Lembre-se De Mim escrita por Tsuki Hikari


Capítulo 7
A exceção da regra




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Abacuc ficou silencioso durante todo o caminho até a casa de Dio. Dio estava incomodado pelo silêncio, mas também aliviado, pois se prendera na idéia de que naquele dia toda a questão da chave se resolveria.

Chegando, eles subiram as escadas para o segundo andar e se trancaram no quarto de Dio, que pegou a chave que mantinha bem trancada em sua gaveta e a estendeu para o amigo.

– Como você a arranjou?! – Perguntou Abacuc, visivelmente perplexo.

– Me deram... – Dio não se sentia a vontade para contar que fora Rey, a mesma Rey que fora tão zombada por Abacuc, juntamente com Gordon e Hartwig.

– Ah, que ótimo, cabeção... – Ele ironizou – QUEM te deram?

– “Quem TE DEU”. – Dio corrigiu. Ele não era de ficar corrigindo as pessoas, só fizera isso para se vingar da ironia. – Foi a Rey...

– Explicado... A família Von Crimson mexe com magia superior... Você foi bem sortudo por ter conhecido a filha deles.

– O quê?! Que papo é esse?! Você sempre fez brincadeiras sobre eu conhecê-la!

– Para ver a sua cara, oras! – Abacuc começou a rir, mas recobrou o ar sério depois de uns instantes. – Enfim, qual é o signo dela?

A magia asmodiana algumas vezes dependia dos signos lunares: As crianças nasciam sobre a influência de uma lua, e para realizar magias com outras pessoas ou para outras pessoas elas tinham que ser do mesmo signo, ou pelo menos o signo compatível no encantamento.

– Lua Nova. – Dio respondeu de imediato.

– E você?

– Lua Minguante.

– E eu sou de Lua Crescente. Droga! Não dá para realizar a magia! É muito poderosa: A pessoa que a fizer deve ser de Lua Nova como ela ou não funciona! – Abacuc exclamou, frustrado.

Dio repassou em sua mente todas as pessoas que conhecia e seus devidos signos: Hartwig era de Lua Minguante assim como ele. Gordon e Mizore, que não eram opção por causa do que acontecera a pouco, eram de Lua Cheia. E...

– ANNA! – Os dois gritaram ao mesmo tempo.

Anna era amiga inseparável de Mizore. Uma garota de cabelos roxos como os de Dio e olhos cor-de-rosa, muito tímida. E era de Lua Nova.

Os dois garotos imediatamente saíram correndo, atravessaram os jardins e, sem perder o ritmo nem por um segundo sequer, foram para a calçada. Correram até chegar a uma simpática casa branca, não tão grande quanto as deles, mas mesmo assim grande. Já tinham visto Anna, juntamente com Mizore, entrando lá, e como a casa não era de Mizore, só podia ser de Anna.

Não precisaram correr o risco de bater na porta e descobrirem que tinham errado de casa. A menina estava sentada numa cadeira em seu jardim, lendo um livro.

– Boa tarde, Anna! Como você está? – Perguntou Abacuc com um sorriso alegre enquanto os dois atravessavam o jardim em sua direção, visto que sua casa não tinha portão.

– Ah... Oi, Abacuc e Dio... Eu... Estou bem! Obrigada! – Respondeu ela aos poucos, desviando o olhar de seu livro, mas continuando sem olhar para os dois. Ela estava corando.

– Que bom que esteja bem. – Abacuc disse. Dio estava estranhando seu sorriso. – Anna, você é de Lua Nova, não é?

– Sou...

– Pode me ajudar? – Ela pareceu surpresa quando ele disse isso, mas sua expressão sem dúvidas dizia que ela podia, sim. – O Dio precisa realizar uma magia, mas ele é de Lua Minguante...

– Já entendi... – Anna cortou. Dio não gostava muito da garota. Nada contra ela, mas ela parecia que tinha morrido e que tinham esquecido de enterrá-la, de tão tímida que era. Mas Abacuc não parava de sorrir. – Tudo bem... Eu faço.

– Muito obrigado! – Agradeceu Abacuc. Anna se levantou, fechou seu livro, o pôs na cadeira e lá foram os três, voltando para a casa de Dio.

Dio foi se sentindo sem-graça perto dos dois. Abacuc não parava de puxar assunto com Anna, que por sua vez foi se soltando enquanto a conversa corria. Após alguns minutos chegaram à casa do garoto e subiram para seu quarto.

– Anna, faça o que eu disser, combinado? – Falou Abacuc, pegando a chave novamente e a entregando para a garota.

– O.K..

– Diga “Thak mallibe ji toh yy naricku jeva ji toh yy nah”. – As magias sempre deviam ser feitas em asmodiano antigo.

Anna repetiu.

– Agora precisamos de uma lágrima sua.

– O que? Uma LÁGRIMA? – Ela pareceu surpresa.

– Pode ser sangue, se preferir... – Abacuc respondeu, dando de ombros.

– Eu prefiro a lágrima, mas não é tão fácil assim chorar a toa... – Reclamou Anna.

– Quer saber? – Dio mordeu com força a própria mão, para a surpresa dos outros dois e dele próprio, também. Quando sentiu o gosto de ferrugem do sangue pegou a chave de Anna com a mão boa. – Thak mallibe ji toh yy naricku jeva ji toh yy nah – Disse ele, assim como os outros dois antes e deixou uma gota do sangue escorrer
e cair na chave.

Antes mesmo que Abacuc pudesse xingar Dio, a chave ficou quente. E foi esquentando. E esquentando. Quente como fogo.

– Ahn... Você tem certeza de que ela é de Lua Nova, Dio...? – Abacuc perguntou confuso. Ele perguntou por bobeira, claro, pois signos lunares para os asmodianos era a segunda coisa que se perguntava depois do nome quando se conhecia uma pessoa, de tão importante que era.

– A pessoa que tentou destravar o encantamento não foi do mesmo signo que a pessoa que travou. – Veio da chave uma voz sussurrante e arrastada – E a conseqüência disso é a morte. Mas, dessa vez, pouparei o garoto de Lua Minguante, uma vez que percebi seu desespero. Repita o ritual todos os dias de lua nova e todos os dias de lua minguante durante dois meses e então lhe mostrarei o que quer.

A chave esfriou e voltou ao normal tão rápido quanto como esquentou e ficou estranha.

– Dois meses? – Dio reclamou, frustrado. Mas pelo menos agora ele tinha a certeza de que iria reencontrar Rey, mesmo que tivesse de esperar mais um pouco.

– Hm... Bem, acho melhor eu ir embora... – Anna estava corando de novo, provavelmente envergonhada por não ter sido prestativa.

– Eu te levo até sua casa – Abacuc ofereceu prontamente, e depois corou também, só que muito mais levemente – Se você quiser, claro.

– Ah, tudo bem... Não gosto de sair sozinha, mesmo...

– Abacuc, você poderia fazer o favor de levá-la logo antes que eu fique desconfortável no meu próprio quarto? – Dio sussurrou para ele.

– Deixa de ser mala, cabeção... – Respondeu Abacuc também sussurrando.

– Para de me chamar de cabeção, Abacaxi... – Disse Dio no mesmo tom. Não foi muito maduro de sua parte, mas até que era engraçado, visto o nome dele.

– Hm, agora você me provocou. Vou bolar um apelido para você que vai fazê-lo se arrepender de ter nascido. Conto amanhã. – Abacuc disse com um sorriso maldoso no rosto, e então tornou a se virar para Anna. – Vamos.

A menina assentiu e se despediu brevemente de Dio. Abacuc se despediu logo depois e então os dois saíram.

Finalmente só, Dio colocou a chave em cima da mesa e foi ao banheiro lavar sua mão. Se machucar nunca tinha valido tanto a pena.


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Notas finais do capítulo

Eu que inventei o negócio dos signos *_*... Fiquei todos esses dias sem inspiração, mas hoje me veio essa.



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