Ela estava mais magra, mas continuava linda. Como senti sua falta... de seu sorriso, de seu jeito. Seus cabelos castanhos voavam com o vento e ela os tirava de seu rosto. Ela não me viu, pois estava virada para um homem. Um homem de baixa estatura, de cabelos negros, que sorria pra ela enquanto tocava a sua mão e a abraçava. Ela retribuía.
Ele. Beijou. A. Sua. Mão.
Tudo o que eu não queria ver, eu vi. Tudo o que eu sempre pedi para não acontecer, aconteceu. Por favor, me diga que eu estou tendo um pesadelo. Por favor. Por favor. Ele não pode ser o novo cara dela, não pode.
– Bella... – Eu falei, mas não alto o suficiente para que ela me escutasse. Mas era pra ela me ver, eu queria me aproximar, saber o que estava acontecendo, mas Emmet não me permitia andar na direção dela.
– Vamos Edward, antes que ela o veja. Vai ser pior se ela vier falar com você, então vamos embora logo. – Diz Emmet me puxando com mais força, ou será que eu estou mais fraco agora?
Dou meia volta e caminho de volta para a casa de meus pais, sem falar nada, com o choro preso em mim, e uma enorme vontade de gritar.
– Ela mora aqui agora? – Eu pergunto a Emmet e ele dá de ombros.
– Eu acho que não. Ela vive aparecendo e sumindo... Acho que só vem visitar os pais. E sempre com aquele cara... Sinto muito Edward, eu acho que ele é o namorado dela agora... Quero dizer... ele é o namorado dela, eu ouvi eles conversando algumas vezes.
Namorado dela... Então não era eu quem estava vendo errado. Emmet não mentiria pra mim, certo? Isabella tinha outro alguém. Meu coração se aperta com essa informação.
– Porque você não me disse? – Eu pergunto com raiva – Eu fiquei esse tempo todo me perguntando onde ela estava, e você sabia e não me contou.
– Edward...
– Será que você não entende? Se eu tivesse encontrado ela...
– Você ia ver justamente isso que acabou de ver. Ela tem outro alguém Edward. Eu sinto muito, eu só quis te proteger. Eu te falei inúmeras vezes para esquecer ela, para seguir sua vida por causa disso!
– Você tinha que ter me contado.
Caminho o mais rápido que posso, Emmet corre para me alcançar, mas não quero falar com ele. Como ele pôde não ter me contado que Isabella estava aqui? Como ele pôde me esconder isso? As pessoas olham para nós dois, estranhando o fato de Emmet estar me puxando pelo braço novamente, e praticamente gritando para eu ficar calmo. Mas eu o ignoro, ignoro a todos. Tudo o que eu quero nesse momento é ir para casa. Para a minha casa. Para Seattle.
Entro em casa correndo, minha mãe pergunta o que houve, e Emmet conta a ela, mas eu simplesmente subo as escadas e me tranco no quarto. Pego minhas malas, e dou graças a Deus por ainda não ter desfeito elas. Me preparo para ir embora, mas antes as lágrimas insistem em cair. Começo a chorar, meu corpo dói, minha cabeça vai explodir a qualquer momento, mas tudo o que eu consigo pensar é em Isabella com outro alguém. Choro como antes, ou talvez pior que antes. Era melhor pensar que ela só queria um tempo. Saber que ela me deixou para ficar com outro cara, que esteve todo esse tempo com ele enquanto eu chorava e esperava por ela sentado na janela de nosso quarto como um maluco... Bem que tentaram me avisar. Eu sou tão burro...
Minha mãe, meu pai, Emmet e Jasper batem na porta desesperadamente, pedindo para conversar comigo, mas eu os ignoro. Abro a porta sim, mas é com as malas nas mãos.
– Estou indo embora. – Eu digo e meu pai tenta me segurar.
– Por favor meu filho, como você vai dirigir assim? Fique, nós estamos aqui com você, nós vamos estar sempre com você.
– Eu não posso mais ficar aqui.
– Por causa dela? – Emmet grita – Ela não te merece. Ela é uma vagabunda!
– Emmet, por favor. – Minha mãe o repreende.
– Eu estou falando alguma mentira?
Algo dentro de mim me manda soca-lo por falar daquele jeito da minha Bella. Mas ela não era mais minha. Apenas desço as escadas ignorando a todo mundo.
– Edward, por favor.
– Não é como se fosse pra sempre, ok? – Eu digo a eles. – Vocês podem me visitar em Seattle.
Saio sem olhar para trás, mesmo tendo visto lágrimas nos olhos de minha mãe. Era pra ser uma viagem feliz, um reencontro familiar. Mas não foi. E quem diria que um dia eu ia assumir que Isabella estragou tudo? Ela está acabando com cada pedaço meu, está acabando com Edward Cullen.
Dirijo rápido demais, apesar de tentar o tempo inteiro me controlar. Não sei o que fazer para parar de pensar naquela cena terrível. Isabella parecia nervosa, e por um momento pareço ter visto a aliança que dei a ela de noivado. Mas não tenho certeza. Ela não estaria usando aquele anel estando com outro cara, ou estaria? Ela já deve ter vendido e ficado com o dinheiro.
O que aquele cara tem que eu não tenho?
Porque ela o deixava lhe abraçar, lhe tocar?
Porque ela me traiu?
As lágrimas caem e minha visão de embaça. Esfrego uma das mãos no rosto e continuo a dirigir. Estou acima da velocidade permitida e freio um pouco, embora a vontade que eu tenha é a de acelerar o máximo que o meu carro permite.
Ligo o rádio, tentando encontrar algo que me acalme, que me iluda, e me diga que tudo vai ficar bem. Mas o que toca é um rock pesado de Emmet, e o xingo em voz alta. Maldito irmão. Porque não me contou? Era o mínimo que ele poderia fazer comigo. E eu tenho certeza que seria melhor saber do que ver. Mas será que se ele me contasse eu acreditaria? Provavelmente não, mas eu iria tirar satisfações, e iria resolver tudo muito tempo antes. Talvez eu continuasse a gostar dela, mas toda essa dor que sinto agora não seria tão forte.
Procuro outro tipo de música e sintonizo numa rádio qualquer. Me concentro no volante, dizendo mentalmente os passos de fazer um carro funcionar. Embreagem, marcha, acelerador. Freia Edward, freia.
Agora aqui na nossa rádio um clássico do já imortalizado John Bon Jovi. I’ll be there for you.
Eu não consigo acreditar nisso. Tinha que ser essa música? A nossa música? Penso em mudar de rádio, mas desisto. Eu quero escutá-la pela última vez. Me permito cantá-la, mas as lágrimas dificultam esta tarefa.
– “I guess this time you're really leavin'
I heard your suitcase say goodbye
And as my broken heart lies bleeding
You say true love is suicide
You say you've cried a thousand rivers
And now you're swimming for the shore
You left me drowning in my tears
And you won't save me anymore
I'll pray to God to give me one more chance, girl
I'll be there for you
These five words I swear to you
When you breathe I want to be the air for you
I'll be there for you
I'd live and I'd die for you
I'd steal the sun from the sky for you
Words can't say what love can do
I'll be there for you...”

Choro desesperadamente, ao ponto de não enxergar direito a pista. Um caminhão vem em minha direção e depois desvia e passa ao lado do meu carro. O motorista buzina e me xinga. Percebo que talvez eu esteja na contramão e passo para a pista do lado. Choro cada vez mais, e por isso decido parar no acostamento, apesar de sentir aquela velha vontade de estar morto.
– Eu te odeio, Isabella! – Eu digo em voz alta, enquanto bato mil vezes a cabeça no volante. – Eu te odeio, odeio, odeio...
A fraqueza que eu sentia enquanto viajava para Forks voltou com força, e estou praticamente caído dentro do carro, mas ainda assim, as lágrimas não passam. Minha cabeça dói muito, uma dor que talvez eu nunca tenha sentido antes, nem mesmo na ressaca do meu aniversário. Abaixo o banco de motorista e deixo. A imagem de outro cara tocando a minha Bella não sai de minha mente, parece que foi tatuada e não tem mais como ser retirada.
Fico uns minutos tentando me recuperar, mas não dá. A dor me pegou, é o meu fim. Não sei se já está anoitecendo, mas a minha visão vai ficando escura. De repente, eu não sinto mais nada.