O Sequestro escrita por Lívia Black


Capítulo 7
Capítulo 6 - Acredite em mim, estou mentindo.


Notas iniciais do capítulo

Awwwn, thanks pelos comments do capítulo passado!
Me deixaram com os olhinhos brilhando! Agradeço de coração!
E obrigada por esperarem e talz, eu sei que demorei!
Vai acontecer bastante, infelizmente :/ por isso preciso de estímulos, não me abandonem, tá? ♥
Mari, te amo demais viu?



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Capítulo 6 - Acredite em mim, estou mentindo. 


"Porque as vezes mentir se torna algo extremamente necessário"  (Desconhecido)

Atena estava deitada no sofá de couro, com alguns cobertores macios azuis a aquecendo. As malas rosa-shocking estavam ao seu lado, alcançáveis se ela esticasse um pouco mais o braço direito. A temperatura estava um tanto gélida há dois mil metros de profundidade, e tudo soava incrivelmente escuro agora, com as luzes apagadas. As coisas estariam normais se não fosse o cheiro de mar e o silêncio oceânico, que quase a fazia sentir falta dos barulhos noturnos do Olimpo. Ela amava ficar sozinha, mas ficar sozinha ali, era uma sensação um tanto...Angustiante.

Bem, melhor ficar ali do que ficar no quarto, perto dele, ouvindo o som da respiração dele. Provavelmente acabaria o esganando em menos de dois segundos, depois do que tinha acontecido. Nunca havia brigado tanto antes com alguém em toda sua existência, como acontecera depois que ele vencera o maldito desafio. O que deveria ser um “boa noite” se transformara em “tomara que os lustres do teto desabem em cima de sua cabeça quando você estiver dormindo”.  Mas na verdade, Atena estava quase convicta de que não iria pegar no sono. Não com suas reflexões de como o caos acontecera surpreendentemente rápido. Em um piscar de olhos.

Ok, talvez o processo que se arrastara até ele tivesse levado cerca de alguns éons, mas o caos em si, acontecera em menos de míseras 24 horas. E saíra exatamente como ele planejara. Energúmeno desgraçado de olhos verdes desprezíveis! Grr...

Na verdade, o principal motivo de sua tormenta havia acontecido há menos de 3 horas. Começara com aquelas suas quatro amaldiçoadas palavras “Eu aceito o desafio” e só iria terminar depois que ele a torturasse, até que ela perdesse a razão, até que ela ajoelhasse diante dele e implorasse para que ele parasse de lhe pedir coisas que provavelmente a fariam querer cavar um buraco na terra e se alojar para sempre lá. Não queria, mais se arrependia um pouco de tê-lo irritado tanto...quer dizer, fora extremamente prazeroso, mas agora ele poderia descontar toda a raiva nesse dia, nesse miserável e horroroso dia, em que teria de ser sua, ugh, “empregada”. A palavra lhe causava náuseas. Ele poderia pedir qualquer coisa. Qualquer coisa.

Merda, onde estava com a cabeça quando foi aceitar aquela aposta? Culpa do Maldito Vinho Francês. Só podia ser aquele líquido pérfido! Mas...Pensando melhor...A culpa era de Poseidon. Como o Cabeça de Alga Execrável poderia saber tantas coisas sobre sua personalidade? Havia alguma coisa ali. Alguma coisa muito errada e suja. E ela iria descobrir. Com certeza iria. Só esperava que não fosse tarde demais, quando Poseidon já tivesse usado e abusado dela o quanto desejasse. Quer dizer, no bom sentido, ÓBVIO!

Grunhindo, e tentando espantar a imagem irritante dele da mente, Atena encarava o teto da Sala de Estar, aflita, e ansiosa por alguma coisa banal. Como se tivesse esperanças de que, de repente, aparecesse uma cratera ali, que a absorvesse e a resgatasse daquele local - daquele estupidamente desconfortável sofá de couro em que estava deitada- e lhe devolvesse a paz de espírito, a arrastando para sua casa. Mas infelizmente, logo ela, estava sendo tola de considerar que isso pudesse acontecer. Só não acreditava que ali, seus poderes pudessem ficar tão limitados, a ponto de não conseguir se locomover para nenhum lugar que não fosse dentro daquela horrorosa bolha –na verdade não era uma bolha, mas Atena preferia pensar que era uma, já que o deixava irritado.

Droga, o que iria fazer? Como suportaria o dia de amanhã depois de tudo que acontecera? Como faria ele ter sua boa e merecida vingança?...Ela estava perdida nessas dúvidas, quando, no momento menos esperado, desconectou-se e começou a sonhar... Teve um pesadelo...Sonhou que tinha sido sequestrada por Poseidon e que teria de dormir no sofá duro de couro dele...Ainda bem que era apenas um sonho...Ela queria achar que era apenas um sonho.

Mas o dia seguinte estaria lá, mais cedo do que ela esperava, para lhe comprovar que não.

~~’’~~

Atena acordou horrivelmente, sendo sacudida pelo braço. Jamais, em alguma ocasião, alguém tivera a empáfia de interromper seu adorável e relaxante sono dessa forma. Aliás, no Olimpo, ela fazia questão de se certificar de que as portas de seus aposentos estavam bem fechadas, antes de cair no sono. O que só podia significar que ela NÃO ESTAVA no Olimpo. Uma teoria que se confirmou assim que abriu lentamente seus olhos cinza e se deparou com uma cena, que para todas as mulheres do mundo seria extremamente maravilhosa, e para ela era no mínimo, uma calamidade imposta.

-Poseidon...-Murmurou a deusa, assim que o brilho feliz dos olhos verdes dele a atingiu e ela sentiu vontade de falar qualquer coisa que tirasse a alegria deles, mas, estava tão extremamente sonolenta que nem conseguiu dizer mais nada depois do nome. Fechou os olhos de novo e se aninhou mais contra o sofá, rezando para ser um sonho. Isso e mais as lembranças que vieram a sua mente quando acordou.

 A parte testosterônica da mente dele achou muito, muito sexy o fato dela murmurar seu nome, roucamente, como um gemido. Mas a outra ficou incrivelmente “p” por ela ter apenas murmurado a palavra, e virado a cabeça para a parte interna do sofá, como quem diz “me deixa em paz seu peixe energumenamente acéfalo.”

-ATENA! –Ele a sacudiu mais um pouco e praticamente berrou no ouvido dela, fazendo-a dar um salto de desespero no sofá, olhando de um lado para o outro, aturdida.

-Oi? O que foi? O que aconteceu? Tífon voltou? O Olimpo desmoronou? Os seres do Tártaro estão invadindo a Terra?

Poseidon ficou em dúvida entre rir da cara da inimiga, tão divertidamente atrapalhada, ou dar uma bronca nela por ficar enrolando.

-Hmmm, acho que você passou a fazer uso impróprio de algas contaminadas.

Ela mal tinha ânimo, mas olhou para ele, e revirou os olhos. Sua visão estava um tanto embaçada, e todo seu corpo implorava para que ela voltasse a dormir, mas pelas doses de ironia e maldade no timbre dele, ela concluiu que realmente, estava sendo obrigada a despertar. Esfregou os olhos e tirou os cabelos desgrenhados do rosto.

Só então olhou melhor para ele.

Foi inevitável corar ao reparar, que pela segunda vez desde que ocorrera o horrível incidente de ter sido raptada, ela o via desprovido das roupas da parte de cima do corpo. O que, por mais que fosse negado, era um tanto constrangedor. Além disso, infelizmente, ela tinha de admitir pelo menos para si mesma que ele não era, ahn... horrivelmente deformado como ela insistia em salientar todas as vezes que falava com ele. Mas isso não significava nada. Os deuses, em geral, costumavam ser assim, não era?

Tentou não encarar nem minimamente para não ter que ouvir nenhum comentariozinho sarcástico, e apenas continuou esfregando os olhos.

-Droga. Eu ainda estou morrendo de sono. – Reclamou a deusa.

O que, infelizmente, não o comoveu nem um pouquinho.

-É mesmo? Nem ligo. Mas eu acho bom você levantar esse seu traseiro ossudo do sofá nesse mesmo instante. Eu não posso perder nem mais um minuto com a sua preguiça. Hoje é o seu dia como minha empregada. Esqueceu? –Questionou Poseidon com um sorrisinho tão adorável quanto a sensação de ter ao seu lado hienas gargalhando.

Rosnou para ele.

-Não, Poseidon. Eu não me esqueci. -Afinal, como poderia esquecer? Quase nem dormira por causa do que aquele maldito dia lhe prometia. E parecia ser ruim demais vê-lo começar e não poder fazer nada para impedir. Sem saída, ela arremessou os cobertores para longe do corpo. –E a meus glúteos não são ossudos.

Ele murmurou qualquer coisa sobre ela gostar de se iludir, mas ela simplesmente o ignorou. Não era muito difícil considerando que de cada dez palavras que ele dizia, onze eram pura baboseira. 

-Você dormiu assim? –Ela mal se pôs de pé, e ele já estava perguntando, com os olhos arregalados, só para o fato de ela estar com a mesma calça jeans e blusa do dia anterior.

-Eu não podia correr o risco de me trocar aqui e ser espionada. Sem falar, que é praticamente fora de cogitação eu usufruir dessas roupas para dormir que sua amiguinha escolheu. E antes dormir assim, do que dormir assim. –Ela fez um leve aceno de cabeça para o corpo dele.

Ele apenas sorriu.

-O que foi? Irresistível demais para você suportar?

-Aham, claro. Bem isso mesmo. – Ela depositou o sarcasmo em cada sílaba. Algo que o fez dar de ombros.

-Ainda bem que admitiu. Mas agora chega de papear. São seis horas e eu quero aproveitar cada milésimo desse dia com você.

-Você disse que são que horas???!

-Seis.

Santo Zeus! Ele ainda tinha 18 horas para tortura-la completamente, e dava para ver no risinho feliz e debochado que seria ainda pior do que ela estava imaginando. E mesmo para ela, que já vivera por milênios, 18 horas parecia ser MUITA coisa. Ela trocaria sem hesitar um milênio para que aquelas seis horas não existissem.

-Ah, não... – Teve que murmurar, toda vencida. Se pudesse sair dali, engoliria o orgulho e se arremessaria nas profundezas do Tártaro só para que não ter que cumprir o castigo imposto pelo desafio.

-Ah, sim...!! Êeee! E o dia de “Atena é a empregada de Poseidon” começa oficialmente... agora! Antes de mais nada, quero que se arrume e vista isso. –Ela mal reparara que ele tinha uma sacola nas mãos, e agora estendia em sua direção esperando que a pegasse.

 Sem opções, e com ódio incontido, Atena a recolheu, e mordeu o lábio inferior antes de ver o conteúdo. Ah, se tinha sido ele quem havia escolhido com certeza boa coisa não podia ser. O mesmo se tivesse sido uma escolha da “amiguinha.”

Lentamente, tocou o tecido e foi puxando-o de dentro da sacola. Com nós na garganta, ela notou que não havia muito tecido, na verdade.

E quando puxou para ver, sentiu seu coração parar de bater. Literalmente mesmo.

A roupa de empregada não era, nem de longe, o tipo de roupa que empregadas costumavam usar de verdade. Aquilo, mesmo com seus propositalmente limitados conhecimentos sobre o assunto, com certeza, estava mais para artigo erótico da seção de vestimentas do sex-shop. Não conseguia nem ser um vestido, de tão curto e... sensual.Era todo preto,e a parte de cima tinha o que parecia ser uma espécie de espartilho,com um corpete propositalmente apertado e pequeno,e havia um decote enorme enfeitado com babadinhos e rendas chamativos bem típicos de Afrodite.A parte de baixo – se é que se poderia chamar aquilo de parte de baixo – era uma saia de pregas minúscula,que ela calculou que não cobriria mais do que um palmo abaixo dos quadris.Como se não bastasse,um avental branco com bordados,rendas,babados e fitinhas completava o “uniforme”.Ela sentiu calafrios percorrerem espasmodicamente sua espinha,enquanto tinha certeza de que seu rosto adquiria uma coloração extremamente próxima ao vermelho-pimentão enquanto segurava aqueles pedaços de tecido nas mãos.

Argh.

-Nunca, nem sob a pior espécie de tortura que sua mente consiga idealizar, eu vestirei isso, Cabeça de Alga...-Murmurou ela, entredentes. –ISSO É UM ABSURDO! É praticamente uma afronta!

Ele fez que não entendeu sua revolta, dando uma de confuso, com um semi-sorriso provocativo.

-Hmmm...Você não gostou?

Ela bufou, como se a resposta da pergunta fosse a coisa mais patética do universo. E realmente era.

Olhou mais uma vez para o suposto traje de empregada. Com MUITA ênfase no “suposto”.

Zeus, ela não conseguia nem projetar na mente uma imagem dela mesma vestindo aquela coisa lasciva.

-Prefiro mil vezes usar folhas de bananeira coladas uma nas outras do que essa coisa.

Ele forçou para não rir da aversão de Atena pelo traje, que em sua não tão humilde opinião, era tão, tão sexy, que parecia até preocupante o fato de Atena-virgem-puritana não ter começado a rasgá-lo, na perspectiva de ter de vesti-lo. E ela vestiria. Ela definitivamente vestiria.

Como era bom ver um sonho se realizando diante de seus próprios olhos.

-Hm...querida, caso você ainda não tenha percebido você não está em condições de preferir nada. Você é minha empregada, e vai vestir o que eu exigir. –Estúpido, por que sempre ficava fazendo questão de ressaltar a maldita palavra?! - Ou você vai descumprir sua promessa, e uma suposta Deusa da Justiça fazendo isso não parece muito politicamente correta, han?

-No acordo, eu não disse nada sobre ter de usar uniformes...De strippers.

Ele ficou até surpreso que Atena e toda sua castidade tivessem escolhido o termo mais correto possível para se referir ao uniforme. Mesmo que ela fizesse uma cara engraçada ao pronunciá-lo.

De fato, Afrodite tinha feito um bom trabalho.

-Mas concordou em ser a minha empregada, e se eu digo que você tem que usar o uniforme, você tem que obedecer. –Ela o olhou com uma nota de preocupação e aversão que quase inspirava piedade. Foco no “quase”.- Sinto muito, não fui eu quem escolhi. Mas é de um extremo bom gosto...Hmm...As coisas vão ficar interessantes por aqui. –Ele não conseguiu refrear a frase, enquanto sentia seu estomago se contorcer de excitação só pela perspectiva de debochar de Atena quando ela o vestisse. -Coloque-o.

-Mas eu não quero! –Só faltava ela cruzar os braços, fazer biquinho e bater o pé no chão.

-Eu estou mandando. Vá e obedeça.

Ela oscilou entre dizer um palavrão muito mal-educado e espancá-lo, e cumprir sua palavra, como pena da perda do Desafio. Foi se decidindo enquanto caminhava em direção as malas rosas, e tirava de lá alguns artigos para se arrumar para um dia que seria exaustivo, depois de uma noite conturbada. Ele a olhava com curiosidade, e quando ela tomou coragem suficiente para se aproximar, apenas rosnou.

-...Odeio você, Poseidon. Odeio muito, muito, muito, muito, você.

-Essa é a notícia mais velha da Tv Hefesto.Você devia atualizar,Atena – ele sorriu debochado.

Ele nunca soube se ela ficou tempo o suficiente para ouvir sua ironia, porque cinco segundos depois, e inteiramente a contragosto, Atena tinha corrido e se trancado em um pequeno banheiro da Sala de Estar, junto com o traje sexy e mais alguns cosméticos.

Por Hades! (Só porque Poseidon ainda preferia ele do que Zeus)

Então era isso. O plano estava dando certo. Pelo jeito, comprimindo o orgulho, dando ênfase aos xingamentos, e driblando a resistência, Atena estava obedecendo a suas ordens.

E cara, se ele ficasse mais ansioso por causa da expectativa de vê-la ceder e vestir a roupa, só para ele, de fato, acabaria explodindo. E até explodir não parecia tão ruim, quando tinha a ciência de que dali alguns minutos teria Atena vestindo um uniforme de stripper  pronta para fazer tudo que ele desejasse.

Ele realmente era um deus de sorte.

#&#

Oh, Zeus!

Ela era realmente uma deusa de azar.

Pela primeira vez tomar um banho bem quente, não havia feito a tensão desaparecer e escorrer junto com a água. Ela continuava lá, sobre seus ombros, fazendo-a respirar com dificuldade.

Se não fosse uma deusa imortal, provavelmente já teria morrido de nervosismo.

Bem, talvez fosse porque tivera de tomar um banho muito rápido, temendo que ele pudesse forçar a porta e entrar lá porque ela estava demorando. A essa altura do jogo ela não duvidava de mais nada. E mal saíra do chuveiro, e colocara alguns cremes no corpo, que conseguiu ouvir um grito um tanto distante, do outro lado da porta do banheiro.

-Está demorando demais!

Conseguiu reconhecer uma nota de impaciência no tom, e até gostou disso, mas logo se lembrou de que impaciente ele era capaz de tomar medidas drásticas, então ao invés de dar alguma resposta que pudesse deixá-lo ainda mais “p”, ela simplesmente tratou de refletir sobre o que iria fazer em seguida.

Tentar se enfiar no vaso sanitário e dar a descarga não parecia ser uma opção muito ruim. Se a sua sorte mudasse, ela quem sabe pudesse parar no Ministério da Magia. Afinal, para onde iriam as águas de um vaso no fundo do mar? Bem, de qualquer forma, qualquer lugar, parecia ser melhor do que um onde estivessem ela, ele, e um uniforme de empregada-stripper. Mas ele era bem capaz de ir atrás dela nas profundezas do vaso sanitário, se essa fosse a única forma de fazê-la cumprir as pendências entre eles.

Maldição!

Então era mesmo isso. Ela teria que vestir aquela, argh, coisa repulsiva. Na frente dele. Para ele.

Grrr...!

O processo não foi nem um pouco simples. Mesmo em seu corpo esguio, o vestido tinha a proeza de ficar justo, para ressaltar cada mínima curva de seu corpo. Teve que atar os nós do espartilho, e um grande laço branco nas costas, que até daria um ar de meiguice ao intuito erótico, se Atena não tivesse notado, com as sobrancelhas erguidas, que a armação do traje e o corpete faziam seus seios ganharem ainda mais volume, que não conseguia ser decentemente coberto pelo mínimo de tecido superior, super decotado. A parte debaixo era num estilo recheado, com camadas de tecido branco e preto, quase como aqueles vestidos antigos de princesas. Quer dizer, isso se ele não fosse tão extremamente curto que deixava suas pernas inteiramente expostas.

Ela conseguia corar de vergonha até para o espelho. Titica!

E além disso, ao vasculhar na sacola a procura de algo que pudesse minimamente salvá-la daquela humilhação, notou que também havia acessórios no traje: além do avental,uma espécie de gravatinha, negra, como quase todo o uniforme, que ela amarrou no pescoço, com um pouco de folga. Uma meia branca, que infelizmente só cobria até a altura de suas panturrilhas e uma sapatilha negra.

Se o decote não fosse tão enorme, os babados tão lascivos, e o cumprimento patético ela não ficaria tão infeliz em vestir aquilo. Até que tinha um caimento bom em seu corpo esguio. Ah, e é claro, se ela não tivesse que usá-lo na frente de Poseidon, também.

Determinada a acabar com aquilo de uma vez por todas, Atena desvirou a chave, e colocou a mão na maçaneta. A mão trêmula, por sinal.

Numa tentativa de se acalmar um pouco, lembrou-se de que qualquer deboche que ele fizesse, ela podia revidar a altura. E que não devia se afetar por qualquer comentário sarcástico.  Ser a, ugh, empregada dele não a impediria de retrucar como bem quisesse. Não mesmo.

E assim, respirando fundo umas cinco vezes consecutivas, ela saiu do banheiro. A cabeça erguida, a pose de quem nem está ligando para o que está vestindo. Ser uma boa atriz era uma das inúmeras qualidades de Atena.

Diferente de Poseidon, que quando ouviu o barulho da porta, deu um pulo no sofá digno de um gato a espreita de um balde d’água, mal conseguindo disfarçar e controlar seus ânimos. Ela mal caminhara até a sala e ele já depositava seus olhos, de uma forma desesperada, nela.

Ela tentou relevar, mas nem mesmo ela, com toda sua inocência conseguiu ignorar a forma com que ele passou a fitá-la. De repente, não era mais daquela forma arrogante, sarcástica e indiferente de sempre, pronto para acabar com ela.

Na verdade, era quase como se estivesse com fome...Os olhos dele corriam seu corpo com uma ousadia que até um... beijo teria sido menos íntimo.

De repente, até quis ouvir os deboches sobre como ela parecia ridícula e submissa, ao invés de ter que aguentar o peso daquele olhar.

Ela quase conseguia ouvir os estalos de seu rosto fritando de tão vermelho. E não conseguia deixar de pensar o quanto era idiota sentir isso porque um platelminto como ele estava a olhando. Talvez, ela estivesse imaginando coisas, e ele nem estava olhando depravadamente.  Sua mente estava projetando coisas doentias.

O que era um paradoxo, porque ela nunca, em hipótese alguma, teria uma mente doentia. Talvez a poluição e o depravamento de mentes fossem transmissíveis.

Até que, Graças a Zeus, ele pareceu ter sido arrancado de seu transe, e começou a sorrir de forma típica. Ela teve de suspirar de alívio com isso.

-Achei que não iria vestir. –Ele pontuou. E de fato, uma parte sua se recusava a crer que aquilo poderia acontecer. Era realmente impressionante vê-la vestida daquela forma. Ela nem sequer parecia a mesma Atena. E rezava (para qualquer um), para que ela não tivesse percebido que ele ficara um tanto babaca com ela vestindo aquilo.

Ela estava, muito, muito, muito...provocante, sensual e atraente. O uniforme caíra direitinho nela. Suas pernas estavam lisas e torneadas e o uniforme de empregada ressaltava curvas que ele nem conseguia imaginar que poderiam existir, sem falar do decote chamativo. Os cabelos dela estavam um tantinho molhados, e de longe ela conseguia cheirar a flores de um dia de primavera. Vestida daquela forma, e com as bochechas em um tom escarlate que a deixavam parecendo uma menininha inocente (o que de fato, ela era mesmo), Atena conseguia deixar qualquer um de quatro.

É claro que ele preferia abraçar Zeus e dizer “Te adolooo, maninho dos ares fofuxo” – sim,exatamente com a vozinha infantil adequada -  do que admitir isso em voz alta, mas tinha que levar em conta de que não estava em seu estado normal por pensar aquelas coisas. Ou melhor, estava sim, agindo como o homem que era. Afinal, Atena era uma deusa, e mesmo que preferisse perder sua imortalidade a dizer isso para ela, sabia que ela era muito atraente, e ficava praticamente irresistível enquanto não ficava tagarelando daquele seu jeito nerd, e se punha vestida como uma stripper, pronta para servi-lo. O que será que ela diria se ele pedisse para ela fazer de fato, um striptease? Bem, provavelmente ela lhe daria um bom tapa na cara, e além de tudo, ficaria egocêntrica. Ele não queria que ela notasse que ele a desejava.

Espera. Então, ele realmente a desejava? Do tipo, quero ver minha inimiga sem roupas e transar com ela? Ok. Isso era realmente demais para conseguir administrar. Inimigos não se desejam. E hipoteticamente, se ele de fato a desejasse, isso jamais seria recíproco, certo? O motivo que a mandara vestir aquela roupa era para debochar dela, deixá-la constrangida, e não porque ele realmente queria fantasiar com ela vestida daquele jeito.

Nah...Não dava para mentir para si mesmo. Ele a desejava. E daí? Não era como se pudesse controlar sua testosterona. Se pudesse, ordenaria que Atena fosse a última criatura do Universo que ele desejasse ficar. Mas não dava, e tudo que ele poderia fazer era apenas resistir a esses impulsos de espremê-la contra uma daquelas paredes e transformá-la num outro tipo de empregada. E tentar ignorar que eles estavam completamente sozinhos a dois mil metros de profundidade.

Ele ainda a odiava. É claro, sempre iria odiá-la. Talvez estivesse pensando tudo isso porque ela ainda não abrira a boca para dizer qualquer coisa que o irritasse. E tudo que queria é que ela sofresse às custas do desafio. E era isso que faria.

Mesmo que para isso tivesse de lutar contra os próprios instintos.

-É, eu vesti. E você estava me encarando como se eu fosse um pedaço de carne. –Ela tinha achado melhor não dizer nada, mas de repente se viu falando o que percebera. Era tipo, a maior verdade de todas e nem ela conseguira não reparar.

-É que eu estava vendo que é incrível, Atena... Você não tem mesmo salvação. E nem um uniforme como esses consegue te deixar, nem minimamente atraente... – Acredite em mim, estou mentindo. É claro que ele só acrescentou mentalmente essa última frase.  

Ela tentou não se deixar afetar, sabia que ele provavelmente só estava dizendo isso para irritá-la, mas ele conseguiu parecer tão sincero, e mesmo que ele fosse o que ela mais considerava insignificante, as palavras deixaram impressões desagradáveis em seu interior. Quer dizer, sentiu-se uma estúpida, afinal, desde quando se importava com o que ele achava de sua aparência...? Mas de alguma forma ridícula, isso começou a lhe incomodar. E a necessidade de provar o contrário também.

-Você não estava me olhando como quem não vê nada de atraente. Muito pelo contrário, por sinal. –Cruzou os braços, e olhou para o lado, para ele não conseguir perceber, que, de forma muito rara, ele conseguira ferir seu orgulho.

Ela ouviu os passos dele andando em sua direção, e quase se sentiu tentada a recuar. Mas não iria ceder, e mostrar que ele estava tendo a proeza de deixá-la irritada e...mal.

-Você adora se iludir, não é mesmo, Palas?

Sentiu as notas da voz dele bem de perto e seu corpo tremeu, não só de ódio, mas de alguma coisa que ela não conseguiu decifrar.

-É Atena, para você. E quem está se iludindo é você, achando que me afeta com esse seu discursinho de que não me acha atraente. Qualquer um contradiria essas palavras e o seu próprio olhar as contradisse.

Atena sorriu com sua autoconfiança, e percebeu que por um momento ele ficou colocando e retirando em falso, palavras na boca. Até que rolou os olhos, e se afastou um pouco mais de onde ela estava.

-Para uma empregada, você é meio atrevidinha, não acha, Atena?

-Eu não sou uma empregada. Estou temporariamente desempenhando o papel de tal, para pagar a perda de uma maldita aposta.

-Mas isso significa que hoje você é uma empregada. É a minha empregada. E eu não quero ouvir você falando como se fosse o oposto.

Ela deu de ombros, controlando-se para não rosnar e começar a bater nele, junto com aquele bando de palavras arrogantes.

-Tanto faz.

Houve alguns segundos de silêncio.

-Ótimo. Agora vamos rumo a sua primeira tarefa.

Ela começou a caminhar pela sala, passando diante dela como se ela fosse o mesmo que um nada, e indignada, Atena percebeu que ele fez um gesto para que ela o seguisse. Com ódio, e um ego prejudicado pela sua realidade momentânea, ela foi andando atrás dele, pisando duro, na esperança de que o gesto fosse uma demonstração mais notável de como ela estaria arrancando a arrogante cabeça dele se isso lhe fosse possível.

Ela mal desconfiava que Poseidon seguira na frente, e não ao seu lado, porque não queria voltar a cair na tentação de voltar a observá-la da forma que gostaria de poder observar. Ainda estava admirado que ela tivesse percebido seu olhar cheio de terceiras intenções. Não deixaria acontecer de novo, pelo menos nos próximos 30 minutos.

-Para onde estamos indo?

Ela cortou o silêncio, com uma curiosidade não reprimida, de repente.

-Para a cozinha. – Ele respondeu, de modo satisfatório. Virando a cabeça, só um pouquinho, para se deliciar com o ar de insatisfação dela. –O dia está apenas começando, Ateninha.


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Notas finais do capítulo

Reviews? *o*