Sweet Caroline escrita por Michelli T


Capítulo 9
Lamentações


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, foi uma semana complicada. Espero que gostem!



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A menina se agarrou ao pescoço de Noah, indo um pouco para a luz. Consegui ver o casaco das cheerleaders, mais uma olhada no cabelo e pude reconhecer. Era Santana. Senti a primeira lágrima descer pelo meu rosto.

         Eu não sei quanto tempo eles ficaram se beijando, pois eu virei de costas para os dois. Exatamente como fiz quando Finn e Quinn se beijaram. Acho que na verdade, eu sempre fui um pouco covarde. Senti as lágrimas caírem de meus olhos como uma enxurrada, minhas forças eram poucas, e tinham acabado. Puck me traiu, de certo modo. Ele não deveria ter me feito acreditar que gostava de mim e que estava querendo algo mais sério, quando ele não queria. Pelo menos não era o que parecia enquanto ele beijava Santana.

          A sensação era indescritível. Me sentia quase violada. Como se alguém tivesse entrado no meu mundo, me usado e me descartado. Eu não era nada para ele. Santana devia amar aquilo, ter ele daquele modo. Eu nunca tive, nunca teria. Limpei as lágrimas com as mãos.

         Eu não podia ser fraca a minha vida toda. Em uns minutos, Puck iria para minha casa e me olharia como se nada tivesse acontecido, então por mais que meu coração estivesse em cacos, eu tinha de reagir. Não esperei para juntar coragem ou para pensar no que iria falar, eu sabia que se fizesse aquilo, não ligaria para ele. Rapidamente pensei que eu devesse voltar para casa e não atender a porta quando ele chegasse, mas aquela atitude parecia extremamente covarde.

         Peguei o telefone e liguei para ele. Enquanto eu escutava chamar, virei para os dois outra vez. Eu estava bem visível na calçada, apesar de já ter anoitecido, estava bem perto de um poste de luz. Uma casa para frente era a de Puck, os dois agora conversavam, mas eu não conseguia entender sobre o que era, não conseguia nem ver as expressões dos dois, mesmo que estivessem na luz também. Ele levantou a mão aberta na frente de Santana, interrompendo algo que ela estava falando, pegou o telefone e o levou até a orelha.

- Rachel – ele disse normalmente – daqui a pouco estou aí.

- Por que está demorando tanto? – fingi interesse.

- Er... – ele pareceu pensar – um imprevisto. Prometo que vou compensar.

- Não creio que vai – falei secamente.

- O quê? – Puck ficou confuso.

- Não acredito que vá compensar isso, Puckerman! – falei um pouco mais alto, mas então controlei a raiva, que parecia substituir a dor naquele momento – Você pode ficar com a Santana, se é isso que quer. Mas não venha bater na minha porta de novo e se me encontrar na escola, finja que eu não estou lá. Você é um idiota, um perdedor. Nunca vai passar disso. Eu espero que curta o tempo que vai passar no Reformatório e que também aproveite o par de chifres que a Santana sem dúvidas vai te colocar enquanto estiver lá.

- Rachel, eu... – sua voz era de lamentação. Então Santana tirou o telefone dele – Olha aqui anãzinha – começou ela rudemente no telefone – ele é meu e sempre vai ser. Você devia ficar com o Finn mesmo, é o máximo que vai conseguir. Você é uma ridícula, devia ter vergonha de si mesma. Se eu fosse você me trancava dentro de casa e nunca mais saía. O Puck você já perdeu – declarou orgulhosa.

- É? – gargalhei – Não se pode perder o que nunca foi seu, Santana. Pode ficar com ele, mas não se esquece que depois de te beijar ele ia para a minha casa, onde ele estava antes de ir pegar umas roupas. Você sempre vai ser segundo plano para o Puck, conviva com isso.

- Ele está comigo agora – falou. Ainda parecia bem orgulhosa.

- Está sim, com você e com mais quantas? Eu prefiro um homem que seja só meu e que me ame, já você, vai ser sempre só mais uma.

Ela ia responder, mas Puck finalmente reagiu e tirou o telefone da mão dela. Foi quando percebi, ele tinha me visto lá. Estava imóvel me olhando, Santana seguiu seu olhar e me encontrou também, cruzou os braços impaciente. Quase pude a ver fazer um biquinho.

- Me deixa explicar...

- Explicar? Não tem o que explicar. Eu vi – uma lágrima escapou, eu sorri, mas não estava feliz ou achando graça da situação – Agora acabou.

         Desliguei o telefone. Eles ficaram me olhando, virei e comecei a andar com o máximo de dignidade que consegui juntar. Eu já estava me arrependendo, devia ter ido para casa e não ter feito aquela cena. Quando virei à esquina, ouvi gritos. Era Puck chamando meu nome. Desesperada em não confrontá-lo naquele momento, pulei um cercado de uma casa e me escondi atrás de umas plantas. Esperei um pouco e logo ele passou correndo. Estava muito rápido, mal o vi.

- Rachel! Espere!

         Ignorei. Voltei para a calçada e entrei numa rua secundária, seguiria o caminho de casa por ali, assim ele não me acharia. Seria mais perigoso, mas eu não me importava tanto no momento. A escuridão daquelas ruas não era nada convidativa e com o passar da adrenalina da discussão, a raiva cessou e a tristeza me dominou. Já que estava sozinha, resolvi não conter o choro.

         Estava a umas quatro quadras da minha casa quando meu celular vibrou.

Mercedes: Curtindo muito? Esperamos que sim!

         Tive que parar de andar um pouco, para tentar conter o choro que naquele momento, era descontrolado. Eu soluçava e não conseguia respirar direito. Me abaixei, tentando me controlar. A mensagem de Mercedes tinha mexido comigo. Uma hora atrás estava tudo bem, de repente tudo desmoronou. Eu tinha de encontrar com eles e desabafar, chorar e tudo o mais. Mas também não queria estragar a noite dos três. Peguei o telefone.

- Sam – falei quando ele atendeu – pode me encontrar na minha casa?

- Hãn... Acho que posso, por quê? Está tudo bem?

- Não – falei, sem rodeios.

- O que aconteceu? – ele pareceu preocupado.

- Chegue lá em vinte minutos e eu te explico.

- Beleza. Até daqui a pouco – ele desligou.  

         Não deixei transparecer na minha voz como eu estava triste, não sei direito o porquê, já que quando Sam chegasse, eu teria o rosto todo inchado de tanto choro. E eu sabia que quando ele me perguntasse o que tinha acontecido, eu choraria feito um bebê outra vez.

         Enquanto voltava a seguir o caminho de casa, apesar de todos os esforços, não conseguia tirar aquele beijo da minha cabeça. Eu estava apaixonada por Puck e ele me fizera acreditar que sentia o mesmo, que ele era meu, quando na verdade, ele ainda ficava com Santana sempre que podia.

         Eu estava demorando de mais, então comecei a correr, queria chegar em casa logo. Com a corrida, meu coração batia mais rápido, eu olhava para trás a todo o momento para garantir que Puck não estava me seguindo. Para minha felicidade – e também decepção – ele não me seguiu.

         Puck, Puck, Puck. Tinha dificuldade em pensar nele como Noah outra vez. Para mim, ele não era o mesmo. O cara que eu conheci e gostei, não existia. Uma farça. Aquilo partia meu coração, ou melhor, o que tinha sobrado dele. Eu achava que tinha encontrado o homem perfeito e que ficaríamos juntos por um bom tempo, apesar da distância quando ele fosse para o Reformatório. Mas obviamente, aqueles não deveriam ser os planos dele para nós.

         “Nós” não existia mais.

         Avistei do outro lado da rua a velha casa. Onde ele me salvara. Fazia tempo, ali tinha sido o começo de tudo. A rua era escura e muito assustadora, além do mais tinha um cara morando lá dentro, o cara que Puck bateu para me defender... Eu não entendia aquilo, eu parecia ser importante para ele, então... Por quê? Limpei as lágrimas e funguei. De repente, vi alguém correndo na direção da casa. Era Puck! Ele estava me procurando! Minha vontade era de ir ao seu encontro e o perdoar, abraçá-lo e me entregar. Mas meu orgulho não permitia. Sem contar que ele ainda ficaria com Santana. Eu não confiava mais nele. Por um momento achei que ele tinha me visto, mas ele foi cegamente até a casa e entrou. Aproveitei para adentrar mais pela escuridão da rua e sair dali sem ser notada. Mesmo assim, não podia negar que meu coração pulou quando eu o vi.

         Finalmente cheguei em minha casa, eu estava quase sem fôlego, as lágrimas já tinham secado e eu estava exausta. Sam chegaria a qualquer momento e eu não teria tempo para descansar. Ia abrir a porta, mas me deparei com a fechadura quebrada. Demorei um pouco, pensando em chamar a polícia, mas logo vi que Puck deveria ter me procurado lá antes de seguir para a casa abandonada. Assim, comecei a sentir a necessidade de fugir, de escapar, simplesmente, de não ser encontrada. 

         Meu pensamento se confirmou quando entrei e vi que nada tinha sido roubado. Encostei a porta. A sala era muito convidativa, os colchões, a comida. Parecia confortável. Puck tinha visto aquela idiotice que eu tinha preparado. Subi para o quarto e entrei no meu banheiro. Eu estava horrível, maquiagem toda borrada e rosto inchado, como eu já esperava. Lavei o rosto, passei um corretivo e base, para disfarçar o estrago do choro. Finalizei com um pouco de pó. Minha blusa branca estava um desastre, o rímel tinha escorrido com as lágrimas e feito uma enorme sujeira nela. Peguei uma blusa amarela, tirei a minha e a joguei no chão, vesti a amarela. Peguei uma saia preta pregueada e a vesti rapidamente. Calcei uma sapatilha preta e finalmente, me senti pronta. Era uma roupa prática, pelo menos para mim.

- Rachel.

         Me chamou. Virei para porta, rezando mentalmente para que não fosse Puck. E não era.

- Sam! Quanto tempo está aí? – perguntei, preocupada por ter acabado de trocar de roupa.

- Você viu sua porta? – ele ignorou minha preocupação.

         Assenti.

- Vai me explicar o que aconteceu? – perguntou.

- Vou, mas primeiro quero sair daqui.

- Você está correndo perigo? – ele olhou para os lados, tentando encontrar alguém.

- Não, Sam! – não pude deixar de sorrir – Só quero um lugar onde ninguém me encontre.

- Estou de carro, te levo para algum lugar bem longe. Só estou com pouca gasolina e tenho apenas cinqüenta dólares.

- Eu tenho mais cinqüenta!

         Ele olhou para mim e sorriu.

- Então, o que estamos esperando?

         Descemos as escadas e lá embaixo, Sam deu uma boa olhada nos meus preparativos para a noite com Puck. Eu balancei a cabeça, dizendo para ele que não era um bom momento para perguntar. Encostamos a porta e saímos. Sam abriu a porta do carro para que eu pudesse entrar, ele deu a volta e sentou no volante. Andamos um pouco em silêncio, então Sam colocou uma música não muito apropriada para o momento. Me fazia lembrar de Puck.

- Pode trocar de música? – perguntei.

- Eu adoro essa! – ele se animou.

- Ela é bonita, mas...

- Não, Rachel. Aproveita essa terapia de música, depois você escolhe. Faber Drive - When I'm With You, especialmente para você.

         Andamos ao som daquela música, então me bateu uma vontade imensa de desabafar, olhei para o Sam. Ele estava distraído enquanto dirigia.

- O Puck está com a Santana – falei, sentindo minha voz falhar.

- O quê? – ele gritou.

- Eu fui até a casa dele e lá estavam os dois, se beijando na porta.

- E você fez o quê?

- Eu disse que eles podiam ficar juntos. Foi o Puck que arrombou a porta, ele estava me procurando. Eu não tinha chegado em casa ainda – baixei a cabeça.

- Como está se sentindo? – ele deu uma olhada rápida em mim e depois voltou a prestar atenção na estrada.

         Até aquele momento eu tinha sido forte na presença de Sam, mas vi minhas defesas desmoronarem. Segurei o choro por uns segundos, e então desabei.

- Terrível – choraminguei – não acredito que aconteceu, Sam! Eu ainda estou me perguntando o porquê disso! Eu sou tão ruim assim? Eu sou... Eu sou feia de mais e insuportável de mais para ele me querer que...

         Não consegui terminar de falar, o choro era de mais. Me sentia sem forças outra vez. Sam parou o carro e se virou para mim.

- Rachel, olha para mim – ele me esperou o olhar para continuar – se ele não te valorizou como você merecia, não era para ser. Você é especial e precisa de alguém que perceba isso e te trate como uma verdadeira rainha.

         Me joguei nos braços de Sam e recebi um abraço caloroso. Era um grande amigo. Agradeci ao momento que resolvi ligar para ele. Fiquei ali, chorando até as lágrimas cessarem.

- Obrigado – falei baixinho. Sentei no meu banco outra vez.

- Sabe, Rach – ele me olhou – a companhia de um amigo nesses momentos é muito importante.

- É? – pensei um pouco, mas entendi o recado – sabe onde fica a casa de Mercedes?

- Sei sim – ele sorriu e ligou o carro outra vez.

         Um pouco antes de chegarmos mandei uma mensagem para Mercedes dizendo que eu e Sam estávamos indo lá. Ela respondeu bem rápido.

Mercedes: Tudo bem. Mas como assim? E o Puck?

         Pensei em não responder, mas achei melhor preparar os três para o meu drama.

Resposta: Longa história, se preparem...

Mercedes: Espero que esteja bem

Resposta: Vou ficar

- Sam, como eu posso ser tão fraca? – perguntei angustiada.

Ele respondeu imediatamente, sem nem pensar antes.

- Você não é fraca! Você tem sentimentos de mais, você se entrega a eles. E não posso dizer que está errada.

- Mas até agora só me causou problemas...

- O cara certo, Rach! Lembre-se disso! Alguém vai te fazer feliz, pode ter certeza.

         As palavras de Sam eram confortantes, até a presença dele me tranqüilizava. Porém, eu não conseguia acreditar naquilo, já que o único cara que eu queria que me fizesse feliz, era também o cara que partira meu coração.

         Sam parou o carro na frente da casa de Mercedes. Ela abriu a porta da frente, dava para ver que ela estava lá embaixo nos esperando. Quando desci do carro, tive que me segurar para não chorar outra vez, achei que não conseguiria, quando Sam enganchou o braço no meu e disse:

- Seja forte.

         Foi como se eu tivesse sido renovada. Senti como se eu pudesse contar tudo para os três sem me acabar em prantos outra vez. Eu já tinha gastado lágrimas de mais com aquilo. Falei para mim mesma Você é mais do que uma menininha que fica chorando pelos cantos e sorri, aquilo era contraditório, já que tinha sido o próprio Puck que me encorajara com aquela frase. Mesmo assim, continuei caminhando com um leve sorriso no rosto.

         Não sabia se os pais de Mercedes estavam em casa ou não. Pelo menos não deram as caras quando eu e Sam chegamos. Normalmente eles vinham cumprimentar as visitas, mas resolvi não perguntar nada.

         Quando entramos no quarto, Tina e Kurt estavam distraídos rindo e vendo alguma coisa no notebook de Mercedes. O quarto tinha travesseiros e almofadas jogados por todos os lados. Tudo estava um pouco bagunçado. Eles não demoraram a notar a gente ali e então sorriram.

- Racheeeeel! – exclamou Kurt.

- E Sam... – Tina completou.

         Eles abriram um lugar para nós dois sentarmos na cama. Fizeram uma piada, mas nós não rimos. Eles perceberam que tinha algo de errado e fecharam o notebook. Perguntaram o que aconteceu e vendo minha expressão, se levantaram e ficaram me encarando, esperando uma resposta. Mercedes se juntou com eles e ficou parada ao lado, cheia de dúvidas no olhar, esperando eu responder. Sam sentou ao meu lado e me olhou compreensivo. Balançou a cabeça positivamente e fechou os olhos, me encorajando a falar.

         Contei tudo para eles. Desde o começo do dia até o momento que o vi com Santana. Consegui fazê-lo sem chorar. Não pude dizer o mesmo de Tina, que tinha os olhos vermelhos e já fungava baixinho.

- Desculpe – ela pediu, estava triste – eu... Nós te encorajamos a ficar com ele e agora...

- Não, Tina! A culpa não é sua nem de nenhum de vocês – balancei a cabeça – a culpa é minha.

- Rach – Sam mordeu o lábio inferior antes de continuar – a culpa não é sua. É dele.

         Deitei na cama, sem poder conter um suspiro. Sam deitou também e ficou encarando o teto comigo. Os outros sentaram no chão, todos pensativos.

- Isso quer dizer que o Finn vai ter sua chance? – perguntou Kurt.

         Como demorei em responder, Sam sentou na cama e me olhou revoltado antes de falar.

- É brincadeira, não é? Não está pensando em dar uma chance para o Finn, está? Rachel, ele te traiu!

         Na verdade, eu estava sim. Se eu ficasse com Finn, certamente irritaria um pouco Puck e aquilo me deixaria feliz. Mas Sam estava certo, eu não seria feliz com Finn outra vez, não poderia me sacrificar daquele modo só para provar para Puck que alguém ainda me queria.

- Não. Finn nunca mais – falei, por fim.

- E enquanto a Jesse? – se interessou Kurt.

- Não sei – falei em dúvida – nós tivemos problemas, mas quem sabe com o tempo...

- Eu não gosto do Jesse – me interrompeu Sam.

- Eu preferia o Puck – Tina confessou.

- Tina! – eles gritaram em coro. Ela pediu desculpas.

- Quer saber? – Sam levantou cheio de atitude – Já perdemos tempo de mais com isso!

- É – Tina berrou e se posicionou ao lado dele - Essa vai ser uma noite divertida e nenhum cara vai tirar isso da gente!

         Eles levantaram e bateram as mãos, felizes. Eu sorri, embora aquilo me animasse, ainda não tinha tirado o que aconteceu da cabeça. Resolvemos fazer pipoca, e então faríamos uma competição de karaokê. Eu disse que precisava pensar um pouco e deixei que eles descessem para preparar a comida e a pipoca, deitei na cama assim que eles saíram gritando pelo corredor. Pelo jeito os pais de Mercedes não estavam.

         Devia fazer uns cinco minutos que tinham decido, quando alguém bateu na porta. Eu disse para entrar, embora quisesse ficar sozinha. Era Sam. Sentei na cama outra vez e ele sentou ao meu lado.

- Rach – Sam pegou a minha mão – se você se sentir mal, se quiser mostrar para o Puck que é melhor que ele... Eu entendo. Mas você não pode fazer isso sozinha.

         Por um momento, achei que ele ia se oferecer para fingir seu meu namorado. Seria estranho, mas eficiente. Puck já tinha demonstrado ter ciúmes de Sam.

- Eu e Kurt estávamos conversando e o Blaine tem vários amigos que gostariam de ajudar, então...

Meu celular tocou e o interrompeu. Olhei rapidamente para ele, ia desligar e voltar a conversar com Sam. Mas congelei assim que vi o nome que estava ali. Puckerman.

- É... É o Puck! – gritei – O que eu faço?

- Sei lá! Atende!

- Eu não posso! Não quero falar com ele! – senti a dor voltar – Eu não quero...

         Ele ligou mais quatro vezes depois daquela, mas eu não atendi nenhuma. Só deixei tocar. Me acalmei, mas então foi a vez do celular de Sam tocar. E era Puck outra vez. Ele não atendeu. Ficamos parados, sem saber o que falar. Até que Mercedes, seguida de Kurt, entrou correndo no quarto.

- O Puck não para de me ligar! – ela gritou conferindo o telefone.

- Não atenda! – me desesperei.

- Ele me ligou também – disse Kurt. – Ele está me ligando nesse exato momento!

- Parece que ele não desistiu de te achar, Rachel – Sam informou.

- O quê? – Mercedes ficou confusa com o que Sam disse.

- Ele foi atrás de mim em casa, mas eu não estava lá.

         O silêncio de repente tomou o quarto e cada um olhava para seu celular, esperando para saber qual tocaria primeiro. Com a porta aberta e a casa em total silêncio, ouvimos o telefone residencial de Mercedes tocar lá embaixo. Ninguém se desesperou, afinal, era só ninguém o atender. Então ouvimos um Bip e a voz de Tina falando Alô.

         Nós nos entreolhamos por uma fração de segundos. Como se estivéssemos conectados, reagimos ao mesmo tempo. Corremos gritando para que Tina desligasse o telefone. Mas claro que era tarde de mais para que ela entendesse o nosso desespero. Kurt caiu no caminho, antes de chegar às escadas, Sam pulou por cima dele e Mercedes fez o mesmo, sem perder a velocidade. Pensei em parar e o ajudar, mas ele ficaria bem e tínhamos problemas mais importantes. Desviei dele. Chegando lá embaixo, Mercedes parou na porta da cozinha para recuperar o fôlego, afinal ela não era acostumada a correr. Eu estava logo atrás e Tina segurava o telefone, incrédula pela cena que via. Sam correu sem parar e levantou Tina, pegando ela no colo e a levando para longe do telefone, o que fez com que ela o soltasse.

         O telefone ficou ali, pendurado pelo fio. Certamente quem estava do outro lado, não tinha desligado ainda.

- Gente, é o Puck! – Tina parecia animada, assim que Sam a soltou – Ele quer falar com você, Rache... – Sam tapou a boca dela rapidamente com a mão.

         Andei até onde o telefone se encontrava e coloquei no gancho, terminando a ligação. Todos respiraram tranqüilos, menos Tina que estava confusa.

- Ela não quer ver, muito menos falar com ele – explicou Sam.

- Achei que seria uma coisa boa ele ligar. Vocês poderiam se acertar e tudo ficaria bem outra vez...

- Tudo bem – garanti a Tina.

         Mais uns segundos em silêncio e a ficha caiu. Meu coração começou a bater mais rápido e automaticamente eu tranquei a respiração. Olhei para Sam, ele arregalou os olhos. Parecia ter entendido.

- Vamos fechar a casa, rápido! – ele gritou e correu para a porta da frente.

         Eu corri para fechar a porta da cozinha. Tina e Mercedes franziram a testa, sem entender o que estávamos fazendo. Continuei correndo e fui para a sala, tranquei as janelas. Sam passou por mim e fechou outras janelas. Os dois  seguiam a gente com o olhar.

- O Puck está vindo para cá! – Sam esclareceu.

         Assim, os dois reagiram e foram nos ajudar. Kurt logo se junto a nós, estava inteiro. Quando terminamos, desligamos todas as luzes da casa, entramos no quarto de Mercedes. Todas as janelas do andar de baixo estavam com as venezianas fechadas e, depois de apagar também a luz do quarto de Mercedes, nós no amontoamos na porta de vidro que dava para a sacada dela. Usamos a cortina para que ninguém conseguisse nos ver.

         Não demorou muito até que Puck chegasse. Ficamos nervosos. Eu não queria que ele me encontrasse de jeito nenhum, não depois do que me fez. Sam apertou a minha mão.

- Rachel! – gritou Puck – Eu sei que está aí! – ele batia freneticamente na porta – Eu não vou embora!

- O que vamos fazer? – perguntou Tina sussurrando.

- Rachel! Eu vou entrar! – Puck gritava lá fora.

- Devemos chamar a polícia? – perguntou Kurt.

- Não! – falei rapidamente. Eles me encararam – Ele não pode se meter em mais nenhuma confusão.

- Mas e se ele entrar? – Sam perguntou.

- Ele não vai... – comecei.

- Ai meu Deus! – Mercedes sussurrou.

         Olhamos na direção que ela olhava. E lá estava Puck. Subindo pela árvore, muito rápido. Logo estaria na sacada.

- Se escondam! – falei o mais baixo que consegui.

         Então foi um desespero, ninguém sabia para onde ir de início. Mas Kurt fez a frente e saiu do quarto, os outros o seguiram. Alguém gritou no corredor Não deixe que ele encontre vocês! Mas Puck já estava lá e ouviu. Me escondi dentro do armário de Mercedes. Quando ele abriu a porta de vidro, o vento fez com que a porta do quarto dela batesse com força. Ele ficou parado um pouco, esperando até seus olhos se acostumarem com a escuridão.

- Eu sei que estão aqui, o carro do Sam está lá fora! Não podem dizer que é coincidência que nenhum de vocês não tenha atendido ao meu telefonema! Acham que sou idiota? – ele chutou um ursinho que estava no chão.

         Por um momento fiquei com medo. Ele poderia ser perigoso, como aqueles caras que matavam as namoradas e essas coisas. Mas então, olhando atentamente para ele pelas frestas do armário, vi a fraca luz do luar bater em seu rosto. Ele olhou para os dois lados e baixou a cabeça por uns instantes. Talvez ele fosse o mesmo, talvez fosse o meu Noah... Achei que tudo ficaria bem, então a imagem dele beijando Santana voltou a minha mente. Bufei. Ele olhou na minha direção no mesmo instante. Andou calmamente até o armário. Me xinguei por não controlar aquele ciúme e por não ter escolhido um lugar melhor para me esconder. Recuei dois passos e fiquei atrás dos casacos de inverno de Mercedes.

- Rachel? – ele sussurrou – É você?

         Ele entrou no armário. O cheiro dele invadiu o lugar e eu tive uma imensa vontade de abraçá-lo. Logo ele empurrou os casacos para o lado. Eu estava exposta e não podia fazer nada. Fiquei em dúvida se ele tinha me visto, já que apenas ficou parado olhando para o que devia ser uma escuridão.

- Princesa...

         Com certeza tinha me visto. Ele passou a mão lentamente pelo meu rosto. Eu senti arrepios. Ele se aproximou mais um pouco. Antes que aquilo virasse uma cena romântica eu agi e as coisas aconteceram muito rápido.

- Socorro! – gritei – Ele está aqui! Sam!

         Puck se assustou com a minha reação e ficou imóvel. Não demorou muito para que a luz se acendesse atrás dele e então dois braços o puxaram para fora dali.

         Colocamos ele sentado em um banquinho na frente da cama de Mercedes, onde eu sentei. Eles ficaram em pé ao nosso lado. Puck me olhava confuso, seus olhos pediam respostas. Eu não as tinha. Não sabia o que eles pretendiam, mas enfrentar ele, era uma coisa que eu não queria.

- Você é um idiota – Kurt quebrou o silêncio.

- Mais do que um idiota! – Mercedes gritou.

- Como pode ter coragem de vir aqui depois do que fez? – Kurt perguntou.

- Devia ter vergonha, Puck – disse Tina.

- Do que estão falando? – ele perguntou, franzindo a testa.

- Você e Santana – Sam explicou – não finja que não fez nada.

- Aquilo foi um engano! – se exaltou Puck.

- Se acalma aí, queridinho. Foi você que errou – falou Mercedes.

- Eu não errei! Aquilo só pode ter sido armação! – ele me olhava fixamente – Eu não sei o que você estava fazendo lá...

- Recebi uma mensagem sua dizendo para que eu fosse – falei calmamente – e quer dizer que eu não deveria estar lá quando aquilo aconteceu, certo? Não que não devia ter acontecido.

- Não a merece! – exclamou Kurt – Melhor ir embora. É um traidor, ninguém devia confiar em você.

- Eu posso explicar! – Puck falou.

- Mais do que um traidor, você é muito pior do que a Santana – Mercedes disse.

         Eles o olhavam julgando. Por um momento, fiquei com pena. Tina era a única que parecia ter um pouco de compaixão por ele. Em nenhum momento daquela conversa ele se virou para um deles, só ficava me olhando. Seu rosto era triste.

- Você acredita mesmo nisso? – Puck perguntou diretamente para mim.

         Senti meu coração apertado dentro do peito. Naquele momento, toda a força que juntei antes de entrar na casa de Mercedes tinha acabado. Eu cuidava para não chorar na frente dele, mas uma lágrima foi sorrateira e desceu pelo rosto. Ele estava tão lindo quanto nos outros dias. Queria me jogar nos braços dele e ficar lá para sempre, mesmo que aqueles braços fossem os mesmos que horas antes tinham tido Santana Lopez. O Puck você já perdeu, foi o que ela me disse. Mas lá estava ele, seus olhos imploravam perdão e eu senti que ele realmente gostava de mim. Senti que podíamos ser como antes. Dei uma leve risada, que fez mais lágrimas caírem de meus olhos.

- Você realmente acredita, Rachel? – ele insistiu.

         Balancei a cabeça negativamente. Ele levantou num pulo e me abraçou. Sam deu um passo a frente, em dúvida entre afastá-lo de mim ou não. Eu retribuí o abraço. A sensação era ótima. Ele suspirou com tranqüilidade enquanto me abraçava.

- Achei que tinha te perdido – ele falou.

         Ouvimos um “óóó” em coro atrás de nós. Nos soltamos, ele sentou ao meu lado e segurou a minha mão.

- Desculpe invadir sua casa, Mercedes. É que... Isso – ele levantou nossas mãos entrelaçadas – é muito importante pra mim.

         Os quatro repetiram aquele “óóó”. Eu derreti por dentro. Do meu lado, segurando a minha mão, estava o meu Noah. O cara que eu gostava e que, apesar dele ter que me explicar aquilo tudo mais tarde, eu acreditava. Ele limpou meu rosto com a outra mão, depois voltou a olhar para os quatro.

- É bom que os seus melhores amigos estejam aqui – ele sorriu – vou adorar fazer isso.

- O quê? – perguntei.

- Princesa – ele virou o corpo para mim – você quer namorar comigo?


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