NARRADO POR JAKE

- Gente, a Kim está acordando.          

Nos aproximamos mais de onde ela estava deitada. Aos poucos ela foi despertando, até que abriu lentamente seus olhos castanhos nos olhando com uma expressão confusa. 

- O que está acontecendo?

- Eu ia lhe perguntar a mesma coisa - disse Thomas e Kim o encarou confusa. - Espera. Você não se lembra de ter desmaiado? - perguntei. 

- Eu desmaiei? Isso explica minha dor de cabeça - ela pôs a mão na cabeça.         

Isso estava muito estranho. Quando algo assim acontece a Kim, boa coisa não é.          

Espera. Foi a Nicole quem me ligou para avisar sobre a Kim. Talvez ela tenha tido uma visão, ou saiba de alguma coisa.          

Olhei para ela, que observava tudo calada meu lado. - Nick - sussurrei em seu ouvido e senti ela se arrepiar um pouco. Ela olhou para mim discretamente - O que está acontecendo? Por que ela não se lembra de nada? 

- Eu não sei. 

- Por acaso você teve uma visão? 

- Não, foi mais um pensamento intuitivo, sabe? Um pressentimento - assenti concordando. Na verdade não sabia ao certo se devia concordar. Toquei levemente seu queixo trazendo seu olhar de encontro ao meu

- Tem certeza? - ela fez que sim com a cabeça e voltou a olhar para a Kim, que esta conversava com Thomas.          

Era difícil dizer se a Nick estava dizendo a verdade. Se tem uma pessoa que mente muito bem é a Nicole. E apesar de conviver com ela a muito tempo, não sei dizer ao certo se ela está realmente mentindo.                   Saí da minha dispersão mental momentânea e voltei minha atenção a Kim. 

- Então você não se lembra de nada mesmo? - insistiu Thomas. 

- Pela última vez, não! - Kim disse irritada. Thomas consegue ser bem irritante as vezes, ou melhor, a maior parte do tempo. 

- Bom, então acho que não temos mais nada o que fazer aqui - Vince se pronunciou se levantando - eu tenho que ir se não se importam - todos assentimos e ele foi embora.          

De repente senti um vazio ao meu lado. Quando olhei, a Nicole não estava mais lá. Saí discretamente, e ao abrir a porta eu a vi caminhando. Por que ela fez isso? 

- Nick! - a chamei e corri para lhe alcançar, o que não foi difícil - por que já está indo? - ela não disse nada, apenas continuou andando com seu olhar preso ao chão - Ei - eu a fiz parar e coloquei uma de minhas mãos em seu ombro - O que está acontecendo? - seus olhos azuis não tinham aquele brilho especial, e nem estavam expressando superioridade e frieza como de costume. Eles estavam tristes e um pouco assustados, de uma forma que já mais vira - O que está acontecendo? - repeti a pergunta - Sabe que pode me dizer tudo o que quiser, não sabe?            

Ela assentiu e deu um longo suspiro.            

A Nicole é uma pessoa muito difícil de se abrir, falar de sentimentos e essas coisas. Ela acha que isso é sinal de fraqueza. Mais uma coisa que ela aprendeu com o gênio do pai dela. Mas com anos convivendo com ela, e mais os dois que a namoro, aprendi a lidar um pouco com isso.            

Contornei delicadamente as linhas de seu rosto com a ponta do dedão. 

- Me fala o que se passa neste coração. 

- Só estou com medo - fiquei surpreso com o que ela havia dito. Ela não demonstrava tão fácil o que sentia. E uma vez quando eu fiz uma pergunta parecida com esta, ela disse que só havia sangue em seu coração. Isso é bem a cara dela. 

- Não precisa ter medo. Seja o que for vou estar sempre ao seu lado para te proteger.           

Abracei-a forte demonstrando confiança, e algo totalmente inesperado aconteceu, a Nick começou a chorar. Nunca, em todos os anos que passei com ela, nunca e jamais a tinha visto chorar. Ela está realmente com medo de algo. Sinceramente, fiquei com um pouco de medo também. 

- Vai ficar tudo bem - disse tentando acalmá-la. 

- Promete? - ela me questionou entre soluços. 

- Prometo - beijei o topo da sua cabeça. 

- Eu te amo - ela sussurrou. 

- Também te amo - disse e a puxei para um beijo. Foi um beijo um tanto molhado, devido as lágrimas que a pouco percorreram sua face - Não vou deixar que nada de ruim aconteça a você - pela primeira vez vi uma coloração avermelhada em seus olhos causada pelo choro - Vem, vou te levar para casa - disse e entrelacei nossas mãos. 

- Não se importa? É que estamos bem longe. 

- Não. Mas se quiser eu te pego em meus braços e levo você para casa num piscar de olhos. 

- Não, prefiro que demore. 

NARRADO POR NICOLE 

         Sentia-me mal mentindo para o Jake. Bom, em parte eu não estava mentindo, mas não era isso exatamente o que se passava. Eu não podia contar a verdade, aquilo seria de mais para ele, e acabaria completamente com qualquer chance que temos de fechar o portal.          Não tenho certeza do que vai acontecer, mas se tudo ocorrer exatamente como em minha visão, nada mais será como antes.           Sentimentos diversos se formavam em minha cabeça. Minha mente estava uma completa confusão. Esta foi uma das poucas vezes que eu demonstrei meus sentimentos, meu medo principalmente. Meu pai sempre me disse que não o devemos, pois isto é sinal de fraqueza, e as pessoas se alimentam da fraqueza e insegurança dos outros. Mas as vezes é bom desabafar com alguém, e fico feliz por esse alguém ser o Jake. Ali de mãos dadas com ele, me sentia segura, apesar de saber que ele provavelmente não poderia interferir no que provavelmente irá acontecer. 

- Que tal irmos juntos ao evento de artes que vai ter no centro? - Jake perguntou, interrompendo meu blá-blá-blá mental.          

A exposição de artes é um grande evento que atrai muitas pessoas. Meu receio era ser vista com ele por alguém da escola. Mas quer saber, que se dane. 

- Mas que pergunta, é claro que não podemos ir, podemos ser vistos - ele disse com um tom decepcionado. 

- Não, eu quero ir - falei decidida. 

- Sério? 

- Por que está tão surpreso? - perguntei como se não fosse óbvio. 

- Sei lá, é que geralmente você não gosta de sair para lugares com muita gente, ou com pessoas que possam nos ver, sabe? 

- Eu sei, mas eu quero correr esse risco. 

- Adoro quando você fica assim - ele beijou minha bochecha. - Então eu pego o carro emprestado do meu pai e passo na sua casa por volta das três. 

- Ótimo. Espera, eu tive um ideia. 

- Hum, fala. 

- Que tal se você for à minha casa, sabe? Entrar lá e falar talvez com o meu pai, hein? - vi claramente sua expressão de espanto. 

- Nossa, falar com o seu pai. 

- Eu sei que ele é assustador, frio, grosso, um pouco rude, insensível e... 

- Tá bom, eu já entendi - ele parecia que ia vomitar - É, eu falo com ele. 

- Mas se não quiser, eu vou entender. 

- Não, tudo bem - sorri para ele e selamos um beijo. 

NARRADORA 

       - Não fique assim Juliana, ela não é sua amiga - Megan dizia em um tom de voz disfarçado - Mas eu sou - de repente o tom da sua voz mudou. A cor amendoada de seus olhos saiu, dando lugar a um tom avermelhado - Olhe para mim - Juliana assim obedeceu encontrando o olhar de Megan, e assim entrou em um estado de transe hipnótico - Lute ao meu lado, use sua habilidade para esgrima. Vamos mostrar para Alice quem é você. Ela te rejeitou. E somente eu posso te ajudar a se vingar - Megan ia colocando coisas na cabeça da pobre Juliana que esta estava completamente perdida - Então, o que me diz? Vai se aliar a mim e combater aqueles que tiraram a Alice de você? Ou vai apenas ficar aí parada se lamentando? É só dizer sim e pode ter certeza que a Alice vai desejar nunca ter virado as costas para você.          

Completamente tomada pelo poder de persuasão de Megan, a voz de Juliana saiu como se ela não tivesse mais controle de suas próprias ações.

- Sim, eu aceito.