NARRADO POR ALICE

Acordei com um barulho irritante no meu ouvido. Era o meu despertador. Desliguei ele e me levantei para me arrumar. Depois de pronta, fui embora para a escola sem tomar café, pois não estava com fome. Fui andando, ainda um pouco confusa sobre a noite passada.

Observar a paisagem fria da Inglaterra me fazia sentir mais saudade de casa. Eu queria as ruas movimentadas, pessoas correndo para pegar o metrô, o barulho das buzinas dos taxis, as luzes, as lojas. Aqui é tão sem graça! As pessoas são arrogantes e frias, assim como o clima.

E por falar em pessoas arrogantes, lá estava a Nicole. Ela também estava lá ontem a noite. Deve ser por isso que ela é tão estranha e misteriosa. Vou tentar falar com ela novamente.

– Oi - eu disse, ela estava lendo como sempre - eh, eu falei com você - falei e ela me olhou de canto.

– Eu percebi - ela disse com aquela voz arrogante e metida de sempre.

– Eu achei que como você...

– Não me interessa o que você achou - como ela era petulante, nem me deixou terminar de falar.

– ALICE! - olhei para trás e vi Juliana acenando e eu acenei de volta.

– Bom eu - quando me virei Nicole não estava mais lá.

– Oi.

– Oi Ju.

- Por que você estava falando com a Nicole?

– Por nada não - disse dando de ombros.

– Onde você estava ontem a noite? - aquela pergunta me pegou desprevenida.

– Em nenhum lugar, por que? - tentei agir naturalmente

– Porque eu liguei pra você a noite, e ninguém atendeu.

– É que eu fui dormir cedo - foi a primeira coisa que me veio na cabeça.

– hum - ela disse - vamos, agora é aula de literatura - ela me puxou.

Ao entrar na sala, estava tudo normal, como se não tivesse ocorrido nada ontem a noite. Não dei importancia e fui me sentar com a Juliana e o Lucas. Me sentei, e a conversa rolava normalmente, até que o professor de literatura entrou na sala.

– Bom dia classe - ele disse se apoiando sobre a mesa - eu quero que vocês façam um relatório do assunto que debatemos na aula anterior, isso é para todos - ele fez uma pausa - o relatorio vale trinta por cento da nota da primeira avaliação, e é para amanhã.

– O que? - era o que o se ouvia pela sala toda.

Depois da aula de literatura, tive química seguido de biologia, e agora era o intervalo. Eu estava sentada com a Juliana e o Lucas no gramado de escola.

– Aposto que o professor de literatura passou aquele relatório com a intenção de prejudicar a Nicole - disse Juliana.

– Mas é claro que foi isso - disse Lucas - e como será que ela vai fazer o relatório se nem assistiu a aula passada?

– Até parece que você nem estudou aqui nos anos passados. Ela sempre da um jeito - Juliana disse.

– Não sei como, já que ela não tem amigos - Lucas disse.

– Não tenha tanta certeza disso - murmurei mas acho que eles oviram.

– O que você disse? - me perguntou Juliana.

– Nada - disse tentando disfarçar.

– Você está tão calada hoje - Juliana falou e eu dei de ombros

– Acho que a Nicole tem um caso com o professor - disse Lucas e nós rimos da besteira que ela havia dito.

– Que tal se fizermos o relatório juntos? - sugeriu Juliana.

– Por mim tudo bem - disse Lucas.

– Acho que estou livre.

– Então, depois da aula vamos para minha casa - falou Juliana e o sinal tocou avisando que o intervalo tinha acabado.

NARRADO POR NICOLE

Aquele professorzinho de merda, ele que fique esperando o melhor relatório da turma. E aquela garota achando que só porque é do grupo agora, acha que pode sair por ai falando comigo. Mas nada disso me interessa, já que hoje meus pais voltam de viagem, e meu irmão mais velho vai jantar conosco.

Meu motorista veio me buscar, ordens do meu pai. Ao chegar em casa, tomei um banho e fui fazer o relatório, que no caso era sobre as revoluções literárias. Quando terminei, fui me deitar um pouco. Ouvi alguém batendo na porta e me levantei para abrir. Abri e vi que era o Peters, eu acho, já que ele tinha um clone identico perambulando por algum canto da casa.

– O que foi? - perguntei.

– O Mack chegou, e o carro do papai e da mamãe acabou de chegar - ele disse.

– Então eu tenho que descer? - perguntei como isso não fosse óbvio.

– Sim.

Desci as escadas logo atrás de Peters. Mack estava sentado na sala de estar, fazia uns seis meses que eu não o via.

– Oi Mack - falei fria.

– Oi Nicole - ele disse no mesmo tom que eu.

Minha família não era muito fã de afeto. Me sentei no sofá da sala de estar, para aguardar a chegada dos meu pais, que logo entraram na sala.

– Mãe! - Leo e Peters correram para abraça-la.

– Oi meus amores, que saudade - ela disse - Nicole, Mack, venham aqui.

– Oi mãe - eu e Mack dissemos juntos e a abraçamos.

– Como vai a faculdade Mack? - meu pai perguntou, sempre com um tom frio, e sem dizer ao menos um 'oi', mas eu não esperava outra reação.

– Está ótima - ele respondeu.

– E você Nicole? - perguntou meu pai - como vai a escola?

– Ótima - dei um sorriso falso.

– Que bom. Então vamos todos jantar - o tempo passou tão rápido, que eu nem percebi que já era de noite - Jaron, leve nossas malas para nosso quarto.

– Sim Senhor - ele respondeu e com a ajuda de outros empregados, levaram as malas para cima.

Fomos todos em silêncio para a sala de jantar. Comemos tambem em silêncio, como era de costume. Houve alguns comentários vindo do meu pai, ou dos meus irmãos. Após o jantar, subi para o meu quarto, com a intenção de ter uma longa noite de sono. Mas foi quando me deitei, meu celular começou a tocar.

– Alô - disse com uma voz sonolenta.

– Nick, sou eu Jake.

– Oi Jake.

- Eu liguei pra saber como foi o jantar, e como você está, já que não deu notícias hoje

– Eu estou bem e o jantar foi o de sempre.

– E com o de sempre você quer dizer um olhando para cara do outro sem dizer nada?

– É - ele me conhecia muito bem.

– Acho que você deve estar cansada, então vou deixar você dormir - ele me conhece bem mesmo – boa noite.

– Boa noite, tchau - desliguei e fui dormir.