Por Que Estou Sonhando? escrita por Allan Douglas


Capítulo 22
22 - Os Condenados - Parte 2




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Olhei no relógio, 18h23min, era hora de começar a me arrumar, sim era muito cedo, mas não sabia como iria ainda, na verdade tinha algo em mente, mas provavelmente demoraria nem tanto pela roupa ou maquiagem e sim pelo meu cabelo que na época era enorme e muitas vezes não me ajudava quando queria sair, sempre foi um problema.

21h30min, eu estava pronta depois de uma longa procurar por uma roupa pra ir, um vestido curto preto foi o melhor que encontre e meu cabelo estava bom, não consegui fazer melhor do que aquilo, mas estava razoável. Eu morava um pouco longe da Rua Vargas então eu iria sair às 10 horas mesmo que era o melhor a se fazer e não chegar tão cedo e ter quase ninguém.

Quando eu estava saindo de casa meu pai me parou e perguntou:

- Você vai mesmo nessa festa?

- Claro pai, festa do ano – disse eu pela milésima vez naquela semana.

- Mas não tem segurança alguma, é amadora, esquece ela e fica em casa – tentou-o, mas não iria adiantar, eu ia de qualquer maneira, mas se eu tivesse ouvido ele, não estaria agora contando isso.

- Não pai, eu vou, não importa o que você queira, me desculpe.

E então sai sem me despedir, deveria ter feito, mas não quis. Fui caminhando e torcendo para que alguém que eu conhecesse passasse de carro, ou a pé mesmo para me fazer companhia. Levei quase meia hora para chegar à Rua Varges, e avistei o prédio no fim da rua, estava longe, mas já dava para ouvir a musica, sorte que naquela rua não se tinha casas ocupadas e ficava em um ponto mais afastado da cidade, assim ninguém se incomodaria tanto com o som. Quando me aproximei mais do local percebi o grande numero de pessoas que já tinham chegado e começado a beber, muitos também se drogando, seria assim até o fim da noite ou até todos morrerem de overdose, eu não pretendia usar nenhum tipo de droga a não ser maconha que seria bem pouca, mas só estava a fim de ficar bêbada.

Entrei e percebi que o som estava bem auto, a bebida estava espalhada por toda a parte, procurei por Julia naquele andar, mas não encontrei, ela não tinha chegado ainda, então eu peguei um copo de cerveja e encostei-me a uma parede no canto e fiquei observando o pessoal dançando, os garotos idiotas tentando ganhar garotas com cantadas babacas, alguns casais já formados se pegando quase na minha frente, outros subindo para o 2° andar, e eu continuei ali, parada e bebendo.

Era quase 11 horas e eu já nem lembrava mais quantos copos tinha bebido, naquele momento tinha parado de beber cerveja e passado para algo mais forte, foi quando Julia chegou com dois homens atrás dela, e veio em minha direção já sorrindo:

- Mariko! Você chegou que horas aqui? – disse ela me abraçando.

- Mais ou menos umas 10 e 20 – disse eu já meio alegre.

- Bom percebi que você já bebeu um pouco, então aproveitando isso esse é Marcos o cara que te falei ontem que conheci na lanchonete e esse é o amigo dele, Leonardo, espero que vocês se dêem bem, enquanto eu e o Marcos vamos beber e dançar um pouco, certo? – disse ela muito animada, enquanto Marcos balançava a cabeça positivamente.

Após eles saírem eu não sabia muito que fazer já que Julia tinha me jogado em cima do tal Leo, então eu simplesmente disse:

- Ela ta bem animada, não acha? – com um sorrisinho no rosto.

- É esta mesmo – disse ela olhando para traz enquanto os dois iam para o meio da galera. – Bom já que os nomes foram apresentados, vamos pular uma parte na nossa conversa e ir para uma parte mais avançada, onde você mostra se é legal ou não – completou ele mandando uma frase que outros garotos da festa nunca usariam, talvez por ele ser mais velho, e isso com bom humor.

Nós ficamos conversando ali por alguns minutos até que fomos para um pequeno bar improvisado no quanto daquele andar e nos sentamos para conversar melhor. Eu tinha me interessado por ele, era bonito, bem humorado, e sabia o que falar então eu estava tentando mostrar interesse para ele o máximo possível, mexia no meu cabelo, tocava nele, ele já estava fazendo isso há uns 5 minutos, mas eu reforçava isso. Eu estava certa naquele momento que quando ele tentasse me beijar eu não recusaria e com certeza acabaríamos fazendo algo a mais, sem problema, ela tinha conseguido me encantar, coisa que ninguém fazia há um tempo.  Eu por instinto olhei para o relógio e já era quase meia noite, a conversa estava tão boa que eu acho que ele não queria tentar nada para manter a conversa um pouco mais.

- Tem que ir a algum lugar? – perguntou ele.

- Ah não, só mania mesmo – disse eu sorrindo e pensando quando ele iria me beijar.

Então logo após isso voltamos a conversar sobre a musica moderna, era algo até que interessante, mas se continuasse daquela maneira eu ia ter que acabar tomando a iniciativa. Foram mais alguns minutos assim, até enfim ele me beijar, foi meio repentino, mas eu percebi que ele iria fazer isso segundos antes. Ficamos ali se beijando por um tempo até que ele sugeriu para que fossemos para um lugar menos agitado e eu logo entendi o recado. Quando subimos vimos que o segundo andar ainda tinha muita gente, muitos estavam ali bebendo em rodas, um ou outro casal se pegando já quase arrancado a roupa, então Leo olhou para mim e eu simplesmente balancei a cabeça negativamente, então subimos para o 3° andar, onde tinha apenas um casal quando chegamos, eles estavam no meio da relação, estavam tentando não fazer muito barulho, mas a garota acabava fazendo barulho de mais. Passamos sem olhar muito e nos dirigimos para onde deveria ser um quarto, nos sentamos em uma espécie de sofá improvisado e começamos a nos beijar novamente, ali ele logo começou a passar a mão em mim, e então eu o ajudei a tirar a camisa. Como não sabíamos quando alguém poderia chegar, acabei só levantando o vestido e me sentando em cima dele. Aquilo se seguiu por uns quase 7 minutos, às vezes eu não precisava de me esforçar tanto já que ele me ajudava a levantar, fazia tempo que eu não fazia aquilo, estava ótimo, até que ele terminou antes mesmo de mim, era normal, eu precisaria de mais uma para chegar ao ponto. Eu então saí de cima do colo dele e me sentei ao lado e encostei-me nele, e ficamos ali por uns 10 minutos sem conversar até eu beijá-lo mais uma vez e as coisas começarem a esquentar de novo, só que dessa vez ele se deitou em cima de mim, mas eu acabei que perguntando por instinto:

- Você tem mais uma? – perguntei meio que quebrando o clima, mas foi necessário não queria ficar grávida aos 16 anos.

- Claro – disse ele voltando a me beijar. 

Continuamos ali e começos a fazer sexo mais uma vez, e dessa vez ele estava no controle da relação, eu simples tinha o trabalho de arranhar as costas dele, e dessa vez foi até um pouco mais longo, até nós dois chegarmos ao orgasmo, foi quase que sincronizado, nunca tinha me acontecido aquilo. Quando términos percebemos que outro casal tinha chegado ao mesmo andar e ao sairmos do nosso quarto olhamos para o novo casal e vimos que era Julia e Marcos, eles olharam para nós e sorriram, então saímos de mãos dadas, não que eu quisesse namorar ele, mas era procedimento padrão eu tinha feito aquilo com ele e se depois saísse como se nada tivesse acontecido eu pareceria uma garota de programa.

Ao chegarmos ao 1° andar de novo eu olhei novamente para o relógio era 00h30min mais ou menos, já tinha alguns deitados no chão dando vexame, eram aqueles que bebiam muito mais que os outros, muito mais mesmo, provavelmente seriam deixados ali no chão até acordarem. Sentamos-nos novamente no bar improvisado e pegamos duas doses de alguma bebida que não me lembro agora e bebemos, ele então me disse:

- É bom você pretende ficar aqui até que horas?

- Não sei, talvez até acabar, ou até eu cair de bêbada – disse eu rindo um pouco.

- Haha, bom eu logo tenho que ir então você poderia me passar o seu numero para eu não ter que ficar dependendo da Julia para falar com você – disse ele olhando, com um pequeno sorriso no rosto, nos meus olhos, eu não queria mais nada com ele que não fosse o sexo naquela noite, por mais que ele fosse super interessante, mais velho, bonito forte, inteligente e fosse bom de cama, não queria compromisso então disse:

- Não tenho celular.

- Então o telefone de casa – disse ele tentando mais uma vez.

- Meus pais não querem homem ligando lá em casa atrás de mim, principalmente meu pai – disse eu já mandando à indireta, ele então me olhou com um olhar que me parecia dizer que tinha entendido e disse:

- Entendo... Tenho que ir agora, agente se vê por ai – disse ele enquanto se levantava.

- Algum dia – eu disse olhando para ele.

Eu então me levantei e fui para a onde às pessoas estavam dançando e comecei a dançar sozinha. Fiquei ali por meia hora onde já havia sido abordada por uns dois carinhas bêbados me agarrando pelo braço e me mandando cantadas de pedreiros, apenas chutei eles como cães. Foi quando percebi que Ally estava dançando ali também já bem bêbada, com um copo na mão, ela devia estar ali a um bom tempo para já estar bêbada da forma que estava eu então, como sempre fazia a ignorei e continuei dançando. Logo depois Julia voltou toda feliz sem Marcos e disse:

- Onde o Leo foi?  O Marcos disse que eles tinham que ir embora cedo e falou para eu vim vir se ele estava aqui com você.

- Ah, ele já foi faz uma meia hora - disse eu olhando para a maquiagem meio borrada dela.

- Droga! Tenho que falar para o Marcos vem comigo já que você está sozinha – disse me puxando pelo braço me deixando sem escolhas sobre ir ou não. Ao subirmos o segundo andar não tinha mais muita gente apenas uma rodinha de maconha, e no terceiro ninguém, quando chegamos, Marcos estava deitado bebendo, e Julia disse:

- Ele já foi – apontando com o polegar pelas costas, Marcos então se levantou e disse:

- Então já vou indo.

Assim nos dirigimos para a saída onde os dois se despediram e Julia ao se virar para mim percebeu algo e me disse:

- Aquela não é a Allysa? – perguntou ela enquanto eu me virava.

- Ah sim, eu já tinha visto ela, mas porque você me perguntou isso?

- Não se faça de desinformada, vocês se odeiam e estão bêbadas, não quero ver uma briga hoje – disse ela olhando para mim com uma cara de ‘nojo’.

- Não vou fazer nada, a não ser que ela faça algo...

- Não vou separar briga alguma, já vou avisando – disse ela já prevendo alguma briga.

- Tudo bem – eu respondi, eu pretendia não fazer nada como em todas as outras brigas, sempre ela era que começava a briga. Depois dessa pequena conversa nos voltamos para a dança e depois de quase uma hora entre beber, dançar e fumar eu já estava um pouco cansada e decidi sair um pouco daquela bagunça do 1° andar então me dirigi para o 3° andar onde provavelmente no máximo teria um casal ou dois, mas se tivesse eu iria até uma sacada que tinha visto mais cedo.  Quando cheguei lá percebi que não tinha ninguém na local, apenas ouvi algumas vozes vindas do terraço do prédio, não pareciam alteradas por álcool ou drogas, mas aquilo não me importava eu queria tomar minha cerveja em paz enquanto descansava. Foi quando percebi que tinha alguém atrás de mim eu olhei assustada e percebi que era ela, Allysa, então me levantei rápido e perguntei:

- O que você quer?! – eu perguntei irritada.

- É tudo culpa sua! Vadia! Se não fosse você isso não estaria acontecendo, eu estaria com meu antigo namorado agora e não estaria assim, você fez com que eu largasse dele, você o beijou ano passado só para me irritar – disse ela quase gritando.

- Fiz o que você merecia por fazer minha vida um inferno desde o dia em que pisei naquela maldita sala da 5° serie em maio, você fazia de tudo para que eu não conseguisse amigos, se não fosse o Joe eu talvez nunca tivesse nenhum amigo – eu disse também muito irritada por conta também do álcool.

- Você começou tudo isso roubando meus amigos e principalmente o Joe que era um amigo de infância, fez com que ele se voltasse contra mim sua vadia! – ela gritou vindo em minha direção tentando pegar meu cabelo, mas eu fui mais rápida e segurei os braços dela e giramos fazendo com que eu ficasse de costas para a parede e ela de costas para a sacada, então empurrei ela, mas não foi o bastante, ela ainda estava muito perto podendo assim agarrar meu cabelo e me jogar no chão, então ela começou a me chutar e eu revidei segurando o seu pé e mordendo a perna, ela gritou e deu um chute na minha cara com a outra perna, ela se afastou, então eu me levantei, me recompus e perguntei:

- Você está maluca? Por que me atacou? Eu não te fiz nada! – eu disse irritada com muita dor no nariz.

- Só fiz o que você merece, nunca vou te perdoar e já que estamos aqui sozinhas vamos resolver nossas diferenças! – foi o que ela disse antes de partir para cima de mim de novo, e mais uma vez eu a segurei pelos braços então dei uma cabeçada, aquilo doeu mais em mim do que nela, fiquei tonta e encostei-me à parede então ela veio em minha direção como um touro, mas ela parou com um som ensurdecedor de um tiro, tinha vindo do andar debaixo, eu demorei alguns segundos para perceber que foi um tiro, eu não sabia o porquê de alguém ter atirado, eu achei que fosse alguma briga, mas logo veio outro e depois outro junto com gritos de dor e desespero, naquela hora eu não sabia o que podia ser só pensava em querer sair de lá o mais rápido possível, mas Ally, ainda estava lá e veio em minha direção correndo, parecia que não estava se importando com todos os tiros e gritos, eu me levantei e soltei um soco bem no meio do nariz, tinha sangue por toda a sua cara, ela caiu e se aproveitou de um pouco de terra que tinha no local e jogou nos meus olhos, eu não estava mais enxergando nada, então ela me chutou umas duas vezes até que eu me sentasse, ela se jogou em cima de mim puxando meu cabelo e eu por instinto chutei a barriga dela e a empurrei com muita força, ela foi se desequilibrando para trás até tropeçar em um cano não terminado e cair pela sacada, eu olhei, mas ao invés de me assustar e entrar em desespero, eu me senti bem, me senti livre de um peso, eu estava feliz por ela ter caído e estava torcendo para estar morta, então me aproximei da borda e vi que ela estava se segurando, eu a olhei com desprezo e fiquei ali olhando ela nos olhos ao sons dos tiros e gritos daquele lugar enquanto ela me pedia ajuda, mas eu nada fiz até ela não conseguir mais se segurar e cair, ao bater no chão eu pude ouvir o som da pancada, e sangue começou a sair da cabeça dela, foi então que eu percebi o que tinha feito de verdade e me assustei com um grito vindo do andar de cima, era um grito de desespero. Eu me virei e corri para a saída enquanto começava a chorar por ter matado alguém, mesmo não sendo de propósito, ao chegar ao 1° andar vi todo o sangue, os corpos e cinco garotos com armas e muitos no chão ainda ao som da musica, eu parei assustada com lagrimas nos olhos quando um deles o único que eu lembrava o nome, Jimmy o garoto gênio do 1° ano, olhou para mim e disse:

- Sente-se no chão como os outros, Mariko, você nunca fez nada contra agente, mas terá que presenciar isso como sempre fez conosco – disse ele irritado, foi quando percebi que era além do Jimmy os outros com as armas eram aqueles que sofriam com o bulling na escola e fora dela, eles tinham planejado matar todos os que os faziam sofrer.

                Eles continuaram com os discursos planejados para que todos ouvissem e eu só pensava em sair dali, eu tinha matado a Ally indiretamente, eu poderia ter salvado ela, mas não fiz nada, eu também estava com medo de morrer, não queria morrer ali, queria ir embora, foi naquele momento que percebi que se tivesse ouvido meu pai tudo isso que aconteceu comigo não teria acontecido. Eles então começaram a dizer nomes e atirar em pontos não vitais para a vitima sofrer, depois de 5 minutos de dor, um tiro na cabeça. Fizeram isso com mais uns quatro enquanto eu estava lá, eu comecei a olhar os corpos caídos e vi que próximo a mim estava o corpo de Julia, eu comecei a chorar mais ainda, um deles olhou para mim e disse:

- Porque choras por eles? Mereceram tudo isso! – disse sorrindo, Julia já tinha participado de algumas brincadeiras de mau gosto contra eles, mas matá-la havia sido ilógico, ela não merecia. Fiquei lá por uns 10 minutos ajoelhada, enquanto outros dois foram mortos e mais quatro tinham tomado um tiro na perna, até que o líder deles disse levantando a sua arma para cima:

- Esse foi o nosso julgamento e pena para aqueles que nos menosprezaram, agrediram, humilharam e marcaram nossas vidas com traumas que jamais serão esquecidos, tudo para se sentirem melhor, e vocês que estão vivos, serão nossas testemunhas e dirão que tudo feito aqui não foi culpa nossa e sim deles – ao terminar de falar todos os outros com armas as colocaram na boca e apertaram o gatilho, mais seis corpos no chão e mais sangue. Eu gritei e voltei a chorar enquanto me levantava e me dirigia para a saída enquanto a policia chegava com as sirenes, parecia que tinha sido premeditada, a morte deles e a chegada da policia. Eu ao sair do lugar me sentei no meio fio em continuei a chorar a espera de alguém que viesse me buscar, naquele momento eu percebi que minha vida nunca mais seria a mesma, não depois de tudo o que eu fiz e vivencie naquela festa, nunca iria esquecer os olhos da Ally me olhando e pedindo socorro, eu não sei em quem tinha me transformado no momento em que podia ter a salvado, mas tenho certeza, que não era eu...


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