Sweet Caroline escrita por Michelli T


Capítulo 16
O começo de um novo fim




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E mais uma vez eu estava lá. Contando os dias para sair. A única diferença é que eu tinha um motivo. Rachel Berry. Eu passei os três primeiros dias pensando nela e no Mckinley High, aquilo me tornou vulnerável de certa forma, mas eu já estava cansado.

         Tudo o que fiz desde que cheguei foi sentar e ouvir enquanto alguém me passava algum sermão ou algum idiota me xingava, mas era simples para mim ignorar. Passei longos dois dias assim, até que Brad – um cara do Reformatório – resolveu passar para a agressão. Sempre que algum monitor não estava olhando, eu sofria um pouco. Mas eu estava longe de me importar, embora não estivesse gostando muito. Queria me comportar, queria sair. Então, no terceiro dia, aconteceu. Era uma manhã nublada e a luz que passava pela janela do meu quarto era muito pouca, estava vindo uma tempestade. Meus dois colegas de quarto estavam dormindo e o silêncio me fez ouvir algo suspeito do lado de fora. Fui idiota o bastante para sair e conferir.

         Devia ser muito cedo, pois o movimento era pouco. Eu tive certeza que era troca de turno dos monitores e os caras deviam ter calculado aquilo. Eles eram quatro, mesmo que nenhum fosse tão forte como Karofsky, eu tive problemas para me soltar. Quando consegui, acertei um soco em cheio na cara de um ruivo magrelo, mas então os outros me seguraram e me levaram dali. Eu pedi ajuda e as pessoas ouviram, mas ninguém quis ajudar.

         Eles me amarraram em uma cadeira no quarto de um deles. Eu ficava me perguntando o que eu tinha feito de errado para eles e o que pretendiam. Quer dizer, por que estavam fazendo aquilo se eu tinha recém chegado? Brad me lançou um olhar malicioso e eu senti meu corpo tremer. Eu estava amarrado, seja o que eles quisessem fazer, eu não poderia me defender. Então um deles entregou uma coisa para Brad e ele sorriu.

Brad segurou o aparelho na mão e eu pude ouvir o barulho do botão sendo apertado.

(Rachel)

- Tem certeza disso, Quinn? – perguntei.

         Ela sorriu gentilmente.

- Você está incrível. Nunca achei que diria isso, mas sua roupa está linda.

         Voltei ao provador, tinham mais cinco roupas que Quinn queria que eu experimentasse. Era bom ter algo novo de vez em quando. Algo como um novo estilo, talvez. Algo como um novo namorado? Me xinguei mentalmente por ter pensado aquilo. Noah era o cara que eu gostava e eu ia esperar nem que ele levasse o ano todo para voltar.

         Eu realmente acreditei naquilo no começo, mas depois que os três dias longe dele se passaram, a ficha finalmente caiu. Não tinha como saber quanto tempo ele ficaria lá e, se dependesse da mãe dele, seria muito. Quando ele voltasse, poderia não estar mais apaixonado por mim e nem eu por ele. Nada dura para sempre. Dei de ombros. Não importava o que os ditados populares dissessem, Rachel Berry ia esperar pelo seu príncipe encantado, falei para mim mesma. Me olhei no espelho e deixei um sorriso escapar. O gosto de Quinn era ótimo.

- Terminou, Rachel?

- Ah, ainda não! Só mais um minuto!

         Falei, tirando a roupa o mais rápido que pude e vestindo a próxima.

- Por favor, me diz que você não tava aí dentro pensando no Puck.

         Pensei antes de responder, mas minha demora fez com que Quinn abrisse a cortina do provador e me encarasse. Eu gritei e tapei meu corpo com a blusa, Quinn bufou.

- Relaxa, Rachel. Essa loja só tem mulheres – ela revirou os olhos – Você não pode ficar pensando nele o tempo todo, isso já está ficando chato. Eu estou falando e você não escuta nada, esquece o que queria fazer, não olha pros lados na escola... Isso é algum tipo de depressão?

         Balancei a cabeça negativamente. Sim, ela estava certa. Eu pensava nele o dia todo, me reprimia se olhava para outro cara, mesmo que fosse sem querer. Eu não podia ficar o ano todo daquele modo. Quinn era a pessoa certa para me tirar da fossa em que estava.

- Vou colocar a próxima roupa – falei e me virei para o espelho, convencida de que deveria seguir em frente.

Não esquecê-lo, mas me permitir ser feliz.

(Puckerman)

         Meus dois colegas de quarto me encaravam. Não sei bem se foi pela minha expressão ou pela minha aparência. Eu esperei até que os dois acordassem e, assim que um acordou, ele ficou amedrontado e acordou o outro. Minha intenção não era assustá-los, mas eu não devia estar com cara de muitos amigos.

- O que aconteceu com você? – um deles perguntou.

- O que aconteceu? – levantei da cadeira com rodas e a empurrei com força contra a parede. - Vocês vão me dizer que não ouviram nada?

         Eles se entreolharam.

- Não se atrevam a mentir – falei de um modo ameaçador.

- Cara, a gente não podia fazer nada. Era o Brad! A gente ia levar uma surra junto com você! Nem te conhecemos! Não é nosso dever te ajudar. Eu não sei por que eles estão no seu pé, mas não quero eles no meu!

         Cerrei os olhos e pensei um pouco. Ele estava certo. Eu mesmo não faria aquilo por eles, mas não podia desistir.

- Eles me levaram até o quarto 402, lá me amarraram em uma cadeira e... E rasparam meu moicano. – falei e, então lentamente completei - Eu quero vingança.

- Era só um cabelo, você não vai querer problemas com eles.

         Gargalhei.

- Não foi só o cabelo. Desde que eu cheguei aqui eles tem me feito de saco de pancadas, não finjam que não sabem! Eu aceitei tudo, mas agora chega! Se acham que eu sou algum... Algum filhinho de papai como vocês, o buraco é bem mais embaixo. Já estivesse em lugares bem piores que esse, ao invés de portas, nós tínhamos celas. Deu para entender? Eu errei quando baixei a cabeça para ele, mas isso acaba aqui. Vão me ajudar?

         Eles ficaram em silêncio por um tempo e então, um deles finalmente respondeu.

- Não nos leve a mal, o que você falou foi bem legal, mas... Até agora só vimos você apanhar e... Sinceramente, eu não estou a fim de ser o alvo do Brad.

- Se não estão comigo, estão contra.

         Dei uma última olhada nos dois e sai do quarto. Recebi muitos olhares curiosos enquanto passava pelo corredor. Assim que cheguei ao refeitório, senti a sede de vingança tomando conta de mim. Peguei uma bandeja e sentei sozinho em uma mesa. Procurei por uns instantes e finalmente avistei Brad. Ele estava sentado com o cara ruivo. Os dois conversavam animadamente e aquilo me irritava.

         Esperei até que ele acabasse o café, assim que o fez, ele levantou e foi levar a bandeja de volta. Brad estava tão distraído que nem viu que eu levantei no mesmo instante e andei na direção dele. Íamos nos encontrar no meio do refeitório. Brad não faria nada comigo ali, pois tinha muitos monitores. Por algum motivo ele se importava com eles, mas eu não me importava mais.

         Quando passei por Brad, empurrei ele com o ombro, o que fez a sua bandeja cair no chão. Até aquele momento, Brad não tinha notado a minha presença.

- Olhe bem por onde anda a partir de agora – avisei.

         Brad olhou para sua bandeja no chão e depois olhou para mim com raiva.

- Você quer que eu quebre a sua cara de novo, não quer? – ele se exaltou.

         Em resposta eu empurrei ele pelo peito com as duas mãos. Brad deu três passos para trás com o empurrão e teve que se equilibrar para não cair. O refeitório todo parou para olhar.

- Isso não vai sair barato – ele falou alto.

- Eu vou esperar entusiasmado.

         E tudo acabou. Vi um monitor vindo pelas costas de Brad e outro me empurrou para que eu seguisse meu caminho para fora do refeitório. Quando passei por Brad, que estava abaixado juntando suas coisas, dei um leve empurrão nele e foi o bastante para que ele caísse sentado no chão. Alguns riram e aquilo serviu para irritar Brad.

- Não tem nada para ver aqui – um deles falou, enquanto o outro me levava para longe dali.

         Quando estava fora do refeitório, o monitor colocou a mão no meu ombro e falou baixo para que apenas eu pudesse ouvir:

- Já estava na hora de reagir, Puckerman.

         Com aquele comentário, vi que era a hora de voltar para o meu quarto.

- Acabei de provocar o Brad e não tem motivos para ter medo. Ou vocês me ajudam ou eu vou dizer que a ideia era de vocês dois.

         Eles não se assustaram com aquela ameaça. Afinal, por dois dias inteiros fui humilhado na frente de todos. Por mais que estivesse decidido a mudar aquela situação, eles não tinham como saber do que eu era capaz. Muito menos quem eu era. Veja bem, os caras antigos – como eu – não estavam mais lá, não os bons – e com bons quero dizer perigosos. Eu tinha ido para aquele reformatório quando fiz quinze anos de idade e as coisas tinham mudado muito. Eram poucos rostos conhecidos lá dentro e, mesmo assim, eu recebi olhares curiosos enquanto aceitava a humilhação de Brad. Eles sabiam a confusão que eu tinha causado da outra vez, principalmente os monitores. Mas por algum motivo, eles agiam como se não me conhecessem. Brad era o novo Rei do lugar e já estava na hora do Puckzilla destroná-lo.

 (Rachel)

         Eu desfilava pelos corredores com Quinn. Algumas pessoas estranhavam, mas era ótimo receber tanta atenção. Por onde a loira passava, as pessoas olhavam. A roupa que Quinn tinha escolhido para mim já tinha recebido alguns elogios, principalmente de Kurt e Mercedes.

- Se o Puck não te quiser mais, me avisa – um cara do time de hóquei falou.

         Suspirei. Ele tinha mesmo que ter falado nele? Quinn me olhou preocupada.

- O Puck ainda te quer, sabe disso não é?

- É... Por quanto tempo?

- Ele se tornou um cara melhor quando ficou com você e... Tenho que admitir que você também mudou.

         Santana nem notou minha presença na sala do Coral. Ela estava preocupada com outras coisas. Estava consolando Brittanny por algum motivo que eu desconhecia, mas também não me importava.

         Ao final da aula Sam e Quinn tinham marcado um encontro. Eles me convidaram para ir junto, mas eu não quis atrapalhar. Chegando em casa, pensei em aproveitar minha solidão para tentar compor uma música. Subi as escadas lentamente e, ao chegar lá em cima, meu celular tocou. Meu coração deu um pulo, mas eu devia saber que não seria ele. Era Jesse.

(Puckerman)

- Se estiverem cansados de levar mais chutes na bunda do que cachorros sarnentos, me avisem! – falei e bati a porta do quarto.

         Eles não estavam sendo fáceis e eu começava a achar que teria de fazer aquilo sozinho. Foi colocar o pé fora do quarto, que avistei um pouco mais a frente um cara desengonçado e magro, seu cabelo era ruivo. Meus olhos se arregalaram e eu chamei por ele, mas ele não olhou para trás. Eu corri até alcançá-lo, quando o fiz, o joguei na parede e o segurei pela camisa, mantendo ele preso com a força do braço sobre seu peito.

- Me solta! – ele gritou.

         Olhei para os dois lados, mas não tinha nenhum monitor por perto. Dei um soco no estômago dele.

- Essa foi por você ter gritado. – falei e o apertei mais contra a parede. – Achou que eu ia deixar por isso mesmo?

- Cara! Era só um cabelo idiota!

         Acertei um soco em seu rosto, que o fez gemer de dor.

- Não era só um cabelo, era... Era minha marca, entendeu? E não é só pelo cabelo.

         Dei dois socos seguidos e rápidos no rosto dele e então o soltei. Empurrei com força e ele caiu no chão, meio tonto.

- Avise o Brad que o Puck está esperando por ele. 

         O ruivo levantou e correu, eu sorri com satisfação. Ao me virar vi meus dois colegas de quarto me encarando.

Eles sorriram.

(Rachel)

         Jesse me convidou para sair. Eu disse não, mas ele disse que eu não tinha escolha. Disse que eu não poderia me excluir do mundo e que me buscaria em uma hora. Eu não me arrumei, continuei com a mesma roupa que estava na escola e também não passei maquiagem. Quando alguém bateu porta, eu me arrastei para atender.

- Oi, Jesse – falei sem animação.

         Ele me olhou por uns instantes e sorriu.

- Você é linda.

         Jesse me levou para fazer um piquenique, por mais que eu não estivesse com nenhuma vontade, acabei conversando com ele. É difícil não conversar com Jesse quando temos tantas coisas em comum. Pelo menos era o que ele fazia parecer. Meia hora depois eu já estava conversando animada com ele, nenhuma sombra de Noah na minha mente até aquele momento.

         O sol estava se pondo, o vento era pouco. Era muita tranqüilidade para ser verdade e então... Ele tentou me beijar. Eu senti tanta raiva que levantei decidida a ir embora caminhando, mas Jesse me convenceu a deixar ele me levar. Quando estacionou o carro na frente da minha casa, ele segurou minha mão, me impedindo de descer.

- Quando a gente ama alguém de verdade, somos capazes de perdoar qualquer coisa que a outra faça. Só para poder ter ela por perto.

- Eu não te amo, Jesse. – fui sincera.

- Não estou falando de você, Rachel.

- Desculpa, mas... Eu não entendi.

- Tivemos tantos momentos bons... Agora você não é capaz de olhar nos meus olhos. Não finja que não me amou, pois eu sei que sim. Sempre... Sempre tem alguém querendo nos separar. Antes era o Finn, mas cadê ele agora? Ouça, Rachel... Puck é só um garoto. Como o Finn, ele vai passar logo. Eu entendo que gosta dele agora, mas ele é só um garotinho brigão. Pergunte se ele quer passar o resto da vida com você e se ele imagina ter uma família com você. Tenho certeza que ele vai sair correndo. Agora, pergunte para mim... – ele fez uma pausa – Eu imagino todos os dias. Parece que você quer me enxergar como o vilão da sua vida, mas sabe que as coisas não são assim e por mais que goste do Puck, sabe que não vai durar para sempre. Eu tenho certeza que você é a mulher da minha vida. Eu te esperei e ainda estou te esperando, mas... Às vezes me pergunto se quando você perceber, não vai ser tarde de mais.

         O olhei sem palavras.

- Eu continuo te amando e esperando pelo dia em que vai perceber que também me ama. Só não demore muito, Rachel. Eu... Eu estou começando a pensar que não vou chegar a lugar nenhum – falou e então soltou a minha mão.

         Corri para dentro de casa. Lá dentro, deixei que as lágrimas saíssem descontroladas. Daquela vez não era por saudade de Noah, era por culpa. Culpa pelo o que tinha sentido ao ouvir a declaração de Jesse. É, parecia que uma parte de mim ainda sentia algo por ele, algo que eu tinha aprendido a ignorar, mas as palavras dele foram o suficiente para romper minhas barreiras e fazer com que eu enxergasse que, talvez, Jesse fosse o meu cara. E não Noah.

- Rachel! Se acalma, tá legal? – Kurt me segurou pelos braços.

- Eu sou... Eu sou uma traidora! Ele... Ele... – tentava falar em meio aos soluços. – Me protegeu... Me fez feliz...

- Você não o traiu! – Mercedes gritou.

- E-eu disse que eu... Eu ia esperá-lo, sabe? Agora... Agora sinto algo pelo... Pelo Jesse? Eu sou uma... Não passo de uma vac...

- Legal, já chega! – Sam apareceu na porta do meu quarto.

- Como entrou aqui? – Mercedes perguntou.

- Eu bati na porta e ninguém atendeu então eu entrei pela janela da sala. – ele se virou para mim. – Eu não acredito que você ia se chamar disso, Rachel!

- É o que eu sou, Sam! – gritei.

- Não é! – ele gritou de volta. – Você não manda no seu coração! Entendeu? Não tem culpa de gostar do Jesse, e tudo bem! Vocês ficaram mal resolvidos e ele marcou a sua vida! Agora, com o Puck longe, você tem a chance de resolver e ver de quem gosta de verdade!

- Eu gosto do Noah! Não quero gostar do Jesse...

         Sam se aproximou de mim e Kurt abriu caminho.

- Não é você que escolhe, Rach. O seu coração vai escolher o melhor para você. Seja ele o Jesse ou seja ele o Puck.

         Depois do meu desabafo e de levar uma lição de Sam, ficamos deitados no chão do meu quarto, como éramos acostumados a fazer. Ninguém tinha nada para falar, mas muito para pensar.

- Cadê a Quinn? – perguntei.

- Ela achou que como não é muito próxima, seria intromissão.

- Eu já considero ela próxima. – murmurei. – Tenho medo de sonhar com o Jesse essa noite.

- É só não pensar nele. Pense no Noah – sugeriu Mercedes.

- Você não pode fugir. Tem que encarar isso logo. Se não quando o Puck voltar, você vai ficar dividida. Beijando um e pensando no outro, sabe? – Sam disse – Isso sim é errado.

- Quinn disse que o Puck tinha mudado quando estava comigo.

- É, ele parou de brigar – falou Kurt.

- Isso é verdade, você fez mágica. – Mercedes concordou. - A agressividade pareceu sumir dele.

(Puckerman)

         Brad nem teve tempo de reagir. Assim que vi o sangue escorrer do nariz dele, percebi que seria muito mais fácil do que eu pensava. 


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