pneus velhos e gastos,mas a minha raiva crescia mais e mais,como se eu ainda estivesse lá no casebre,olhando mais uma vez para aqueles olhos. Meu Deus,ele era ainda mais odiavel pessoalmente. Eu estava começando a ficar com dó do pobre volante,que sofria a pressão furiosa que meus dedos faziam sob ele. Aumentei o som no último volume,sentindo minha agitação aumentar com o ritmo raivoso do Metallica. Pelo menos a potência daqueles alto-falantes prestavam,era uma das poucas coisas as quais eu ainda tinha orgulho de ter. A música só estava servindo pra me deixar mais louca mesmo,já que eu não conseguia prestar atenção em mais nada. Por quê ele tinha que abrir a boca? Por quê eu não meti uma bala na cabeça daquele verme? Já estava começando a me arrepender de tê-lo poupado a vida. ''Você não tem coragem,é por isso que não me matou quando teve oportunidade''.

Desgraçado - murmurei entredentes fazendo uma curva sem a menor delicadeza. Aos poucos as casas de vigésima categoria do meu bairro começaram a aparecer e eu subi as janelas. Parei o carro ao lado da lavanderia,que era um dos poucos lugares simpatizantes por ali. Desliguei o som,tirei a chave da ingnição e assim que olhei para fora,suspirei.

– Vai esperar eu te tirar daí de dentro?

– Tira a mão da porta,Dalson. - revirei os olhos em impaciência e ele soltou a porta me deixando sair,a bati assim que o fiz. - Já tá chapado uma hora dessas?

– Sem gracejos. - eu ri ironicamente,já caminhando com ele do meu lado. - Eu te disse que ainda não era hora,não disse,McGee?

– Estava um tédio dentro de casa. - me defendi dando de ombros - E já fazem 4 dias.

– Tirou a venda,não tirou? - soltei o ar pesadamente,ele urrou em algo parecido com um urro de reprovação.Ou algo que os torcedores fazem quando o jogador erra o gol. - Pra quê? - ele apareceu na minha frente,com uma expressão desesperada. Abaixei suas mãos que estavam juntas na altura do rosto e o olhei séria.

– Dalson,relaxa. - mais impus do que pedi. - É mais fácil alguém descobrir alguma coisa por causa dessa sua neurose toda,do que pela boca dele.Se toca,o verme está isolado do mundo.

– Falou.- Shawn respirou fundo assim que soltei suas mãos,retomei a minha caminhada atravessando a rua.

– Além do mais,ele está morto,esqueceu?- falei em tom baixo.

– Eu só aceitei te ajudar porque também tenho coisas a tratar com essa gente.- o seu tom de voz era o mesmo que usei com Poynter.Parei mais uma vez,e pela cara que Shawn fez,já sabia o motivo.

– Se eu ficar sabendo que você fez alguma coisa com Danny,Harry ou Tom,eu acabo com você,ok? - ele não respondeu.- Dalson,eu tô falando sério.

– Acha certo o que eles fizeram?

– Dalson. - o repreendi,ele bufou.- Se vai se vingar,se vingue do Poynter. Tom,Danny e Harry não são assim.- Shawn me olhou por longos minutos e acentiu contragosto.

– Preciso voltar. - murmurou e deu meia volta,sem dizer mais nada. Preferi deixar pra resolver isso depois,já tinha me estressado demais em um dia só. Caminhei as quadras restantes com certa pressa,já era noite.Abri a porta do velho e gasto edifício,já subindo as escadas. Virei o corredor do terceiro andar,abri a porta do 306 e entrei já jogando as chaves em cima do criado-mudo. Quarto,cozinha ou sala? A preguiça só me permitiu caminhar mais até o sofá,onde desabei confortavelmente. O sofá também era uma daquelas poucas coisas das quais me orgulhava. Eu precisava pensar. E pensar sensatamente. Mas primeiro era preciso que eu me acalmasse,seria imprestável qualquer idéia que eu tivesse com a cabeça quente. Certo,vamos analisar a situação. Todo mundo á esta altura pensa que Poynter está morto,o que facilita um pouco as coisas. Acontece que à esta altura a polícia já deve estar atrás de quem o ''matou'',ou seja,eu. Bem escondido ele estava,com isso eu não precisava me preocupar. Com a polícia também não,seria bem difícil eles me acharem. Ri de amargura mais uma vez me lembrando do por quê. A situação era tão parecida com a de 7 anos atrás que chegava a ser engraçado. Mas,voltando ao foco,eu precisava tirá-lo do meu caminho de uma vez por todas. Eu precisava me sentir vingada,precisava sentir que a justiça finalmente fora feita. E eu iria conseguir. Dougie precisava pagar por tudo o que fez pra mim,por ter tomado o meu lugar,por ter tirado de mim as únicas coisas que faziam de mim feliz . Danny,Tom,Harry,o McFly,a música,e o amor que um dia eu tive a burrice de dar à ele. Isso era o que menos doía agora,eu aprendi a esquecer o amor,para colocar o ódio em primeiro lugar,pelo menos no caso dele. E como eu tinha dito ao mesmo,a culpa era exclusivamente dele.



Quinta-feira,8 horas da manhã. Quem inventou esse aparelho dos infernos,que faz esse barulho irritante de manhã cedo,devia ser um mal amado da porra. Eu estava sentada no balcão da lanchonete,tomando meu refrigerante e comendo o meu pedaço de pizza,também conhecido como o meu café da manhã. Se eu sabia que comendo isso todo dia de manhã poderia acabar morrendo? Tinha plena consciência e não dava a minima. Francamente,fiz isso a minha vida toda e não seria agora que eu ia parar. Fumantes não dão a mesma desculpa? Deles todo mundo aceitava. Olhei meu relógio de pulso do Gato Félix mais uma vez,constatando que Dalson estava atrasado. Ótimo,eu acordo às 8 da manhã por causa dele,e nem a decência de cumprir o horário ele tem. Comi mais um pedaço da pizza e escutei a porta de entrada batendo,me fazendo olhar naquela direção. Shawn se sentou no banco de frente pro balcão ao meu lado,virado para mim com um jornal em mãos.

– Eles já sentiram falta do corpo.- disse me estendendo o tal jornal.Arqueei a sombrancelha e peguei encarando a primeira página.''Polícia questiona sobre o corpo e companheiros de banda afirmam estar desaparecido''.Maravilha,era só o que me faltava. - Achou que eles não iriam olhar isto por muito tempo?

– Merda.- murmurei,passando os olhos pelo resumo da reportagem.- As coisas vão complicar bastante com isto.

– Será que com isso eles podem levar em consideração que ele ainda está vivo? - Shawn estava apreensivo. Eu entendia a preocupação dele. Se tudo viesse á tona,ele seria preso.

– É uma alternativa. - soltei um suspiro cansado depois de responder,jogando o jornal em cima do balcão. Eu ia lá imaginar que a polícia mostraria serviço? Eles nunca fazem nada.

– Você tem que dar logo um jeito nisto. - a voz baixa e cautelosa de Shawn me despertou. - Se todo mundo acredita que ele já está morto,o choque vai ser menor se o fizermos. Mas tem que ser logo,Amber.

– Não é tão fácil assim. - me auto repreendi por ter admitido.Eu detestava ter de concordar com Dougie,mas algo me impedia de executá-lo de uma vez.

– Amber,a gente tem que tomar uma atitude. - ele se inclinou para que só eu ouvisse,seu tom era grave. - E rápido.

– Tá certo. - respirei fundo e coloquei o dinheiro que pagava a lanchonete em cima do balcão.- Vou voltar lá hoje mesmo e dar um fim nisto.- tentei mostrar convicção,acho que convenceu Shawn.

– Mas se você falhar de novo desta vez,me desculpe,eu vou ter que fazer algo.- acenti me levantando.- Boa sorte.- ele sorriu minimamente e eu retribui passando confiança,a qual eu não sabia se tinha mais. Enfrentei o frio e as ruas imundas do lado de fora,indo em direção ao meu apartamento. Subi as escadas em tempo recorde e me joguei no sofá,curtindo o silêncio da sala. As coisas estava acontecendo do jeito extremamente errado. E só tinha uma coisa que eu pudesse fazer que daria um jeito naquela confusão,mas alguma droga de instinto não me deixava fazer o que desde o começo eu queria fazer. Como Dalson tinha dito,nós tínhamos que tomar uma providência,e era isso que eu faria,a consciência que se danasse.



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