Lembre-se De Mim escrita por Tsuki Hikari


Capítulo 4
Obedeça-me


Notas iniciais do capítulo

Não postei no dia em que prometi,mas antes tarde do que nunca rs.



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    Uma hora antes...

   - Rey? Você está aí?

  A cadela Mary Bastião latiu forte ao ouvir o nome da dona, como insistia em fazer sem motivo algum.

   - Psiu, Mary! – Sussurrou Rey,segurando o focinho dela para que não latisse, mas já era tarde de mais. Seu pai abriu a porta do closet em que as duas se encontravam.

   - Não foi muito esperto de sua parte se esconder com ela, Rey... – Disse Peter Von Crimson, olhando para a filha. – Mas agora chega, que eu não quero ter de brigar com você. Você vai escrever a carta.

    - Papai... Por favor... Por favor... Eu não quero! – Ela pediu
com desespero na voz. Não era birra: Simplesmente a última coisa do mundo que ela gostaria de fazer era escrever aquela carta.

   - Não se trata de querer; se trata de dever. Vamos logo, obedeça.  Quanto antes terminá-la, antes ficará livre.

    A contragosto, Rey se levantou e acompanhou o pai, que fez gesto para ela se sentar diante de uma mesa, onde estavam pousados um papel e uma pena. Ela obedeceu e pegou a pena.

   - Ótimo. Agora escreva: “Dio; Pare de vir à minha casa, eu não quero mais vê-lo...”

    Em silêncio ela começou a escrever o que lhe era ditado, piscando, tentando impedir que as lágrimas que lhe vinham aos olhos transbordassem. Após o pequeno texto ser concluído, Peter pegou o papel para ver se ela havia realmente escrito o que devia; ao ver que
sim, sorriu satisfeito.

     - É isso. Não doeu, doeu? – Ele perguntou, acariciando os cabelos da menina.

   - Papai... Posso eu mesma providenciar o envelope? – Rey perguntou lentamente e de cabeça baixa.

   - Não vejo problemas. Mas irei levar a carta comigo. – Disse, virando as costas e saindo do quarto da única filha.

     Logo que ele saiu, Rey saltou para fora da cadeira, pegou sua caixa onde guardava papéis de carta e envelopes e pegou o primeiro que viu. Mas ela não ia entregá-lo ainda. Ela tinha um plano.

*********

   - Muito bom, rapazes! – Edna elogiou, se levantando do chão onde até então estava sentada, assistindo os dois alunos lutarem. – Mais um ou dois anos de treino e chegarão ao meu nível, garanto.

   - Duvido muito – O garoto de cabelos negros, que havia perdido a luta contra o outro e como sempre que isso acontecia estava revoltado, resmungou.

   - Não diga isso, Tim. – Edna falou secamente. Não gostava desse tipo de comentários negativos.

   - Edna? – Uma voz a chamou, vinda da entrada do campo onde os três se encontravam, e ela se virou:

   - Pois não?

   - Poderia vir comigo um minutinho? – A voz, como ela obviamente já havia concluído, era de Duel. Ele a olhava com um olhar cúmplice que a intrigou, mas que também a deixou feliz.

   - Ah, claro! E eu acho que essa aula já está demorando mais alguns minutos do que deveria demorar, mesmo... – Ela olhou para o céu e, surpresa, percebeu que já devia ser por volta das quatro da tarde, quando sua aula estava marcada para acabar às duas. – Certo, Tim e Jon, estão liberados. Próxima aula segunda-feira às nove da manhã. – Ela
concluiu e então saiu do campo com Duel, enquanto os dois alunos ficaram para guardarem suas armas.

    - Edna, não me leve a mal, mas as aulas que você está dando há alguns meses, tem alguma coisa relacionada à futura guerra? – Duel perguntou logo que eles saíram.

   - “Alguma coisa”?! Tem TUDO relacionado à futura guerra! Não foi você quem disse que não queria que “batêssemos e morrêssemos”? – Edna respondeu rapidamente, como se esperasse que ele perguntasse isso a qualquer instante. - E de qualquer maneira, é bem divertido.

   - Deve ser. Mas estive esses dias conversando com Peter Von Crimson. Ele disse que, em uma guerra, prevaleceria muito mais quem usasse magia para combate do que quem duelasse corpo a corpo.

   - Ele é um idiota. – Ela disse rapidamente e Duel olhou em reprovação. Edna engoliu em seco. Tinha de perder a mania de falar sem pensar. – Mas é seu superior. Perdão. Mas, espere... Vocês já falaram sobre a guerra? – Seu rosto se iluminou.

   - Por enquanto, nada oficial. Mas ele disse que quer os mais experientes em combate procurem ensinar os mais jovens, como você está fazendo. Mas não era disso que eu ia falar – Ele sorriu de uma maneira estranha e fria – Posso confiar em você, não posso, Edna?

   - Definitivamente!

   Nesse instante, Tim e Jon saíram
do campo e passaram por eles de cabeça baixa, obviamente mortos de cansaço depois do treino pesado. Edna não entendia como eles podiam se cansar depois de cinco horas. Se ela não tivesse de fazer outras coisas com certeza passaria dias inteiros sem parar, se aperfeiçoando em combate.

   Os dois esperaram pacientemente que os adolescentes saíssem, e só depois de ter certeza de que não havia mais ninguém por perto, Duel continuou:

   - Sei mais ou menos a localização de Grandark. Ela realmente está com o garoto Zero. E eu queria lhe pedir um favor.

   - Qualquer coisa, naturalmente...

   - Eles estão no Bosque da Eternidade, não muito longe daqui. Eu iria lá por mim mesmo tentar achá-los, mas terei de pedir a você, pois Peter Von Crimson me mandou assumir o QG na ausência dele.

   - Ele não está?

   - Houve algum problema com a filha dele... – Duel fez uma expressão pensativa – Acho que o nome dela é Mey ou algo assim.

   - Nome estranho...

   - Sim. Então, você poderia ir lá para mim, tentar encontrá-los? Não quero mal à Grandark enquanto Zero estiver mal treinado, senão não terá graça. Quero apenas saber a localização deles e para onde vão.

   - Posso fazer isso.

   - Obrigado, Edna! – Duel pareceu feliz. E para Edna, isso já fez valer a pena.

*********

 “Eu sempre cumpro minhas promessas. Procure na caixinha. Lembre-se de mim. Nunca te esquecerei.” – Rey escreveu com uma letra miúda e torta no interior do envelope, para não rasgá-lo enquanto escrevia. Rezou para que ninguém que não fosse Dio descobrisse aquela
pequena mensagem e, reunindo toda sua coragem, chamou por James.

- Diga ao papai que escolhi este aqui – Ela ordenou lhe entregando o envelope. James, sem dizer uma palavra, assentiu, o pegou e saiu.

Rey se levantou, atravessou o quarto e entrou em sua sacada. Era divertido para ela olhar o movimento em frente à sua mansão, considerando que nunca podia sair.

Naquele momento, havia quatro garotas mais ou menos de sua idade na calçada. Duas delas seguravam uma corda, uma em cada ponta, e a rodavam sem parar. Outra pulava a corda toda vez que ela batia no chão, e a última estava sentada no chão, observando. Elas pareciam
estar se divertindo, apesar de Rey não ver nada de divertido em pular uma
corda. Parecia... Muito cansativo.

Durante incontáveis vezes as meninas se revezaram entre pular, segurar a corda ou ficarem sentadas. “A carta já deve ter sido entregue... Papai não descobriu sobre o envelope... Terá Dio descoberto?”, eram as únicas coisas que Rey conseguia pensar enquanto assistia a brincadeira. Ela não invejava as garotas por poderem sair ou terem várias amigas. Para ela, bastava ter um amigo, se esse amigo fosse Dio.

De repente, o som de uma porta se abrindo a fez se sobressaltar. Ela se virou e viu que seu pai tinha entrado em seu quarto, com uma expressão séria.

- Rey, fique em seu quarto e não vá à sacada até segunda ordem.

- Por quê? – Ela olhou para a rua por cima do ombro e viu que Dio e Erzsébet estavam vindo em direção à sua casa. Dio estava de cabeça baixa... Ah, não...

Rey saiu da sacada como lhe fora mandado e fechou a porta de vidro. Seu pai saiu de seu quarto, mas continuou a observá-la pela fechadura. Ela puxou uma cadeira para perto da vidraça e se sentou, continuando a olhar a rua.            

Não demorou muito para eles chegarem e desaparecerem sob a cobertura do alpendre.  Seguiu-se um instante de silêncio e então ela
soube que James havia atendido a porta, pois ouviu uma briga baixa pela
distância. Rey já estava se sentindo muito mal com tudo isso, mas como se não bastasse ela ouviu o som da porta de entrada se fechando com força e um grito alto de Dio: “Não! Eu quero falar com Rey! Abra essa porta! Abra logo essa porta, droga!”.

Ela sentiu as primeiras lágrimas lhe escapando dos olhos. Não deu mais para segurar.

Após mais alguns instantes Dio desceu do alpendre e olhou para a sua sacada, para dentro de seu quarto. Em sua direção.

- REY! REY, PORQUE VOCÊ NÃO QUER FALAR COMIGO?! VOCÊ NÃO É MAIS MINHA MELHOR AMIGA? E A PROMESSA DE FICARMOS JUNTOS PARA SEMPRE? – Ele berrou.

A vontade de Rey, que agora chorava desesperadamente, era abrir a vidraça e gritar de volta: “Dio bobo, bobo, bobo! Não grita comigo! Se você tivesse prestado atenção na carta que eu te mandei, me pouparia desse sofrimento!”. Mas ela desconfiava que seu pai estivesse a observando, pois apesar de estar sozinha no quarto se sentia observada;
então, ao invés de fazer isso, ela fechou as cortinas, tornando impossível que um visse o outro.

- D-Dio... Eu sinto tanto a sua falta!

*********

   Dio chegou em sua casa se sentindo pior do que já havia se sentido em toda sua vida. Foi diretamente para seu quarto, que ainda estava cheio de farelos de biscoito, copos de suco, peças de jogos e aviõezinhos de papel amassados pelo chão, visto que Erzsébet não
tivera tempo para arrumar ainda.

Sobre sua cama havia a carta e o envelope que ele abandonara lá ao sair. Num impulso de raiva ele os agarrou e rasgou-os ao meio, e só então percebeu. Tinha algo escrito dentro do envelope. Ele uniu as duas partes e leu. E aquela mensagem tão curta mudou e confundiu tudo o que ele havia pensado desde que recebera a carta.

Sem tempo a perder, correu para pegar a caixinha de música. Como correu sem olhar para baixo, acabou chutando um copo de vidro que se quebrou, mas não ia pensar nisso. Uma vez com a caixinha em mãos, começou a examiná-la de todas as maneiras possíveis. Fez tudo
o que podia, mas não entendia o que ela tinha de especial. Já estava procurando há vários minutos quando ela escorregou.

 Foi como se fosse em câmera lenta. Ele viu a caixa caindo, batendo no chão, seu espelho se quebrando e o os cacos de vidro se juntando aos do copo. Mas também viu, junto com todo aquele vidro, uma chave de bronze com vários círculos desenhados por toda sua volta
saltando de dentro da caixinha. Ele não havia pensado em deslocar o espelho.

-... Rey... O que faço agora?


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