Todo Mundo Odeia O Chris - 1983 escrita por erico_nietto
Brooklyn, 1983
As coisas no início de 1983 estavam parecendo até um milagre. Na escola estava tudo tranquilo. A Tonya continuava com sua comercialização de drogas enquanto o Drew, arrasava pelos quatro cantos do bairro.
Mas em casa, as coisas não ficariam nada boas...
A campainha toca várias vezes seguida. Rochelle tira a luva que usava para pegar coisas quentes no forno - Frias que não seria né, plagiador – e corre para atender a porta já estressada.
Rochelle: Já vai! Vai acabar quebrando a minha - assim que abriu a porta, viu aquela mulher erguendo a aba da frente de seu enorme chapéu.
Rochelle fez uma cara do tipo Fui intimidada.
Rochelle: Mamãe?
Maxine (cansada por esperar dez segundos na porta, já entrando): Achei que não tinha ninguém nessa casa! Onde estava? Vendendo bala no trânsito?
A minha mãe estava sentindo na pele o que eu sentia a vida inteira!
Rochelle (fecha a porta e vai até ela sorridente, que senta no sofá quase jogando-se): Como a senhora está? Pensei que só viesse no mês que vem!
Ela queria dizer em outra vida!
Maxine (retira o grande chapéu): Pois é, pensei melhor e decidir vir hoje. - ela já ficou como a Rochelle - Ou tem algum problema em receber sua mãe em casa?
Rochelle: Não, claro que não!
Maxine: Então não fique aí parada e me traga um copo d'água! Não sei porque veio morar num bairro tão quente. Isso aqui não é lugar pra você!
Rochelle (fazendo cara feia da cozinha, mas dizendo tranquila): Aqui é um bom lugar mamãe! Vou colocar veneno na sua água!
Maxine (não ouvindo direito): Vai colocar o que?
Rochelle: Gelo, gosta de gelo?
Maxine: Sim, eu gosto de duas pedras!
Rochelle (sussurrando): Vou colocar um do tamanho do titanic pra você se engasgar!
Em casa, tudo parecia bem. Mas na segunda semana de aula, tudo voltou ao normal...
Morello: Hoje vamos tentar entender a cultura negra. E vale lembrar que a culinária é um ótimo começo.
Caruso: Ouvi dizer que lá eles caçam até zebras pra comer.
Morello: Eu não duvido muito, mas é por isso, que cada um de vocês, que possue no sangue a característica de outro país, terão que me trazer na próxima aula a culinária de seu país de origem! E você Chris, não se preocupe caso não consiga fazer. Sei como é doloroso vim de um povo que vive a barra de cereais.
Essa mulher é uma %#&¨#&¨%*&¨$
Julius chega em casa sorridente.
Julius: Querida, Rochelle! Rochelle!
Assim que ele entra na sala de jantar, vê Rochelle aos risos com sua mãe, que o olhou de cima a baixo, fazendo cara de nojo.
Rochelle (percebendo o clima): A Mamãe veio nos visitar. - ela começa a morder os lábios e ficar séria - Dê um oi pra ela.
Maxine: Tem trabalhado muito, Julius?
Julius: É, tenho sim. E ganhei cem dólares em tickets alimentação!
Maxine: Minha filha ainda espera aquele diamante que você a prometeu. Acha que vai comprá-lo com tickets alimentação?
Julius: Vou pensar no que a senhora disse. Quem sabe até lá não consigo juntar um bom dinheiro.
Maxine: Será um grande desafio!
Rochelle (tentando aliviar a tensão): Mamãe, passado é passado! Aposto que o Julius está cansado e gostaria de tomar um banho!
Julius: Pode ter certeza! - disse fuzilando sua sogra.
Maxine: Ao menos banho ele toma!
Julius queria retrucar, mas Rochelle abanou as mãos para que ele saisse sem sua mãe ver.
Maxine: Seu pai tinha razão. Deveríamos ter lhe ensinado mais sobre a vida de casado!
Rochelle: Nunca gostei dos trambiques do papai. Mas a propósito, como ele está?
Na troca de aulas, o Greg chegou com uma grande novidade...
Greg (eufórico): Chris, você não vai acreditar!
Chris: A senhorita Morello se casou com um negão(?)
Greg: Não!
– O presidente dos estados unidos é negro?
– Também não!
– A Tonya assumiu que gosta é do tráfico?
– Não, claro que não!
– Então o que é??
Greg: Acabaram de lançar a nova revista em quadrinhos Conan e os espectros da morte!
Chris: Não gosto dessa revista! Só tem morte!
E heróis brancos!
Caruso (ao derrubar os cadernos das mãos do Chris): Aposto que compra a revista do Pantera Negra.
Greg: Não liga pro Caruso. Aposto que a revista que ele lê é Um dia como botijão de gás.
Chris (dá uma rápida risada): Essa é boa!
Enquanto isso na casa do Chris...
Tonya entra na sala e encontra sua vó, que lhe recebe contente, dando-lhe um forte abraço.
Maxine: Minha nossa, como você cresceu! Lembra tanto sua mãe quando era pequena.
Rochelle sorri ao ver a cena.
Maxine: Mas ainda sim é mais bonita do que ela.
Rochelle já perde a linha, sentindo-se por alguns segundos, o Chris.
Rochelle (pouco sorridente): Sua avó diz isso porque te ama, querida!
Drew entra em seguida, sendo recebido da mesma forma.
Maxine: Minha nossa, olha só pra você! Quando crescer vai ser um grande negão!
Drew riu sem graça.
Rochelle: Esse com certeza puxou ao pai!
Maxine: Ah, por favor! Não humilhe o garoto assim! Está na cara que puxou ao avô, um grande garanhão!
Julius (passando de repente): Eu ouvi isso!
Maxine: Só não disse mais alto porque não tem um microfone por aqui!
Rochelle: Que tal todos sentarmos em paz enquanto eu sirvo o almoço? O Chris chega logo, logo!
E lá estava eu a mesa. Comendo aquela deliciosa carne...
Maxine: Essa carne ficou esquisita. Parece que foi feita ontem. Ontem de ontem!
Rochelle: A carne foi feita hoje de manhã, mamãe. E está bem saborosa.
Maxine: Já que você diz... Aposto que já perdeu o paladar!
Chris: Por falar em paladar, tenho que falar na escola sobre a culinária africana.
Maxine começou a rir.
Maxine: Oh, santo Deus da comédia! Culinária Africana? Mas que diabos de professor passa um trabalho desses?
Chris: Foi uma professora.
Rochelle: E por que do espanto, mamãe?
Maxine: O Chris nunca vai conseguir fazer um trabalho desses! Culinária é algo que você precisa sentir para dizer como é!
Rochelle: Nisso sua avó tem razão!
Julius: Também tenho que concordar com ela!
Maxine (olha com desprezo para Julius): Puxa saco!
Julius ameaçou a dizer algo, mas foi cortado pela Tonya.
Tonya: Hoje nós provamos da culinária mexicana na escola.
Rochelle: Mas afinal, que dia é hoje? Da comida?
Drew: Não, mas parece que todas as escolas estão pedindo trabalhos como este.
Maxine: Esses professores querem é mesmo encher a barriga nas custas dos alunos!
Julius: Já vou logo avisando que não vai sair nada do meu bolso pra esse trabalho.
Maxine: Ouvi isso quando queria economizar na festa do casamento com a minha Rochelle.
Julius: A senhora sabe que não foi bem assim!
Maxine: E ainda conseguir enganar a coitada com um anel de diamantes!
Rochelle: Hey, eu ainda estou na mesa!
Depois daquele almoço cheio de alfinetadas, minha avó foi embora e acabou encontrando uma rival do tempo de escola na saída do prédio, Louise!
Louise: Minha nossa, olha só pra você! Quem te vestiu, a morte?
Maxine: Mas que engraçado! Pensei que nunca fariam o final da Caverna do dragão, mas já vi que fizeram e ele escapou da caverna!
Eu queria continuar, mas essa já é outra história....
E assim seguiu mais um dia em minha vida, se é que posso chamar assim!
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Louise é avó de Tasha.