O Sequestro escrita por Lívia Black


Capítulo 9
Capítulo 8 - A colisão.


Notas iniciais do capítulo

Awn, vocês são uns anjinhos! Fico feliz que não tenham desistido de os! Tá aqui o cap, que constou com uma enorme ajudinha da Mari! Espero que vocês gostem!



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Capítulo 8 – A colisão.

“Você colide, enquanto o ar se abastece de verdades que preferem ser não ditas.”

-Vamos lá, Atena!!!  - Ele reclamou, pela vigésima terceira vez, enquanto Atena balançava a cabeça de um lado para o outro, se recusando insistentemente em cumprir a ordem nojenta (ou seja, trocar os lençóis) e permanecia parada com os braços cruzados, e uma expressão rude, diante da cama desarrumada. -Você é mais lerda que uma minhoca de muletas!

Pela primeira vez, desde que entraram no luxuoso quarto, ela desviou os olhos para ele, que emanava irritação, ao seu lado.

-Minhocas não poderiam usar muletas, seu nematódeo de sinapses afetadas,uma vez que elas não tem membros – ela explicou,como se dissesse a alguma criança que um mais um são dois,e não cinco.

-Olha aqui. –Ele nem parou para pensar no que ela estava dizendo, e seu tom de voz obrigou-a a olhar para o verde quase fosforescente de seus olhos. -A minha paciência já está ficando mais curta que esse seu uniforme, então é melhor você se apressar. Não tem nada demais em recolher a porra dos meus lençóis!

Atena ficou estática, então arregalou os olhos e descruzou os braços, enquanto seu rosto se contorcia numa expressão de quem está prestes a vomitar.

-ARRGGGGH!

Ele não entendeu a principio toda a manifestação de nojo da rival, mas depois que analisou a frase mentalmente, teve que forçar para não rir dela.

-Foi só um jeito de falar! Eu quis dizer, na verdade, esses lençóis malditos. Compreende, Rainha Sabe-tudo? E não que tem porra neles e que você precisa recolhê-la! –Aí, ele teve de rir da cara de repulsa que Atena fez. Era uma mescla de tantas coisas que chegava a ser multi-hilária. E então ele assumiu uma expressão séria. -Se bem que, depois de ontem, talvez...

-NÃO CONTINUE ESSA SENTENÇA SE VOCÊ TEM AMOR À SUA LÍNGUA!!!! –Ela protestou, num átimo de desespero óbvio.Estava claramente explícito o modo com que ela tentava se controlar e não pular no pescoço do deus,somente para depois poder arrancar a cabeça dele com as próprias mãos.

-Tá ok... Não que eu tenha medo de qualquer coisa ridícula que você possa tentar fazer, mas quanto mais ficamos conversando, mais eu perco meu tempo. –Ela pensou em dizer alguma coisa sobre como ele deveria sim, ter medo dela, mas as palavras foram morrendo em seus lábios, enquanto encarava sua pose de vencedor, e percebia que, infelizmente, sua situação não era nada favorável.Mais uma vez,ela amaldiçoou o maldito Poseidon,a maldita bolha e a maldita situação.Pelo que parecia,amaldiçoar coisas malditas estava se tornando parte da rotina.  -Anda logo. É só substituí-los. –Ele a apressou.

-Poseidon, eu não posso trocar esses lençóis. –Por um instante, ele até sentiu dó da cara de piedade, que ela mal se dava conta de que estava fazendo. – Eu não posso tocar  nesses lençóis. Eles são tão...repulsivos!

-Não tem nada de repulsivo, eu posso garantir. São branquinhos, fofinhos e com um pouquinho de mim. –Do jeito que ele falava, eles quase pareciam realmente adoráveis, como um tipo de ursinho ou coelhinho de pelúcia rosa-bebê com olhinhos pidões e um sorrisinho meigo.-Você dormiu neles, ontem. –Ele fez questão de lembrá-la, com um sorriso sugestivo.

-Ugh. –Atena balançou os ombros, como se tivesse tido um espasmo. -Não havia “um pouco de você”, ontem. –Ela afirmou, com a voz mais segura que conseguiu produzir. Infelizmente,não conseguiu proibir o seu corpo de tremular levemente, quando passou pela sua cabeça que, talvez, tivesse sim um pouco dele ali ontem.

O sorriso dele se alargou, dessa vez com um toque nada confiável de malícia. 

-Quem te disse que não? – ele perguntou,exatamente com aquela cara de uma criança levada quando é apanhada assaltando o pote de biscoitos,estreitando os olhos de um jeito quase meigo –foco no “quase” - e sorrindo bobamente,muito embora ela tivesse a certeza que nenhuma criança no universo sorriria daquele jeito tão petulantemente safado.

Atena até se afastou um pouco dele depois dessa.

-Você não ousaria...

-Não há nada que eu não ouse,empregada. Eu sou um deus. –Ela claramente se ofendeu com aquela rude colocação, mas tudo que fez foi crispar os lábios, evidenciando desprezo. - E há sempre um pouco de mim nos meus lençóis. Afinal, eu durmo neles.- Ele retrucou quase indignado,como uma criança birrenta.

-Ok, isso quer dizer que não tem nada além da sua baba nojenta neles, não é...? –Perguntou a loira, de repente assumindo um tom de voz esperançoso.

-Hm.

-ARRGHHH! -Aquela mera hesitação maléfica valia mais do que 20.000 palavras.- Você me causa sérias ânsias de vômito! O que diabo se passa na sua cabeça para fazer uma coisa dessas?! Além da sua crescente vontade de me ver sofrer de repulsa?

-Ahh, você quer saber no que eu estava pensando? –Ele abriu um sorriso de excitação enquanto ela assentia, mais ou menos, com a cabeça. -Hm, veja bem...Ontem à noite eu fiquei imaginando loiras com seios voluptuosos e pernas sensuais que saiam do banho e, ao invés de ficarem se comprimindo em toalhas, faziam um delicioso strip,só para mim.  –Ele revelou, enquanto ela o olhava como se ele fosse um ser de outro planeta, com seu cérebro genial nem um pouco apto para fazer a associação. Na verdade,ela estava a ponto de debochar mais uma vez da capacidade de compreensão dele – uma vez que o que ela queria saber era com o que ele estava na cabeça para mandá-la trocar os lençóis depois desse tipo de insinuação -,mas,ainda que um pouco atrasada, a conexão finalmente foi feita, infelizmente de forma incompleta.

-ECAAAAA! Você devia pensar duas vezes antes de ser tão desrespeitoso com a sua esposa e ficar imaginando vadias ridículas.

Ele teve se controlar para não se contorcer e gargalhar no chão, quando ela mesma, sem perceber, estava se denominando de vadia ridícula. E só o que lhe deu essa força de vontade, foi ela tocar em um assunto em que ele detestava discutir com as pessoas. Ou seja, Anfitrite.

-Você sabe que Anfitrite foi capturada por Oceano durante a Guerra e nunca mais foi encontrada. Foi o boato interminável durante meses no Olimpo. Ou seja, eu não tenho mais esposa. E posso pensar em quem eu quiser. Inclusive em vadias ridículas loiras -  ele enfatizou,tendo de fazer uma enorme força para não começar a gargalhar quando, de novo,ela não associou.Se o tivesse feito,provavelmente já o estaria atacando com o abajur ou algo assim.

Atena não deixou de reparar que ele tocou no assunto de maneira natural, e não de maneira irritada, como sempre diziam que ele fazia ao falar da ex-esposa sequestrada. Era quase como se ele não ligasse mais para o assunto, e até estivesse feliz com o decorrer das coisas.

-Você quis dizer fantasiar. É bem diferente de pensar. E eu continuo achando ridícula essa sua falta de respeito, onde quer que ela esteja. –Não que, por alguma razão, Atena se importasse que ele não ligasse para Anfitrite.

-Eu nunca gostei mesmo dela.

-Ahn... –Ela ficou um pouco desconcertada com essa afirmação. - Então porque se casou? – em Atenalândia,não havia outro motivo para o casamento que não o amor puro, verdadeiro e, de preferência, não-carnal.

-Sexo fácil, talvez... –Ele disse, de maneira despojada, com um sorrisinho perverso de canto de lábio que até fez ficar estática por alguns segundos. – só tirando uma com a sua cara, Atena! –Ele teve de rir da cara que ela fez, uma mistura de brava com confusa. - Eu pensei que gostasse dela, mas depois que a conheci melhor, percebi que nunca senti nada de verdade.

-Hmmm. Então, quem foi o seu Grande Amor? -  o tom com que ela pronunciava essas palavras era quase sonhador.

A pergunta pairou no ar por uns bons minutos, parecendo carregar o ar com tensão.

-Achei que me achasse um ser “desprovido desse tipo de capacidade”. –Poseidon afirmou, por fim, quase desafiando-a a assumir que mudara de opinião.

Atena, sem saber explicar, corou, e balançou os ombros, meio desajeitada.

-Bem, até os animais amam, então...A essência de Afrodite pode estar presente também nos mais improváveis casos. – Foi a justificativa mais provável que ela conseguiu encontrar para expressar que de repente, por algum motivo, percebeu que ele poderia ser capaz de amar.Mesmo que a um nível mínimo e muito próximo ao insignificante,mas ainda assim era alguma coisa. - Foi a mãe de Percy? Sally?

-Você sabe o nome dela?!

A loira revirou os olhos com o claro espanto do Deus dos Mares.

-Por mais desprazerosa que seja a situação, Annabeth ama o seu filho, Poseidon. Então, eu tive de saber algumas pequenas coisas sobre ele. – claro que era por isso. Atena era e sempre seria uma mãe-coruja.Sem trocadilhos com a expressão.

Ele a observou, pensativo. Ela não sabia o que achava daquele olhar, mas ele estava fixo por um momento, e se desviou pouquíssimo tempo depois.

-Não. –O vocábulo beirou a um breve tom de voz de hesitação.

-Ahn?

-Eu não a amava também. Foi uma paixão momentânea. –Ele explicou para Atena, algo que achou que talvez ela não pudesse entender muito bem, mas que não deixava de ser a realidade.

-Ah. –Ela bagunçou os cabelos, parecendo indecisa do que dizer sobre o assunto.

-E você?

Ele a surpreendeu quando fez a pergunta. Era óbvia, não era?

-Eu sou uma das Deusas Donzelas, Poseidon. –Ela disse. E quase teve de reprimir um suspiro em meio ao ato.

-E daí? –Ele deu de ombros. -Por acaso isso te faz incapaz de ter sentimentos?

-É claro que não. Contudo, acho que sempre tentei evitar... 

-Mas por quê? –Ele insistiu, movimentando os braços e se aproximando dela numa irrefreável curiosidade manifesta claramente no tom de cor que seus olhos estavam. Um verde escuro,quase cor de musgo. -Por que alguém iria querer isso? Por que você quis isso, Atena?

-Eu...Eu...Não sei,ahn,exatamente. –A loira gaguejou, e parecia ser evidente que ela estava mentindo. Que ela sabia a razão, mas não era algo que ela se sentisse a vontade para falar.

-Você não é uma esquizofrênica psicótica como Ártemis. –Ele suspirou. - Com certeza, teve algum motivo.Qualquer motivo.

-Não. –Atena negou de imediato, tentando disfarçar assim seu nervosismo por ele estar a confrontando tão insistentemente sobre assuntos que ela não gostava de discutir. -Eu apenas considerei certas coisas como prioridade. Só isso. Por que tanta curiosidade?

-Você quem começou. Eu é que lhe pergunto.

-Estava tentando adiar o trágico momento em que você me obrigaria a tocar nesses lençóis nojentos.

-Bem, saiba que não foi lá muito esperto ter contado sua tática, uma vez que agora eu não vou mais me distrair e você vai ter que tocar nos meus lençóis fofinhos e adoráveis. – Ele sabia, xingar os pequenos deslizes de Atena a deixava extremamente irritada.Não pôde conter um sorrisinho quando viu que atingira o objetivo.Ela estava tão absorta em sentir raiva dele pelo comentário sobre sua pequena falha técnica que nem sequer notara que ele admitira que ficara distraído. Ainda bem.

-Alguém já lhe disse hoje que você é um acéfalo repugnante e ridículo, Poseidon?

-Não me lembro de você já ter usado essa combinação de adjetivos, Ateninha – quanto mais os lábios dela se crispavam, mais abertamente ele sorria – Se bem que eu não faço o esforço de guardar na memória todos esses nomes com os quais você me chama, uma vez que eles não são suficientemente importantes para ocupar espaço no meu cérebro. Agora, empregada, troque esses lençóis!

Atena, muito a contragosto, virou-se para a cama, enquanto murmurava consigo mesma algo como “talvez você não os guarde porque cérebro é um requisito essencial para armazenar fatos”. Ela ainda hesitou antes de tocar nos lençóis, virando-se para onde Poseidon a encarava com uma expressão de semi-desespero no rosto. Ele quase teve pena dela. Quase. De modo que apenas acenou com a cabeça na direção dos lençóis, se segurando para não rir antecipadamente à reação dela.

Atena tinha a certeza que,se tivesse que usar apenas uma palavra para descrever o momento, ela seria “asco”. Usando apenas as pontas dos dedos, ela pegou na beirada do edredom azul-piscina com ondinhas brancas e verdes. Ele era daquele tipo fofinho, que, se não lhe falhasse a memória, era preenchido internamente com algodão. Fazendo um grande esforço para limitar ao máximo o seu contato com o tecido, ela o segurou pelas pontas e dobrou na metade uma vez, depois de novo e de novo.Quando achou que estava num tamanho suficientemente pequeno,o levou – ainda com todo o cuidado, como se segurasse algum tipo de material tóxico – para uma das cadeiras do quarto, onde ela o colocou e voltou até a cama para tirar, dessa vez, as fronhas dos quatro travesseiros.

Poseidon se escorou no dossel da cama,aguardando ansiosamente pelo grande momento. Inconscientemente, ela o tinha deixado para o fim, o que só o tornaria ainda mais especial, algo como uma surpresinha agradável e extremamente divertida. Enquanto isso, Atena analisava os travesseiros com seu olhar microscópico antes de tocá-los, procurando por qualquer vestígio potencialmente nojento – leia-se:qualquer mínimo fio de cabelo ou célula epitelial descamada de Poseidon. Não achando nenhum,  abaixou-se – com muito cuidado, para não subir acidentalmente a saia já curta demais – e repetiu o processo que executara nos edredons.

Finalmente, o momento tão esperado pelo deus chegara. Ela estava tirando o forro de baixo – que ele tomara o cuidado para que fosse branco, ou ele denunciaria o que Poseidon havia feito. Ele estava impaciente,ansioso ao extremo para ver a reação exagerada de Atena.

Mal ela tocou no lençol para dobrá-lo, sentiu alguma coisa úmida nas mãos. Infelizmente, as sinapses aconteceram rápido demais, de modo que a associação do que aquilo deveria ser não levou mais que frações de segundo.

-AAAAAAAAAAAAAAH!- Num reflexo que misturou susto, nojo, ira e raiva, ela deu um pulo para trás, enquanto soltava mais um grito ensurdecedor ao pensar em que havia acabado de tocar.

Ela só não contava com o fato que ele estava espiando por cima de seus ombros, estrategicamente colocado dois passos atrás dela. Assim, quando ela se afastou –no intuito de ir ao banheiro lavar as mãos por uns dois milênios, talvez-, acabou esbarrando com força nele, que, despreparado, não estava suficientemente equilibrado no chão, e não aguentou o peso subitamente arremessado em seu corpo.

Só o que se pôde ouvir depois foi o baque surdo equivalente alguma coisa pesada caindo no chão estrondosamente.

A pior parte foi quando Atena descobriu que sua queda não fora amortecida por um travesseiro, como ela imaginara de início. Era algo que não deixava de ser macio, porém bem mais consistente que o tal. E respirava. Respira ofegantemente. Contra sua nuca, aliás.


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Notas finais do capítulo

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