Eu já sabia desde o começo que Manuela era diferente, aqueles olhos profundos não existem por acaso. 
   A noite caíra, me preparei pra dormir, coloquei meu pijama e tirei um colar que minha mãe havia me dado a uns dois anos atrás, era uma pedra transparente, não tinha um formato especifico, ela me disse que isso traria proteção e força.
   Adormeci, meus sonos são profundos, algumas vezes tenho sonhos, mas são difíceis de acontecer, e quando acontecem, bem… não são bons sonhos.
   Como  hoje.
   Sonhei com uma garota, aparentava uns catorze anos,  cabelos castanhos com pequenos cachos, olhos da mesma cor que revelavam preocupação, ela corria por uma floresta escura, gritando, pedindo socorro, havia algo correndo atrás dela, talvez um bandido, não sei, eu apenas queria ajudar mas meu corpo estava paralisado e minha voz não saia, algo me sufocava, eu tentava acordar mas algo me impedia, algo queria que eu olhasse para aquilo.
   Ela correu para uma árvore, iluminada pela lua, vi que era muito bonita, pele parecendo de porcelana, a garota respirava ofegante até que vi o homem de preto se aproximando dela, eu gritava, gritava, mas ela não conseguia me ouvir, a ultima cena que me lembro, era o homem tirando uma faca com desenhos estranhos, e cortando seu braço.
   Acordei com um pulo.
   O dia lá fora estava nublado, provavelmente hoje choveria, olhei para o relógio e vi que estava atrasado, muito atrasado.

    Sentei na minha cadeira, calma Cayo, hoje seria apenas mas um dia, eu tentava prestar atenção na aula, mas a garota em perigo não saia da minha cabeça.
   Na hora do intervalo, Manuela veio até minha mesa falando que queria se encontrar comigo numa casa abandonada que havia a uns quatro quilômetros dali, concordei, o sinal tocou e voltei para as aulas.

    A caminho da casa assombrada, sentia o vento tocando meu rosto, era como se pudesse sentir alguém tocando nele, amo o vento. 
   A casa era realmente abandonada.
   Imagina você num cenário de um filme de terror antigo, era mais ou menos isso, só que a casa era pior ainda, pintura desbotada, janela com partes quebradas e a ponto de cair, telhado podre, sem contar com a floresta em sua volta, eu estava com receio, e com medo.
   Toquei em meu colar pra ver se ele estava ali, por sorte estava, com coragem, dei o primeiro passo para a casa mal assombrada.
   Se por fora era feia, dentro era pior ainda. Havia poucos moveis, os que restavam, ou estava rasgado e cheirando mofo, ou só restava partes dele. 
   Chamei pela Manuela, nenhuma resposta, fui andando pelos cômodos na esperança de ver algum sinal dela.
    - Manuela?. Manuela, você esta ai? 
    - Olhe para trás garoto camarão.
    Não sei da onde ela tinha surgido, ela estava… fascinante, coturnos pretos, camiseta da banda nirvana cortada pra poder cair nos ombros, calça apertada.
   O que mas me fascinou, foi o fogo dançando em suas mãos.
      - O que é? Não sabe que poder é o seu ainda?
     - Na verdade nunca tentei, consigo controlar um pouco de cada coisa.
     - Hm, vamos ver, acende esse fogão velho.
    - É, não consigo com pressão, preciso do feitiço, e de preparação.
      - Acenda logo.
    Me concentrei no fogão velho que havia ali, se eu conseguisse acende-lo acho que provocaria um incêndio na casa inteira, era como se houvesse um alimentador gigante pro fogo em nossos pés.

    Nada aconteceu.

     - Viu, não consigo.
     - Aff, como você é mole. – ela fez um gesto com a mão, lançando a bola de fogo que dançava em suas mãos para o fogão – Viu? Muito fácil.
     - Como você consegue fazer magia assim?
     - Apenas fazendo querido, agora preciso falar com você sobre o circulo, sei que você é o líder e …
     Fomos interrompidos pelo fogo se espalhando na mesa da cozinha, e crescendo, cada vez mais.
    - APAGA ISSO.
    - VOU TENTAR.
    - ANDE LOGO.
   Agora o fogo tomou conta do teto, tivemos que nos afastar porque o calor era muito.
    - NÃO CONSIGO.
    - VOCÊ TEM QUE CONSEGUIR, OU ESSA CASA INTEIRA VAI PEGAR FOGO.
     Uma madeira em cima de nossas cabeças caiu, tentei livra-la, mas agora o que restava era a Manuela desmaiada aos meus pés.
   Comecei a me concentrar, desde pequeno o melhor elemento que eu dominava era o ar, comecei a pronunciar  “ Ar, invisível, e amigo, me ajude nesse momento de perigo.”. Eu repetia muito alto, até que uma hora todas as janelas e portas se abriram com um estrondo, uma ventania tomou conta do lugar, começou a apagar o fogo, até que não restou mais nada.
    Segurei a Manuela e fui arrastando-nos dali, eu estava fraco pela magia que tinha feito, eu tinha que chegar até a pista, porque se desmaiasse alguém nos acharia, minha visão foi ficando turva, eu não enxergava mais nada, até que cai, e apaguei.