OUTUBRO DE 2009

Subi as escadas da casa de Harry e bati um pouco hesitante na porta de Samantha, sua irmã. Escutei ela falar que podia entrar e encontrei-a sentada em um banco embaixo da janela com um livro nas mãos. Sorriu para mim revelando lindas covinhas e eu quase derreti. Já tinham me falado que a irmã do Harry era linda, mas eu não esperava tudo isso.

Percebi que eu estava parado há uns quinze segundo sem dizer nada só a encarando e que ela estava segurando para não rir da minha cara. Palhaça.

-hm... os meninos pediram pra te chamar para cozinhar alguma coisa para eles...

- porque mandaram você? – franziu a testa

- falaram que eu era o mais novo da turma – disse fazendo aspas no ar e ela rolou os olhos.

- bem a cara deles mesmo – deixou o livro de lado e se levantou – já que eu não tenho escolha, acho bom eu ir indo, antes que aquele irlandês gordo comece a comer tudo que ver pela frente – deu uma risadinha e eu a acompanhei.

- claro – dei espaço para ela passar pela porta e, assim que ia descer a escada, se virou para trás e me olhou feliz.

- eu sou Samantha, à propósito – estendeu a mão.

- Liam – disse sorrindo e apertei sua mão.

SAMANTHA’S P.O.V

Deitei na cama e esperei por Harry chegar no quarto, assim como eu tinha certeza que ele faria. Não demorou muito ele estava deitado ao meu lado, me abraçando.

- acho que entendi um dos seus motivos de não querer vir pra cá – disse depois de um tempo calada.

- esse era o principal deles – deu um beijo em minha testa.

- talvez eu devesse ter te escutado – franzi a testa.

- não se preocupa com isso agora, ok? Algum dia vocês iam acabar se encontrando, então vamos dizer que você só adiantou as coisas...  

- aquele garoto...

- Liam – ele me cortou

- é, Liam. Ele disse que eu era a melhor amiga dele. É verdade? – levantei um pouco a cabeça, podendo ver seus olhos verdes mesmo no escuro. Ele concordou com a cabeça.

- e ele era um dos seus – deu um leve sorriso.

-eu não acredito nisso – disse sentindo algumas lágrimas caírem – ele estava chorando Harry... A ultima vez que vi algum garoto chorar por minha causa foi há três anos, quando eu deixei o Niall sem comer a tarde toda... – ele deu uma risadinha e eu também não pude deixar de rir – o que acontece agora? – disse depois de um tempo.

- eu não sei – deu de ombros – ele continua meu amigo, então você vai ter que ver a cara dele algumas vezes pelo menos... quem sabe você não volta a ser amiga dele?

- esse é o problema... e se eu não for com a cara dele? Pegar antipatia sei lá... como é que eu vou conviver sabendo que ele ainda me considera a melhor amiga dele?

- porque a gente não deixa o tempo agir? Só assim vamos ter respostas para todas as perguntas que estão aí na sua cabecinha. – bateu de leve na minha cabeça e me apertou mais em seus braços. Sem nem perceber eu já estava dormindo. Foi uma noite sem sonhos.

Acordei na manhã seguinte com meu celular tocando. Olhei o nome da tela e dei um sorriso, já imaginando a voz da minha amiga do outro lado da linha.

- alô?

- bom dia dorminhoca – sua voz era brava – será que você pode destrancar essa porta para eu poder te dar um abraço? – sorri e desci correndo.

Abri a porta e encontrei-a parada do outro lado, com uma expressão irritada que eu tanto conhecia.

- você acredita que quando liguei para o seu irmão pedindo par ele abrir a porta ele falou que estava muito cedo para ele acordar e desligou na minha cara logo depois? – colocou as mãos na cintura e respirou fundo.

Dei uma risada e pulei em cima dela, dando-lhe um abraço apertado. Ela riu e senti seus braços envolverem minhas costas, tão forte quanto os meus envolviam seu pescoço. Ficamos naquela posição até que escutei a voz de Louis ecoar em algum lugar à minha direita.

- ei! Para de agarrar a minha namorada, garota! – olhei séria em sua direção e logo depois me virei para os lados, fingindo procurar alguma coisa.

- mas o Harry nem tá aqui... – ele me deu um tapa e pude escutar altas risadas vindo de Zayn e Niall, que estavam logo atrás dele.

Pulei em cima dos três, quase nos jogando no chão, e logo depois Harry apareceu na varando vestindo apenas a calça de seu pijama (pelo menos ele tinha lembrado de vestir alguma coisa!). Eleanor o encarou por alguns segundos fingindo de brava.

- er, desculpa por aquilo...

- desculpo nada, seu grosso! Da próxima vez vou subir e jogar um balde de água na sua cara! – disse fazendo todos rirem, inclusive ela, depois de um tempo.

- é melhor a princesa aí ir trocar de roupa, já que vamos almoçar fora pra comemorar a volta de vocês e blá, blá, blá... Vocês sabem, essas frescurisses da Eleanor –  Louis disse revirando os olhos de brincadeira e quando a namorada ia lhe dar um tapa, ele a puxou para um abraço.

Dei uma risadinha da cena. Teria que me acostumar novamente em ver Louis e Eleanor juntos. Zayn passou o braço por meus ombros e já ia me guiar para dentro de casa quando deu um berro, quase estourando meus ouvidos.

- LIAM! – o garoto de ontem, que estava saindo de sua casa, atravessou a rua e veio em nossa direção – não tá afim de almoçar com a gente?

Enruguei um pouco a testa. Não é que eu não tinha gostado de Liam, mas era estranho saber que ele conhecia tantas coisas sobre mim, e os únicos dados que eu sabia dele era seu nome e onde morava. Talvez Harry tivesse razão sobre não ser bom vir para cá.

- ela não vai se importar – Zayn disse me apertando de lado e eu ignorei meu ultimo pensamento, sobre a volta para essa cidade, eu estava com saudade de mais dos meninos para poder achar que era uma má ideia.

-  é... sem problemas – disse tentando ser o mais convincente possível, mas, como se aquele garoto pudesse saber o que eu estava pensando, recusou.

- tenho que ajudar minha mãe com umas coisas lá em casa... acho que vai ter que ficar pra próxima – deu um leve sorriso e olhou para o chão.

Escutei minha amiga me gritar da janela de meu quarto e me despedi dele, entrando na casa.

LIAM’S P.O.V

Assim que levantei meus olhos do chão, pude ver Zayn me olhando com a sobrancelha levantada. Respirei fundo e esperei pelo o que ele iria me dizer.

- ajudar a sua mãe em casa? Não tinha nenhuma outra desculpa pior não?

- o que você queria que eu falasse? “Ah, não vou não, porque o olhar da Sam tá me mostrando que ela não vai aguentar ficar no mesmo lugar que eu por mais de dez minutos?” – revirei os olhos.

- quem sabe seria mais convincente? – disse para me irritar e eu bufei.

- não dá pra você ficar assim pra sempre não, dude! Quer saber... hoje anoite nós vamos sair, ver se você melhora um pouco esse seu humor e tal – disse me dando uma cotovelada -  fala que sim, por favor! – juntou as mãos e fez um bico ridículo.

- ok – disse rindo e ele se virou para os outros três

- ei, ele concordou em sair com a gente.

- ainda bem! – disse Niall parando ao meu lado e se apoiando em meu ombro – você não vai se arrepender! Juro! – sorri para eles.

- é sério – disse Louis – estamos preocupados. Nunca te vimos tão triste, cara...

- e nem eram para terem visto, se não tivessem tido a brilhante ideia de passar lá em casa ontem anoite. – cruzei os braços e eles riram.

- então está combinado – a voz de Harry chegou aos meus ouvidos – hoje às nove, ok? – todos concordaram com a cabeça – vamos entrar e comer alguma coisa, ela vai demorar de mais pra trocar de roupas...

Todos seguiram até a cozinha e Niall já foi abrindo a geladeira. Peguei um pedaço de pão em cima da mesa e coloquei presunto e queijo, me sentando logo depois de pegar um suco. Estávamos rindo de alguma piada idiota de Louis quando escutamos passos na escada.

- gente, vocês já sabem onde nós ... – Eleanor parou a frase no meio ao nos ver comendo – vocês estão comendo? Qual a parte de almoço vocês não entenderam? – foi até a ponta da escada e gritou – Sam! Eles estão comendo!

Escutei Sammy xingar alguma coisa e olhamos uns para os outros. Escondemos o que estávamos comendo mais rápido do que imaginei ser possível e então escutei mais passos na escada.

- comendo? Sério? – ela perguntou parando na porta da cozinha.

- não tem ninguém comendo nada aqui ... – Louis disse olhando para nós e abrindo os braços.

- sério? Quer dizer então que aquele sanduiche de peru ali, atrás do Zayn, se fez sozinho? – colocou as mãos na cintura e levantou uma sobrancelha.

- droga, Zayn! – Harry deu um tapa nele e todos os xingaram.

- quer saber? Nós vamos sozinhas – saiu para a sala – vamos, Eleanor!

- ai, como é bom você estar de volta – pude escutar a garota falar e, menos de dois segundos depois que a porta se fechou, todos os quatro saíram correndo.

Dei uma risada e fui atrás deles. Me despedi e vi enquanto eles tentavam convencer as duas a destrancar a porta do carro e deixar eles entrarem.

SAMANTHA’S P.O.V

- e então? O que acontece agora? Você não vai voltar para a escola na segunda, não é?  - Zayn disse depois que já tínhamos acabado de almoçar.

- vou sim – disse sorrindo – eu estudei durante esses seis meses com uma professora particular que me ensinou o básico de tudo, depois eu tive só que fazer uma prova na escola, para provar que eu sabia a matéria e eles me aceitaram. Agora só vou ter que correr atrás de algumas coisas que não foram aprofundadas...

- você teve a chance de ficar atoa em casa e escolheu fazer o segundo ano? – Louis me olhou com os olhos arregalados.

- você aprendeu as matérias de dois anos em seis meses? – Niall me olhou espantado.

- vocês sabem como ela é – Harry revirou os olhos – ela aprende rápido...

- e também queria voltar a ter uma vida normal – continuei o que meu irmão estava falando -  Cansei de ser a menina para quem todos olham com cara de dó. Decidi correr atrás! – joguei um palitinho em Louis na ultima frase.

- não acredito que vou ter que te aguentar na escola todos os dias – Zayn revirou os olhos e todos riram.

Estudávamos na mesma escola desde... bom, desde sempre. Eu, Harry e Zayn nos conhecíamos desde bebês, pelo fato de nossas mães serem amigas. Conheci Eleanor no primeiro dia de aula e não nos desgrudamos mais. Harry e Zayn ficaram amigos de Niall na terceira série. E Louis era sempre foi o mais velho da turma, mas nem ligava para isso. Os meninos o conheceram em um torneio da escola ou alguma coisa assim.

Era verdade o que eu tinha falado, sobre ser minha decisão correr atrás dos estudos. Por mais estranho que isso possa parecer para uma garota de 16 anos, eu queria voltar às aulas, e nem mesmo eu sabia o motivo disso. Tinha consciência de que iria reclamar, logo depois do primeiro dia, o quanto a escola era chata, mas também tinha consciência de que encontraria meus amigos todos os dias, além de que poderia, possivelmente, atar as duas pontas da minha vida, tirando o atraso dos anos de que me esqueci.

Pagamos a contra e entramos no carro, que estava parado na porta. Louis dirigiu, devagar como sempre, até minha casa e eu e Harry nos despedimos, entrando logo depois. Ouvi Harry falar com mamãe que ia sair hoje anoite com os garotos e subi para tomar um banho.

Passei o resto da tarde vendo tv na sala e quando deu oito e meia da noite, subi para o meu quarto, deitei na cama e coloquei o iPod para tocar no aleatório e, sem nem mesmo perceber, eu já estava dormindo. Mas meu sono não durou muito, já que acordei um tempo depois com vozes no meu quarto, vozes que eu conhecia bem.

- sh! Cala a boca, Louis! – Niall disse em um sussurro.

- desculpa, não consigo me controlar – Louis disse no tom normal e escutei um coro de “shhhh” para ele. Me mexi na cama e todos pareciam ter parado onde quer que estivessem no quarto, pois tudo ficou em silêncio.

- se ela acordar vai nos matar, vocês sabem né? – uma voz desconhecida, que provavelmente era de Liam, soou depois de alguns segundos em silêncio.

- ela não vai acordar – pude escutar os passos de Harry pelo quarto – droga de bolsa! Pra quê tantos fechos? – espera, o que eles queriam dentro da minha bolsa.

- anda logo Harry! – esse era Niall

- meu santo Deus!  Me dá a bolsa que eu acho o que você quer – resmunguei abrindo os olhos.

- não fui eu – disse Louis levantando os braços e todos olharam bravos para ele.

- não precisa. Pode voltar a dormir que eu acho – meu irmão disse e todos concordaram rapidamente com os olhos arregalados. O que eles achavam que eu ia fazer com eles?

- anda Harry – disse me levantando e indo até a mesa que ele estava – o que você quer?

- você pode me emprestar o seu celular?

- é isso que você quer? – levantei as sobrancelhas para ele que encolheu os ombros.

- o meu acabou a bateria, e mamãe disse que não me deixa sair sem nada – disse como que se desculpando.

Fui até a cama novamente e peguei o celular, que estava ao lado de meu travesseiro. Joguei para Harry, que não estava muito longe de mim, e dei uma olhada na roupa dos meninos.

- hmm, todos arrumadinhos... Onde vão? – perguntei esfregando um olho.

- chama... “não é da sua conta”, já ouviu falar? – Louis disse e eu joguei um travesseiro nele.

Disseram um tchau coletivo e saíram do quarto. Deitei minha cabeça no travesseiro novamente, já quase dormindo, e só deu tempo de pensar o motivo de eu estava tão cansada antes de voltar a sonhar.

LIAM’S P.O.V

Chegamos no bar do George, que ficava perto do centro, e ele estava lotado, como sempre, já que era o melhor da cidade. Era arrumadinho até: uma fachada bege com um toldo vermelho que cobria as mesas de madeira, com toalhas diferentes em cada uma, que ficavam do lado de fora do estabelecimento. Do lado de dentro um balcão ia de um lado ao outro da enorme parede e atrás dele, como era típico de bares, prateleiras e mais prateleiras eram cobertas com bebidas de todos os tipos (o que fazia Sam sempre comparar o lugar a uma espécie de biblioteca) e mais mesas iguais às de fora enchiam o lugar.

Seguimos até o bar e um homem gordinho e simpático (George) nos cumprimentou do outro lado do balcão. Pedimos as bebidas e eu e Zayn, que não tínhamos sido rápidos o bastante para pegar um dos últimos três bancos, nos encostamos na madeira atrás de nós.

 Uma garota loira, que logo reconheci ser Sabrina, sentava do outro lado da sala e sorria em minha direção. Sorri de volta e me virei de costas para ela, ficando de bustos no balcão. A verdade era que ela corria atrás de mim desde que cheguei na cidade, mesmo que eu nunca tivesse dado bola para ela, e eu não a suportava.

Tomei mais um gole da minha garrafa de cerveja e voltei minha atenção para o que os meninos falavam.

Fomos voltar para casa só depois das duas da manhã e, foi apenas durante esse caminho que percebi que eles realmente tinham me feito esquecer, mesmo que por poucas horas, que minha melhor amiga estava de volta à cidade e não tinha a menor ideia de quem eu era...