Lembre-se De Mim escrita por Tsuki Hikari


Capítulo 14
Desencontros


Notas iniciais do capítulo

Então... Vou dar uma resumida das minhas últimas semanas: Eu estou tendo de resolver problemas como uma louca, uns 3.000 trabalhos para entregar, e eu ainda estava numa contradição séria sobre a história, que me fez perder muito tempo só no rascunho do capítulo, sem conseguir escrever algo, realmente.
Mas agora eu consegui, e pelo menos uma coisa em minha vida - o capítulo - está em ordem, é o capítulo mais comprido até agora, e o primeiro a passar de 2.000 palavras, e não creio que irá decepcioná-los.
Portanto, boa leitura!



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No dia seguinte...

Apesar de Dio ter passado a noite deitado em sua cama, não
conseguiu dormir nem por um momento. Ele pensava em muita coisa.

Iria para a dimensão de Erna de manhã cedo. Eram quantas suas
chances de sobreviver por mais que alguns dias? Cinco por cento, talvez? De uma maneira ou de outra ele estava convicto a cair lutando.

E contra o que ele teria de lutar, afinal? Humanos que o veriam como inimigo? Asmodianos que saberiam que ele era um profano? Os
monstros que estavam espalhados por todo o mundo? Os três?

Apesar de não ter dormido, a noite passou rápido, rápido até
demais, e logo bateram na porta de seu quarto avisando-o para acordar (não precisou), se arrumar e ir comer algo, e mandando-o se apressar, porque tinha de sair o mais depressa possível. Dio não entendeu o motivo da pressa, mas decidiu que preferia mesmo não saber.

Ele se levantou, se vestiu rapidamente e desceu para a sala de jantar para tomar o café da manhã.

Seus pais já o esperavam para comer, e conversavam baixo, praticamente em sussurros. Quando Dio entrou no aposento, a conversa cessou imediatamente.

– Bom dia, querido – Cumprimentou a mãe, lhe sorrindo, embora
não parecesse exatamente alegre.

– Oi – Ele respondeu, e se sentou à mesa.

– Dio, hoje você precisa comer direito – Seu pai já foi avisando. Dio geralmente não comia muito logo depois de acordar.

– Com “direito” você quer dizer “bastante” ou “igual gente”?

Ele suspirou.

– Ambos.

Dio fez uma careta.

– Se é minha última refeição aqui, deixem-me pelo menos comer
do jeito que eu quero!

Seus pais não fizeram objeções sobre isso. Mas, durante todo
o tempo enquanto comiam, ficaram dando avisos e todo tipo de recomendação para o filho sobre a viagem à Erna. Quando o café da manhã acabou, a mãe gritou por Alfred e Sebastian.

O mordomo e o serviçal chegaram rapidamente.

– Aaaah! Eu tenho mesmo de ir com eles? – Dio reclamou.

– Claro! Não somos loucos de mandá-lo sozinho!

– Que chatice! – Ele olhou para os empregados – Não sei como
vocês concordaram com isso.

– Dio! – Repreendeu a mãe dele, rigidamente, mas pareceu
pensar melhor e esquecer a bronca.

– Tudo bem, esquece. Desculpa. – Dio disse. Era melhor mesmo
tentar não brigar com sua família, afinal, talvez fosse a última vez em que ele a veria.

– Certo. Agora você precisa ir. – O pai olhava pela janela
apreensivo. O dia estava clareando cada vez mais. – Sabe ir até o portal, não é?

– Sei. Vocês falaram umas quinhentas vezes...

– Boa sorte, Dio. – A mãe levantou e abraçou-o.

– É, eu vou ficar legal. – Dio deu de ombros. – Vamos. – Ele fez sinal para Alfred e Sebastian seguirem-no, e com um último aceno aos seus pais, saiu de sua casa.

Ainda não havia alguém na rua. Eles andaram durante uns vinte
minutos, até chegarem à floresta que cercava a “cidade” onde eles moravam. Então entraram e foram até uma espécie de duas árvores cujos galhos se encontravam, formando um arco.

– Miji tkoo meyeriah. – Ele disse as palavras que, no asmodiano antigo, abriam portais específicos para outras dimensões. De fato,
depois que Dio pronunciou-as, a parte de dentro do arco começou a brilhar. – Bom, lá vamos nós.

E com essas últimas palavras, atravessou o arco sem hesitar.

*********

Poucas horas depois...

Naquele dia, Rey acordou muito agitada. Se arrumou e tomou o café da manhã apressadamente, e logo quando acabou, levantou-se e foi em direção à porta, dizendo um mísero “adeus”.

– Eu não me lembro de ter dito que você podia ir sozinha... – Seu pai disse, antes que ela pudesse sair.

Rey parou.

– É verdade... Nesse caso... Mary! – Ao ser chamada, Mary Bastião, a cadela de Rey que estava deitada ao lado da porta de entrada se levantou e foi em direção à dona – Você vem comigo, então.

– Você sabe que não foi isso que eu quis dizer. – Peter repreendeu. – O James vai com você.

Ela revirou os olhos.

– Tudo bem. Mary, fica. James!

Mary grunhiu e voltou para o lugar onde estava antes de ser chamada. Logo depois, o mordomo James chegou.

– Sim?

– Vou sair. Vinde comigo. – Rey ordenou.

– Pois não, madame.

Agora eu posso ir, papai?

– Ah, agora sim. Pode ir. Tome cuidado. – Peter avisou.

– Não se preocupe. – Ela respondeu, mas continuou parada, esperando ele falar mais. Mas isso não aconteceu.

“Fácil demais...”, Rey pensou, “Que estranho...”.

Mas então ela deu um novo adeus e saiu.

Foi mágico. Em sua vida inteira, ela só viu como as coisas eram por fora da casa dela pelas janelas. Era como um quadro cujo alguns elementos se mexiam. Iam embora e voltavam. E quando ela saiu de casa, foi como se ela tivesse entrado em seu quadro.

Ela sorriu. Aquele, com certeza, haveria de ser o melhor dia de toda sua vida. Foi então que ela pensou em algo que a fez se sentir grata ao seu pai por tê-la feito ir com o mordomo.

– James, onde fica a casa do Dio? – Ela tinha esquecido completamente de que, uma vez fora de sua casa, ficaria absolutamente perdida em relação à localização dos lugares, visto que nunca antes havia saído.

– Por aqui, milady... – Ele começou a andar para longe da mansão, e Rey foi pouco atrás dele.

Ela estava fascinada. Ela nunca via coisas diferentes: Eram sempre as mesmas pessoas, os mesmo lugares. Conforme o tempo passara, ela tinha até se conformado em nunca ver mais do que aquilo. Mas ela não imaginara que o resto do mundo era tão legal e bonito.

Eles caminharam por algum tempo, que pareceu incrivelmente curto, pois Rey estava tão entretida com as coisas à sua volta que sequer reparou que o tempo estava passando. Mas então, de repente, James parou de andar.

– Esta é a mansão Von Burning. Ou como a madame deve chamar, a casa de Dio. – Ele contou, apontando para uma bela mansão logo à frente deles.

O coração de Rey bateu mais forte. Ela respirou fundo e foi em direção à porta de entrada. Ao chegar lá, ela bateu.

Os segundos que se seguiram foram tão longos que pareceram bem mais compridos que o caminho inteiro até lá. Mas, por fim, atenderam a porta.

Ela esperava que algum criado atendesse, e se surpreendeu ao ver a Sra. Von Burning do outro lado. Ela olhou para Rey, e por um instante, a examinou de maneira não muito agradável.

– Rey Von Crimson? – Ela perguntou, para a surpresa da garota, que de jeito algum esperava que a mulher a reconhecesse.

– Sim, Sra. Von Burning. Bom-dia. O Dio está? – Ela perguntou educadamente, reprimindo o impulso de entrar correndo na casa e ir procurá-lo por si mesma. Esse tipo de impulso, que antes seque existia, se tornou bem frequente após o ritual.

– Dio? Ah, não, não está. – Ela respondeu. Havia algo no ar que não estava agradando à Rey nem um pouco.

– Ah. Mas ele volta logo?

– Ele não voltará.

O choque da notícia foi tão violento que por um segundo ela se esqueceu de respirar. “Deve haver algum mal-entendido...”, ela tentou se convencer, “Não, não... Com certeza deve haver algum mal-entendido. Como ele pode ter ido a algum lugar para não voltar mais?”.

– Perdoe-me, Sra. Von Burning, mas disseste que Dio não voltará para casa? Nunca mais?

– Exatamente. Ele foi para Erna.

Não, não havia mal-entendido. Rey piscou para afastar as lágrimas que repentinamente lhe vieram aos olhos.

– Para Erna? Por quê?

– Porque ele pensava que você estava morta. – A Sra. Von Burning contou em tom sereno – E quando descobriu que estava viva, há não muito tempo, foi embora imediatamente. Sabe, ele pensou que tinha
se livrado de você.

– Ele foi embora... Por que não queria me ver? – Lágrimas de
raiva se misturaram às lágrimas de tristeza e de decepção, e todas elas
começaram a escapar dos olhos da garota e a rolarem por seu rosto.

A Sra.  Von Burning assentiu uma vez.

– Madame, acalme-se... – Ela ouviu James dizer atrás dela, mas era impossível se acalmar. Seu corpo inteiro tremia de raiva e ela se sentia absolutamente infeliz.

– Cale-se! – Rey gritou, e então tentou enxugar as lágrimas com a costa da mão – Me deixe em paz! E não me siga!

Ela estava agindo sem pensar. Só queria ficar sozinha, e então deu as costas ao mordomo e à Sra.  Von Burning e saiu de lá apressadamente, na direção oposta à sua casa, se teletransportando para que ficasse realmente impossível que James a seguisse.

E ela não parou até que chegou a uma floresta. Era perfeito. Ninguém a perturbaria lá. Então, ela entrou. Não foi muito longe – apenas o suficiente que ninguém que passasse por lá a visse. E, uma vez lá dentro, Rey se sentou embaixo de uma árvore, enterrou o rosto nas mãos e começou a chorar de verdade.

E, após um longo tempo chorando, algo a interrompeu. Vozes. Ela engoliu o choro para escutar.

– É sério, Gordon, acho que a gente deveria sair daqui... – Uma voz
feminina disse.

– Por que, Mizore? Está com medinho? – Uma voz masculina respondeu.

– Não! Devíamos sair porque a mamãe vive dizendo para nunca entrarmos na Floresta das Sombras! – A voz feminina, da garota chamada Mizore, se defendeu.

– Eu acho que você está é com medo! – A voz masculina, do garoto chamado Gordon, zombou, rindo – Mas, eu juro pela minha vida, eu ouvi um choro vindo daqui de dentro! Talvez seja um fantasma...

– Você quer é me assustar, com essa conversa de fantasma! Você é tão bobo...

– E como você se sente sendo parente de um bobo? – A voz de Gordon perguntou marotamente.

– Ah, a gente não escolhe a família... – Mizore ia falando, quando de repente ela e o garoto entraram no campo de visão de Rey.

Eles eram incrivelmente parecidos. Ambos tinham cabelos loiros claros e lisos, apesar de o do garoto ser bem curto e o da garota ser muito comprido, chegando até a cintura. O que mais chamava atenção na aparência deles eram seus olhos – O esquerdo era azul, e direito
amarelo. Tudo – da aparência deles até a conversa que vinham tendo – apontava que eles eram irmãos.

Mizore foi a primeira a avistar Rey, e ao fazê-lo, se sobressaltou. Ela estava pensando que a conversa do “choro vindo da floresta” de Gordon fosse apenas invenção dele para assustá-la, provavelmente.

– Oh! – Ela deixou escapar.

– O quê? – Gordon, que ainda não tinha visto Rey, seguiu o olhar da irmã e então deu um sorriso triunfante – Eu falei!

Rey não estava contente e nem com vontade de conversar. Ela se levantou e começou a se afastar, irritadíssima com os dois, pelo simples fato de terem aparecido naquele momento em que tudo que ela queria era paz.

– Ei, espera! – Ela ouviu a menina gritar, mas nem ligou. – Você é nova por aqui?!

Então Rey parou de andar. “Nova por aqui”. Ela morou no mesmo lugar a vida inteira, e então chegou alguém perguntando a ela se era nova por lá. Por algum motivo, isso a deixou ainda mais frustrada. Ela engoliu o choro e se virou com a melhor expressão de confiança que pôde fazer.

– Eu não sou nova. Eu sou Rey Von Crimson.

Eles arregalaram os olhos.

– Isso não é sério, é? – Gordon perguntou, perplexo.

– Por que eu mentiria? – Rey respondeu com desprezo.

– Prove! – Ele pediu, cruzando os braços.

Ela revirou os olhos, mas seria divertido ver a expressão do garoto após ela provar que realmente era quem dizia ser, e por isso fez a primeira coisa que lhe veio à mente: Criou, com a mão, uma bola de energia roxa e em seguida arremessou-a contra uma árvore próxima. A árvore começou a queimar em um fogo roxo, que não se espalhou para
outras árvores, e o fogo só se apagou quando a árvore inteira foi reduzida a pó.

Embasbacados, nenhum dos dois falou algo por um longo momento, mas por fim Gordon exclamou, na defensiva:

– Desculpa, então!

– Olhe, não que eu ainda esteja duvidando... – Mizore falou, parecendo estar escolhendo cada palavra – Mas, isso é bem estranho. Rey Von Crimson nunca saiu de casa. Portanto, como pode estar aqui agora?

– Não pretendo ficar trancada em casa, sem jamais sair, nunca mais. Eu prefiro não falar sobre meus motivos por ter passado todo esse tempo isolada do mundo – E ela não só preferia como estava estritamente proibida de falar sobre eles -, mas agora... Isso acabou, está bem?

– Certo... – Mizore respondeu – Ah, eu quase me esqueci. Eu sou Mizore Yamung, e esse é o meu irmão Gordon. Ei, você conhece o Dio, não é? O Gord é amigo dele.

– Nada disso! – Gordon corrigiu no mesmo instante em que a frase foi concluída – Eu não sou amigo dele coisa nenhuma. Quero dizer, até era, antes de ele virar um idiota...

– NÃO FALEM DE DIO! – Rey exclamou, provavelmente de uma maneira mais ríspida do que deveria, mas ainda estava se sentindo tão magoada que o nome dele machucava.

– Desculpa! – Ele ergueu às mãos abertas – Não falarei mais!

– Rey – Mizore arriscou dar um passo a frente, e estendeu uma mão – Você não parece muito bem. Vem com a gente. Podemos ser amigas, não é?

Ela pensou na proposta, mas por fim recusou. Não foi por arrogância, e nem por maldade. A questão era que o único amigo que ela tivera a vida inteira a abandonara de um jeito horrível. Ela não se sentia bem para fazer uma nova amizade. E ela também já não se conhecia tão
bem quanto a alguns meses antes. Ela se sentia – e realmente estava – muito mudada desde o ritual, e fazia de tudo para manter em segredo alguns hábitos e gostos que adquirira, mas se ela começasse a andar com outras pessoas tão cedo, provavelmente tudo logo viria à tona.

Depois de ter chorado tanto naquele dia, ela se sentia cansada. Então, se despediu dos irmãos Yamung, e começou a voltar para casa andando lentamente (tinha gravado o caminho, graças à sua excelente
memória). E, além de tudo, ela sabia que, quando chegasse, teria de aguentar uma longa bronca de seu pai por ter descumprido sua ordem e saído sem James.

Será que um dia as coisas ficariam mais fáceis?


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Notas finais do capítulo

A vida não é fanfiction - Respeite a natureza e não queime árvores ;D.
Enfim, até o próximo capítulo, companheiros...



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