NARRADO POR JAKE

       Acho que já faz uns dez minutos em que o senhor Carter me fitava sem dizer nada. Ele me olhava profundamente com aqueles olhos azuis iguais os da Nicole, só que os dele eram muito mais assustadores.

        Ele suspirou pesado e recostou-se em sua cadeira de couro preta.

- Vamos direto ao ponto - ele disse, em fim quebrando aquele silêncio perturbador. - Quanto você quer para deixar minha filha em paz? - arregalei os olhos, surpreso com a pergunta.

- O que? - perguntei tentando organizar minhas ideias na cabeça - Me desculpe senhor, mas não quero seu dinheiro.

- Então o que quer? - a cada pergunta que ele me fazia, mais indignado eu ficava com suas atitudes.

- Acho que o senhor não me entendeu bem. Eu não quero nada seu - disse - Eu realmente amo a Nicole, e quero ficar com ela. - Ele novamente se mexeu em sua cadeira, e fez uma expressão pensativa, e voltou a me fitar.

- Bom, já que não vai ser desta maneira, vamos resolver isso de outra forma. Se não deixá-la em paz, vou mandá-la para um internato só para garotas, em Londres. E nós dois sabemos que a Nicole adora este lugar, assim como eu, e ela não iria gostar de sair daqui. - A cada palavra que ele dizia mais ódio eu ia consumindo. E eu não sou de fazer isso.

- Por que está fazendo isso? - perguntei tentando compreender suas atitudes.

- Acho que você sabe que namoros na adolescência não rendem, e eu quero o melhor para o futuro da Nicole, isso inclui impedir que mexam com seu emocional, pois isso pode distraí-la.

- Não vou terminar com ela - disse determinado.

- Raciocine comigo garoto. Se não terminar com ela, mando-a para Londres, o que vai ser pior para os dois. Então, o que me diz? - ele me encarou esperando uma resposta.

        Ele não podia mandá-la para Londres, e eu não queria terminar com ela. Já sei exatamente o que fazer.

- Eu aceito sua proposta - disse de forma fria. E ele sorriu vitorioso.

NARRADO POR ALICE

        Por que essas coisas sempre acontecem comigo?

        Estava totalmente concentrada em meu dever de biologia, quando meu lápis resolve cair do outro lado do quarto. Mas m recuso a apanhá-lo, vou continuar o dever com outro lápis.

        Não demorou mais de meia hora, e me deu vontade de ir ao banheiro. Tudo me impedia de ficar concentrada.

        Levantei-me, indo em direção ao banheiro. Mas antes de chegar lá, pisei em algo roliço, que me fez perder o equilíbrio, levando-me de encontro à parede, ou quase isso.

        Caí com as mãos no chão frio. E quando levantei a cabeça, percebi que estava sobre o chão do banheiro. E não terminava por aí. Virei-me de frente, e soltei um grito que foi abafado pela minha mão. Estava faltando metade das minhas pernas.

        Mas quando me mexi, percebi que na verdade eu tinha acabado de atravessar a parede do meu quarto.

        A felicidade me tomou, e comecei a rir que nem besta. Mais uma habilidade conquistada. Nem posso acreditar nisso.

        Levantei-me rapidamente, e atravessei novamente só para ter certeza se isso era mesmo real. E era. Agora eu precisava contar para alguém.

        Corri e peguei meu celular. Meus primeiros contatos eram meus amigos de Nova York. E isso me fez lembrar que faz alguns dias que não falo com eles. Logo vi o nome da Juliana, Lucas e... Mark.

        Tentei ligar para ele, mas só caia em caixa de mensagens. Percorri até o fim da minha lista de contatos, e apareceu Vince. Acho que seria uma boa ligar, mas acho que ele vai achar um pouco estranho ou sei lá. Mas eu necessitava ligar para alguém e falar. Então disquei seu número sem hesitar.

-          Alice? - ele logo atendeu. E como eu esperava, com uma voz confusa.  

-          Ah, oi Vince – ok, agora eu estava um pouco hesitante.

-          Tá tudo bem?

-          Sim, sim. Tudo ótimo. Eu sei que deve estar pensando no por que de eu ligar para você, tipo “Ei, por que a Alice tá ligando para mim¿” – disse imitando uma voz masculina. Ouvi-o rir do outro ao telefone. – Por que está rindo?

-          Não é nada. É que sua imitação de homem é engraçada.

-          Tá legal, eu não sou uma imitadora de voz profissional – suspirei e ri um pouco. – Eu só liguei por que aconteceu uma coisa e se não contar para alguém logo eu vou explodir.

-          Então fala garota. Não quero que você exploda.

-          Eu consegui atravessar paredes – disse com uma voz alegrinha até de mais.

-          Mentira. Estou muito feliz por você.

-          Valeu.

-          Ei, é... Eu queria saber se, se você vai na... Na exposição de artes – ele falava gaguejando e enrolando-se um pouco.

-          Vou, eu vou com o Lucas.

-          Ah tá. Claro, o Lucas. É seu amigo né.

-          É, pois é – ficamos alguns segundos sem falar nada. – Bom eu vou desligar por que tenho que terminar um dever enorme de biologia.

-          Claro. Não quero atrapalhar seus estudos.

-          Tchau Vince. Obrigado por me ouvir.

-          Tudo bem. Tudo para não ver você explodir – rimos um pouco. – Tchau.

        Desliguei o celular, e voltei para minha cama.