Meu Bê escrita por ARTEMIZ


Capítulo 4
Roupas Feias e Rasgadas




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    Uma semana se passou e agora todo dia eu dava oi para Bê e ia falar com ele. Era isso que eu queria há tanto tempo, mas nunca tive coragem de fazer. Mas agora era especial, daqui a algumas semanas Bernardo ia embora e eu não ia nunca mais ver ele. Isso me magoava tanto. Mas hoje era um dia especial. Hoje começam os ensaios para a apresentação da nossa peça e nós vamos juntos. Mamãe concordou em levar ele também. Eu estava tão empolgada! Amanda ia mais tarde, Susana também. Então nós dois teríamos um tempo só para a gente, não era maravilhoso?
    Eu estava pensando na noite passada que eu devia contar para ele o que eu sentia antes dele ir embora sem saber de nada. Mas toda vez que eu chegava perto dele meu coração pulava muito rápido e eu não sabia muito o que fazer. Eu só conversava sobre os trabalhos da escola e nada mais. Eu ficava muito sem jeito perto dele e ele não falava muito comigo. E isso me deixava triste. Como vou ser a melhor amiga dele se ele nem fala comigo? Eu sentia vontade de chorar só de pensar nisso. Mas eu tinha que ser forte por ele.
    Quando cheguei à escola não o vi, procurei, mas não o achei de jeito nenhum. Então tudo o que eu havia planejado parecia ter ido água a baixo. Meus olhos se encheram de lágrimas e dessa vez eu não consegui segurar. Mas andei com a cabeça baixa até a sala para ninguém ver. Quando cheguei lá, sentei na minha carteira e abaixei a cabeça nela.  Como ele podia ter feito isso comigo? Ia ser tudo tão perfeito! Nem sei por que gosto dele! Não é justo isso, nada justo. Eu só queria arrancar meu coração fora e por um pedaço de pedra no lugar, talvez fosse mais confortável.
- Você tá chorando? – ouvi uma voz suave do meu lado.
    Ergui a cabeça para ver e lá estava Bernardo. Agora eu estava me sentindo tão boba. Ele estava ali. É claro que ele não ia fazer isso comigo. Ele veio!
- Não. – eu disse tentando disfarçar.
    Ele secou uma lágrima minha com o dedo.
- Isso parece uma lágrima, não é? – ele disse.
    Balancei a cabeça afirmativamente.
- Então você está chorando. Por quê? – ele perguntou.
- Nada. – eu disse com vergonha de falar a verdade.
    Hoje não fui eu que fui falar com ele, foi ele que veio falar comigo. Eu estava tão feliz! Pelo menos significava algo pra ele, ele se preocupava comigo de verdade.
    O sinal tocou e ele sentou em seu lugar. A aula passou tão rápida, devia ser por eu estar envolta em pensamentos. Bernardo me intrigava. E logo o ultimo sinal tocou e eu esperei o Bê. Ele sorriu para mim e juntou suas coisas rápidas para irmos.
    Ele ficou quieto toda a viagem, olhando para fora da janela, e eu não sabia como puxar assunto. Mamãe falava sem parar no telefone. Então depois de alguns minutos ele olhou para mim.
- Não está de fita hoje. – ele disse.
    Ah! Eu tinha esquecido de colocar a fita no cabelo! Como eu pude esquecer?
- Ah, sim. – eu disse.
- Está bonita do mesmo jeito.
    Senti minhas bochechas corarem. Me encolhi no banco de trás do carro preto da minha mãe e senti a maior vergonha do mundo, mas Bernardo continuava me olhando.
- Por que tem tanta vergonha de mim? – perguntou ele de repente.
    Eu senti que agora era minha hora. Tinha que falar tudo o que sentia pra ele. Mas e se ele me rejeitasse? Eu não teria outra chance de devolver o Pikachu, e talvez não fosse mais a melhor amiga dele. Susana seria, eu não queria isso. Mas eu tinha que falar.
- É que...
- Chegamos crianças. – disse minha mãe me interrompendo.
    Bernardo abriu a porta rápido e saiu do carro correndo. Eu me senti tão ignorada. Eu devia ter falado mais rápido.
    Entramos no salão de ensaio e a professora que ia nos ensinar a fazer a peça estava lá arrumando o espaço. Ela era um pouco velha, vários cabelos brancos eram vistos na cabeça dela. Mas ela era legal, engraçada e paciente. Fiquei feliz em vê-la.  Vinte minutos depois, Amanda e Susana chegaram com mais algumas crianças. Eu não gostava de Susana, nunca gostei.
- Então minhas crianças. – disse a professora depois de reunir todos no centro do salão. – O nome da nossa peça desse ano será Meu Verdadeiro Amor. Como não temos muito tempo, não vamos ficar aqui conversando, iremos logo ao trabalho! – ela entregou os textos nas mãos de cada criança ali.
    Eram textos pequenos. Eu era a que menos falava, acho. Meu nome seria Aline. Eu estava meio triste mesmo, eu queria muito ser a esposa do Bê, mas Susana ia ser. Por que logo ela?
    Quando começamos a ensaiar a peça, todos erravam os textos e riamos. Tentamos mais duas vezes acertar tudo, e erramos de novo. Eu não tinha decorado nada, me sentia uma boba. Bernardo estava sorrindo toda hora. Era isso que me deixava mais alegre ainda. Depois fomos ver as roupas que íamos usar na peça.
- Que roupa feia. – disse Susana para mim.
    Olhei para ela. A roupa era feinha sim, mas ela não precisava ter dito isso.
- Não é não! – eu disse.
- É sim, olha! – ela disse, pegando a roupa da minha mão.
    Todas as crianças olharam para nós.
- Por que você sempre tem que estragar tudo? – eu disse e saí dali, me escondi atrás de um armário longinho dali.
    Ouvi alguém vindo em minha direção e tentei me encolher mais ainda torcendo para que a pessoa não me visse.
- Mari? – perguntou a voz de Amanda.
- Que foi? Quer falar que minha roupa é feia também? – eu disse com raiva.
- Não... Susana rasgou a roupa sem querer, você não vai mais usar aquela. – ela disse.
    Olhei de frente para ela agora.
- Sério? – perguntei.
- Sim. A professora disse que ela vai mandar fazer outra, uma roupa bonita pra você. – ela disse um pouco empolgada, tentando me animar.
    Abaixei a cabeça de novo. Susana era tão má comigo. Por quê? Será que ela gosta do Bê também? Não podia! O Bê era meu! E eu não ia dividir com ninguém, ainda mais com ela. Eu tinha vontade de rasgar a roupa dela também.
- Vamos embora Mari. – disse Amanda.
    Levantei do chão, ainda com a cabeça baixa e dei a mão para ela.
- Tá. – eu disse.
    Mamãe levou ela para posar lá em casa. Eu tinha ficado realmente muito triste. Quando deitei na cama eu chorei, porque eu não era boa o suficiente para Bernardo, mas Susana era, e acho que Bernardo gosta dela. Eles sempre se falavam, e ele quase nunca falava comigo. Ele não era meu... Era dela. Ai... Como dói dizer isso pra mim mesma.


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