Lembre-se De Mim escrita por Tsuki Hikari


Capítulo 15
Reviravoltas




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Dois anos asmodianos depois...

- Sinto muito. É impossível.

A garota loira baixou a cabeça ao ouvir a resposta de sua pergunta, tentando conter as lágrimas. Apesar de saber desde o princípio que uma resposta positiva era improvável, ela queria tanto uma que tivera mais esperanças do que deveria.

- Oras, vamos, Tae. Você sabia que a resposta seria “não”. – Edin, o líder dos caçadores de recompensa de Hades, disse, com a voz gentil.

Hades era o reino para onde qualquer pessoa que morresse em Erna ia. Se fosse boa ficava até reencarnar, porém se fosse má, ficava presa lá pela eternidade. Mas lá também havia habitantes naturais, que eram os haros, uma raça não muito amistosa. Muitos haros trabalhavam
como caçadores de recompensa, cujo serviço é ir atrás das almas más que conseguiam fugir, ou supervisionando as almas, garantindo que as más não fugissem e que as boas reencarnassem.

- Por favor! – Tae pediu – Eu reencarno depois disso! Eu prometo!

Tae já estava lá havia muitos anos*. Os haros já tinham feito de tudo para convencê-la a reencarnar, mas nada adiantava. E de repente, ela aceitava a reencarnação, com apenas uma condição. Um último desejo.

Edin primeiramente não respondeu, pensativo. Tae foi em vida uma pessoa muito boa. Nasceu num pequeno vilarejo, numa família humilde. Quando tinha apenas quatorze anos, chegou muito perto da beira de um penhasco, e o pior aconteceu: Ela caiu. Morreu antes de chegar ao chão, mas mesmo assim o tempo caindo foi suficiente para ela entender o que
estava acontecendo. Foi uma morte horrível. E ela sequer pôde se despedir de sua família ou de seus amigos. Não teve um último pedido, e seu corpo jamais foi encontrado. Mas, apesar de tudo isso, continuou a ser uma pessoa boa e pura depois de morta. E Edin simpatizara com ela. Seria muita crueldade lhe negar um favor?

- Tudo bem, Tae – Ele cedeu – Mas só por uma semana. E ninguém por aqui poderá saber. Será nosso segredo – Edin sussurrava – Pode ser?

- Com certeza. Muito obrigada! – Tae respondeu, também sussurrando, as lágrimas dando lugar a um sorriso iluminado.

- Porque, você sabe, magias como essa são estritamente e completamente proibidas. – Ele contou – Se descobrirem que eu te deixei ressuscitar, ao invés de reencarnar, eu estarei MUITO encrencado.

- Eu entendo. – Ela falou, empolgada.

- Tudo bem. E onde você quer voltar? – Edin perguntou – No penhasco? No vilarejo?

- Não. – Tae respondeu – Eu quero ressuscitar no local onde Zero estiver, onde quer que seja. Posso?

- Desde que seja em Erna, você pode. – Disse – Bom, então vamos fazer isso de uma vez.

Ele puxou de seu bolso um pequeno frasco de vidro cheio de uma poção negra, e entregou a ela.

- É só desejar e beber.

“Zero”, ela pensou, de olhos fechados, e bebeu toda a poção do vidro. O gosto amargo invadiu sua boca, e ela sentiu frio. Então abriu os olhos.

E se viu parada em meio a uma floresta, que sabia ser muito longe da onde era seu vilarejo, e que talvez fosse muito longe até do continente de Arquimídia.

*********

- Alô! Elyos chamando Abacuc! – Chamou Hartwig, estalando os dedos na frente do rosto do amigo.

- Sério, Hartwig, não faz isso. É bem desagradável. – Disse Abacuc,
afastando a mão dele com um tapa.

- Oras! Mas o que mais eu posso fazer? Você não para de olhar para a Anna!

- Não posso fazer nada se ela é tão bonita. E aposto que eu não olho para ela mais tempo do que você olha para a Mizore...

- Ei! É melhor ninguém ousar olhar mais do que o necessário para a minha irmã! – Ameaçou Gordon, entrando na frente de Abacuc e Hartwig, bloqueando a visão dos dois, que estavam sentados na calçada, com Abacuc espiando para dentro da janela da casa de Anna, que ficava no outro lado da rua, onde a garota estava sentada em sua cama lendo.

- “Eu não posso fazer nada se ela é tão bonita” – Falou Hartwig em tom de falsete, o que lhe custou um soco muito bem dado no ombro, pela parte de Gordon. – Seu idiota! Ela nem está por perto!

Ele falou alto demais. Anna bruscamente parou de ler e foi até a janela, provavelmente para ver de onde o barulho vinha, e olhou fixamente para os três garotos.

- Boa tarde, Abacuc, Gordon e Hartwig – Ela cumprimentou.

- Anna! Que surpresa! Você... na sua casa!  - Abacuc improvisou.

- É! Poxa, Anna! O que você está fazendo na SUA CASA? Nossa... Nada mais faz sentido! – Hartwig e Gordon provocaram, rindo. Mas Anna apenas sorriu.

- É bom ver você também. – Ela disse, e fechou a cortina.

- Ah, que legal... Eu ODEIO vocês dois... – Falou Abacuc.

- Amigos são para isso. – Respondeu Gordon ainda rindo.

- Ei, ei! Alerta laranja! – Informou Hartwig, que tinha olhado para a esquerda.

- Mas que inferno sangrento é um alerta laranja? – Perguntou Abacuc.

- Sei lá, foi a primeira cor que me veio à mente. – Hartwig deu de ombros - Mas, para ser mais específico, a Von Crimson está vindo aí. Não façam movimentos bruscos ou contato visual...

- Maldade. – Gordon riu.

E os garotos se silenciaram, enquanto a sempre arrogante e distante Rey von Crimson se aproximava.

- Ei... Olha só. – Sussurrou Hartwig para Abacuc, e empurrou o amigo violentamente para o chão.

Rey parou.

Hartwig piscou para ele, sem que a garota visse, e o Abacuc entendeu o que ele queria, e teve de se segurar para não rir do plano.

- Seu idiota! – Ele falou alto, mas tomando cuidado para não gritar, e chamar mais uma vez a atenção de Anna. Se levantou e socou Hartwig.

Rey hesitou, e voltou a andar, embora num passo muito mais lento, olhando para eles de canto de olho.

- O único idiota aqui é você! – Hartwig retribuiu o soco.

Gordon, que também já tinha entendido o plano e incorporado um papel na encenação, respirou fundo.

- Não briguem, cabeças duras... – Então, ele olhou na direção de Rey – Ahn... Von Crimson, algum problema?

- O que? – Ela corou, e por um instante caiu de sua aparentemente inabalável pose. – Não... Nada errado!

E saiu andando rápido, para não dizer correndo.

Os três garotos caíram na gargalhada quando ela saiu de vista.

- Pelo visto ela esconde muita coisa. – Comentou Abacuc.

- Dizem – Hartwig começou a contar, tentando parar de rir – que ela sofreu uma maldição que a deixou com dupla personalidade, e que ela tenta esconder a segunda.

Gordon e Abacuc fizeram pouco caso.

- TODO MUNDO conhece essa história, Hartwig. É lenda urbana. – Disse Gordon.

- Pode até ser. Mas que parece, parece.

- De fato. – Gordon admitiu.

- Eu sei quem deveria saber a verdade. – Falou Abacuc.

- Outra pessoa que deve esconder muita coisa. Se é que está
vivo. – Hartwig respondeu. Não foi necessário Abacuc fazer menção ao nome de Dio para os amigos entenderem de quem ele falava.

- Tem gente que é muito estranha... – Comentou Gordon.

- Se é...

*********

- Vermécia é um continente bem bonito... – Disse Dio, desinteressado.

- Certamente. E tem monstros muito mais fracos que os outros continentes. – Concordou seu mordomo Alfred.

- Que país é aqui? Serdin? – Ele perguntou.

- Não. Você não se lembra, senhor, de quando passamos pelos arredores do muro de Serdin? Aqui já é Canaban.

- É verdade. – Dio suspirou, entediado. Não importava o quanto eles andassem, em Erna todas as pessoas pareciam muito iguais, os lugares pareciam muito iguais. Era tudo tão enjoativo e entediante... E a cidade que eles atravessavam no momento não parecia muito melhor que o resto do mundo.

Mas então, repentinamente, algo quebrou o normal. Uma garotinha de cabelos verdes passou correndo, gritando:

- A Guerra Mágica acabou! Calnat venceu!

- O quê?! – Perguntavam as pessoas por quem ela passava, incrédulas.

- O quê?! – Dio perguntou, em tom baixo.  

- Leiam no jornal! – Ela gritava – Está no jornal urgente!

- Onde arranjo um jornal? – Perguntou Dio, franzindo a testa.

Mas ele não precisou de um jornal para saber mais da história, pois logo ele ficou sabendo de ouvir as conversas dos humanos a sua volta, que tinham lido.

- ... Parece que todos os asmodianos que lutavam foram expulsos de volta para a dimensão deles...

- ... Calnat ganhou com uma grande vantagem, e os portais que ligam as duas dimensões foram selados permanentemente...

Parecia que eles teriam assunto para falar o milênio inteiro. Mas então aconteceu algo que renderia muito mais assunto: Um outro garoto surgiu também correndo e anunciando aos gritos:

- Calnat sofreu o ataque de uma bomba atômica! Não houve sobreviventes! Calnat não existe mais!


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Notas finais do capítulo

(*Nota da escritora Para ninguém pensar: Como assim muitos anos? No começo do capítulo está dizendo que foram-se apenas dois!, quero deixar claro que eu disse que foram dois anos asmodianos, que equivalem a muitos e muitos anos humanos, e que em Hades pelo menos nessa história eles contam o tempo pelos padrões humanos.)
Pois é... Eles já tem quinze anos... O tempo passou, não é? Rs, no começo da história eles tinham apenas sete.
E, bem, voltei com a história do Zero e da Tae porque eu realmente gostei dela. E é só! Espero que tenham gostado, e até o próximo capítulo!



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