Sweet Caroline escrita por Michelli T


Capítulo 7
A verdade que não deveria ser dita




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/189660/chapter/7

– Então, o que vai fazer para conquistar o Sam? – perguntei.

– Nada. Sobre isso, Noah, tem algo que eu queria te falar.

– Eu não tenho nada com isso. Eu sei – sorri – como disse antes, o Sam é um cara legal.

Ela sorriu e colocou na boca mais uma colher cheia de sorvete.

– Mas você podia ter convidado ele para vir aqui, não?

– Você não queria ter vindo? – ela largou a colher dentro do pote.

– Não foi isso que eu disse. Terminou? – perguntei. Ela assentiu.

Rachel estava usando um vestido azul, com alças finas. Contornava seus seios muito bem, depois descia em três camadas diferentes até suas coxas. Seu cabelo estava preso num rabo de cavalo. Tão linda.

– E você? Como anda a vida pessoal? Sabe o que quero dizer.
Levantei. Estávamos sentados na mesa da cozinha, aproveitando o sorvete de morango que eu tinha levado para ela. Fui até a pia e larguei as colheres e os potes, que usamos para tomar o sorvete, lá dentro. Rachel foi atrás de mim com o sorvete e o guardou na geladeira. Assim que a fechou, ficou me olhando.

– Não vai me responder?

Abri a torneira. Eu lavaria aquelas coisas se fosse o bastante para que Rachel desistisse daquela pergunta. Não podia dizer como andava minha vida pessoal, eu praticamente não tinha mais vida pessoal.

– Puckerman?

O que ela queria? Que eu falasse que ela era minha vida pessoal? Passava o tempo todo pensando nela, isso quando não estava com ela. Eu estava apaixonado. Mas ela não. Senti uma raiva de repente e joguei a colher que eu estava lavando dentro da pia, logo a controlei e peguei a colher de novo. Era tarde. Rachel tinha notado meu gesto nada normal e me virou de frente para ela. Eu fiquei encostado na pia.

– Qual o problema? – ela me encarava.

Odiava aquilo. Ter ela tão perto e não poder fazer nada.

– Nenhum.

– Tem um problema sim. Só que não quer me contar.
Não respondi.

– Posso te falar uma coisa? Sendo bem sincera?

– Pode.

– Você está parecendo uma menininha – falou e riu.

Virei para a pia peguei um dos potes que usamos. Fingi que ia voltar a lavar, Rachel parou do meu lado. Enchi-o de água e joguei no cabelo dela. Ela gritou.

– Quem parece uma menininha agora, hein? – eu ri. Enchi de novo e joguei no seu lindo vestido azul.

– Puckerman! Por que fez isso? – ela gritou.

Eu só ficava rindo. Rachel pegou o outro pote e fez o mesmo, mas jogou a água nas minhas calças, deixando parecer que eu tinha urinado nelas. E então era ela que estava rindo. Revoltado com aquilo, joguei nela de novo, mas não calculei onde a água iria. Foi exatamente em seus seios. Arregalei os olhos, queria pedir desculpas, mas as palavras simplesmente não saiam. Acabei rindo de novo, ela olhou para baixo e analisou a situação. O seu vestido azul agora era quase transparente e eu podia ver boa parte de seus seios. Tentei pedir desculpas de novo, mas não conseguia parar de rir.

– Isso não vai ficar assim – ela falou, determinada. Andou até a geladeira e pegou um litro de água.

Muito esperta. Eu não era idiota nem nada, fui correr. Sabia que ela não iria querer molhar a casa toda, então a sala já era um lugar seguro. Mas como já tínhamos molhado o chão, acabei escorregando e caindo de costas. A cozinha de Rachel realmente tinha um piso muito liso. Eu já tinha escorregado lá antes, quando não estava molhado, devia ter calculado que correr naquela hora não era a melhor opção. Ela riu e correu até mim, aproveitando a situação. Despejou toda a água em mim. Água muito gelada. Fiquei encharcado.

– Quem está rindo agora? – perguntou assim que a água acabou.

Puxei-a, Rachel resistiu um pouco, mas acabou escorregando e caindo em cima de mim. Melhor do que o chão, pensei. Rimos um pouco, mas logo toda aquela graça pareceu sumir, pelo menos para mim. Ela continuava sorrindo. Eu estava deitado no chão com ela em cima de mim. Quando percebi, minha mão já estava tocando a perna dela de leve, Rachel estremeceu. Ela me olhou, não estava mais sorrindo também. Não pude deixar de olhar seus seios, era automático, ainda mais naquele momento, que estavam tão visíveis. Não, cara. Eu não podia. Tinha de me controlar, mas tinha medo de que já fosse tarde de mais. Ela levantou.

– Não acredito que fez isso! – foi sair irritada, mas eu levantei rapidamente e a puxei. Abracei ela por trás.

– Tudo bem, Rachel – falei em seu ouvido – Foi sem querer.

– Não – ela se soltou – talvez devesse ir embora.

– O quê? – a virei para mim – Para com isso, foi sem querer! Tinha uma menina deitada em cima de mim e meu corpo agiu por vontade própria. Eu só coloquei a mão na sua perna, não é nada! Você ficou ofendida com isso? Somos amigos, não devia ser nada de mais.

– Amigos fazem isso?

– Você entendeu – segurei a mão dela - Desculpa.

– Não foi só isso que você fez.

Sabia do que estava falando, não pude deixar de dar mais uma olhada. Aquilo a deixou desconfortável.

– Rachel! Eu sou homem! – levantei as mãos para cima – Desculpa, mas eles estão à mostra! Eu que deveria estar bravo por você ficar com eles assim!

Ela cruzou os braços na frente, os tapando.

– A culpa não é minha. Você que começou.

– Me desculpa – pedi com sinceridade.

– Tá legal – ela respirou fundo - Vou trocar de roupa.

– É uma grande idéia.

– Nada de mais, certo? – perguntou.

– Certo – sorri para ela.

Sequei a cozinha enquanto ela se arrumava de novo. Demorou muito mais do que antes. Quando ela desceu, eu estava sentado na sala, pensativo sobre o que tinha acontecido. Entendia que ela tinha motivos para ficar brava, mas queria que não tivesse ficado. Seria uma prova de que sente algo por mim. Olhei ela descer, estava tão linda quanto antes, mas dessa vez estava de pijama e cabelo solto. Ela sentou ao meu lado.

– Eu só quero te dizer – baixou a cabeça – que eu pensei e vi que não foi de nada mais. Na minha cabeça aquilo era o fim do mundo. Então, me desculpa também.

– Eu não podia ter feito aquilo. Somos só amigos.

– Mas você disse que não foi nada de mais!

– É, mas eu podia ter estragado tudo.

– Noah, nada estraga a nossa amizade.

– Somos amigos mesmo, não é? Quer dizer, eu te ajudei quando precisou. Você confia em mim, eu confio em você. Nós vemos filmes, rimos, tomamos sorvete...

– Você brigou para me defender – adicionou a lista.

– Brigamos um com o outro também – eu ri.

– É, definitivamente nossa amizade é completa.

Ela olhou para o machucado. Seu pijama rosa era curto, então ele ficava a mostra em seu joelho, chamando bem mais a atenção do que quando estava com o vestido azul.

– Eu disse que ia cuidar de você – disse apontando para a ferida que parecia estar pior.


(Rachel)


Noah pegou o nosso kit de primeiros socorros e se sentou no chão a minha frente. Ele limpou meu machucado e fez um belo curativo. Era algo que eu não esperava que ele soubesse fazer. Quando o olhei com uma expressão surpresa, ele explicou que tem uma irmã mais nova e ela se machuca facilmente. Não pude deixar de pensar que ele me devia aquilo já que eu me machuquei pela mensagem que ele mandou.

Assim que terminou, sorriu e se sentou ao meu lado.

– Tenho uma coisa pra te contar – falou.

– Vá em frente.

– Eu convenci minha mãe a me deixar na escola por enquanto – ele desviou o olhar de mim, encarou a parede - para poder participar das regionais... Mas essa suspensão foi a última gota.

– O que isso quer dizer?

– Quer dizer que eu vou ter que ir para o reformatório, semana que vem.

– Como assim? Por quê?

– Não é segredo que eu não me comporto muito bem. Todo mundo sabia que a próxima vez que eu fizesse merda, o Reformatório me esperaria de portas abertas. O pior é que tudo é idéia da minha mãe.

– Mas você só estava tentando ajudar!

– Isso não muda os fatos. O fim não justifica os meios. Algo assim – ele suspirou – se não fosse por você teria acontecido muito antes.

– O quê? Do que está falando? – ainda estava chocada de mais com a notícia para conseguir pensar.

– É – ele levantou os ombros – aquele dia que você me salvou na sala do diretor, lembra? Se não tivesse me livrado eu já estaria preso naquele lugar. Pelo menos agora vou poder cantar antes. Ganhei um tempo. Talvez eu fuja.

– Isso não é justo – joguei uma almofada em Noah. Ele a parou antes de atingi-lo.

– Vai sentir minha falta, Princesa? – ele largou a almofada no chão. Eu apenas o encarei – Isso é um não? – não respondi – Bom, eu vou sentir sua falta todos os dias.

Eu sabia que sentiria falta, mas não podia dizer aquilo sem deixar escapar que eu meio que estava apaixonada. Confessar que ele significava mais para mim do que só amigo era um risco grande. Eu não podia me expressar, aquilo me angustiava. Eu perderia Noah e ele nem sequer saberia o que sentia por ele. Primeiro: ele gostava de namorar meninas como Santana Lopez ou Quinn Fabray e, claro, para amiga a Berry. Segundo: ele era o Puckerman, se apaixonar por ele já era um grande erro por si só.

– Tenho certeza que vai sentir – ele declarou.

– Eu não teria tanta certeza – falei.

– Você está quase chorando.

Eu ia negar. Claro que eu não choraria por ele, muito menos em sua frente. Tá legal, eu sentia meu coração apertado dentro do peito e tudo o mais, mas eu era forte o bastante para não chorar.

– Ninguém aqui vai chorar.

Falei com convicção, mas uma lágrima desceu pela minha bochecha provando que eu estava errada. Limpei ela rapidamente com o braço. Achei que Noah ia rir diante daquela cena, mas ele apenas me encarou, sem expressão alguma em seu rosto. Tentei sorrir para dizer que estava tudo bem, mas não consegui. As coisas não estavam nada bem e sem Noah elas nunca ficariam bem outra vez. Talvez eu só estivesse fazendo drama. Talvez depois de uma semana sem ele, tudo ficaria bem e ele seria apenas uma lembrança. Queria muito acreditar naquilo.

Mas a verdade é que a última coisa que eu pensaria em fazer era esquecer.


(Puckerman)


– Quando você voltar... Nada vai mudar, certo? – ela perguntou insegura.

Eu já tinha visto Rachel chorar antes, mas nunca por mim. Não sabia o que dizer para ela, como fazer ela se sentir melhor, muito menos como me fazer sentir melhor. Não podia mentir e dizer que tudo ficaria bem, pois eu ia embora. Ia deixar tudo que eu construí para trás. Toda a vida como eu conhecia mudaria, e eu não fazia a menor idéia de quanto tempo eu ficaria preso lá.

– Como assim? – perguntei.

– Ainda vamos ser amigos?

Só amigos. Sempre seria apenas isso. Enquanto eu estivesse fora ela ficaria com o Sam, ou Finn... Ou Jesse. Quando eu voltasse, ela estaria com eles e não teria tempo para mim, e nenhum permitiria que eu chegasse perto dela. E claro, ela daria razão para eles, considerando que um seria seu novo namorado. Parece bobagem, mas era tudo o que eu conseguia pensar. Por isso não conseguia sorrir, nem chorar. Mesmo que chorar estivesse fora da minha lista de coisas para se fazer durante a vida, a vontade era grande.

– Claro que sim.

– Eu não devia ter chorado, foi sem querer. Olhe como você está agora – ela me encarou cheia de dúvidas no olhar – eu só não estou pronta para te perder.

E então Rachel conseguiu quebrar o gelo que se formava ao redor daquela conversa. Aquilo foi o bastante para perceber que eu tinha de aproveitar meus últimos momentos com ela.

– Tirou as palavras da minha boca, Princesa – falei e a abracei. Ela deitou a cabeça no meu ombro.

Ficamos abraçados um pouco, aí ela se afastou e me olhou.

– As coisas vão ser como antes? Como quando não éramos bem amigos? Eu... Eu não quero que nos falemos algumas vezes e só.

– Não. Claro que não – eu sorri – E na verdade, eu sempre tentei te ajudar, mesmo antes disso tudo – confessei antes que pudesse mudar de idéia.

– Eu sempre senti que tinha alguém olhando por mim, e não estou me referindo a Deus – falou e riu. Seu olhar agora era brincalhão.

– Você acha que nós vamos ganhar? Se fosse você e o Finn, seria certo que sim, mas comigo? Eu não sei. Rach, você não se arrependeu de ter pedido para eu cantar com você? – perguntei. Aquelas eram dúvidas verdadeiras e aquele era um bom momento para mudar de assunto. Não estava pronto para despedidas.

– Puck, eu não cantaria com o Finn de qualquer jeito. E tenho certeza que você e eu vamos... – ela ia explicar, mas eu a interrompi.

– Não me chame assim.

– Assim? – ela pareceu confusa.

– É – assenti - Puck.

– Mas... Todos te chamam assim! Não sabia que não gostava.

– É, eu sei. Não é que eu não goste, mas quando você – coloquei ênfase no você - me chama de Noah. É como se pudesse ver quem eu sou de verdade.

– Você me chama de Rach, Rachel, Princesa, Berry... E eu nunca reclamo.

– Eu não percebo, só falo. Sei lá – dei de ombros - Isso te incomoda?

– Nenhum pouco.

Depois de alguns segundos sem falar nada, Rachel disse que poderíamos ver um filme. Eu achei uma ótima idéia, contando que eu já tinha me preparado para aquilo. Tinha levado Devil Inside que era um filme de Suspense e Terror, não queria assistir outro musical. Rachel não gostou nada daquilo, achou que o filme seria muito pesado, mas quando eu disse que eu a protegeria, ela achou graça e aceitou. E eu realmente queria que ela tivesse medo, assim eu teria uma boa desculpa para abraçá-la.

– Posso colocar play? – perguntou enquanto se jogava no sofá.

– Pode – respondi.

Assim que apertou para o filme começar, ela colocou uma almofada no meu colo e se deitou. Olhei-a, ela sorriu.

– Eu realmente sei.

– Sabe o quê? – perguntei.

– Quem você é de verdade.


(Rachel)


Era sexta-feira de manhã, meus pais viajariam naquela noite e eu passaria o final de semana sozinha. Provavelmente não tão sozinha, pois pretendia ensaiar com Noah. Eu sabia que aquela era a contagem regressiva para ele ir embora. Tínhamos o final de semana, depois segunda-feira e logo as regionais. Aí seria o fim.

O Sr.Schuester estava investindo em projetos passados. Trazendo tudo de volta à tona. Ele disse que queria relembrar tudo o que tínhamos passado e o porquê de estarmos lá, afinal. Foi o que ele fez quando votamos e escolhemos cantar Pretending outra vez. Mas ele foi mais fundo, trouxe de volta o projeto das cadeiras de rodas. Não faríamos nenhuma performance com elas nas regionais, mas como já expliquei, tratava-se de relembrar tudo o que já passamos.

– Quinn e Finn brigaram e terminaram – contou Kurt. Ignorei aquilo – Disseram que foi um escândalo e que ela tentou ficar com Puck para se vingar – ele me lançou um olhar sugestivo.

Era do meu interesse, mas resolvi não demonstrar nada. Eles não sabiam sobre os meus sentimentos.

– Você e Mike são uns fofos juntos. Nunca vejo vocês brigarem – declarou Mercedes para Tina.

Estávamos mais uma vez reunidos na hora do almoço, conversando.

– Realmente – concordei.

– É – Tina começou – mas agora que estamos todos juntos. Tem uma coisa que queríamos te falar, Rachel.

Meu coração bateu mais rápido. Eles não podiam saber que eu estava apaixonada por Noah, não naquele momento. Ele iria embora e eles veriam o quanto eu fui idiota por gostar dele. Acima de tudo, me culpariam pelo resto da minha vida por terem descoberto por outra pessoa e não por mim. Talvez tivesse sido Jesse. Ou quem sabe... Noah. Não. Ele nem sabia de nada.

– O quê? – perguntei tentando esconder o nervosismo.

– Falamos com o Puck – falou Kurt. Larguei meus talheres na mesa ao ouvir aquilo.

– Eu sei. É complicado, eu não queria esconder uma coisa dessas de vocês. Eu gosto muito, eu gosto de mais de todos vocês, mas eu nem sabia direito o que sentia. Como eu poderia contar para vocês – comecei a sussurrar – que eu me apaixonei pelo cara mais errado da escola? E vocês sabem que ele é, então...

Parei de falar assim que percebi a cara de assustados que eles estavam. Pelo jeito, não era sobre aquilo que queriam falar. Ficamos nos entreolhando um pouco, até que Mercedes acabou com aquilo.

– Legal. Quem explica? – ela indagou.

– Rachel – falou Kurt – nós encontramos com o Puck mais cedo. Ele nos disse que nenhum de nós devia te convidar para sair esse final de semana, pois ele estava planejando algo.

– Explique o que você quis dizer com isso! Está apaixonada por ele? – perguntou Tina.

Ia começar a falar. Eles eram meus amigos, mereciam saber e já era tarde de mais para desculpas. Mas meu celular tocou, era uma mensagem de um número desconhecido.

Mensagem: Oi, Berry. Encontre-me no estacionamento em dois minutos.

Sorri assim que li o Berry.

– Desculpe gente. Tenho que ir.

– Outra vez? – se revoltou Kurt.

– Eu sei, mas eu tenho um motivo. Grande motivo! Prometo explicar mais tarde e contar tudo o que querem saber – levantei – Tudo bem?

O motivo era que Noah iria embora na próxima semana, cada minuto que eu passasse perto dele seria importante. Claro, eles não sabiam o que estava acontecendo, os problemas do reformatório, mas era óbvio que sabiam de quem se tratava.

– Está bem. Vai! – exclamou Kurt.

– Boa sorte – disse Tina.

– E – Mercedes levantou uma sobrancelha – faça valer apena perder o almoço com a gente.

Ambos sorriram para mim. Era ótimo saber que eu tinha amigos verdadeiros. Não que Noah não fosse, ele era, mas eu estava fazendo um grande esforço para enxergar ele apenas daquele modo.

– Eu amo vocês – falei e corri dali.

Não me importei se teriam pessoas me olhando. Corri, afinal, dois minutos não eram muito tempo para ir até o estacionamento. Estava realmente distraída do resto do mundo, pensando sobre o que conversaríamos quando alguém me segurou pelo braço, o que me fez parar bruscamente.

– Berry, onde vai com tanta pressa?

– Noah! O que faz aqui? – perguntei, ofegante.

– Eu só vou para o Reformatório na quarta, esqueceu?

– Não é disso que estou falando! Pediu para te encontrar no estacionamento!

– Quê? Tá doida? – perguntou, confuso.

Ele não fazia idéia do que eu estava falando. Alguém tinha tentando se passar por ele?

– Essa corrida toda era por mim? – ele riu.

– Não – fiz uma careta, mas vi que era inútil mentir – achei que podia ser algo importante.

– Hum. Eu queria mesmo falar com você. Que horas começamos nosso ensaio intensivo?

Pensei um pouco.

– Que tal às duas da tarde?

– Você respondeu minha pergunta com outra pergunta.

– Às duas horas – corrigi.

– Feito – ele levantou as sobrancelhas - Vou tentar não molhar a sua casa dessa vez.

– Você sempre arruma a bagunça que faz mesmo – dei de ombros.

– Amanhã você vai limpar tudo.

Noah estava sentado na cadeira de rodas, sorrindo. Peguei o braço da cadeira e o puxei para perto. Abracei sua cabeça com um braço e apertei. Ele riu.

– Gosto muito de você, Noah.

Meus braços deixaram sua cabeça e ele simplesmente me fitou demonstrando algumas dúvidas, enquanto franzia a testa. Não sei se foi como eu disse aquilo, mas ele parecia ter notado, de algum modo, que aquelas palavras significavam muito mais do que eu tinha falado. Então o sinal tocou e eu me senti aliviada por não ter de mentir e dizer que só o via como amigo. Puckerman tinha sido um dos bons quando realmente precisei e eu gostava daquilo nele. Mas pelo o que eu sei, amigo não costuma ter sonho em que beija o outro.

Embora fosse difícil aceitar, ele não estaria mais ali em alguns dias. Não sabia quanto tempo ficaria fora e nem se um dia voltaria. Aquele não era o melhor momento para abrir o meu coração e dizer que tinha me apaixonado por ele, mesmo tendo jurado para mim mesma que aquilo nunca aconteceria.

Aproveitaria o final de semana com ele, mas e depois? Talvez aceitasse Jesse de uma vez por todas. Eu merecia ser feliz. E Finn? Quinn realmente tinha aceitado o término do namoro? Santana simplesmente ficaria parada enquanto eu e Noah ficávamos mais próximos? Ganharíamos as regionais? Quem tinha me mandado a mensagem? Diante de tantas coisas que se passavam na minha cabeça, só tinha uma questão que realmente me preocupava.

Quanto tempo ficaria sem Noah?


(Puckerman)


Ela simplesmente se virou para ir embora. Mas eu não poderia aceitar aquilo. O modo que ela me olhou foi muito mais profundo, suas palavras soaram com muito mais paixão, do que um amigo faria. Eu não conseguia parar de sorrir, eu não podia deixar aquele momento escapar e correr o risco de nunca mais acontecer.

Deixando minha cadeira de rodas para trás, corri até Rachel. Ela não tinha ido muito longe. Quando a alcancei, virei para mim pelos ombros. Rachel encarava o chão. Era óbvio que tinha algo que ela não queria falar. Ou não falar de novo.

– O que você disse? – eu perguntei.

Ela não respondeu.

– Rachel – por algum motivo que ainda é um mistério, comecei a sussurrar. Ergui seu rosto, obrigando ela a me encarar ao invés do chão – O que você disse?

– Eu não, eu não... Olha, eu não devia... – ela tentou se explicar, mas não foi muito longe.

– Vai, Rachel – eu ainda sussurrava – fala de novo. Repete o que disse.

Segurei seu rosto em minhas mãos e a olhei com ansiedade. A respiração não era normal, via seu peito subir e descer rapidamente.

– Não vai falar, não é? – perguntei. Eu já sabia a resposta, mas era só para confirmar.

Ela balançou a cabeça negativamente. Dei um leve beijo em sua bochecha. Eu finalmente sabia, ela sentia o mesmo que eu. Não éramos só amigos. Talvez ela não soubesse o que eu sentia, mas tínhamos um final de semana para esclarecer tudo. Quando eu voltasse do Reformatório, eu poderia vê-la. Poderia ter bom comportamento e sair mais cedo ainda. No final, não era do Sam que ela gostava, não era do Jesse. Era de mim. E eu sabia daquilo só pelo modo como falou e me olhou. Finalmente sabia.

– Princesa – falei mais alto para que ela pudesse ouvir no meio do corredor, que estava lotado de alunos correndo para suas salas. Afastei o rosto um pouco para olhá-la melhor – eu estou ansioso por esse final de semana.





Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!