Um Herói Ainda Não Perdido escrita por yankeereader


Capítulo 1
Capítulo I, Percy: Onde Tudo Termina, Tudo Começa


Notas iniciais do capítulo

Vou variar o ponto de vista do Percy e da Annabeth a cada 2 capítulos, boa leitura ;)
P.S: o primeiro parágrafo será copiado do último livro da série do Percy ("O Último Olimpiano") para que eu possa dar a continuidade



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Enquanto eu olhava Rachel descer colina abaixo, pensei sobre como poderia ser bom ter um pouco de paz! Finalmente minha história teria um final feliz.

Senti um aperto no peito e um arrepio que percorreu toda a minha coluna até chegar a sua base, um pequeno ponto oposto ao meu umbigo. Isso me forçou a olhar para o lado. Pousei os olhos na única coisa que realmente me fazia sentir em casa, a única coisa que me fazia sentir em paz. Analizei-a com delicadeza. Annabeth, graças aos deuses, ficaria em Nova York. Recebera permissão dos pais para frequentar um internato na cidade a fim de ficar perto do Olimpo e supervisionar os trabalhos de reconstrução.

- E perto de mim? - perguntei.

- Bem, alguém está ficando muito convencido.

Mas ela entrelaçou os dedos nos meus. Lembrei-me do que ela dissera em Nova York, sobre construir algo permanente, e pensei que... talvez... estivéssemos a caminho de um bom começo.

O dragão sentinela Peleu enroscou-se todo contente no pinheiro, sob o Velocino de Ouro, e começou a roncar, expelindo vapor a cada vez que respirava.

- Você tem pensado na profecia de Rachel? - perguntei a Annabeth.

Ela franziu a testa.

- Como você sabe?

- Porque eu conheço você.

Ela me deu um empurrão com o ombro.

- Ok, tenho sim. Sete meio-sangues responderão ao chamado. Eu me pergunto quem serão eles. Vamos ter tanta gente nova no próximo verão.

- É - concordei. - E toda aquela coisa sobre o mundo acabar em tempestade ou fogo.

- E inimigos nas Portas da Morte. Não sei, Percy, mas não gosto disso. Pensei que... bem, que talvez teríamos um pouco de paz, para variar.

- Esse não seria o Acampamento Meio-Sangue se reinasse a paz - disse eu

- Acho que você tem razão... Ou talvez a profecia não aconteça por anos.

- Pode ser um problema para outra geração de semideuses - concordei. - Então podemos relaxar e curtir a vida.

Ela assentiu, embora ainda parecesse inquieta. Eu não a culpava, mas era difícil ficar preocupado demais em um dia bonito, com ela ao meu lado, sabendo que não estava dizendo adeus de verdade. Tínhamos muito tempo pela frente.

- Uma corrida até a estrada? - eu a desafiei.

- Você vai perder. - Ela disparou Colina Meio-Sangue abaixo, e eu arranquei atrás dela.

Dessa vez, não olhei para trás. Tudo o que eu precisava estava bem na minha frente, e eu não a estaria deixando agora. Aliás, muito a minha frente! Odiava admitir, mas Annabeth sempre fora mais rápida do que eu, e como já era de se esperar, ela chegou uns dez segundos antes de mim, me provocando com gestos de bocejos e olhando para o relógio de pulso. Finalmente bati a mão na van branca do acampamento, e despenquei, sem fôlego, na estrada de terra da colina, com sérios questionamentos do tipo: meu coração vai sair pela garganta e como era ridículo o Acampamento Meio-Sangue ganhar dinheiro vendendo morangos docinhos transportados pela mesma carona que levaria um bando de semideuses (muitas vezes feridos) de volta para casa.

Meus pensamentos foram interrompidos com uma doce risada vinda de cima.

- Ganhei... de novo. - foquei o olhar, e vi uma linda menina com um sorriso torto, quase maldoso, olhando para mim, segurando-se para não rir. Ela ajudou-me a levantar. Sacudi as roupas, limpei o suor, baguncei o cabelo. Eu franzi as sobrancelhas.

- Não foi justo, você largou antes! - desviei o olhar e murmurei - Além disso, a distancia era bem maior do que eu imaginava... ainda bem q não houve aposta...

- Dessa vez! - disse Annabeth, sorrindo de lado - Você sabe o tamanho da sua lista de dívidas, não sabe?

Levantei uma sobrancelha, indignado com a acusação, mas sim, era verdade. Pensei em todas as coisas que lhe devia, porém algo me fez parar e olhá-la nos olhos. Eu sabia um modo de retrucar aquele argumento, e ainda melhor, eu adorava provocá-la e estar certo ao mesmo tempo. Aproximei- me dela com sorriso.

- Eu sei. E você? Sabe o que me deve? - Annabeth recuou um pouco, não tirando o sorriso do rosto e me encarando ainda mais nos olhos, como se pudesse ver através de mim. Por um momento hesitei. Olhar para aqueles lindos olhos tempestuosos sempre me deixava sem jeito, e eu gostava desse sentimento. Forcei-me a continuar se aproximando dela.

- Então? Acho que você não se lembra de suas promessas, espertinha...

- Te garanto uma coisa, Cabeça de Alga, eu nunca deixo de cumprir uma promessa - pousou uma mão em meu ombro, abriu um largo sorriso e sussurrou - mas, se você é assim tão inteligente, conte-me qual foi a tal promessa e verei o que posso lhe fazer.

Fim da linha. Annabeth estava encostada contra a parede da van, não havia saída. Colei o meu corpo no dela, coloquei uma das mãos em sua cintura e a outra no automóvel. Deixei-a sem espaço físico nenhum, e então trouxe o rosto para perto, falando ainda mais baixo em seu ouvido.

- Bem, começando pela nossa tradição...

- Qual delas?

Dei um largo sorriso torto.

- Oh, aquela... Que por acaso era uma situação de vida ou morte, onde eu o estaria abandonando, e que aconteceu há cerca de... um ano? – disse ela, me provocando.

Meu coração agora parecia mais atlético do que eu descendo a colina, como se quisesse fazer polichinelos.

- Certo, então... há alguns dias, uma certa filha de Atena me prometeu que se eu saísse vivo de uma certa batalha, ela me daria o tal beijo de boa-sorte, que se tornara a nossa regra. - parei por um momento, finalmente percebendo o quão sem sentido aquilo havia sido - Bem, na hora aquilo me pareceu esquisito. Como poderia existir um beijo de boa-sorte, se o problema pelo qual se desejaria êxito já teria passado? Mas como no momento a única coisa import...

Meu raciocínio foi completamente cortado por uma gostosa risada, que preencheu meus ouvidos como uma linda melodia.

- Só isso? Achei que já havia pagado a essa divida há muito tempo!

- Ahn... Sim! Quero dizer, não! É...

- É... - ela me incentivou.

Me afastei um pouco. Não sabia como dizer aquilo. Não queria que soasse babaca ou infantil. Pela primeira vez, senti um grande medo de desapontá-la. Mas graças aos deuses isso não durou muito. Sua expressão suavizou, e ela esboçou um doce sorriso incentivador.

Não tenho certeza se ela sabia o que eu iria dizer, mas ela parecia esperar ansiosa por minhas palavras. Como se tivesse esperado uma eternidade para ouvir-me falar o que sentia, e isso era novidade para mim, que nunca fui de falar muito sobre meus sentimentos.

Fiquei paralisado, simplesmente travei! Comecei a gaguejar e me desesperei. Olhei-a nos olhos, em seguida desviei o olhar e afastei de vez. O que eu tinha para oferecer de bom? Não era o mais bonito, o mais alto ou o mais forte. Como poderia fazê-la feliz? Em tudo o que consegui pensar, sabia que Luke poderia fazer melhor. Agora ele estava morto, e eu ainda não tinha certeza de como Annabeth se sentia sobre isso. Meu ponto imortal começou a queimar, senti vontade de gritar, quebrar algo, invocar um grande poder. Estava à beira da loucura, me afundando em dúvidas.

Annabeth se aproximou, com um olhar triste, quase de pena, e um pouco de preocupação.

- Percy, vamos ter um ótimo inverno... - ela hesitou um pouco, passou a mão levemente por meus cabelos e entrelaçou seus dedos com os meus - juntos. Porque você está tão preocupado?

- Luk...

- Luke? - disse ela com uma careta - Ele morreu, Percy, e para mim também. Sinto falta do meu amigo, do menino que sempre estava do meu lado. Mas não o amo. Não como eu achava que amava.

Olhei em seus olhos. Annabeth parecia bem segura de suas palavras. Mesmo assim eu sabia que meus pensamentos eram verdadeiros, Luke poderia ter sido melhor do que eu. Suspirei, tentando afastar essa ideia da minha cabeça, e procurando palavras para me explicar a Annabeth.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Annabeth me cortou, puxando-me docemente de volta à van, como se aquela conversa só fosse me trazer sofrimento e não fosse levar a lugar nenhum. Como se quisesse me mostrar que para ela não importava, como se soubesse e não acreditasse nessas minhas últimas conclusões. Ela acreditava em mim.

Retornamos à posição anterior. Os olhos dela brilhavam com a luz do sol.

- Então... - ela começou, agora com um sorriso doce e provocante ao mesmo tempo - em que ponto da negociação paramos?

Não pude fazer nada além de sorrir. Annabeth me conhecia bem, sabia como me fazer sentir melhor. Voltamos ao nosso jogo.

- Só quero ter certeza de quem confiar - falei, aproximando devagar o meu rosto do dela, deixando ela cada vez com menos espaço e corpo colado na van. - quero saber se posso confiar nas suas promessas.

Ela ergueu uma sobrancelha e sorriu torto.

- Não confia em mim?

- Deveria?

- Depende...

- Por quê?

- Novas batalhas exigem novas estratégias.

Não aguentamos mais e começamos a rir, aquela era uma resposta digna de Annabeth.

Paramos de rir e nossos olhos se encontraram, serenos. Annabeth lentamente roçou seus lábios nos meus. Esse beijo foi calmo, lento, mas viciante como todos os beijos que ela me dava. Só voltamos a nos separar para recuperar fôlego.

- Dívida paga - ela disse pirraçando - portanto você confiar em mim e nas minhas promessas.

- Ok, mas você sabe que tem uns cinco anos acumulados de "boas-sortes" atrasados, certo?

Ela deu uma risada e um leve soco no meu ombro. A van buzinou, era hora de ir. Entramos juntos e nos sentamos lado a lado mais ao fundo. No momento em que sentei senti que havia algo errado. De repente foi como se eu assistisse a memória a partir daquele momento. Vi a mim mesmo com Annabeth conversando e rindo, enquanto alguns outros poucos campistas dormiam nos seus bancos, depois Annabeth apoiada em meu ombro lendo enquanto eu ouvia música olhando pela janela e vendo Manhattan aparecer aos poucos. A imagem tremeu e mudou, era como se eu estivesse vendo tudo através de uma névoa. Agora estávamos em frente ao internato onde Annabeth ficaria, não sobrará ninguém na van, eu seria o último a ser entregue em casa. Foquei na memória, não nos ouvia direito, mas nem precisava eu lembrava da nossa conversa. Senti um aperto ao ouvir Annabeth rir enquanto eu cantava, brincando, para ela.

So many times I've let you down

So many times I've played around

I tell you now,

They don't mean a thing

Every place I'll go, I'll think of you

Every song I sing, I'll sing for you

Algumas pessoas olhavam, mas ninguém se importava, afinal isso é Nova York. Annabeth estava abraçada em meu pescoço, não parava de rir, mas ouvia com atenção.

So kiss me and smile for me

Tell me that you'll wait for me

Hold me like you'll never let me go

Cause I'm leaving on a Jet Plane

I don't know when I'll be back again

Oh baby, I hate to go

Puxei-a pela cintura mais para perto, Annabeth tinha lágrimas nos olhos, mas não era um choro de tristeza, tínhamos conseguido. Fomos aproximando nossos rostos.

Now the time has come to leave you

One more time, let me kiss you

Close your eyes and I'll be on my way

And dream about the days to come

When I won't have to leave alone

About the times I won’t have to say...

Antes que eu pudesse beijá-la, Annabeth pousou o dedo em meu queixo

- Vamos nos ver mais esse inverno, Percy. - ela hesitou escolhendo bem as suas palavras - é uma promessa.

Sorri com a ideia, esperando que ela realmente cumprisse essa promessa. Se, com sorte, conseguíssemos nos ver, seria pouco. Por vários motivos. Já era complicado ter dois semideuses na mesma cidade, ainda mais namorando, atrairia monstros demais, e eu não queria que algo acontecesse a Annabeth. Além disso teríamos escola e ela, também estando num internato, teria que trabalhar nos projetos do Olimpo todos os dias que fossem possíveis. Certo, tínhamos uma pequena chance.

- Posso confiar em você? - falei, triste.

Ela soltou uma fraca risada e tornou a olhar para mim.

- Percy...

Ela estava preste a dizer algo, mas hesitou. Eu sabia o que era, mas apesar de desesperado por está-la deixando e apavorado com a ideia do que ela estava para dizer, me sentia bem com esse sentimento, me fez ter certeza do que eu iria fazer naquele momento.

- Annabeth... - meu coração batia desesperadamente - eu... eu queria saber...

Eu a olhava bem nos olhos e ela nos meus, não desviei o olhar

- se você consegue acreditar em mim quando eu digo que eu espero que cumpra a sua promessa, porque não sei se vou conseguir ficar tanto tempo longe...

Hesitei, mas forcei-me a continuar. Não queria que Annabeth tivesse que ser sempre a primeira a dar o primeiro passo, não queria q ela tivesse essa obrigação ou pensasse desse jeito. Ela foi a primeira a me beijar, a primeira a me levar para dançar, a primeira a dar aquele "empurrãozinho", há alguns dias, me beijando e dando a entender que devíamos começar um namoro. Estava na hora das coisas mudarem um pouco.

- da pessoa que eu amo. - uma sensação de alívio desceu pela minha coluna, minhas palavras eram verdadeiras - Eu te amo, Annabeth Chase.

A expressão dela era difícil de ler. Ela manteve os olhos arregalados, brilhando, e as mãos sobre a boca. Eu não podia culpá-la, eu mesmo estava surpreso com a revelação.

Para a minha felicidade, sua expressão suavizou, se transformou num grande sorriso seguido de lágrimas. Ela pulou em meu pescoço e me beijou. Tive a sensação de que não queria largá-la mais, não queria deixá-la ir. Queria passar o resto da minha vida com ela ao meu lado, e por mais triste que pareça, se fosse preciso alguns meses longe para que isso acontecesse, eu esperaria.

Nos separamos e encaramos um ao outro, com grande felicidade.

- Você parece surpresa - brinquei, com ela rindo.

- Você tem ideia de quanto tempo eu esperei para ouvir você dizer isso? - ela perguntou sorrindo, como se tentando entender se isso era real - achei que não iria dizer isso nunca! E eu teria que acabar dizendo antes. - Ela brincou também, rindo. Depois parou, se aproximou sorrindo e sussurrou em meu ouvido - Eu também te amo, Cabeça de Alga.

Vocês não têm ideia de como era bom ouvir aquilo. Beijei-a calmamente, em seguida nos abraçamos.

- Vou sentir a sua falta - Falei, piscando para espantar as lágrimas e torcendo para que Annabeth não as percebesse.

- Vou cumprir a minha promessa, Percy. Confie em mim.

Nos afastamos, e enquanto eu a olhava me dar tchau de longe e entrar no internato, tive a certeza de que estávamos a caminho de algo permanente.

De repente a imagem tremeu, olhei para Annabeth e vi seu corpo se dissolvendo em névoa, seu rosto, seu sorriso se perdendo no ar. Quis gritar, mas nada saia da minha boca, até o meu eu (o "Percy" da memória a qual eu assistia) havia desaparecido. Corri o mais rápido que eu pude em direção ao pouco de névoa que sobrava de Annabeth, tentando gritar para ela que não me deixasse, para ela não entrar no colégio, que era perigoso q ficasse distante, mas eu estava lento como uma das armadilhas de Cronos, e não havia som nenhum. No momento em que Annabeth desapareceu de vez, Manhattan entrou em escuridão, e antes que eu percebesse estava caindo num buraco fundo, afundando na terra. Eu gritava enquanto a adrenalina subia à minha cabeça, minha mente doía como se fosse explodir com o flashback de todas as minhas memórias, cenas de batalha, imagens da Grécia Antiga e o Parthenon, meus amigos...

Enquanto caia ouvi uma voz, ela soava como uma lâmina, mas também era doce e sonolenta. Falava numa linguagem antiga, recitando antigas profecias e maldições, mas não entendia o que ela dizia. A voz estava ficando mais alta conforme eu caia, mas outra voz entrou na visão. Percy! Percy! Percy! As duas gritavam, competindo pela minha atenção, igualmente altas, me enlouquecendo. Meu ponto imortal ardia tanto que eu tive a sensação de estar de volta ao Estige.

Acordei gritando num pulo, e acertei minha cabeça em algo duro, ouvindo eco da voz monstruosa na minha mente. Desaparecido. Desaparecido. Desaparecido...


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo foi um pouco longo e cansativo, pois eu tinha que de algum modo dar continuação a história, mas prometo que melhora! Por favor mandem reviews com opiniões SINCERAS!!
P.S.: esqueci de dizer que essa música se chama "Leaving on a Jet Plane". Só a coloquei porque achei que podia ter a ver com o momento (sou louca por música kk').



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