The Legerdemain Lounge escrita por Kirara-sama


Capítulo 2
Hunters


Notas iniciais do capítulo

Baseado em um comentário de Labelladonna no wowhead.



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            Eu sou uma Caçadora. Eu trilhei meu caminho sozinha, tendo como companhia apenas meu arco fiel e meu ajudante lupino, Fantasma.

            Eu sou uma Caçadora. Os amigos que fiz foi apenas para alcançar meus propósitos. Lutei ao lado de Deuses. Deuses igualmente destruí.

            Eu sou uma Caçadora. As feras são as únicas amigas que eu possuo. E elas são sempre passageiras. São nelas que encontro algo. Somente quando me deparo com 150 quilos de dentes e garras rosnando em minha direção é que me sinto viva. E quando isso acaba, o vazio volta e estou novamente sozinha.

            Essa não foi sempre a minha vida. Quando eu era um pouco mais nova, uma coisinha pequena e frágil, tão inocente quanto eu, caiu em minhas mãos. E a criei com alegria e cuidado, apesar do mundo estar se despedaçando com um Aspecto enlouquecido, apesar de a minha cidade ter sido queimada por Orcs, apesar das perdas dos meus companheiros e amigos, apesar das horríveis abominações que cruzaram aquela nação, apesar dos apesares.

            Eu sou uma Caçadora. Devia ter matado aquele Gnomo estúpido quando tive a chance, mas aqueles grandes olhos cianos despertaram em mim algo que eu tinha esquecido. O Sangrelorde Mandokir a teria. Mas isso lhe custaria caro.

            Eu tentei meu melhor para ajudá-la. Deslizei para a sua mente enquanto ela era uma prisioneira. Eu realmente tentei. Tentei tanto. Fomos capturadas inúmeras vezes em nossa tentativa de escapar da famigerada Zul’Gurub. E quando finalmente pensei que ela estaria livre, fui expurgada de seu corpo e minha pequena foi tirada de mim mais uma vez.

            Dizem que Caçadores não choram por feras perdidas. Mas naquele dia eu chorei, com meu coração quebrado e minha mente estilhaçada. E eu estava tão sozinha, com um buraco tão grande no peito. Mas aquela falha, aquele vazio, aquele buraco despertou algo em mim. Algo ruim, que Mandokir jamais esqueceria.

            Ela era apenas uma coisinha pequena quando foi tirada de mim. Eu nunca a esqueci, apesar de ter quase certeza de que ela me esquecera. Você jamais lança uma flecha em um Caçador num dia sem acordar com outra atravessando sua garganta n’outro. Por isso eu treinei, bolei, esquematizei. Fiquei mais forte, mais fria, mais sozinha. Já disse que Mandokir jamais esqueceria o que eu faria com ele? O dia havia chegado.

            Eu sou uma Caçadora. Meus amigos fiéis são um arco e um ajudante lupino. Outras... Coisas são dispensáveis. Sendo assim, naquele dia eu usei um Paladino, um Sacerdote, um Druida e um Guerreiro para os meus propósitos.

            A luta foi brutal. O Druida foi o primeiro a cair, seguido do Guerreiro. O Paladino mal conseguia agüentar as investidas ferrenhas do Sangrelorde e o Sacerdote parecia esgotado, quando, finalmente, aquele sentimento despertou em mim. Os meses que eu passei treinando, nutrindo um ódio mortal, foram despejados em uma saraivada de flechas mortais e Mandokir caiu. E eu não senti nada, nada além da mais pura e horrível satisfação. A vingança é um prato que se come frio.

            E então meu coração perdeu uma batida. Lá, acorrentada em um canto da arena, estava aquele par de olhos cianos, encarando-me intensamente. Poderia ser, depois de todo aquele tempo?

            Com as pernas bambas e as mãos trêmulas, tropecei no corpo morto de Mandokir e caminhei até ela. Meus dedos tremiam. Os mesmos dedos que armaram centenas de armadilhas, encordoaram inúmeras vezes um arco. Eles se embasbacaram enquanto abriam a coleira de ferro. A minha raptorzinha, meu bebê, minha pequenina – não mais assim tão pequena –, estava enfim livre. Mas ela não fugiu. Ao invés disso, ela me derrubou com uma leve cabeçada, trilando alegremente daquele jeito que encheu meu coração inúmeras vezes. Ela me conhecia, ela se lembrava de mim, e ela nunca havia perdido a fé em mim.

            O gelo em torno do meu coração derreteu em uma torrente de lágrimas quentes e abundantes enquanto eu envolvia o pescoço dela com os braços e lhe apertava em um abraço.

            Dizem que Caçadores não choram quando perdem uma fera. Mas eu chorei, e cada lágrima que escorria pelo meu rosto coberto de sangue e poeira estava curando o meu coração quebrado e outrora vazio. Eu tinha meu bebê de volta.

            Eu sou uma Caçadora, mas jamais tive que andar sozinha novamente, pois para onde quer que eu vá, minha ‘aka me acompanha, com seus grandes olhos cianos cheios de alegria e confiança, e seu doce trinado enchendo meu coração de felicidade.


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