NARRADO POR ALICE

Passei o jantar todo calada, vendo meu pai conversar com os amigos do trabalho. Mas uma coisa me chamou a atenção na conversa. Parece que a empresa em que meu pai trabalha, vai fazer um negócio com o pai da Nicole. E por falar nela, desde quando ela namora o Jake? Acho que deve ser mais um segredo.

O jantar acabou, e eu e meu pai fomos para o carro, assim que nos despedimos dos amigos dele.

– Filha - ele disse quando o carro já estava em movimento.

– Sim pai.

– Amanhã, eu e meus colgas de trabalho vamos à mansão da família Salazar, e eu acabei comentando com o senhor Carter - no caso o pai da Nicole - que você estuda com a filha dele, e ele te convidou para almoçar conosco.

– Hum - disse - eu tenho que ir?

– Seria bom - ele disse e eu suspirei irritada.

– Mas ela me odeia - falei recostando minha cabeça no banco do carro.

– É só fazer um esforço, quem sabe vocês duas não acabam se entendendo.

– Claro, e nós também podemos assar biscoitos para as crianças carentes - falei sarcástica.

NO DIA SEGUINTE

Estava no carro com o meu pai em direção à casa da Nicole. Quando chegamos lá eu me espantei. Aquilo não era uma casa, era um castelo. A arquitetura é um tanto parecida com a da escola, ou seja, lembra um castelo da Europa renascentista. É por isso que a Nicole é tão arrogante.

Entramos e o mordomo nos guiou para a sala de estar. Por dentro é moderno contrastando com o piso e a escadaria, que são luxuosos e com uma aparência palaciana.

– Senhor Haffer - disse uma voz grossa. Caramba, era como se eu estivesse vendo uma versão masculina e mais velha da Nicole. A mesma cara arrogante, os mesmos olhos azuis expressando um olhar superior, a pele pálida e cabelos castanhos.

– Bom dia senhor Carter - meu pai disse apertando a mão dele - esta é minha filha Alice.

– Olá - disse e apertei a mão dele.

– Esta é minha esposa Amber - disse apontando para uma mulher muito bonita, loira e alta, que acabara de entrar na sala - eu já mandei Jarom chamar a Nicole.

– Mandou me chamar pai? - Nicole entrou na sala com a mesma feição vazia e arrogante.

– Sim - falou o pai da Nicole - esta é a filha do senhor Haffer a...

– Eu sei quem é ela - Nicole disse interrompendo o pai friamente, me olhando de cima a baixo.

– Ótimo, então leve-a para o seu quarto, pois vou resolver coisas com o pai dela - ele disse e saiu da sala seguido de sua mulher e meu pai.

– Ok - ela disse com uma expressão de desagrado, fez um sinal para que eu a seguir-se, se virou e eu fui atrás dela.

Subimos as escadas e entramos no quarto dela, que por sinal, era enorme, predominando as cores branco beje. Tinha vários livros espalhados pela cama dela.

– Você estava estudando? - perguntei.

– Não, é que eu gosto de espalhar livros pelo o meu quarto - ela respondeu sarcástica - pode se sentar ali - disse apontando para uma cadeira próxima a cama.

– Ok - murmurei e ela se sentou na cama e começou a estudar. Acho que ela é doida, pois tem uma mansão enorme e fica estudando no quarto.

– Alô? - ela disse, estava tão admirada com a atitude dela, que nem ouvi o celular dela tocar - sim - ela continuou - eu aviso, tchau - ela desligou e olhou para mim - nós vamos começar a treinar, então você vai naquela casa, na qual nos reunimos.

– Treinar para que? - perguntei.

– Você realmente prestou atenção na reunião? - ela me perguntou incrédula.

– Então...

– Não me pergunte mais nada, estou tentando estudar - ela me interrompeu - ah, e aquilo que viu no restaurante, não é para contar pra ninguém, ouviu? - eu assenti e ouvimos batidas na porta - Sim - ela gritou.

– Nicole, papai está chamando para almoçar - disse uma voz de criança.

– É seu irmão? - perguntei.

– Não é da sua conta - ela disse se levantando - você não vem? - eu me levantei e fui atrás dela. Chegamos e todos já estavam na mesa, e ela não tinha um irmão, e sim dois, e eram gêmeos. Eram loirinhos e tinham uma cara mais simpática, acho que puxaram a mãe.

– Nicole - disse a mãe dela - sente-se aqui, ao lado de seu irmão - ela tinha outro? Mas esse era mais velho, e gato - e Alice, sente-se ao lado de Peters.

– Eu sou o Leo mãe - disse um dos gêmeos.

– Não você é o Peters - ela disse - você pensa que me engana? - ele deu um sorriso sapeca de criança levada e fui me sentar ao lado dele.

Ninguém falava nada durante o almoço. Eram todos frios. As vezes o pai da Nicole fazia alguns comentários e nada mais. Após o almoço, meu pai foi novamente se reunir com os pais da Nicole, mas dessa vez, tinha mais pessoas. Já eu, voltei para o quarto da Nicole, que continuava estudando.

NARRADO POR NICOLE

Eu estava estudando tranquilamente, quando ouvi novamente batidas na porta. Me levantei para abrir a porta. De repente, uma sensação de felicidade tomou o meu corpo. Era o Drake. Nossos pais são velhos amigos, assim como nós. Ele é a única pessoa que entende o que eu passo.

– Oi Nicole - disse Drake, quando eu abri a porta, com o mesmo sorriso gentil de quando éramos crianças.

– Oi Drake, seu pai está aqui? - perguntei. O pai dele, além de ser um amigo, era também um parceiro de negócios do meu pai.

– É, ele está lá embaixo resolvendo os negócios com o seu pai. Então eu subi pra falar com você - ele disse.

– É, faz tempo que agente não se vê - disse.

– Apesar de estudarmos na mesma escola.

– Mas somos de turmas diferentes - disse - vem, entra - falei e ele entrou e ficou encarando a Alice - ah, essa é a Alice, ninguém importante.

– Oi - ele falou e ela sorriu - você está estudando o que?

– História - respondi.

– Eu também estava estudando antes de vim. Meu pai está pegando pesado - disse Drake.

– Sei bem como é - disse e rimos. Ele deu pequenos passos vasculhando o quarto com o olhar, até que prendeu sua atenção na mesinha que ficava ao lado da minha cama.

– Você estava lendo Guerra e Paz de novo? - ele perguntou e pegou o livro.- Sim, pela terceira vez.

– Eu li somente uma vez - ele disse - e você Alice, já leu Guerra e Paz?

– Não - ela disse um pouco tímida - E você quer estudar em Oxford? - ele perguntou a ela - Não, quero fazer nos EUA, eu sou americana.

– É, eu percebi - ele falou, ele só se dava bem com pessoas inteligentes e com objetivos parecidos com os dele, que nem eu - então, quer que eu estude com você?

– Tudo bem - disse.

NARRADO POR ALICE

O que há de errado com essas pessoas? Só fazem estudar e mais nada. Eu fiquei lá sentada observando os dois estudarem. Depois de um tempo, um empregado avisou que meu pai já havia acabado a reunião. Quando entrei no carro do meu pai, suspirei de alívio por ter saído daquele inferno.

– Foi muito ruim? - ele me perguntou.

– Não pai, eu adoro ficar vendo as pessoas estudarem - disse em tom sarcástico e ele riu.

– O pai dela comentou que ela estava estudando, e me perguntou se você queria estudar em Oxford.

– Hum. Por que essa obsessão por Oxford? - perguntei.

– É uma das melhores universidades do mundo, e para a família Salazar a única coisa que importa é o melhor.

Já estava de noite quando chegamos em casa, então tomei banho, jantei e fui dormir. Aquele com certeza foi o pior sábado da minha vida.