Rachel estava deitada em sua cama escutando música alta e desenhando. Era verão, e sua caverna de oráculo no Acampamento Meio-Sangue reluzia a luz da lua. Os chalés e a casa grande eram longe da caverna, portanto ela poderia fazer quanto barulho ela desejasse que ninguém a escutaria. Ela rascunhava um desenho rachurado de sete adolescentes – Uma garota muito bonita com cabelos trançados, um garoto forte com um porte desajeitado, uma garota com cabelos cacheados e olhar severo, um garoto com cabelos claros e camiseta escura, uma garota de pele escura, cabelos cacheados e um sorriso mecânico, um garoto com cara de travesso e cabelos cacheados e Percy Jackson.

Percy estava desaparecido há dois meses. Rachel sentia quase tanta saudade quanto Annabeth – Percy era seu melhor amigo. Antigamente ela sentia algo a mais por ele, mas percebeu que só havia amizade e que ela tinha confundido as coisas. Percy a acalmava, a fazia rir, a fazia esquecer o inferno que era a Academia de Moças Clarion era. Depois de muita insistência, brigas, discussão e promessas que não seriam cumpridas, seu pai a deixou passar o ano no acampamento. Ela se virou olhando para o teto e suspirou, se lembrando de seus momentos com Percy.

A música estava bem alta, mas ela conseguiu distinguir um grito feminino chamando seu nome. Desligou o som e esperou, atenta para outro berro.

– Rachel! – Era a voz de sua loira preferida. – Racheeeel!

 – Entra, Annie! – Rachel gritou, rindo. – Você sabe que não precisa bater.

A loira entrou timidamente.

– Quíron me mandou vir aqui te dizer que amanhã cedinho alguns campistas vão sair em uma missão, então você terá de estar no refeitório.

– Hum, ok. – Ela respondeu, mordendo um pedaço de chocolate e oferecendo um pouco a Annabeth. A loira pegou um pedaço e mordeu satisfeita. – Quais campistas? – perguntou a ruiva se debruçando na cama, olhando interessada para a Sabidinha.

– Lee Fletcher, Katie Gardner e Travis Stoll – disse ela, com ênfase nos dois últimos nomes.

– Hum, Travis e Katie? Vai ter sacanagem! – Rachel disse rindo, e Annabeth riu alto com ela. As duas passaram horas fofocando e falando coisas bobas, até que Annabeth olhou para o relógio e ficou pálida.

– Di Immortales, Rachel! 2 da manhã! Meus deuses, se Quíron descobrir... – Annie se levantou e olhou para a janela. Lá fora caía uma tempestade enorme, e Annabeth mordeu o lábio. – Tem um guarda-chuva para me emprestar?

– Pode dormir aqui se quiser, boba – Rachel riu.

– Não, Rachel... – Ela disse, preocupada. – Eu não sei se as regras dos chalés valem para cá, mas é sempre bom não arriscar.

– OK. – Rachel se levantou e se dirigiu ao seu guarda-roupas, pegando dois casados. Um verde ela vestiu, e um vermelho ela jogou a Annabeth, que o olhou sem saber o que fazer. – Veste, poxa. – Rachel disse, rindo. – Tá muito frio lá fora, esse shortinho e essa camiseta não vão aguentar.

– Hum, ok – respondeu, acanhada. – E... por que você se agasalhou também?

– Eu vou te levar, sua boba – retrucou, risonha. – E não adianta negar. Além de achar que você pode cair na escada, pois ela fica escorregadia quando chove, talvez eu precise do guarda-chuva amanhã – Ela abriu a porta, tomando um jato de água e vento no rosto e fazendo uma expressão engraçada. – Vem Annie.

Rachel abriu o guarda-chuva e Annabeth a abraçou pelo pescoço. A ruiva a abraçou pela cintura e seguiu cuidadosamente pelas escadas. As duas seguiram até os chalés conversando sobre coisas bobas, como pipocas de bacon e aranhas, até que chegaram ao chalé de Atena.

– Hum, obrigada Rachel. – Disse Annabeth sorrindo carinhosamente e a abraçando. – Até amanhã, amiga!

– De nada, loira. Ela sorriu. Annabeth veio para lhe dar um beijo no rosto, mas acidentalmente Rachel virou e a garota acabou a beijando, na boca. As duas fizeram cara de pavor. – Ah meus deuses, Annie! Me desculpe!

– N-Não foi nada – retrucou, corando. – Então, até amanhã, boa noite! – Annie disse fechando a porta do chalé com força, deixando Rachel parada olhando a porta de mármore branco do chalé.

Rachel voltou para sua caverna angustiada. O que ela tinha feito? Annabeth era sua melhor amiga. Além do mais, por que estava chovendo? Nunca chovia lá. Os deuses deviam estar bravos com alguma coisa... Rachel estremeceu. Será que eles sabiam? Ela pensou. Não, não... quando aconteceu já estava chovendo. O que ela estaria pensando de Rachel? Várias perguntas como essa povoavam sua cabeça. Ela chegou à caverna e viu a bagunça que tinham feito. Ela jogou todas as tralhas que estavam sobre a cama no chão e deitou –se, olhando fixamente para o teto. Suspirou profundamente. O pior não era o fato de que ela acidentalmente beijara sua melhor amiga, ou o fato de que Annabeth era a namorada de seu melhor amigo. O pior era que ela tinha gostado. Os lábios de Annabeth eram tão macios... E o jeito que ela a abraçou...

Não, Rachel bloqueou seus pensamentos. É a namorada de Percy – ela pensava, pois “é a minha melhor amiga” não adiantaria. Ficou pensando coisas assim até adormecer, o barulho da chuva a acomodando – a fazendo lembrar de Nova York.

Ela acordou sonolenta. Seu sonho ainda estava nítido em sua mente, uma imagem provocante até. Proibida. Ela se espreguiçou, o coração acelerado. Suspirou, limpou os olhos e olhou para o relógio. Levantou-se em um pulo ao ver o horário.

– OITO HORAS! – Ela exclamou, correndo para o banheiro. Escovou os dentes apressadamente, jogando a escova no armário sem delicadeza ao voltar para o quarto. Abriu seu guarda-roupas e pegou sem escolher um short jeans desbotado, meio manchado de tinta e uma camiseta do acampamento, se atrapalhando ao tentar vestir os dois ao mesmo tempo. Abriu o compartimento onde guardava seus sapatos e pegou o primeiro que viu – um par de galochas verdes –, calçando-o apressada. Correu para a porta e ao puxar a maçaneta a encontrou trancada – Droga, porque as coisas conspiram contra mim quando estou atrasada? – e saiu correndo para procurar a chave. Encontrou-a jogada por cima de um criado-mudo, a agarrou e saiu correndo em direção à fogueira.