Tormenta De Máquinas escrita por davifmayer


Capítulo 4
Capítulo 4 - Caçadores Noturnos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/190800/chapter/4

“Espera mil anos e verás que será precioso até o lixo deixado por uma civilização extinta.” Isaac Asimov

            Melissandra, Antônio e Eddard contemplavam o hangar da cidadela de Éden. Era um espaço amplo revestido de concreto, onde lâmpadas florescentes pendiam do teto e iluminavam as máquinas de guerra alocadas ali dentro. Três fileiras de dez caças de guerra estavam estacionadas. A marca das aeronaves foi riscada, bem como a bandeira as quais pertenciam. Não importava mais a nacionalidade. Todos os sobreviventes estavam dispostos nessa guerra sobre uma mesma bandeira: a esperança, a paz e a sobrevivência.

            Abraão ficou de frente aos três, pôs as mãos na cintura e rugiu como um soldado.

            - Bem vindo à cidadela de Éden senhores. Uma das últimas cidades fortificadas para impedir o avanço do Usurpador. Estas naves estão aqui esperando o dia D. O dia em que nós romperemos a primeira linha de defesa do inimigo.

            - Você fez um ótimo trabalho, Abraão. – falou Eddard alisando a carcaça de uma das aeronaves.

            - O trabalho não foi apenas meu. Meus engenheiros ajudaram também. Os seus alunos, para ser mais exato.

            O Solitário da Montanha rugiu em aprovação.

            - Venham. Explicações depois. Devem estar famintos.

            Desceram por um elevador manual de carga e chegaram num refeitório amplo, onde grupos de soldados comiam em longas mesas retangulares. Diversas etnias e culturas se misturavam e falavam em vozes altas. Mulheres e homens compartilhavam a mesma sorte e o mesmo teto. Quando o regente do conselho rebelde adentrou, todos ficaram em silêncio e curiosos com a chegada de visitantes. Era raro pessoas estranhas na cidadela.

            Melissandra sentiu os olhos dos homens sobre si, e sentiu-se constrangida. Como deveria estar? Suja, com olheiras e magra até os ossos.

            Um grupo de alta patente se levantou de imediato e foi até eles.

            - Primeiro regente Abraão. – falou um deles. – recebemos noticias de seu filho. Ele chegará dentro de um dia. A missão foi um sucesso.

            Uma ligeira tensão se abrandou nos ombros largos do regente.

            - Ótimo.

            - Seu filho continua na elite da aeronáutica, apesar de tão pouca idade? – disse um surpreso Eddard. – sabia que tinha talento e coragem... Mas não sabia que iria tão longe.

            - Ele já participou de sete missões e nunca foi abatido pelas vespas. Já viu companheiros morrerem, outros tomarem seus lugares... Aquele garoto tem garra!

            - Sim. Ele tem.

            - O único que durou tanto tempo como membro dos Caçadores Noturnos foi a sua mãe, Ruth. - o riso do homem de pele escura perdeu um pouco o brilho. – mas não é hora de falar de tristezas. Vamos, sentem-se. Tragam outros pratos! – ordenou com um brado.

            Pratos foram servidos de sopa. Os três viajantes comeram rapidamente e pediram por mais. Enquanto comiam, Eddard falou:

            - Como estão os preparativos para o dia D?

            - A cidadela do Urso já sabe do nosso plano. Um ano a mais de preparação e atacaremos. Nós pelo oceano pacífico e eles pelo Atlântico. Suas informações foram de grande valia, Eddard. Enquanto não destruirmos o sistema de radar do Usurpador será suicídio entrar com nossas aeronaves em seu território. Até mesmo com a Ghost-Hunter.

            - Vocês conseguiram colocar aquela lata velha no ar?

            - Lata velha? Deveria ver o que seus alunos foram capazes de fazer. 3.700 km por hora, mísseis de explosão, radar e de fuga. Visão noturna e piloto automático. Ele pode ficar no ar por dois meses e ainda continuar pronto para a batalha, senhor. Isso eu nunca vi igual. E ainda não disse tudo que ele é capaz de fazer. E graças a você velho solitário. Deveria ter ficado conosco.

            - Não... – suspirou o velho cibernético. – não podia.

            - Enfim. Lamento que não pôde ficar tanto tempo entre nós. E continua o mesmo, hein? Cheio de segredos. Então, que bons ventos o trazem aqui?

            Eddard falou do ataque a cidade de Atlântika. Da morte do pai de Melissandra e dos mineradores, bem como a única alternativa deles de irem até a cidadela de Éden em busca de segurança e refúgio.

            - Entendo. Mais uma cidade caída na mão dos monstros de metal. E em que posso aproveitar esses dois jovens? – apontou com a cabeça os dois que se fartavam em comer, mas continuavam com os ouvidos atentos a conversa.

            - Quero Tony comigo na forjaria e Melissandra daria um ótimo soldado.

            Melissandra engasgou com a sopa. Enxugou os lábios.

            - O que... ? – ela parecia não acreditar.

            - Hmmm... Vejamos do que ela será capaz. Um dos três membros dos Caçadores Noturnos morreu em combate, e precisa ser substituído urgentemente.

            - Você não acha que é um pouco demais? – argumentou Eddard. – seria praticamente a sentença de morte para ela.

            - Meu filho tem pouco mais que vinte anos... E outros já se entregaram de corpo e alma a esse grupo de elite. Não consigo ver diferença entre morrer nos céus agora e morrer nos céus depois. Morrerá fazendo aquilo em que ela acredita.

            - Não concordo... – falou Eddard mexendo a colher na sopa.

            - O que é o grupo Caçador Noturno? – perguntou Melissandra curiosa e com o sangue fervilhando de emoção.

            Abraão sorriu.

            - É a elite dos guerreiros do ar. Aqueles caças de guerra que você viu lá em cima não são nada comparados com as naves que os Caçadores Noturnos utilizam. Os Ghost-Hunter’s. Verdadeiros caçadores de vespas, a cortar os céus num piscar de olhos. Tão custoso e tão mortal o seu uso, que limitamos em apenas três naves. E três pilotos. A seleção do mais novo membro se dará em breve.

            - Eu quero participar! – ela falou, segurando firmemente a colher entre os dedos.

            - Sabe que não será uma vida fácil, não é Melissandra? – comentou Eddard.

            - Não espero uma vida fácil enquanto houver um tirano sentado na cadeira de máquina.

            - Gostei de ver garota. Os ases, como são chamados, tem vento nas veias. Se fortaleça e se prepare. Não será uma jornada curta. – aclamou o regente.

            Melissandra o encarou com firmeza.

            - Não espero isso senhor.

            Acomodaram-se em quartos separados. Melissandra demorou para dormir, as novidades fervilhavam em sua mente. E quando as pálpebras ficaram pesadas, alguém bateu na sua porta. Ela praguejou baixinho e se sentou na cama a contra gosto. 

            - Quem é?

            - Antônio.

            Ela suspirou com os olhos enevoados de sono.

            - Pode entrar.

            Ele entrou. Cabelos em desalinho e roupa de dormir. Fechou a porta atrás de si e deixou a vela que trouxera em cima de uma mesa ao lado da cama dela. Sentou ao lado da garota e segurou em suas mãos. Antônio a encarou nos olhos.

            - O que pensa em fazer ao se juntar a esse grupo? É suicídio. Ninguém dura nessa equipe. O lema deles é “Destruir as vespas ou morrer.” Se a missão não for concluída, não poderão voltar para a base para não mostrar ao inimigo nossa localização.

            - Entendo sua preocupação, mas cansei de me esconder enquanto outros morrem por mim, pela liberdade...

            - Esqueça isso. Existem outras formas de você ajudar os rebeldes e destruir o Usurpador.

            - Não quero mais ficar longe da ação. Cansei de me esconder.

            - Não diga isso. Você pode ficar comigo...

            - Estamos no meio de uma guerra e você pensa em quê? – esbravejou ela empurrando-o da cama. – acha que é em romance que penso? Acha que é em filhos? Constituir uma família e viver felizes para sempre?

            Ela o jogou contra a parede. Mudo de surpresa, Antônio apenas a encarava sem acreditar na mudança de temperamento na garota pela qual se apaixonara.

            - Não estamos mais em Atlantika! Não estamos mais em proteção! Precisamos lutar até o último homem... Ou até a última mulher!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tormenta De Máquinas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.