Sweet Caroline escrita por Michelli T


Capítulo 18
A volta




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Sam corria pelos corredores da escola, seguido de perto por mim. Ignoramos qualquer tipo de olhar ofensivo. A secretária tentou nos impedir de entrar, dizendo que o diretor estava ocupado, mas fomos tão rápidos que a mulher de meia idade não teve tempo de dar a volta na mesa e nos parar. Sam parou na porta da sala e, com um olhar encorajador, abriu ela para mim. Alguém estava sentado em uma das poltronas de frente para Figgins. O diretor me olhou preocupado.

Durante o almoço, Sam apareceu e – desesperadamente - disse que tinha algo para me mostrar. Eu recusei sua oferta e o convidei para comer com a gente. Quer dizer, eu não estava com nem uma vontade de levantar dali e, alguma coisa me dizia que o Sam estava exagerando. Eu abri um espaço entre eu e Kurt para que ele se sentasse, mas o loiro me encarou de cara feia e então, disse duas palavras que me fariam ir até qualquer lugar com ele.

– Ele voltou.

E lá estava eu, sem fôlego e sem entender nada. Aquele sentado de costas para mim, não podia ser o meu Noah. Sua cabeça era... Era careca. Pensei um pouco. Talvez Sam tivesse confundido, eu não esperava ninguém careca. Na verdade, não esperava por ninguém. Já tinha aceitado o fato de que Noah estaria longe por muito tempo.

– Rachel. O que você quer aqui? – Figgins perguntou. Pude sentir a repreensão em sua voz.

Respirei fundo.

– Nada. Eu só... Só... Desculpe. – Assim que vi que seria impossível me explicar, me preparei para sair da sala. Me sentia desolada, afinal, por uns momentos eu achei que o teria de volta.

– Espere. Quero te apresentar alguém. Esse é o Brad. – ele falou rapidamente.

Brad continuou de costas para mim.

– Ah... Oi.

– Acho que pode mostrar a escola e... Ah, desculpe, Puckerman. Eu não vou participar dessas suas loucuras.

Figgins bufou e, lentamente, a cadeira se virou para mim. E lá estava ele. Sorridente e... Careca.

Meu coração parecia querer sair pela boca e, enquanto o olhava, vi tudo perder o foco. Força? Eu nunca teria o bastante para esconder meus sentimentos e, como me disseram, aquilo não era uma coisa ruim. Respirei fundo e depois soltei o ar com um leve suspiro. Um grande sorriso se formava em meu rosto.

– Vem aqui – Noah disse, abrindo os braços.

E então foi como se só estivéssemos nós dois ali. Não tinha Sam, nem Figgins e muito menos a secretária. Só nós dois. Como sempre deve ser. Vi seus olhos brilharem e, sem poder me conter mais, me entreguei em seus braços. Tudo bem, eu estava na sala do diretor sentada no colo de Noah, mas aquilo não me pareceu nem um pouco errado no momento. Ele me abraçou com força e eu me sentia segura ali. Quando eu achei que não dava para ficar melhor, Noah murmurou:

– Nunca mais quero ficar longe assim.

Eu quis paralisar ali. Queria que nós dois ficássemos juntos para sempre. Mas se eu soubesse como o dia iria acabar, não teria soltado Noah assim que Figgins disse que estávamos fazendo “coisas impróprias” em sua sala.

(Puckerman)

Sr. Collins me disse que tinha boas notícias e pediu para que me comportasse nas próximas horas. Foi o que eu fiz, embora não tenha me esforçado para isso. A maioria não tinha coragem para sequer olhar em meu rosto. Mas não Brad, ele encarou tudo muito bem. Muito mais do que deveria ser normal naquela situação. Brad brigou com uns dez caras naquela tarde, todos que riam dele. Ele era muito bom, até hoje não sei como consegui fazer aquilo com ele. Mas o caso era que: comigo Brad estava sendo legal. Ele ficava sorrindo quando eu passava e, por pena (juro que era só por pena) eu sorria de volta. E tudo estava muito bem.

Quando me chamaram de volta para ver Sr.Collins, minha mãe estava na sala. Talvez ter raspado as sobrancelhas de Brad tenha sido um exagero. Sr.Collins disse que eu podia ir embora.

Minha mãe sorriu para mim.

– Como assim ir embora? – perguntei, desconfiado.

– Você vai para casa – Ele sorriu. – Aproveite essa chance, garoto.

Cerrei os olhos para ele. Claro que o que eu mais queria era ir embora, então mesmo não entendendo a situação, não protestei. Deixei minhas perguntas para quando estivesse longe dali. Corri para juntar minhas coisas. Jeff e Tony me olhavam apreensivos enquanto jogava minhas coisas na mala.

– Você vai fugir? – Tony perguntou.

– Qual é o problema que você tem, Tony? – Revirei os olhos. – Não estão vendo? Eu vou para casa.

Fechei a mala e me virei para os dois. Tony e Jeff estavam de braços cruzados e suas expressões não eram boas.

– O que foi? – perguntei.

– Vai embora assim? Do nada? – Tony levantou as sobrancelhas.

– É! Nos disse ontem que iria ficar um ano inteiro ou mais! Agora... Vai embora? – Jeff o apoiou.

– Mudança de planos. – Dei de ombros. - Qual é o problema afinal?

Os dois se olharam, mas nenhum teve coragem de dizer uma palavra. Eu não entendia o que estavam querendo, então com a mala na mão, abanei para os dois e fui em direção da porta.

– Puck! – Os dois chamaram ao mesmo tempo.

Me virei para eles, mas novamente, nenhum falou. Os dois tinham um olhar que, para minha surpresa, era triste.

– Aconteceu alguma coisa?

– Não, mas... Quando você sair... Brad vai tomar o controle de volta. Sabe de quem ele vai se vingar, não sabe? – Tony suspirou.

– É só isso? – os encarei. – Vai dar tudo certo. Agora, venham aqui.

Dei um rápido abraço nos dois. Eu sentiria falta deles, e eles continuavam me olhando com aquela cara de cachorro que caiu da mudança.

– Eu não pretendo voltar, mas – peguei um caderno em cima da escrivaninha e, com a caneta de Tony, anotei meu endereço – vocês podem aparecer quando saírem. É sério. – Eles riram. – É bom que apareçam.

Naquele momento não tinha nenhuma sombra de tristeza em seus olhares e eu pensei que, talvez, o que os incomodava não era Brad realmente. Com um último sorriso, fechei a porta do quarto. Tinha mais uma coisa que precisava fazer.

– Não machuque Jeff e Tony – disse, enquanto entrava no quarto de Brad. Ele estava sozinho e franziu a testa ao me ver.

– Você vai embora? – Ele olhou para a minha mala.

– Vou. – Respirei fundo. – Desculpe ter te transformado em uma salsicha ambulante.

– Acho que eu mereci. – Ele riu, mas eu não conseguia ver graça naquilo, então ele se explicou. – Deve ter pelo menos uns 100 jeitos de consertar isso com a tecnologia de hoje em dia.

Brad é rico, pensei.

– Então, tudo bem?

– Sim, não vou fazer nada contra eles se não fizerem contra mim. – Uma pausa. - Boa sorte.

– Valeu. A gente se vê.

Brad veio até mim e apertou minha mão.

– A gente se vê – ele repetiu, mesmo que nos dois soubéssemos que aquilo era mentira.

Quando voltei para a sala do Sr. Collins, minha mãe assinava uns papéis. Ao me ver, os dois sorriram. Sentei confortavelmente na cadeira ao lado de minha mãe e esperei pelo momento que finalmente sairia de lá para sempre.

Meia hora de viagem e achei que o era o momento de falar.

– Para onde está me levando?

– Para casa – ela sorriu.

– Não. Eu estou falando sério!

– E eu também, olhe, Noah. – Vi preocupação em seu rosto. – Eu errei, está bem? Eu tomei decisões precipitadas, eu não devia ter te mandado para aquele lugar horrível.

Horrível? O lugar era perfeito. Bom, estávamos trancados e não tinha nenhuma mulher, mas... A pintura era nova, os móveis eram novos, mas preferi ficar quieto e deixar que ela continuasse.

– E eu percebi que você não era... Não era um delinquente como achei que fosse. Eu só... Só queria te ajudar, sabe? Queria que fosse um homem bom. Eu faria o necessário para te transformar nisso. Teria te deixado lá o ano inteiro.

– Mas...?

– Sua namoradinha. A Rachel apareceu lá em casa um dia. Ela me disse cada coisa, ela... Estava bem descontrolada.

Eu ri imaginando a cena.

– Defender a pessoa que a gente gosta não deveria ser considerado errado, não é? – Ela sorriu, com os olhos na estrada. – Ela me disse que você mudou, mas perdeu o controle da situação e não me convenceu. Então... Bill me disse que ela estava certa. Eu o mandei embora naquela noite.

– Então vocês não estão...?

– Ele voltou no dia seguinte. Resolvi te buscar. Preparei tudo na escola e está tudo certo.

– O que quer dizer está tudo certo?

– Você pode voltar amanhã, se quiser.

– Valeu.

Foi só o que eu disse. Eu não ia me entregar tão fácil. Ela arrumou as coisas e me buscou, mas se pensar bem, aquele era o dever dela. Afinal, ela que tinha me trancado lá. Mas mesmo assim, ela sorriu e falou com uma voz toda comovida:

– Não foi nada.

Ao voltar para o McKinley, todos me olhavam como se não me conhecessem. Na aula de Inglês, perguntei ao Kurt o que tinha de errado e ele disse que era por causa do cabelo. Eles deviam ter memória fraca, pois eu já tinha raspado uma vez. Passei o dia contando as histórias do reformatório. Claro que nenhuma era verdadeira, mas eles não tinham como saber. Resolvi não contar a única que realmente aconteceu. Deixei para lá. Ao fim da aula, avistei Rachel esperando por mim na calçada em frente da escola.

– Você está bem? – Perguntei, quando cheguei perto o bastante. Ali eu notei que seu olhar era estranho. Tristeza?

– Não, não estou.

– Me diga quem te fez ficar assim. Eu dou um jeito agora mesmo.

– Ninguém é culpado, Noah. – Ela falou, sua voz começando a falhar. - Fui eu que fiz isso.

Os olhos de Rachel se encheram de lágrimas outra vez. Eu não lembrava que ela chorava tanto assim.

– Me fala o que aconteceu.

– Isso só piora as coisas! - ela se exaltou.

– Calma, meu amor. – Deixei escapar. – Vai ficar tudo bem.

Tentei a abraçar, mas ela se soltou agressivamente de meus braços.

– Chega, tá legal? Isso só faz com que eu me sinta mais culpada.

– Culpada pelo o quê?

– Eu... – Rachel respirou fundo. – Eu dei uma chance para o Jesse enquanto você não estava aqui.

Tentei responder, tentei xingá-la. Ali, olhando para a garota que achei ser a mulher da minha vida, meu coração foi partido pela primeira vez.

(Rachel)

– Mas agora que você voltou, eu vejo quem eu amo de verdade. – Me expliquei. - Eu quero ficar com você, só com você! – Coloquei a mão carinhosamente em seu rosto, como se aquilo o queimasse, ele se desvencilhou dela.

– Eu fiquei lá só por alguns dias. Rachel, você disse que ia me esperar.

– Eu sei... – choraminguei. – Foi um grande erro, mas agora vai ficar tudo bem... Não vai?

– Eu confiei em você e o que ganhei em troca?

– Eu só...

– Você é bem diferente da Santana. Ela pelo menos deixa claro que não gosta de você. – ele balançou a cabeça.

– Me desculpa, vamos lá para casa. A gente vê um filme, vai ficar tudo bem. – sugeri, com um sorriso.

– Acabou.

– O quê... O que acabou?

– Eu e você. – Noah olhou para o lado e Jesse vinha descendo as escadas. – Seu namorado stá vindo, melhor correr para ele.

Vi Noah se afastar e Jesse se aproximar. Não queria que fosse daquele modo para sempre. Jesse por perto e Noah longe. Eu pensei em não contar o envolvimento que tive enquanto Noah não estava, mas me pareceu tão errado. Eu queria ser a namorada dele e queria ser sincera. Eu queria ser confiável.

– Oi – Jesse falou e me puxou para um abraço. Eu o afastei de mim. – O que foi?

– A culpa é sua também. Por que não me deixou ser feliz?

Ele pensou um pouco.

– Feliz? Você era tudo, menos feliz.

– E o que eu sou agora? – com lágrimas nos olhos, fui embora. Mas Jesse não ia deixar por isso mesmo. Ele me alcançou.

– O que isso quer dizer? Você terminou com ele? – Perguntou.

Era como se eu tivesse alguma coisa presa na minha garganta. Eu só queria ir para casa e chorar sobre o leite derramado. A última coisa que queria era conversar com Jesse, que tinha sua parcela de culpa por tudo aquilo.

– Ele – falei enquanto virava para Jesse – terminou comigo.

– Então nós podemos... – ele começou.

– Não, não podemos. – respondi e, com um sorriso falso para Jesse, continuei meu caminho.

(Puckerman)

Levantei cedo e de cabeça erguida, pois tinha feito a escolha certa.

Andando pelos corredores, era como se todo mundo já soubesse. As garotas me olhavam e... Eu olhava algumas vezes. Eu estava ferido e eu não queria que ninguém descobrisse. Um típico nerd de óculos passou por mim e, sem pensar, o peguei e joguei na lata de lixo do corredor. Ele ficou de cabeça para baixo e pediu por ajuda. Algumas pessoas riram. Segui o caminho para a primeira aula.

Só estava avisando que Puck voltara.


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