Acordei com uma mão tocando meu rosto, e com uma flanela úmida em minha cabeça, levantei, a dor de cabeça era inevitável, tentei me sentar e Manu pressionou meu ombro para o chão, como sinal de que eu deveria ficar ali.

 - Quanto tempo estou apagado?
          - Há umas três horas
      Forcei minha visão pra ver onde estávamos, a chuva caíra lá fora, estávamos na mesma casa, mas pelo lado de fora, na varanda. 
         - Você esta bem?
         - Estou – Manuela parecia exausta, muito exausta. – Minha casa não fica muito longe daqui, podemos ir e tomar algo pra tirar esse frio do corpo, e esperar essa chuva passar.
       - Ok, vamos.


      A casa da Manu era bonita, um amarelo claro estampava as paredes, era enorme, portão de madeira, grades com folhas subindo entre seus ferros, e por dentro, era perfeita.
        - Que casa linda.
         - Era do meu pai, ele morreu a três anos.
         - Sinto muito.
       - Ah, já acostumei, vem – ela disse segurando meu braço – Vou te mostrar meu quarto.
       O quarto dela era praticamente um show de rock em casa, pôsteres forravam sua parede que ficava atrás de sua cama, bonecos que mexem a cabeça ficavam em sua cômoda, percebi o Elvis, o Kurt Cobain e Joe Armstrong .
      - Então, quer alguma coisa? Um refrigerante, chocolate quente?
      - Acho que um refrigerante seria ótimo.
     Manuela desceu pra pegar os copos, enquanto isso fiquei andando em seu quarto, quando passei perto da escrivaninha, perdi o folego.
    Ela tinha um Livro das Sombras.
    Comecei a folear ele, não aguentava, eu vivia com poucas magias, eu queria saber mais, eu queria me aprofundar em feitiços, cada folha significava muito. Vi magias perdidas a muito tempo, magias poderosas, o pior de tudo.
    Magia negra.
    Era por isso que Manuela tinha todo aquele poder, por isso ela conseguia usar magia sozinha, ela tinha o sangue de uma família perdida a anos, uma família que tinha o sangue de magia negra. 
     - O que você esta fazendo? – Manuela estava parada a porta com dois copos, cheios de coca, com um sobressalto me virei.
     - É, eu não sabia, desculpe, só estava olhando seu livro.
     - Eu iria te contar quando formássemos o circulo.
     - Realmente, desculpe.
     - Toma aqui – me entregou o copo de coca e se sentou na cama – O que você leu?
     - Li alguns feitiços, são bem antigos né? Magia poderosa.
       - Sim, minha família é de um coven antigo.
  Ficamos horas conversando, quando reparei já estava escurecendo.
      - Já esta na hora de eu ir né.
      - Vamos, vou te acompanhar até a porta.
  Já estava saindo de sua casa quando ouvi sua voz.
    - Cayo.
     Me virei.
    Assim que me virei ela veio andando lentamente, pronta para fazer algo, e fez.
    Me beijou.
     Eu não sabia o que fazia, somente fiquei ali, sentindo minhas bochechas queimarem de tanta vergonha.
     - Até amanhã, garoto camarão. – Ela se virou, e voltou para dentro de casa.
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    De volta pra casa senti o vento mais forte, acho que era porque eu estava feliz, sempre acontecia isso, conseguia ver o vento dançando pelas ruas.
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   De manhã, antes de ir para a escola, fui à padaria comprar alguns pães, quando entrei vi uma garota pegando alguns chocolates, cabelos castanhos, olhos castanhos, algo nela me chocava, algo nela mexia comigo, ela era… familiar.
    Na fila do caixa, fiquei reparando nela, meu coração disparou, não é possível, pensava, mas quando ela se virou, tive a certeza, aquela menina era a do meu sonho, e seu braço estava com a cicatriz do corte, ela morava perto, e acabo de descobrir outra bruxa.