O Despertar de Um Anjo escrita por Mara S, Kelly S Cabrera


Capítulo 12
Capítulo VII - Noesis




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/19063/chapter/12

 

Seu corpo estava dolorido. Apesar de sua recuperação rápida ainda sentia dor no caminho de volta pra casa.

- Maldita hora que eu fui ouvir aquela fedelha! – Falou irritado, não por causa da garotinha, mas sim por ele ter sido idiota o suficiente de abrigar alguém que no fim das contas também o traiu – Como se eu já não estivesse acostumado

Ao chegar em sua casa entrou e retirou o sobretudo olhando o estrago

-E ainda me deu prejuízo! – Irritado o jogou em cima do sofá, indo em direção a sua mesa e sentando do mesmo modo de sempre.

Dante já não sangrava e estava tão irritado que se alguma coisa entrasse na frente dele agora ele seria capaz de matar. Mas uma coisa não saia de sua mente. O templo. Naquele templo ele pode sentir uma grande energia, que ele mal sabia de onde vinha. E foi por causa disso que ele conseguiu ver o que aquela mulher escondia. Um demônio. Dos piores, ou um dos piores.

            Ele sabia que mais cedo ou mais tarde aquela coisa viria a sua procura e por mais que ela fosse uma humana, a partir do momento que o demônio mostrasse seu rosto ela já não seria mais ela e ele seria obrigado a matá-la.  Tremeu com a idéia. Ele faria alguma coisa antes, qualquer coisa e ainda daria uma boa surra no irmão e o despacharia de volta pro lugar onde estava. Suspirou. Ainda por cima de tudo tinha o Vergil, e aquela mulher ainda ficou do lado dele como se ele fosse o grande salvador de alguma coisa

-Salvador, só se for dos interesses dele – Falou irritado por ela não ter acreditado nele e ter ido com Vergil. Era o cumulo isso. Realmente os dois se mereciam.

Levantou, precisava esquecer esse assunto. Decidiu então tomar um banho pra relaxar e esquecer de vez toda essa confusão.

 

            Enquanto tirava Lara de perto do irmão, Vergil não deixava de pensar em tudo o que estava acontecendo. A esperança de vingar-se não havia desaparecido, para falar a verdade, havia aumentado. Com uma arma tão poderosa como aquela, não poderia perder. Era só saber manejá-la. O prazer de ver a recém amiga de Dante se tornando sua maior inimiga era impossível de se descrever em palavras. Se ela pudesse retirar o amuleto de Dante, por um segundo ele imaginou que ela poderia fazer isso ainda no templo, ele venceria. Seria o portador de poder do pai, Sparda... Essa palavra soava tão poderosa. Mas enquanto isso descobriria mais da estrangeira. Ganharia sua confiança. E domaria o mal que ainda dormia dentro da mulher.

            Pareciam estar andando há horas, Lara pensou. A dor era tão grande que já não conseguia perceber muito bem onde estava. Já havia levado tiros, mas nunca a dor era tão forte como dessa vez, talvez a munição daquela arma fosse diferente, ela pensou.

            Vergil observou a estranha e percebeu que ela estava mal. Era melhor chegarem logo na mansão que Vergil havia conseguido encontrar, era afastada da cidade e com uma belíssima arquitetura gótica. Precisou matar uma família toda de humanos para conseguir ficar com aquela maravilha, mas valeu à pena. Cada sangue derramado.

            - O que está acontecendo comigo? – Lara não conseguiu esconder seu desespero. Parecia estar mais pesada, como se carregasse um grande fardo.

            - Isso logo vai terminar – Vergil disse misteriosamente.

            Lara continuou agonizando. Ao longe avistou uma bela mansão, era semelhante a sua. Como sentia falta de seu lar. Nunca se imaginou pensando nisso, mas devido às circunstâncias, era algo que estava pensando constantemente.

            Pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se enfraquecida, carregada como um bebe indefeso. Era difícil imaginar uma cena daquela. Ainda pensava em tudo o que havia acontecido com ela no templo. O ataque de Dante era inexplicável. Apesar de lembra-se de algumas coisas, o resto era sombras, muitas sombras. “Porque o Dante fez aquilo? O que ele estava pensando que sou? Uma informante?”

            Vergil sentia o desespero de Lara. “Será fácil”

            Chegaram à mansão.

            Vergil a levou direto para um dos quartos no andar superior. Era amplo e bem iluminado. A cama era de madeira escura e com um lindo lençol claríssimo.

            Vergil curvou-se para ver o ferimento. Estranhamente não precisava de nenhum curativo... Estava quase cicatrizado.

            - Acredito que você não vai precisar de muita ajuda...

            - Do que você está falando? – Lara com esforço olhou para o machucado e assustou com o que viu?

            - Mas... Isso é impossível!  - estava mais atordoada do que nunca. Pela segunda vez um ferimento seu cicatrizava-se de forma bizarra, pra falar a verdade, o terceiro! Lara olhou para a sua mão, a mão que quebrou o espelho e estava novinha, como se nada tivesse acontecido. Mas por que sentia tanta dor?

            - Não há motivo então para alarde, você está recuperada – Vergil levantou-se e tirou de um armário toalhas limpas. – Você vai precisar de um banho, eu vou ver se acho roupas para você.

            Não era próprio de Vergil comportar-se assim, mas era necessária toda a encenação.

            - Você está bem? – Vergil reparou que Lara havia coberto a cabeça com as mãos. Tentava, inutilmente, tirar a dor que sentia em sua cabeça.

            - A dor na minha cabeça está pior. Desde o momento em que fui atacada pelo Dante, nunca esteve assim.

            - Como assim nunca esteve tão forte? Não é a primeira vez que sente?

            - Não. Já senti inúmeras vezes, desde que cheguei aqui...

            Vergil começou a se interessar no que Lara falava.

            - Você chegou aqui como? Se me permite a pergunta.

            Lara odiava ter que lembrar isso, mas resumiu rapidamente para ele todo o acontecimento.

            - Portais... Você imagina como eles sejam perigosos. Creio que Dante já deve ter poluído sua mente com diversas bobeiras.

            - Ele me falou muitas coisas interessantes...

            - Principalmente sobre mim.

            - Não o suficiente para esclarecer muito. Ele não aparenta gostar de tratar do seu passado. “O Vergil é muito diferente de mim. Ele não tem nada de humano. Se ele sentir que você é uma ameaça ele pode matá-la sem ressentimento algum.” Essa frase de Dante ainda martelava no cérebro de Lara.

            - Temos interesses distintos, apenas isso. E infelizmente, o meu irmão aprecia entrar no meu caminho, sempre. Mas não há motivos para me temer.

            Vergil ainda queria mais informações sobre o portal.

            - Qual foi a sensação que teve ao abrir o portal? Talvez possamos entender juntos o porquê dessa dor de cabeça interminável.

            Vergil parecia tão mais gentil que Dante. Lara sentia que estava sendo hipnotizada e que poderia contar tudo.

            - Apenas dor. Logo depois que abri o portal. Infelizmente não posso te ajudar, Já que tudo é tão confuso.

             Vergil forçou um sorriso.

            - Vá tomar um banho. As coisas tendem a clarear mais depois que descansamos.

            Pela segunda vez, Lara lembrou-se de sua mansão em Surrey. O banheiro era enorme, com o de sua suíte. Sentiu-se aliviada por poder tomar um banho relaxante. Era o que mais desejava.

            Enquanto tentava relaxar, pensava se podia confiar em Vergil, “Dante deve sofrer muito por ter que lutar constantemente com o irmão.” Contudo, era difícil para Lara saber se podia confiar no homem que quase a matou. Ela fez uma escolha. E esperava não se arrepender.

 

            Ao sair do banho reparou que Vergil tinha colocado em cima da cama um vestido bege de algodão, bem leve.

            - Eu preciso mesmo vestir isso? – Lara gemeu.

           

 

Saiu do banho decidido. Iria voltar naquele lugar. Ele precisava, muito, saber o que estava acontecendo. Tinha algo de errado por ali.

Novamente pegou suas pistolas, seu sobretudo em cima do sofá e finalmente sua espada.

 

Chegou ao templo e a primeira coisa que fez foi descer ao local onde teve sua luta com seu irmão. Ele ainda podia ver as marcas de seu sangue no chão. Olhou em volta, mas não via nada de tão extraordinário ou fora do normal. Ele nem estava mais se sentindo estranho naquele lugar.

            -Se você olhar para seus pés, talvez você encontre alguma coisa – Uma voz conhecida, a fedelha. Olhou para baixo e viu uma pequena inscrição que ao levantar sua cabeça e olhar para todo piso percebeu um grande circulo e outro menor dentro.  “Um portal”, pensou, agora procurando pela menina-sombra ou sombra-menina, ou seja lá que fosse aquilo.

            -Estou bem aqui – Respondeu dando uma risadinha ao ver Dante a procurando.

            Na parte de cima do templo, onde Lara ficara durante a luta, estava a garotinha sentada e olhando para ele com um sorriso. Dante fechou a cara e estava a fim de retalhar uma certa garotinha que o havia enganado. Ela desceu e pousou ao lado de Dante que a encarou

            -Não precisa me olhar assim – Disse rodeando – Eu vim em paz

            Dante estranhou as palavras da garotinha a sua frente.

            -O que você quer agora? – Perguntou mal-humorado. Iria explodir a cabeça daquela fedelha.

            -Você precisa de mim – Uma afirmação que fez Dante rir. Ele não precisava dela- Você precisa de mim por causa dela. Ou seria dele? – Dante estreitou os olhos

            - O que você sabe? 

            -De um monte de coisas – Falou distraidamente. Automaticamente Dante puxou Ivory e a encostou na cabeça da menina

            - Eu quero respostas, AGORA! – Ordenou.

            A garotinha tremeu. Não que ela precisasse acatar a ordem dele, mas seria bom pra ela não enfrentar alguém como Dante.

            -Noesis – Respondeu – Noesis. É ele que você deve procurar

            -Noesis? É aquilo que está com a Lara? – A arma ainda continuava na cabeça da menina-sombra.

            -Sim – Respondeu sem olha para Dante – Mas eu não tenho nada com ele, juro!

            Dante retirou a arma da cabeça da garota que suspirou aliviada.

            -Explique tudo o que sabe – Ordenou mais uma vez.

            -Os demônios... Eles estão disputando, disputando poder. O poder de Sparda. Muitos tentam sair, mas poucos conseguem. Noesis conseguiu. Eu não sei o que ele fez, mas ele conseguiu. Ele possuiu a humana por se sentir fraco e não preparado. Ele ficaria adormecido até encontrar o que ele quer.  E quando ele encontrar não haverá escapatória. Seu poder aumentará e ele controlará os demônios e ai o mundo humano será destruído.

            -E o que ele quer? – Dante perguntou, já sabendo a resposta. Ela estava pendurada em seu pescoço, reluzente e cheia de poder.

            -Ele quer a chave. – Respondeu finalmente o fitando.

 

            Lara desceu as escadas como se já estivesse naquela mansão inúmeras vezes. Ao longe pôde escutar uma música, caminhou até o som. A porta para uma bela sala de jantar estava entreaberta.

            - Essa mansão lembra em diversos aspectos a minha casa.

            - Então temos o mesmo gosto. Vinho... – Vergil ainda não sabia o nome da convidada – Desculpe-me, mas ainda não sei seu nome?

            - Lara Croft. E sim aceito o vinho e as desculpas.

            -Você está linda. Deve ter sido um alivio aquele banho.

            - Sim... Fiquei espantada em ver um vestido me esperando, eu não costumo usá-los.

            - Era da minha mãe – Vergil mentiu, mas de forma bem convincente – Uma mulher maravilhosa. Mas você deveria usar mais vestidos, realçam sua beleza.

            - Obrigado. Você preparou um jantar?

            - Nada de muito requinte, eu temo. Você deve estar acostumada com muito mais que isso.

            - Você se assustaria se lhe contasse o que costumo comer. – Lara sorriu e sentou-se em uma das cadeiras.

            O banquete estava delicioso. Lara pensou se Vergil tinha preparado tudo sozinho.

            - Como está a dor de cabeça?

            - Está intensa, mas aprendi a me controlar... – Lara ainda sentia-se mal. Parecia que toda a força que possuía havia desaparecido.

            - Não duvido da sua força.

            Lara respirou profundamente. Vergil parecia adivinhar que ela estava temendo enfraquecer-se.

            - Como uma pessoa que aparenta ter tanta resistência, pensa em sucumbir agora?

            Lara voltou seu olhar para Vergil.

            - Eu nunca cederei. – Os olhos de Lara se estreitaram e o encararam.

            Vergil sorriu, com satisfação em ver que tudo caminhava corretamente. Ela não desistiria. E pensar que havia duvidado disso. Ainda pensava se aquela estranha teria força o suficiente para completar o que desejava mais. Agora sabendo que o lado humano estava em seu lado, deveria preparar o outro lado... Muito mais poderoso.

            Vergil aproximou-se de Lara, que estremeceu. Tocou seu rosto.

            Mas algo estranho aconteceu. Lara segurou as mãos de Vergil e o encarou. Sua voz estava mais rouca, contudo ainda era Lara que estava á sua frente.

            - Abandonai toda a esperança, ó vós que entrais.[1]- soltou a mão de Vergil delicadamente e fechou seus olhos, ao abri-los saiu caminhando da sala de jantar.

            “A porta do Inferno” Vergil pensou no instante que Lara citou essa frase. “Está sendo mais rápido do que pensei.”

            Vergil levantou-se de sua cadeira bruscamente e parou na frente da lareira.

            - Preciso fazer algo. Antes que fique além de meu controle. – A confiança de Vergil o cegava. Era incapaz de ver os perigos.

            Lara ainda permanecia muda no quarto de hóspedes, estava quente naquele quarto, quente como o inferno. “Agora.” Disse ao espelho.

            O semi-demônio subia as escadas para o andar superior, sem pressa. Como se soubesse o que faria, ele iria começar seu contra-ataque antes que fosse tarde demais.

            Surpreendentemente Vergil não conseguia sentir nenhuma presença demoníaca. “Ele ainda está quieto.” – sorriu e colocou as mãos na maçaneta.

            - Lara, nós temos que conversar.

           - Porque não. – A voz de Lara continuava com o tom rouco. Saiu das sombras sorrindo e aproximou-se e Vergil.

            - O que você sente em você... nós temos que...

            - Temos o que Vergil? – Lara encostou seu corpo ao de Vergil.

            Vergil não gostava do rumo que as coisas estavam começando a tomar, mas era tarde para arrependimentos. Parecia encurralado Precisava de sua espada.

            - Você quer isso? – Lara retirou a Yamoto antes que Vergil terminasse seu raciocínio. – Eu te dou.

            Lara fez Yamoto atravessar o corpo de Vergil que soltou um grito de dor.

            Lara encostou os lábios no rosto de Vergil e respirou profundamente, como se o farejasse.

            - Seu cheiro. Cheiro de sangue.

            - Vergil a empurrou e pegou sua espada.

            - Como você é estúpido! – Lara gargalhou, a mesma situação do templo. – Tente.

            - Você sabe que não é fácil assim me matar. Demônio! – Vergil pulou em direção de Lara que rapidamente esquivou-se.

            - Cuidado Vergil, nós não queremos ver esse belo rosto sujo de sangue!

            Lara com muita rapidez caiu em cima de Vergil que deixou sua espada cair. O demônio era mais rápido que Vergil, e muito de seus movimentos ele não conseguiria escapar.

            - Achou que seria o melhor Vergil!? Você e seu irmão. Aliás, sinto sua presença também! Ele se aproxima!

            Lara segurava ambas as mãos de Vergil e com outro rápido movimento retirou o amuleto de Vergil. Segurou o amuleto em uma das mãos e com a outra rasgou a camisa. Tocou seu peito. Vergil sentiu uma dor impossível de descrever. Era como se sugassem sua energia, seu poder.

            - Isso! – Deu uma cambalhota para trás e pousou no armário.

            -Agora observe Vergil, por que vai ser a última coisa que você verá por muito tempo.

            Absorveu o amuleto de tal forma que Vergil falou enquanto tentava levantar-se.

            - O que você fez? – O ódio emanava de seu corpo. Junto com a dor.

            Por um breve momento formou-se uma nuvem escura em volta de Lara. Quando se dissipou Vergil notou a diferença em Lara. Seus olhos haviam tomado uma tonalidade avermelhada e suas mãos um tom escuro, como se aquela fumaça emanasse de seus dedos.

            Lara pousou seus pés descalços no chão. Não precisava de calçados, Noesis gostava de sentir a terra. Há milênios não sentia aquilo... Estava voltando.

            A fumaça continuava cercar Lara.

            - Só isso Vergil?Achei que você fosse dar mais trabalho. – Ameaçou fugir pela janela, mas Vergil já estava em pé com Yamoto em suas mãos. Sabia que talvez não fosse agüentar muito, o demônio havia tragado sua energia demoníaca. Seu lado imortal.

            Lara esperou Vergil atacar primeiro e com um simples ataque frontal derrubou Vergil pela janela. Vidros voaram. Lara olhava para o chão. Premeditadamente, ela havia feito Vergil cair em uma estrutura com estacas no chão. Ironicamente colocadas ali para barrar intrusos. Agora o barrado era Vergil.

 

Dante correu o máximo que pode, a menina-sombra o seguia com a mesma velocidade.

-A mansão é afastada da cidade – Ela disse a Dante que estava concentrado em todas as palavras da garota – Provavelmente Noesis já sabia dos passos de seu irmão.

Não que Dante se preocupasse, mas ele sabia que se Vergil se sentisse ameaçado ele mataria Lara sem pensar duas vezes.

-Está preocupado – a garotinha falou ao lado dele. – preocupado com ambos – completou

-Não – Mentiu, sem tirar os olhos do caminho - Não estou preocupado.

A cidade passara por eles como borrões e em pouco tempo eles enxergaram a estrutura da mansão ao longe

            “Vergil, não me faça besteiras. Guarde essa droga e não me faça besteiras”, pensou.

 

Dante chegou ao portão da mansão acompanhado da garota e avistou ao longe uma fumaça negra.

- Dante eu sinto cheiro de...

            - Calada! O que é aquela sombra ali?

- Acho melhor não... – a menina recuava de medo.

            - Você está com medo demônio? – Dante a encarou – Não quero saber de desculpas, você vem comigo.

            Dante a puxou apontando a Ebony para ela e caminhou até a figura esfumaçada. Percebeu dois olhos vermelhos na escuridão e uma silhueta feminina.

- Lara – sussurrou.

- Você demorou mais que esperava Dante. – a voz rouca disse.

Dante aproximou o suficiente para perceber a figura de Lara.

- Trouxe uma amiguinha também com você – a figura desceu de um pequeno muro e aproximou-se – Cinzas... Parece que você não evoluiu muito desde o nosso último encontro.

            A menina demônio correu para trás de Dante como um animalzinho indefeso. Dante assustou-se com essa atitude.

- No- Noesis...

            - Que graçinha de menina! No-Noesis! – gargalhou – você é uma vergonha para nossa raça. Como muitos demônios infelizmente. Como seu pai e seu irmão, Dante. – fitou Dante demoradamente.

- Vergil! -Dante encarou Noesis - O que você fez com ele? – Perguntou mostrando-se preocupado.

            Noesis respirou profundamente como havia feito na presença de Vergil.

- Sinto medo em você! Eu senti em seu irmão também. Ele acreditou que me dominaria, usaria a mortal e meu poder contra você! Veja Dante, enquanto você está preocupado com seu irmão, ele planejava matá-lo. O que o poder faz com as pessoas – fingiu tristeza – De qualquer forma, a mortal não existe mais aqui! – encarou Dante e continuou - Ainda não me apresentei... Que grosseria a minha! Noesis, demônio primitivo, mais antigo que seu pai, que viu a ruína que ele provocou ao Inferno. Ruína que pretendo levantar! Com ajuda de servos e escravos humanos. Há tantos demônios que festejarão minha chegada!

- O que você pretende fazer com Lara? – Dante pensava em alguma forma de conseguir distrair o demônio, apesar de o demônio parecer saber de todas as intenções de Dante.

- Vou responder a essa pergunta, por que acho que você merece esse tipo de atenção. Bom, quando fui derrotado por outros demônios, uma história que está além de sua compreensão, perdi minha forma física. Então, a jovem humana vai ser meu corpo. Não posso negar que tive uma ótima escolha. Esperei tanto pelo momento que alguém abrisse o antigo portal. Não posso negar que fiquei extremamente contente em ver que ela era uma vítima perfeita para a minha volta. Resumindo: esse corpo me pertence agora. Vamos dizer que... – o demônio fingiu que estava pensando enquanto caminhava, um rastro negro a seguia – sua amiguinha desapareceu!

            - Você não vai fazer nada com a Lara! - e pensou ao mesmo tempo "Eu não vou deixar"

            - Você não vai deixar?Ah!! Que coisa mais romântica Dante! Tão repugnante também. Você não tem escolha. E pensar que você quase a matou no templo, atirou em sua perna, se não fosse a minha presença, eu não sei o que aconteceria com ela. Imagine Dante, ela nunca o perdoaria... Você a queria morta junto com Vergil. Falando em Vergil... O seu irmãozinho está aqui Dante, eu peguei seu amuleto, foi tão fácil. – falando isso o demônio desapareceu entre as fumaças negras que o cercavam.

- Era isso que queria te falar Dante! Eu sentia cheiro de sangue aqui! – Cinzas andou em direção à origem do cheiro, enquanto Dante estava paralisado, pensando em tudo que tinha escutado. Era demais para ele. Lara e até Vergil. O amuleto de Vergil estava com o demônio cuja força era impossível de se calcular, que estava usando corpo de Lara como se fosse uma roupa que logo seria descartada.

                                                        - Dante! Aqui! Vergil está aqui!

Dante percebeu que a menina o gritava e correu para alcançá-la. Lá estava Vergil tentando sair das estacas que o prendiam. A cena era impactante, até mesmo para irmãos que se odiavam. Parecia que este não tinha forças para sair; o amuleto não estava mais em seu pescoço. Yamoto havia pousado chão.

                                                        Dante tentou socorrer o irmão que poderia ficar muito tempo tentando sair de lá.

- Não preciso... de sua ajuda... Dante. – Vergil esforçava-se ao máximo para falar, o olhar era um misto de ódio e dor.

Dante continuava olhando para o irmão, sem poder fazer nada.

Uma figura materializa-se ao lado de Cinzas, sentada em uma pedra. Com os pés levantou o rosto de Dante.

                                                        - Patético – dando mais uma gargalhada pulou para cima dele.

Estava prestes a fazer a mesma coisa que havia feito com Vergil, prestes a puxar o amuleto de sua corrente, quando Cinzas a cega momentaneamente com seu poder. É o tempo suficiente de Dante fugir das mãos do demônio.

- Maldição! Um demônio traidor! Você vai morrer Cinzas!

- Corra Dante! EU vou segurá-la! Você não é páreo para Noesis, não agora!!!

Dante corre e tira violentamente Vergil das estacas pelo ombro, este ainda consegue pegar a Yamoto do chão antes de partirem.

                                                        Correram o mais rápido que puderam para alcançar a rua. Vergil já começava a se recuperar e logo estaria livre para agir como bem entendesse. Dante olhou para trás uma última vez e viu Noesis matando Cinzas. Houve uma explosão e Noesis desaparecera. Dante percebeu que Cinzas estava morta. Ironicamente havia desaparecido como se fosse cinza...

Mas não tinham tempo para pensar. Continuaram correndo, independente do sumiço de Noesis.



[1] Divina Comédia, Dante Alighieri, Ed. L&PM Pocket, pag. 19.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Despertar de Um Anjo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.