NARRADO POR JAKE

          Minha cabeça dava voltas com tudo o que estava acontecendo. Claro que mil vezes pior para a Nick. Mas ela tem isso de não demonstrar fraqueza e tal, o que torna mais difícil de ajudá-la. O que eu tinha que fazer era ficar ao seu lado, e tentar agir como se nada estivesse acontecendo, e ao mesmo tempo mostrar que me preocupo e que ela pode contar comigo.

           É uma estratégia um tanto confusa, eu sei. Mas é assim. Nicole é uma pessoa extremamente complexa, e eu se disso mais do que ninguém. E preciso agir com cautela. Céus, como essa garota é complicada. Ri com o pensamento. Amo a Nicole mais do que tudo. Não sei ao certo explicar. Ela é tão misteriosa e determinada.

          Puxei-a pela cintura e a beijei. Beijei-a de uma forma intensa, tentando transmitir o quanto eu a amava.

- Eu te amo - disse ao separar nossos lábios. - Eu te amo tanto. Não vou deixar nada de ruim acontecer com você.

- Eu também te amo - ela sussurrou. E por um momento, vi uma lágrima percorrer um lado de sua face. - É que... É tão difícil.

- Shhhh - passei o dedão em seu rosto, enxugando a lágrima. - Vai ficar tudo bem. Eu estou aqui com você, para tudo que precisar.

          Abracei-a forte. Tentei passar segurança para ela.

- Vem. Vamos conhecer meus pais. Eles vão te adorar - disse, e ela apenas assentiu.

          Assim que entramos em casa, ouvi o barulho a televisão vindo da sala. Fomos até lá, e encontrei minha mãe, que possuía curtos cabelos loiros e olhos castanhos, e meu pai, já quase sem nenhum cabelo na cabeça e olhos verdes iguais aos meus, sentados no sofá, e logo que notaram nossa presença, passaram a nos encarar, ou melhor, a Nicole.

- Ah, mãe, pai, essa é a Nicole Salazar, minha namorada - disse pausadamente, e ambos levantaram a sobrancelha. E não demorou muito para minha mãe se levantar para cumprimentá-la. E logo meu pai repetiu o ato.

- Olá querida, me chamo Susana.

- Eu sou Arnold.

- É um prazer conhece-los - disse Nick, orçando um sorriso.

- Nick, por que não se senta. Mãe, pai, podem vir aqui um minuto? - Nicole se sentou um pouco acanhada, e foi com meus pais até a cozinha.

- Está namorando? - meu pai me perguntou surpreso.

- É uma história engraçada - disse com um sorriso falso, passando a mão em minha nuca.

- E uma Salazar? Aquela família arrogante e cheia de dinheiro? - meu pai como sempre falando o que não devia.

- Ela não é assim - a defendi.

- Há quanto tempo isso? - minha mãe perguntou calma.

- Ah... Dois anos.

- Dois anos? Você está brincando?

- Não pai. É que é complicado. Nós precisávamos manter em segredo.

- E por que só agora veio nos contar?

- Por que ela vai passar a noite aqui - disse tentando parecer calmo.

- Por quê? Ela não mora em uma mansão?

- Ela está passando por problemas familiares muito sérios, e eu só preciso da compreensão de vocês, e que sejam gentis com ela e não forcem muito a barra.

- Era só ter dito antes querido. Pode deixar que faremos o possível para ela se sentir em casa - o doce som da voz da minha mãe.

- Obrigado. Vou ver como ela está.

- Jake, vou preparar um chocolate quente.

- Ok.

          Nicole estava sentada. Possuía um olhar vago, mas conseguia ver a tristeza naqueles enormes olhos azuis.

- Nick - disse ao me sentar ao seu lado. A envolvi com meu braço, deixando sua cabeça repousar em meu peito.

- Olha Jeke, se eu estiver incomodando eu posso ir para um hotel, ou sei lá.

- Nem pense numa coisa dessas. Você nunca será um incomodo. - beijei o topo de sua cabeça. - Minha mãe está fazendo chocolate quente.

          Após tomarmos o chocolate quente, ficamos conversando um pouco, que foi um ótima oportunidade para meus pais conhecerem bem a Nicole. Ela não falava muito, mas eu não esperava outra reação. Depois, ficamos um pouco a sós, até que o sono chegou.

- Ah, seu quarto é uma graça.

           Era um quarto simples, com móveis básicos para quarto. Alguns detalhes de futebol, mas nada de especial.

- É só um quarto normal.

- Meu quarto não é assim.

- É claro que não é, seu quarto é do tamanho da minha casa - disse e ela riu. Foi ótimo ver ela rir. Ela está passando por tanta coisa em tão pouco tempo. - Eu adoro seu sorriso.

- E você é a razão dele - ela se aproximou de mim e pôs as mãos em meu rosto. - O que seria de mim sem você? - disse, e ela me puxou para um beijo. Coloquei meus braços em sua cintura, aproveitando cada segundo daquele beijo calmo e carregado de paixão.

- Eu te amo tanto. Eu não sei se conseguiria ficar sem você - ela disse em tom de voz chorosa.

- Mas você não vai... Eu nunca vou te deixar. Eu te amo. Por que disse uma coisa dessas? - ela ficou me olhando com uma expressão... Ai meu Deus. Eu conheço essa expressão. Ela sabe de alguma coisa que eu não sei.

- Nick eu... - quando tentei perguntar, ouvi alguém batendo na porta.

- Desculpe interromper - disse minha mãe, e então percebi que ainda estava abraçado a Nick - Eu trouce uma camisola minha para a Nicole, para dormir mais confortável.

- Ah, sim claro - Nick pegou a roupa.

- Boa noite. E não aprontem nada.

- Mãe - disse me sentindo um tanto envergonhado.

- Boa noite senhora Foster. Sua mãe é muito legal. Eu vou trocar de roupa.

- Claro.

          Assim que ela entrou no banheiro, aproveitei para trocar de roupa também.

         Vou deixar esse assunto para depois. Não quero aborrecer a Nicole com perguntas. Vou deixá-la dormir em paz, e amanhã enfrentar a fera.

NARRADO POR NICOLE

         Eu sei que esconder coisas do Jake é muito errado, mas eu não tenho escolha. E outra, eu posso mudar o destino das minhas visões. Não sei se vou conseguir, mas vou tentar.

NO DIA SEGUINTE...

- Pronta para entrar? - Jake me perguntou.

          Estávamos parados em frente a porta da minha casa. Toquei a campainha, e logo Jarom apareceu.

- Bom dia Jarom - disse de forma fria.

- Bom dia senhorita - ele abriu a porta, e eu e o Jake entramos.

- Onde está o meu pai?

- Estou aqui - aquela voz grossa, fria e sem emoção, invadiu meus ouvidos, me deixando um pouco receosa. - Nicole eu, eu queria dizer - ele dizia pausadamente - me desculpe. Eu nuca pensei que minha filha, minha garotinha, fosse um dia me enfrentar e - ele fez uma pausa. - e quando você disse aquelas coisas sobre como as pessoas nos acham parecidos, eu me lembrei e gostei de lembrar. Mas depois disse que não queria ser que nem eu e me menosprezava, isso me fez repensar os meus atos, então eu fui atrás de sua mãe, e de você.

- Foi atrás de mim? - perguntei surpresa. Eu já estava bastante perplexa com o que estava acontecendo. Nunca falei mais de uma frase com o meu pai. E o que estava acontecendo agora era bastante esquisito.

- Sim. Procurei em diversos lugares. Mandei a polícia locar ir atrás de você, e estou até agora esperando algum sinal seu.

- Você não dormiu?

- Como poderia? Não iria descansar até ter você aqui em casa, comigo - e então a coisa surpreendente e estranha aconteceu. Meu pai sorriu, eu acho. Aquilo parecia um sorriso, ou pelo menos uma tentativa. - Eu te amo.

- Eu também - dei um meio sorriso, e fui até o meu pai para abraça-lo. Abraço. Uma demonstração de afeto que não é devidamente praticada em minha casa.

          Era uma sensação bastante estranha, estar abraçada com um homem que eu mal falava, ou se quer o via em casa. Sempre fomos tão distantes.

- Estou aliviado em saber que está bem. E, por falar nisso, onde você estava? - estava demorando. Saí de seus braços e olhei para Jake, que permanecia próximo a porta.

- Eu estava na casa dele - apontei para Jake, que se aproximou de mim acanhado - Jake Foster. Meu namorado - disse hesitando ao dizer a última parte.

- Seu o que? - meu pai engrossou a voz de uma forma assustadora. Cadê aquele cara que estava me abraçando a um minuto atrás?

- Pai eu...

- A quanto tempo? Há quanto tempo você esconde isso de mim? - aí caramba. Como eu iria dizer isso? - Eu fiz uma pergunta Nicole.

- Dois anos - respondi rapidamente. Como um reflexo de quem põe a mão em algo quente.

         Meu pai tentava dizer algo. Era como se estivesse entalado em sua garganta.

- Senhor, eu só quero que saiba que minhas intenções com sua filha...

- Me poupe deste discurso. Eu sei bem aonde você quer chegar.

- Não, eu juro. Eu a conheço há muito tempo. Sou respeitador, minhas médias na escola são ótimas, também sou o capitão do time de futebol - era um pouco engraçado ver o jeito desesperado com que ele falava, mas ao mesmo tempo dava pena. Meu pai assusta. 

- Tudo bem. Por que não me fala mais sobre você durante o almoço?

- Seria ótimo.

         Meu pai o fuzilou com o olhar antes de sair para seu escritório.

         Não acredito que isso está mesmo acontecendo. A única coisa que pode mudar isso é o que esta por vir.

- Nicole, para o quarto – ele fez uma pausa e olhou para Jake. – E você, para o meu escritório, vamos ter uma longa conversa.