– Vocês devem estar brincando! – disse Gray ao olhar a roupa que Natsu segurava.

Aquilo devia ser a pior roupa formal já costurada: Um terno e uma calça azul claro com padrões de gotas e pingentes de gelo.

– A culpa é completamente sua por ser um pervertido e não ter nenhuma roupa para ocasiões – disse Natsu dando os ombros, enquanto Gildarts tentava não rolar pelo chão.

– E você tem? – disse ele arqueando as sobrancelhas.

– Sim, mas isso não vem ao caso – disse ele – Para dizer a verdade, este daqui é do Happy.

– Como...?!

– Isso eu explico – disse Gildarts depois de se recuperar de um acesso de risos – Eu desmaterializei a roupa e depois a refiz em escala maior.

– Então eu estou usando as roupas de um gato?

– Exato – concordou Natsu – E a culpa é exclusivamente sua por jogar suas ultimas roupas formais naquele resort em que ficamos por cortesia do Loke.

– E porque eu preciso estar vestido formalmente mesmo? – perguntou Gray desesperado.

– Arranjamos para vocês uma reserva em um restaurante de alto nível – disse Natsu, temporariamente sumindo atrás do guarda-roupa.

– Eu devo ter alguma roupa que sirva para ocasião... – disse Gray pensando alto enquanto se lembrava de seu número limitado de roupas(quando você as abandona por aí, é difícil manter o guarda roupa cheio

– Eu e Gildarts checamos tudo – disse Natsu, ainda atrás do guarda-roupa – A única que serviria é a sua roupa para velórios, mas achamos que isso poderia ser mal-interpretado pela Juvia.

– Mas fique tranqüilo, Gray – disse Gildarts dando-lhe um tapinha no ombro – Eu e Natsu ficaremos por perto, para evitar que ela te dope e se case com você enquanto você está inconsciente.

– Isso me deixa completamente confiante – disse ele com ironia, antes de arregalar os olhos – Existe essa possibilidade?

– Relaxe – disse Natsu, saindo de trás do guarda-roupa já trocado – Eu vou estar a uma mesa de distancia e Gildarts na porta.

Gray não acreditou no que via: Natsu vestia um conjunto de vestes formais em negro e escarlate.

– Parou tudo! – disse Gray – Como diabos você tem uma roupa do tipo? – ele nunca havia visto o Dragon Slayer vestindo qualquer coisa mais formal que uma camiseta.

– Eu precisei comprar isso para entrar em uma convenção sobre dragões – disse ele rindo enquanto desabotoava o ultimo botão da camisa vermelha – Gildarts, por favor, impeça ele de fugir enquanto eu resolvo uns últimos detalhes.

– Vai tranqüilo – disse ele – Mas agora me ocorre que precisamos dar um trato no cabelo dele.

Gray orou para que eles estivessem brincando.

– Eu sei – disse ele enquanto atravessava a porta – Vou buscar ajuda especializada.

Natsu saiu de casa, com Happy logo atrás.

– Happy – disse ele – Vá atrás da Lucy ou da Lisanna, ou das duas, e diga que eu preciso de ajuda com um encontro.

– Aye! Mas o encontro é do Gray – disse ele confuso.

– Eu sei, mas se você disser que o encontro é entre o Gray e a Juvia, fica claro a nossa armação – disse Natsu rindo – Vou perguntar ao Gajeel se ele tem uma gravata.

Happy, usando o seu Aera, cumpriu sua missão primeiro.

– Um encontro? – disse Lucy estreitando os olhos quando Happy terminou de transmitir sua mensagem.

Ela havia acabado de chegar em casa: Devido aos incidentes daquela manhã, o nível de fofocas em Fairy Hills subira a um novo patamar, então a limpeza mensal durara mais tempo que o normal.

E agora Happy lhe trazia aquele pedido incomum: Natsu pedindo ajuda com um encontro.

Ela repassou mentalmente as possibilidades, que eram bem poucas, Natsu era uma ótima pessoa, mas para a maioria das garotas, seu maior atrativo era seu otimismo descomplicado e sua inocência...exceto talvez...

Na sua cabeça, uma luz vermelha se acendeu quando, na sua lista, as opções passaram sobre uma certa maga de cabelos brancos.

– Diga ao Natsu que eu irei ajudá-lo – ao ouvir isso, Happy soltou um trêmulo “A-Aye!” e saiu em disparada pela janela. Se ela soubesse a cara de psicopata que ela fez ao dizer aquilo, não teria ficado surpresa.

Enquanto voava veloz pelo céu, Happy fez uma nota mental de avisar ao Natsu como a Lucy estava estranha. “Talvez ela esteja com dor de barriga” pensou ele.

Na guilda, Natsu tentava fazer Gajeel cooperar.

– Refresque minha memória – disse Gajeel enquanto mastigava alguns parafusos – Porque você está vestido igual ao garoto espírito?

– Não enche – disse Natsu com uma veia pulsando na testa – Vai me ajudar?

– Você emprestaria seu cachecol? – perguntou ele sagazmente – Desculpe, ganhei aquilo de Metalicana, você vai precisar enganar outra pessoa.

– Quem sabe o Garoto Espírito tenha a solução – disse Loke se materializando no banco ao lado deles – eu já fui um mago de gostos refinados, descreva a roupa do Gray que eu encontro algo perfeito para ele.

Ele ouviu Natsu a descrever, mas caiu na gargalhada na metade da descrição.

– Você e Gildarts são cruéis – disse ele secando as lagrimas que surgiam em seus olhos de tento rir – Acho que eu tenho uma horrível peça em seda, com nuvenzinhas sorridentes ridículas cobrindo ela toda. Vou procurá-la.

– Se conseguir, leve isso para a minha casa – disse Natsu se levantando – Tenho que procurar uma informante e capturar alguns pombos.

E dizendo isso ele saiu da guilda, deixando Gajeel e Loke com uma cara que expressava “o quê?”.

Ele literalmente trombou com o primeiro item.

Ele saía pelas portas olhando para trás quando bateu de frente com alguém menor que ele.

– Ouch! – gemeu ele massageando seu próprio peito – Desculpe Levy, eu não te vi, eu estava com pressa.

– Eu percebo – disse ela esfregando a testa, mas parou ao notar o modo que ele estava vestindo, acrescentou - Você vai á algum lugar?

– Digamos... que eu estou ajudando o Gray com uma coisa – disse ele coçando a cabeça.

– Com o encontro com a Juvia – deduziu ela.

– Sim. Como você sabe?

– Porque a uma força tarefa de emergência ajudando ela a se arrumar – riu ela – Ela é bem paranóica, mas eu nunca tinha visto ela tão agitada e ansiosa.

– Eu suponho que ajudar é o que os amigos fazem – mentiu ele sorrindo, expondo os dentes proeminentemente pontudos.

– Ele está nervoso? – perguntou ela sorrindo.

– Como uma menininha – garantiu ele, o que era meia verdade, ele estava nervoso, mas não pelos mesmos motivos que Juvia – Quer colaborar me informando sobre a velocidade em que ela fica pronta?

Enquanto falava, ele tateava os bolsos procurando seu lacrima.

– E como isso ajudaria? – perguntou Levy franzindo o cenho.

– É o tempo de eu criar um cenário – disse Natsu rindo – Segundo alguns livros que eu peguei da biblioteca da Lucy, pombos voando criam um ambiente romântico.

– Você não pode esperar que o destino faça isso?

– Não, por dois motivos, o primeiro é que eu quero ajudá-los, o segundo e para constranger o Gray o máximo possível.

– Válido – admitiu ela pegando o lacrima da mão dele – Vou lhe ajudar nisso, se apresse.

Em Fairy Hills, uma maga estava irritada.

Lisanna havia acabado de receber o recado do Happy, e isso fez ela esquecer temporariamente da sua amiga ansiosa.

Encontro...

Foi rápido, ela quase podia imaginar seus neurônios entrarem em alerta vermelho.

Só havia uma opção.

– Diga ele que eu adoraria ajudar – disse ela entre os dentes, fazendo Happy fugir aterrorizado depois de assentir.

“Acho que as garotas pegaram Raiva” pensou ele.

Vários minutos depois, duas garotas com sede de sangue chegaram à construção decrépita que o Natsu chamava de casa, e encontram um Gildarts sorridente, um Gray inconsolável e nenhum Natsu.

Gildarts podia sentir a tensão no ar.

– Você! –disseram ambas ao mesmo tempo, com olhares sombrios se encarando.

– Vocês – concordou Natsu entrando pela porta, alheio a toda a hostilidade que as duas garotas exalavam – Desculpem por Happy lhes enviar a mensagem errada, mas o Gray não queria fazer alarde de como estava ansioso.

Gray parecia pronto para fazer um comentário, mas Gildarts deu-lhe uma cotovelada para que ficasse quieto.

As garotas ainda se encaravam, como se fossem assassinar Natsu a qualquer momento, ou uma a outra. Natsu farejou o perigo no ar.

– Já que agora ele tem ajuda com os pequenos detalhes – Natsu tentava pensar em uma desculpa para fugir – Vou cuidar de alguns detalhes, volto logo!Happy!

– Aye sir! – disse o gato saindo em disparada atrás dele.

No dormitório feminino, Levy se esforçava para se manter de bom humor.

– Natsu – chamou ela pelo lacrima – Vocês já estão prontos? A Juvia já está no seu quinto ataque de choro devido a ansiedade!

– Mande a devoradora de livros ter paciência – ela ouviu uma voz no fundo.

– Gajeel? – perguntou ela.

– Sim, ele milagrosamente resolveu me ajudar – Ela ouviu Natsu responder – Abra as bombas de drenagem para sugar as lagrimas e mande ela se controlar, estávamos arrumando uma condução com personalidade, mas agora está tudo pronto.

– Eu devo ter medo do que isso significa?

– Nãããão – responderam os dois Dragon Slayers, tentando sufocar o riso.

– Com amigos como vocês, não sei para que o Gray precisa de inimigos – disse ela – Tenho que desligar a transmissão, o quarto da Juvia está alagando.

No som de fundo, eles ouviram vagamente ela dizer “Relaxe, você está linda” antes da transmissão cair.

De volta à casa do Natsu, Gray se remexia inquieto.

– Não toque no cabelo – ralhou com ele Lisanna.

Ele colocou as mãos no bolso com urgência.

– Vocês sabem – disse ele cauteloso – Vocês mexerem no meu cabelo de todas as formas, mas eu não consigo ver nenhuma diferença.

– Isso é porque você não tem a sensibilidade necessária – disse Lucy indignada – E talvez queira saber, o cabelo é a única coisa que te salva com essa roupa.

A discussão foi interrompida por um estranho veiculo que surgiu ladeira abaixo.

Era uma daquelas carruagens que gente velha usa em seus casamentos, sendo puxada por uma dúzia de seres brancos esquisitos. Gajeel corria com uma moto mágica ao lado enquanto Natsu planava de forma indolente com Happy sobre o veiculo.

– Aquilo são... avestruzes? – disse Lisanna forçando os olhos.

O veiculo parou bem na frente deles.

– Os pôneis e corcéis haviam acabado – disse Gajeel parando a moto – Entre javalis roxos ou avestruzes brancos, os avestruzes estavam em promoção.

– Pausa – disse Gray – Porque você está vestido como se fosse a um concerto e explique a moto.

– Somos sua escolta de honra- disse o Natsu pulando para o chão, mas seu tom dizia, para impedir você de fugir – E o Gajeel também resolveu ir assistir, e a moto estava em promoção.

– Ótimo – disse Gray sarcástico, ao perceber que aquilo se tornaria um circo – Porque eu não fico com a moto? parece mais rápida.

– E onde fica o romance? – disse Gajeel rindo, o que era uma coisa assustadora de ver – Até arranjamos um cocheiro que se parece com um leprechaun.

– E que diabos significa isso?

– Fadas... leprechauns... Fairy Tail – Natsu gesticulou para ele ligar os pontos, mas ao ver que não deu resultados, desistiu dando os ombros - Foi idéia do Elfman, mas em todo caso, se apresse, você está atrasado.

Gray suspirou, e começou a caminhar, mas na velocidade de uma lesma.

– Gajeel, me ajude aqui – cada um agarrou um ombro de Gray, e sem a menor cerimônia, o atiraram para dentro da carruagem.

– É possível que você ainda me agradeça por isso – disse Natsu rindo enquanto fechava a porta com uma batida e sinalizava para o cocheiro que eles podiam ir.