Meu Bê escrita por ARTEMIZ


Capítulo 8
Dor pura


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, desculpa a demora!



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Fazia dois dias que Bernardo não ia para aula, e não ligava para mim, e tudo mais. Eu tentei ligar para ele, mas não conseguia. Eu estava com saudade e meio preocupada, mas resolvi esquecer isso um pouco.

- Talvez amanhã ele venha. – disse Amanda.

- Ele tem que vir amanhã. É o último dia de ensaio. – eu disse.

- Pois é, ele não ia querer perder.

Sentei no chão do pátio do colégio na hora do intervalo com muitas crianças correndo para lá e para cá. Eu tinha perdido toda minha vontade de brincar de novo... Cadê o Bê? Amanda sentou ao meu lado e ficou brincando com uma boneca que ela havia trazido de casa.

A aula passou e ninguém tinha me dado notícias do Bê. Perguntei para a professora e ela não sabia de nada, não tinham falado nada para ela. Perguntei para os amigos dele e também não sabiam. Bernardo nunca ficou dois dias sem ir pra aula, nunca. O que podia ter acontecido? Será que ele estava doente? Ou viajou, não sei. Mas amanhã com certeza ele ia vir pra aula, ele não podia faltar.

Fui para casa e mamãe notou que eu estava preocupada e então perguntou o que tinha acontecido. Contei que um amigo meu não tinha ido para escola dois dias seguidos e ela me falou pra não me preocupar, pode ser por falta de vontade, ou algum problema na família, mas disse que ele ia ficar bem. Resolvi confiar nas palavras da mamãe, ela nunca mente pra mim. Fui dormir tranqüila, coloquei o chaveiro de Pikachu pendurado na cabeceira da minha cama e dormi olhando para ele. Sonhei com o Bê, mas não me lembro muito bem o que era.

Já que era o ultimo dia de aula antes das férias, resolvi colocar meu vestido florido mais bonito e minha fita vermelha, acho que ele iria gostar, já que gosta de vermelho. Coloquei uma rasteirinha e minha mãe arrumou meu cabelo demoradamente, e então fomos para a escola. Ela me deixou lá na frente e passei os olhos por todos à procura de uma só pessoa, que logo encontrei. Fui falar com ele.

- Oi Bernardo. – eu disse.

- Oi Mari, tudo bom? – ele disse.

- Aham. Por que faltou aula esses dias? – perguntei.

- Ah, eu estava um pouco doente, mas fui no médico e ele me deu um remédio redondinho e eu já to bem. – ele disse.

                Eu sorri aliviada.

- Vai no ensaio hoje né? – ele perguntou.

- Vou, e você?

- Vou.

                Os meninos, amigos dele, chamaram ele e ele saiu correndo. Então fui para minha sala e fiquei lá esperando Amanda aparecer. E ela não apareceu. Bateu o sinal, todos entraram para as salas e ela não apareceu. Fiquei um pouco triste, ela era a única menina que conversava mesmo comigo. As outras só brincavam comigo. Sentei no meu lugar e fiquei quietinha ali até o recreio. Quando bateu o sinal para o recreio saí da sala sem nenhuma vontade, e fui brincar com as meninas de vôlei.

                Estava legal, as meninas estavam bem animadas e a bola quase nunca caía no chão. Eu estava me divertindo muito e então rebateram a bola pro meu lado do campo e eu não consegui pegar, então a bola caiu perto do campinho de futebol, onde o Bê estava. Não hesitei em chegar perto dele, mas ele estava com os amigos então eu não iria falar com ele.

- A Mari é sua namorada? – perguntou um menino que estava com ele.

                Escutei com atenção, eles estavam virados de costas para mim então não estavam me vendo.

- Não é. – ele respondeu, dava para ver que ele não estava gostando daquilo.

- Você gosta dela? – o mesmo menino perguntou.

                Os outros meninos entraram na onda e botaram mais lenha na fogueira. Bê estava ficando nervoso com aquilo.

- NÃO GOSTO DELA! – ele falou alto demais e se levantou. – NUNCA GOSTEI DELA. ELA QUE FICA NO MEU PÉ PRA EU CONVERSAR COM ELA.

                Os meninos deram risadas e continuaram a zombar ele, cantando aquela velha musica “Namoradinhos, namoradinhos!”. Meus olhos imediatamente transbordaram e então Bê me viu. Aquilo que ele disse entrou como uma facada no meu peito, como se tivessem arrancados todos os meus membros. Pura dor.  Saí correndo dali pra ele não me ver chorar e fui para sala. Cheguei lá e a professora estava corrigindo algumas tarefas, nem liguei para ela, sentei na minha carteira e continuei a chorar. Como ele pode fazer isso comigo? Então eu fico no pé dele pra ele falar comigo? Sou tão chata assim? Por que ele mentiu tanto pra mim todo esse tempo? Eu estava tão magoada! Me sentindo tão boba... Eu era tão boba! Senti mãos no meu cabelo. Era a professora que sentou ao meu lado e estava fazendo carinho em mim, sem perguntar o que tinha acontecido. Talvez ela já soubesse. Todos já sabiam. Menos eu, menos essa boba aqui!

                Tocou o sinal e todos entraram na sala. Quando Bernardo entrou, ele estava com a cabeça baixa e os amigos dele atrás cantando a mesma música pra ele: “Namoradinhos, namoradinhos.” Aquilo me irritou. Pedi para professora para ir ao banheiro e passei o resto da aula lá. Talvez eu devesse mentir para mamãe que estava tudo bem para ela não perguntar nada, seria melhor assim. Mas antes disso ainda tinha que agüentar olhar para Bernardo no ensaio depois da escola. Longas horas. Eu estava mesmo muito triste agora, muito magoada. Não queria ver ele nem pintado de ouro!

- Crianças, hoje é um dia muito especial. – disse a professora de teatro. – É nosso ultimo dia de ensaio! Vocês tem se saído muito bem em todos os ensaios, mas hoje, especialmente hoje vocês têm que dar tudo de vocês para se sair bem. Aí todos darão um ótimo show amanhã!

                A professora continuou falando e fiz questão de me distanciar bastante das outras crianças. Queria ficar um pouco sozinha. Bernardo me olhava às vezes de canto, eu fingia que não percebia, sentia que não me importava mais.

                Todas as crianças foram vestir suas roupas para a apresentação e ao lembrar que eu não tinha uma roupa eu fiquei bem mais triste e lágrimas rolaram no meu rosto de novo. Senti-me muito mal e então pedi para ir embora. Ela ligou para minha mãe e 10 minutos depois eu estava em casa.

- O que houve Mari? – perguntou mamãe.

- Nada. – eu disse. – Eu só fiquei mal porque todos tinham roupas e eu não.

- Ah minha querida... – ela disse e me abraçou.

                Eu dormi logo em seguida acolhida pelo seu colo. Eu queria esquecer tudo agora. Tudo e todos.


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Notas finais do capítulo

penúltimo capítulo gente, espero mesmo que gostem da história toda, que recomendem, que comentem, e tudo mais!



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