– Marlene ligou, disse que você exagerou na dose – ele comentou ainda dentro do carro, enquanto eu do lado de fora decidia se entrava ou não.

– Estou bem – resmunguei.

– Vamos, eu te levo para casa.

Odeio não ter uma maldita carteira de motorista, nem um maldito carro, e muito mais o fato de nunca levar dinheiro quando saio com James. Que outra opção eu tenho afinal? Ou entro no carro, ou fico aqui definhando até Deus sabe quando, é claro que tem a opção de algum psicopata passar e me matar, então não tenho alternativas muito boas.

Acabei por fim decidindo por entrar, era o que restava afinal, contudo forças destino, ou talvez e muito mais provável o efeito do álcool fez com que assim que levantasse eu acabasse caindo novamente, é claro que isso só fez com que James saísse correndo do carro, e ter a brilhante ideia de me carregar até o carro.

Não sem protestos é obvio, porque estava bem claro que eu não precisava dele, foi só uma tontura maldita, acontece com todo mundo. E principalmente se eu precisasse não seria a ajuda dele que gostaria de receber, pelo menos não agora já que ainda lembro muito bem do que ele disse sobre ser o terceiro na lista das pessoas pelas quais eu estou apaixonada, então eu ainda quero mata-lo.

Já dentro do carro nosso lindo clima de tensão continuou pairando no tateável silencio. A situação toda era estranha e desconfortável.

Eu e James nunca brigávamos para começar, então a esquisitice já começava ai, depois tinha o fato que agora eu sabia que ele tinha sentimentos por mim, e ele sabia que eu tinha sentimentos por ele, o que definitivamente era anormal, e para a cereja do bolo tínhamos o fato de que ambos estávamos irritadíssimos um com o outro, ele por ter me visto beijando o Matt, e eu por ele ter agido como um idiota grosseiro.

Eu realmente detesto minha bagunçada vida.

– Hm... Deveríamos conversar certo? – ele perguntou calmamente.

– Depende, você vai agir como um idiota novamente? – respondi petulante.

– Lily, pelo amor de Deus! Eu não consigo lidar com isso! Consigo lidar com você me jogando no chão por uma barra de chocolate, consigo lidar com você chorando porque brigou com a Lene, consigo lidar com você brigando comigo pelos CD’s do carro, consigo lidar com suas comédias românticas, consigo lidar com tudo menos com esse maldito silencio, até com seus gritos eu lido melhor do que isso – ele confessou estacionando o carro numa estrada deserta onde só se viam árvores. – eu não vou sair daqui até conversarmos pacificamente.

Ah, ótimo, definitivamente acho que hoje não volto para casa com vida. Tudo que eu queria era minha cama, e um bom travesseiro para bater e fingir ser James ali, é claro que um pote de sorvete de chocolate também seria um acréscimo adorável, mas ter mais uma briga com James é definitivamente o que eu não precisava para completar essa noite. Então segui o caminho oposto, coloquei minha irritação de lado, e falei com sinceridade, eu honestamente não tinha nada a perder nesse ponto mesmo.

– E você acha que eu gosto disso? Merda James, você é meu melhor amigo, é você que eu corro para contar que as pessoas me chatearam, não é com você que eu fico chateada, droga. – confessei baixo, mas o suficiente para ele ouvir.

– Então me esclareça, por favor, a história toda do seu ponto de vista, não deixe nenhum detalhe de fora, porque eu sei que a coisa não é toda preta e branca como parece agora, então me fale Lily, por favor. – James suplicou e eu decidi contar tudo do começo.

– Bom, é uma bela longa história, tudo isso começou há alguns anos atrás, eu comecei a notar que tinha sentimentos estranhos por você, não típicos de melhor amiga sabe, e eu te achava bonito demais também. Com o tempo você começou a namorar, primeiro veio a Katherine, Deus sabe como aquela garota recebeu xingos mentais, mas você não durou com ela, então veio a July que era uma vaca insuportável, e eu também sentia vontade de mata-la, por fim, você começou a sair com a Caroline, que bem você sabe que eu não ia nenhum pouco com a cara até algum tempo atrás.

Foi durante o seu namoro com a Caroline que as coisas começaram a ficar bagunçadas, um dia qualquer matando aula (como eu venho fazendo com alguma frequência), Sirius Black veio pedir minha ajuda para namorar Lene, muita irritação da parte dele depois acabei concordando, mas eu não tinha ideia alguma para plano então ele decidiu colocar um plano próprio em ação, então a merda estava feita, e eu estava “namorando ele”, foi durante esse período também que conheci Matt, no meio dessa bagunça toda ele era o único que eu podia realmente contar o que estava acontecendo, acabamos nos aproximando. Um beijo aconteceu e você o viu no meu quarto, ficou irritado, saímos, e você me contou que estava apaixonado por mim, então eu decidi que tinha que resolver as duas coisas primeiro antes de ficar com você definitivamente. Com Sirius foi tranquilo é claro, agora Matt pediu um último beijo, achei que não haveria mal, afinal eu estava quebrando o coração do garoto, e você viu. Então o resto você sabe...

– Quando você diz história grande, você realmente quer dizer história grande, céus. – ele riu – faz realmente todo esse tempo? Como você conseguiu esconder isso de mim agindo tão normalmente?

E então a paz naquele momento estava reinstaurada, a raiva, as palavras idiotas, e a irritação se dissiparam e nós voltamos a ser James e a Lily que são racionais e conversam sobre as coisas, com o acréscimo é claro de que estávamos falando agora sobre o único assunto pelo qual nunca havíamos conversado antes.

– Eu não podia te perder James, simples assim. – confessei simplesmente.

– Realmente tem muito mais coisa do que eu podia sequer imaginar nessa história toda... Estou simplesmente chocado, Lily você deveria ter me contado antes!

– Devia mesmo?

– Ah, não sei, quer dizer eu fiquei pirado quando começou a namorar o Sirius. Eu detestava você perto dele, e odiava o simples fato de dizer que você era a namorada dele, achei que estava surtando ou algo do tipo, não ia te falar nada, mas a Caroline insistiu que eu falasse.

– Caroline o que? – perguntei em choque. Como diabos a namorada de alguém diz para a pessoa para ela correr atrás de outra, ainda mais uma pessoa que ela por sinal teve ciúmes o namoro todo.

– Caroline disse isso quando terminamos, sabe...

– Omg, você terminou com ela por minha causa. Omg, sou uma pessoa horrível! – observei chocada.

– Não besta – ele riu – eu já havia decidido terminar antes, perceber que eu gostava de você foi apenas um acréscimo à decisão.

– Ok, mas você tem certeza disso certo? – perguntei preocupada.

– Absoluta, ruiva. – ele sorriu novamente e começou a se aproximar.

Diabos, o que eu faço agora?

É esse é o momento, é o beijo, e eu realmente não sei o que fazer. Quer dizer eu sei beijar, mas merda, eu espero isso há tanto tempo, e se eu fizer algo de errado... Merda, merda.

Ok esvazie a mente Lily, pare de pensar, pare agora.

Então notei que James estava sorrindo e estava próximo o suficiente para que eu pudesse vislumbrar um brilho de quem vai aprontar tão conhecido em seus lindos olhos castanho-esverdeados, e havia algo além ali, havia sentimento por mim, mas do que simplesmente como sua melhor amiga. Esse foi o instante em que finalmente consegui relaxar, tudo parecia simplesmente certo, seguro e natural. Quem estava ali na minha frente não era ninguém além do meu James Potter, que eu conhecia há anos, e era meu melhor amigo e o amor da minha vida.

– Eu estou tão completamente apaixonado por você Lily Evans, não sei como não percebi isso antes. – ele suspirou me olhando profundamente antes de me beijar pela primeira vez.

Não consigo nem descrever com clareza como foi maravilhoso, e fez toda a confusão dos últimos tempos valer a pena. James foi calmo e doce, e quando terminamos ambos estávamos maravilhados encarando um ao outro nos olhos e mantendo as testas coladas.

– Céus como você é maravilhosa – ele suspirou ao comentar – Eu tenho que te perguntar algo.

– Agora? – resmunguei, quando ele se afastou alguns centímetros.

– Agora ruiva. – ele sorriu – Lily Evans você aceita ser minha namorada?

– Eu certamente não me incomodaria de acrescentar esse título ao de melhor amiga – brinquei – É claro que eu aceito Potter.

E nos beijamos novamente, como ainda faríamos muitas e muitas vezes no futuro.

E quer saber eu estava no meu paraíso naquele carro parado a beira da estrada, com James Potter. Toda a bagunça desse dia tinha sido deixada para trás, e não havia nada mais para fazer a não ser curtir o momento.

Afinal, se apaixonar pelo seu melhor amigo pode não ser tão desastroso quando aparenta ser.