Lembre-se De Mim escrita por Tsuki Hikari


Capítulo 6
Problemas e suas soluções problemáticas


Notas iniciais do capítulo

Cheguei de viagem ontem!! Agora vou postar com mais frequência xD.



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Seis anos asmodianos depois...

– Algum de vocês viu o Gordon ultimamente? – Perguntou Abacuc, puxando o elástico de seu inseparável estilingue que ganhara há alguns meses. A fruta espinhosa e vermelha que lá estava um segundo antes voou alguns metros antes da ave negra de olhos brancos que pertencia a Hartwig abrir seu bico e a engolir. Aves daquela espécie comiam tudo que era comestível... E o que não era também.

– Que Gordon? – Brincou Hartwig, que estava ocupado arrancando a grama do chão, que já estava com um buraco aberto por causa disso. Dio e Abacuc não se opunham a atividade, pois o quintal era dele, mesmo, portanto o problema era dele.

– O garoto que anda muito estranho de um tempo pra cá. –Respondeu Dio, estendendo a mão para Abacuc – Deixe-me tentar.

Abacuc lhe entregou o estilingue e Dio pegou uma das frutinhas espinhosas que estavam em grande quantidade pelo chão. Assim como o outro, mirou no bico da ave que estava pousada num galho alto da maior árvore do quintal da casa de Hartwig e atirou. A fruta voou longe e passou por cima do muro. Não adiantava tentar. Ninguém tinha uma mira melhor
que Abacuc. Dio lhe devolveu o estilingue.

– Ei! – Uma voz feminina exclamou do outro lado do muro e a fruta foi atirada de volta. Os três garotos reviraram os olhos.

Após alguns instantes apareceu, do outro lado do portão de ferro, uma garota loura e com os olhos peculiarmente diferentes, sendo um azul e o outro amarelo. A garota eles só tinham visto algumas vezes, porém a aparência dela familiar. Gordon era louro e tinha um olho amarelo e o outro azul também. A garota era Mizore, a irmã gêmea dele.

Naquele mundo era muito mais comum irmãos serem gêmeos do que nascidos em anos diferentes. Pelos asmodianos viverem muito, muito mais que os humanos, dava muito, muito mais trabalho ter um filho, quem diga dois. Por isso, quando um casal tinha dois, geralmente não era por vontade própria.

– Bem, Mizore, foi bom você ter vindo. Sei que veio só para reclamar porque a fruta que o Dio lançou te acertou, e já vou avisando que nem ligo, mas quero saber por onde anda Gordon, então não vou te expulsar. – Hartwig disse. Foi insensível, mas Mizore era durona. Não se magoou, apesar de ter parecido ofendida.

– Seu mal-educado! Se quiser saber do meu irmão, pergunte para ele. Ele já deve ter chegado em casa. Eu também estou indo para lá, então, se forem vir, venham comigo. – Ela saiu andando, sem dar tempo para eles responderem.

– Então, vamos. – Decidiu Hartwig, se levantando.

– Você não precisa avisar a ninguém que vamos ir à casa de Gordon? – Perguntou Abacuc.

– É rapidinho. – Hartwig fez pouco caso. Com isso, os três garotos se levantaram e saíram às pressas do jardim. Andaram rápido até alcançarem Mizore, e então os quatro foram em silêncio.

Por já ter treze anos, Dio podia ir a lugares próximos sem Erzsébet, mas ele sabia que essa liberdade ia durar pouco. Fervia a notícia de que uma guerra, não uma guerra qualquer, mas a Primeira Guerra Mágica, ia ser declarada em Calnat em pouco tempo. E quando isso acontecesse nada mais seria seguro.

Assim como os outros garotos, Dio era totalmente contra essa guerra. Claro que a opinião deles de nada valia, mas Dio decidira que faria algo caso a situação ficasse fora de controle. Devia haver uma maneira de fazer algo...

A casa de Gordon era perto da de Hartwig. Não precisaram andar muito para chegar lá. Mizore abriu a porta e todos entraram.

– Gordon! Visita para você! – Ela gritou – Agora, se me dão licença... – Mizore subiu correndo as escadas e entrou em seu quarto, batendo a porta. E então os três ficaram sós.

– Ele tá tirando uma da nossa cara, né? – Perguntou Hartwig após um tempo. Ele odiava esperar.

– To nada. – Respondeu o próprio Gordon, saindo que seu quarto e atravessando o corredor para chegar à escada.

– Mas parece que alguém tirou uma da sua cara. Literalmente. Você
está horrível! – Falou Abacuc, como sempre com uma sinceridade irritante.

Realmente, Gordon estava com uma aparência horrível, como se houvesse feito trabalhos pesados durante as últimas semanas sem quase algum descanso.

– Aah! Isso é porque ele está treinando muito pesado para um evento muito importante. – Disse Mizore, que sem que os outros percebessem havia aberto a porta de seu quarto e os estava observando.

– Cala a boca, sua imbecil! –
Gordon gritou com agressividade para ela. Dava para perceber o comentário dela o deixara fora de si.

– Hm? Que evento? – Perguntou Abacuc.

– Um momento. Gordon, você não... – Dio começou a dizer, mas não precisou acabar.

– Tá, que seja! Mas para esclarecer vocês só não estão na mesma situação que eu porque são filhos únicos. Se meus pais me perderem, ainda terão Mizore, então não há problemas em eles me mandarem para a... – Gordon continuava falando alto, e bem rápido, como se tivesse medo de ser interrompido. E foi o que aconteceu.

– SEU TRAIDOR! – Abacuc teria ido para cima dele se Dio e Hartwig não o tivessem segurado. Mizore arregalou os olhos. Não achava que haveria um problema tão grande se eles soubessem a verdade.

– PAREM! – Ela gritou com toda sua voz, e todo mundo parou no ato e se virou para ela. O silêncio que se seguiu foi desconfortável.

– Vamos. – Disse Dio friamente após uns momentos. Como Gordon podia simplesmente ter dito que era contra a futura guerra e depois se tornar parte dela? Imperdoável. Ele não queria mais ficar no mesmo lugar que ele.

Hartwig e Abacuc assentiram, obviamente também se sentindo traídos e eles saíram rapidamente.

– Vou para minha casa. – Informou Abacuc. Com certeza era ele quem tinha ficado mais mal-humorado com a notícia.

– Também vou. – Disse Dio. Ele pretendia ir para a casa de Hartwig sim, mas decidiu ir para casa porque ficava no caminho para a casa de Abacuc, e assim os dois iriam juntos. Apesar de ser bastante amigo de Hartwig, assim como até pouco era de Gordon, seu melhor amigo era Abacuc. Ou segundo melhor amigo, se considerarmos que... Deixe para lá. Era bobeira ainda pensar em Rey, apesar de Dio não conseguir evitar. Ainda gostava muito dela, embora tivesse certeza de que não teria coragem de falar com a garota caso ela lhe aparecesse (o que era muito
improvável), visto que tinha vergonha e aborrecimento por nunca ter encontrado utilidade para sua chave; e não fora por falta de vontade.

– Está bem. – Concordou Hartwig. Os três se despediram com acenos e seguiram seus caminhos.

– Abacuc, o episódio com o Gordon me fez lembrar; você conhece algum artefato mágico que é uma chave? – Dio perguntou. Na verdade ele já tinha isso na cabeça para perguntar há anos, mas nunca tivera coragem.

– De que chave estamos falando? – Assim como a família de Rey, mas diferentemente da família de Dio, Gordon e Hartwig, a família de Abacuc usava magia.

– Ah, uma de bronze com vários círculos... – Dio baixou a cabeça.

Abacuc parou de andar e seus olhos se arregalaram. Parecia que todo seu mau-humor se fora, de tanto que a resposta de Dio o incomodara.

– Leve-me até essa chave.


*********

– Como está se sentindo? – Perguntou delicadamente Peter Von Crimson, que havia acabado de chegar em casa depois do trabalho e entrar no quarto da filha, que estava deitada em sua cama com uma expressão vazia, como de costume. Não tinha mais forças para se levantar, com o estado avançado de sua doença. A doença com que
nascera e que a forçara a cortar relações com Dio.

– Normal. – Ela respondeu com a voz baixa e rouca.

– Rey... Vai acabar antes que você imagina. – Peter se aproximou da cama dela e se sentou na poltrona que ficava ao lado.

– Significa que eu vou morrer.

– Não! – Ele exclamou mais alto do que pretendia. Dissera aquilo para consolá-la, não para informá-la que morreria em pouco tempo, apesar de ser verdade. E Peter sequer estaria com ela quando acontecesse. No dia seguinte ele iria embora para Calnat, para liderar os primeiros grupos na guerra, como era seu trabalho. – Olhe... Eu vou dar um jeito. Com certeza há uma magia para te curarmos.

– Tá. – Ela não acreditava nem um pouco naquilo.

– Bom... Durma um pouco. – Ele beijou a testa quente de febre da filha e saiu do quarto. Não conseguiu dizer outra coisa.

Na realidade, ele tinha certeza de que não perderia Rey. Ele já sabia o ritual para curá-la, mas não tinha coragem de aplicá-lo. A magia estava num livro chamado “Magias negras e proibidas” – nem um pouco atraente, de fato, mas quando o lera Peter estava desesperado.

Seu plano era descobrir outra magia – uma mais leve – para salvar a vida da filha. Se isso não fosse possível e lhe trouxessem a trágica notícia de que ela estava em seus últimos dias, ele voltaria para casa e faria o ritual.

Não tinha como falhar.


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