Annabeth estava sentada ao lado de Quíron em volta da fogueira, mas sua cabeça estava em outro lugar – nos olhos verdes de Rachel e no seu sorriso contagiante. Ela se sentia mal – pelo que fez, por trair Percy e acima de tudo por estar realmente sentindo algo estranho por ela. Ela voltou a realidade quando um vulto ruivo com – galochas? – e uma camiseta laranja do acampamento apareceu correndo, parando e apoiando as mãos nos joelhos, ofegante.

– M-Me desculpem! – Disse ela com dificuldade. – Eu... Eu me... – Ela avistou Annabeth e sorriu timidamente. Annabeth sentiu um calor repentino invadir seu corpo, e desviou o olhar nervosamente.

– Ok, só estávamos esperando você, Rachel. – Quíron disse. – Katie, peça sua profecia.

Katie Gardner olhou nos olhos de Rachel e murmurou: - Oh Oráculo, mostre-me meu destino.

Os olhos de Rachel escureceram e fumaça verde saía de sua boca.

“Um grande desafio tu enfrentarás,

Por um longo caminho de pedras e chamas,

Mas criança não se preocupe por onde andarás,

Pois será salvo por quem lhe reclamas.

Uma grande promessa terá de fazer

E das chamas renascerão sem ter o que escolher.”

Depois de recitar isso com a voz triplicada, Rachel caiu desmaiada nos braços de um filho de Apolo, e uma fera rugiu no interior de Annabeth – Ciúmes? Não. Ela se respondeu imediatamente e foi para seu chalé pisando fundo. Vários filhos de Atena estavam lá, estudando, lendo ou resolvendo quebra-cabeças. Ela chegou ao seu beliche e, vendo a quantidade de bagunça que tinha em cima, jogou tudo para o chão, frustrada. Se deitou e fez a única coisa que queria fazer – enterrou a cabeça no travesseiro e chorou. Conforme os campistas percebiam que ela não estava bem, iam saindo, até que houvesse no chalé apenas ela e suas lágrimas. Ela se jogou no chão e seu choro se transformou em gritos estrangulados. Ela pegou um livro que tinha jogado no chão e jogou na parede onde haviam fotos dela e de Percy. Rolou no chão gelado e adormeceu ali mesmo.

– Annabeth? – Uma voz tímida e familiar disse – Lacy quer falar com você.

– Lacy? – Respondeu a garota, sonolenta. – Hum, ok. – Annabeth levantou-se e foi ver a garota.

– Oi Annie! – A garota a abraçou. – Quíron quer que eu vá até a caverna de Rachel. Eu não sei chegar lá, você poderia me levar?

– Rachel? – Annabeth tremulou. Depois daquela noite, ela estava com vergonha até de chegar perto de Rachel. Mas decidiu que seria melhor, ela não queria perder a amizade da ruiva. – Tudo bem, Lacy. Espere-me na mesa de seu chalé.

Ela fechou a porta do chalé e correu para o banheiro. Tomou um banho rápido e se vestiu como sempre – short jeans  e camiseta laranja do acampamento. Olhou-se no espelho e soltou os cabelos loiros. Sentiu-se culpada por estar se arrumando tanto e pensou em Percy. Lágrimas vieram a seus olhos, mas ela as reprimiu. Calçou um all star branco e foi até a mesa de Afrodite.

– Vamos, Lacy? – Disse ela, forçando um sorriso. A garota retribuiu o sorriso e a seguiu até a caverna de Rachel.

Ao chegarem nos degraus, Annabeth respirou fundo. A filha de Afrodite correu até a porta da caverna e a empurrou, abrindo-a sem querer.

– Oi, Lacy! – Disse Rachel, risonha. – Como vai? Está sozinha? – Ela se assustou ao ver Annabeth, e acenou fracamente. Lacy falou umas coisas para Rachel, mas Annie não prestara atenção. Estava distraída, perdida nos olhos verdes de Rachel. O modo como seus cachos ruivos balançavam enquanto ela conversava – Annabeth estava hipnotizada. Lacy se despediu de Rachel, murmurou ‘Obrigada, Annie!’, e correu de volta para os chalés. Annabeth olhou acanhada para Rachel.

– E aquele filho de Apolo, hein? – disse Annabeth, sem perceber o quão estúpido aquilo saíra.

– Hm, Eddie? – Retrucou a ruiva tentando parecer distraída – É um panaca.

– Erm... eu vou indo – Disse Annabeth, o rosto já rubro.

– Hum, ok – Rachel respondeu, olhando para o teto. – Até amanhã.

Annabeth fez um tchau tímido com as mãos, colocando-as no bolso e descendo as escadas. Parou no penúltimo degrau, olhou para as estrelas e suspirou. Rachel me odeia, pensou. No caminho para seu chalé, ela viu um pequeno arco-íris se formando no lago de canoagem. Correu desesperadamente, segurando um dracma. Jogou o dracma no arco-íris e murmurou:

– Ó deusa, aceite minha oferenda – O dracma desapareceu. – Percy Jackson.

O arco-íris permaneceu imóvel, e Annabeth começou a chorar, suas lágrimas afundando no lago. Afundou a cabeça nas mãos e pensou em Percy – e em Rachel. Ela não sabia quem estava amando – seu namorado ou sua amiga? – e isso estava a matando aos poucos. Ela sentiu uma vibração no bolso de seu short e seu celular começou a tocar. Estranho, ela pensou. Ela atendeu.

– Annabeth? – A voz de Rachel tremulava. – Annie... você está me ouvindo?

Annabeth silenciou por praticamente 10 segundos.

– O que... o que foi Rachel? – Annabeth respirava fundo.

– Vem aqui na caverna? – A voz da ruiva ficou mais aguda, como se estivesse prestes a chorar. – Por favor.

Annabeth suspirou. Seus olhos cinzentos já inchados de chorar reluziram, e ela desligou o celular sem responder Rachel. Respirou fundo, olhou para o lago e levantou-se.

No caminho do chalé de Atena, ela começou a pensar. O que Rachel queria? Ela imaginava várias coisas. Chegando a porta de seu chalé, a curiosidade a consumiu. E ela não podia se enganar – o desejo também. Estava sendo difícil para Annabeth ver Rachel todos os dias sem poder beijá-la, senti-la. Cada vez em que pensava em Rachel – seus olhos verdes, seu sorriso caloroso – uma chama ascendia em seu corpo. Annabeth soltou a maçaneta de ouro branco e correu até a caverna.

Chegou lá, apoiando as mãos nos joelhos ofegante. Encostou o ouvido na porta e escutou gritos estrangulados – Rachel chorava alto. Annabeth bateu na porta timidamente, segurando as mãos uma na outra.

Uma Rachel tímida atendeu a porta – tentava esconder os olhos inchados com os cabelos e as mãos. Ela estava maravilhosa. Seus olhos verdes cintilantes estavam inchados de chorar, e ela vestia um short desbotado e manchado. Uma blusa preta estampada com um homem de capa com a escrita Star Wars estava vestida sob um colete jeans surrado, e seu rosto estava sujo de tinta verde. Linda.

Seu cabelo ruivo bagunçado estava preso com uma presilha prateada, e o que ela fez a seguir enlouqueceu Annabeth – Ela apenas sorriu.