A Herdeira escrita por GrazielleAlessa


Capítulo 7
Capítulo 6 - Jingle Bells




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Jenny despertou ainda exausta da viagem. Com algum esforço, ela levantou da cama e constatou que Rosa ainda ronronava abraçada com seu cobertor – totalmente adormecida. Na pontinha dos pés, Jenny abriu a porta do banheiro interno de seu quarto e deu de cara com o espelho. Estava despenteada e com um olho maior que o outro. Dando as costas ao espelho, ela tomou um banho quente para acordar melhor. Assim que saiu do chuveiro e encarou o espelho novamente pôde ver que seus olhos continuavam do mesmo tamanho e seu cabelo, depois de lavado, parecia melhor.

Ela trocou de roupa tentando não fazer barulho, mas acabou tropeçando em seu baú fazendo com que os objetos guardados nele tilintassem alegremente. Rosa continuou dormindo como se nada tivesse acontecido. Jenny desceu as escadas indo para cozinha e assim que entrou na mesma, sentiu um cheiro de comida queimada. Em cima do balcão havia um prato com cinco panquecas torradas, banhadas exageradamente de mel. Junto a elas tinha um bilhete preso sob o prato.

“Estão precisando de mim, Desculpe. Fiz panquecas. Com mel não parecem tão ruim. – Tia Kenzie.”

Ela encarou as panquecas pouco atrativas e arriscou uma mordida na primeira da pilha, cuspiu quase que imediatamente jogando-as sem pena na lixeira. Ela sorriu vendo mais uma das inúteis tentativas da tia de fazer algo comestível.

Jenny olhou o relógio de parede e arregalou os olhos ao ver o quão cedo era. Quase voltou para o quarto para dormir, mas resolveu fazer algo útil já que estava de pé. Abriu a geladeira inspecionando o que havia nela e ficou surpresa ao vê-la cheia. Pegou ovos, margarina, leite e morangos, equilibrando os produtos desajeitadamente nos braços e fechando a porta da geladeira com o pé.

Pegando uma tigela, misturou os ovos com a manteiga e o leite, e foi ao armário mais próximo pegar açúcar e farinha. Preparando uma massa de biscoitos bem consistente, ela fez bolinhas e ajeitou no tabuleiro perfeitamente untado, levando ao forno alto.

Ela cantarolava enquanto cortava e lavava os morangos para preparar a geleia.

- Bom dia. – saudou Rosa coçando os olhos. – Preparando o café?

- Com fome? – perguntou Jenny e ouvira seu próprio estomago roncar.

Rosa riu.

- Em que posso ajudar?

Jenny virou de frente para Rosa e a encarou. Não conseguia imaginar Rosa em um fogão.

- Eu só lavo a louça. – disse Rosa erguendo os dois braços em sinal de rendição – Eu juro.

Jenny riu e jogou a esponja para Rosa começar o trabalho. Em poucos minutos Rosa cantarolava no mesmo ritmo da amiga.

Os biscoitos já estavam assados, e a geleia fumegante espalhara seu cheiro pela cozinha inteira.

- Já acordadas... – ouviu-se uma voz atrás delas.

- Veio pelo cheiro? –perguntou Rosa rindo do repentino interesse de Alvo pelo o que tinha em cima do fogão.

- Definitivamente. – confirmou Scorpion também se espreitando para ver o que exalava tamanho cheiro.

- Vão tomar banho. – disse Jenny torcendo o nariz. – Tem toalhas limpas no banheiro social, um de vocês pode tomar banho no meu quarto.

- Banho depois. – disse Alvo – To com fome.

- Seu porco! –Rosa riu. – Vai ficar com fome.

- Hey mãe, não sabia que estava aqui. – resmungou Alvo indo pegar as toalhas. Scorpion subiu as escadas já optando pelo banho no quarto de Jenny.

Quando voltaram esfregando os cabelos encharcados na toalha, encontraram Jenny e Rosa assistindo TV e comendo distraidamente os biscoitos com geleia.

- Nossa, nem puderam esperar. – reclamou Alvo pegando um dos biscoitos da travessa e sentando-se ao lado delas.

- O que é isso? – perguntou Scorpion sentando ao lado de Rosa e servindo-se de leite e biscoitos com geleia.

- É uma série muito legal. – comentou Rosa sem tirar os olhos da tela – Ela tem que descobrir quem matou o seu pai!

- Isso se ele era o pai dela mesmo. – rebateu Jenny olhando vidrada para a TV – Começo a desconfiar que o verdadeiro pai seja o vilão.

- Isso seria muito clichê. – resmungou Rosa.

Alvo revirou os olhos e continuou comendo, Scorpion tentava procurar algo interessante na enorme tela. Algo no bolso de Jenny vibrou e começou a tocar uma música cheia de guitarra e berros. Ela lambeu a ponta dos dedos antes de atender.

- Hey, quem fala? – saudou.

- O-oi. – respondeu a voz hesitante – Sou a mãe de Rosa, Hermione.

- Oi Sra. Weasley.

- Posso falar com a sua tia?

- Ela não está. – respondeu Jenny – Ela tá de plantão hoje no Hospital.

- Ok. – disse Hermione – Qual é o seu numero de roupa?

Jenny riu com a pergunta. Ela olhou para Rosa que a encarava apreensiva.

- Igual o de Rosa. – disse Jenny pensativa.

- E a de Scorpion? – perguntou Hermione – Saberia me dizer?

- Posso dizer que a mesma de Alvo. – disse Jenny depois de encarar os garotos.

Eles voltaram sua atenção para Jenny curiosos.

- Estamos no beco diagonal. – disse Hermione como se achasse que devesse uma explicação – Estaremos ai em 2 horas.

- Tudo bem. – respondeu Jenny - Vocês são seis, certo ?

- Certo. – respondeu Hermione – Não vamos ficar muito tempo, não precisa se preocupar.

- Ta tranquilo. – disse Jenny olhando Rosa fazer gestos exagerados para chamar sua atenção – Acho que Rosa quer falar com a senhora.

Rosa tirou o celular da mão da amiga.

- Bom dia, mamãe. – disse ela sorridente, como se a mãe pudesse ver sua alegria do outro lado da linha – Tão cedo? Não. Ótimo. Também te amo.

- Eles vêm? – perguntou Alvo

- Daqui a 2 horas. – informou Jenny desligando a TV e ficando de pé – Preciso adiantar a ceia.

A campainha da porta tocou.

- Impossível eles terem chegado. – disse Rosa correndo para atender, ela escancarou a porta na esperança que realmente fosse seus pais. Ela não escondeu a expressão de decepcionada ao dar de cara com uma velha verruguenta com um enorme embrulho na mão. - Jenny – ela gritou.

- Hey. – disse Jenny aparecendo na porta – Bom dia Sra. Bennet.

- Feliz Natal, Jenny. – disse a velhinha entregando o enorme embrulho – Sua tia me ligou. Sinto tanto...

- Tudo bem, ela vem para a ceia pelo menos. – disse Jenny dando de ombros – O que é? – perguntou encarando o embrulho feito de papel alumínio.

- A ave. – disse a velhinha com sua voz esganiçada – Não importa o quão esperta você seja, achei perigoso você mexer com o forno.

- Obrigada. – disse Jenny abraçando a Sra.Bennet desajeitada – Deve ter levado a noite toda...

- Não é como se eu tivesse muita coisa pra fazer. – riu-se a velha. – Enfim, tenho que dar comida ao Sr. Tumnus. Até querida...

- Não, espere. – disse Jenny fazendo a Sra.Bennet se virar – Tenho um presente para a senhora.

- Não precisa querida.

- Eu já comprei. – cantarolou Jenny.

- Então eu aceito. – disse a Sra.Bennet esfregando as mãos.

Jenny foi até a cozinha deixando o embrulho em cima do balcão e correu as escadas para buscar 2 embrulhos ligeiramente menores do que o recebeu, decorados num papel de presente chamativo.

- Um para a senhora e outro pro Sr.Tumnus. – disse Jenny entregando os dois presentes para a velhinha.

- Obrigada. Importa-se que eu os abra em casa? Não tenho muito jeito...

- Fique a vontade. Eu sei que o Sr.Tumnus vai adorar o dele.

A velhinha sorriu e foi embora.

Rosa fechou a porta.

- O que deu pra ela? – perguntou curiosa.

- Um cachecol bem colorido. – disse Jenny alegre – E uma tigela com o nome do gato dela.

- Ela é sua vizinha?

- Ela já foi minha babá! – riu-se Jenny – Ano passado ela ficava aqui me vigiando a pedido da Tia K.


Alvo e Scorpion levantaram do sofá e foram ao encontro das amigas.

- Quem era e o que está cheirando divinamente na cozinha? – perguntou Alvo.

- Nosso chester. – informou Jenny – Mas só depois de meia-noite. Agora preciso fazer os acompanhamentos...

- Eu posso ajudar. – ofereceu-se Rosa prestativa.

- Eu posso ficar de fora? – perguntou Scorpion com sinceridade – Não é muito a minha cara...

- Nem a minha. – completou Alvo.

- Vocês podiam se divertir lá fora. – sugeriu Jenny – Tem bolas e raquetes no meu quarto.

- Raquetes? – perguntou Scorpion confuso – Só preciso saber se tem vassouras e uma goles.

- Não podem jogar quadribol aqui. – lembrou Rosa – Os trouxas podem ver.

- Podem subir ao meu quarto e procurarem algo que possam diverti-los no baú aos pés da cama. – instruiu Jenny – É tudo que tenho que dá prabrincar.

- Diga que não tem bonecas. – implorou Alvo.

- Não tem bonecas. – respondeu Jenny rindo.

Alvo fez um high-Five com Scorpion e foi em direção ao quarto de Jenny procurar algo divertido pra fazer. Chegando lá ficaram de boca aberta olhando a parede do quarto: Era repleta de conjuntos de espadas e punhais, desde espadas de esgrima a espadas que lembravam as armas de cavaleiros da idade média. Scorpion tocou o punho dourado de uma delas e sorriu ao faze-lo – parecia de ouro maciço. Alvo puxou a espada que estava cruzada a essa e quase a deixou cair.

- Isso pesa uns 10 quilos! – exclamou ele surpreso – Imagina como devia ser horrível usar uma dessas.

- Imagina quão incrível devia ser usar uma dessas. – corrigiu Scorpion também admirando a lâmina da espada que tocava.

Sorrindo marotamente um para o outro, eles desceram as escadas empunhando as espadas. Quando viram Jenny e Rosa de costas para eles, esconderam as armas atrás das costas para que não fossem surpreendidos.

- Isso não. – disse Jenny se virando com uma faca de cortar carne na mão. Sua voz soava irritada e nervosa.

Ele sorriu inocentemente.

- O que não?

- Minhas espadas não estavam permitidas. – vociferou Jenny – Vocês não saberiam usa-las.

- Não é como se você já tivesse usado – zombou Alvo – Você é só uma garota.

Jenny apunhalou o balcão da cozinha com a faca deixando-a totalmente ereta e com passos largos diminuiu a distância entre ela e os garotos. Puxou a espada da mão de Scorpion e investiu um golpe vertical em Alvo. Ele só teve tempo de deitar sua espada para impedir o ataque, causando um tilintar agudo e alto.

Alvo arregalou os olhos não se atrevendo em largar a espada que usava como um escudo, Jenny mantinha a pressão fazendo o amigo recuar.

- Sou campeã de esgrima. – confessou Jenny – Mas minha paixão são essas aqui. – ela disse passando a ponta dos dedos na ponta da espada que Alvo ainda segurava na horizontal – E sim, sou uma garota.

Scorpion assobiou baixo, não como se elogiasse o desempenho de Jenny, mas como se tivesse aliviado que ele tenha parado por ali.

Alvo começou a gaguejar, mas Jenny sorriu em resposta – Um sorriso frio que tentava demonstrar que ela não o odiava, mas que também não estava satisfeita.

- Coloquem de volta lá. – disse ela tentando manter a voz controlada – E vão assistir algo na TV, depois que terminarmos aqui nós procuramos algo pra fazer.

Scorpion pegou as duas espadas e subiu as escadas, Alvo saiu pela porta da frente fechando-a com força.

- Precisava disso tudo? – reclamou Rosa – Eles não podiam saber.

- Não foi pela espada, foi pela provocação. – respondeu Jenny dando de ombros – Sou orgulhosa.

- Bem, engula seu orgulho e peça desculpas. – sugeriu Rosa irritada – Antes que ele fique chateado de vez.

- Vamos terminar os acompanhamentos. – disse Jenny – Depois tento me redimir.

Rosa assentiu de má vontade e voltou a picar eficientemente os legumes para uma salada enquanto a amiga estava concentrada em vigiar três panelas diferentes ao fogo. Scorpion voltara com um bastão e uma bola de ping pongque achou no baú de Jenny e foi para fora procurar Alvo.

- Hey. – saudou Scorpion jogando a bola em cima do amigo.

- Hey. – respondeu Alvo pegando a bola no ar.

- Vamos jogar? – perguntou Scorpion balançando o bastão de baseball.

- Não sei jogar isso. – respondeu Alvo arrancando a grama gelada distraído.

- Finja que é quadribol. – sugeriu Scorpion com um sorriso – E essa ai é um balaço.

- Um balaço que fica parado? – perguntou Alvo erguendo a sobrancelha.

- Podemos fazê-lo voar... – disse Scorpion com um sorriso maroto.

- Jenny nos mataria. – retrucou Alvo encarando o chão.

Scorpion largou o bastão e sentou ao lado do amigo.

- Ela sente muito. – disse Scorpion sem saber se era verdade.

Alvo levantou os olhos e o encarou.

- Ela poderia ter arrancado minha cabeça.

- Ela não faria.

- Como você sabe?

- Ela não faria. – respondeu Scorpion com firmeza. – Eu a conheço.

- Você a conhece? – Alvo riu com desdém – Não sabemos praticamente nada sobre ela. Não deveríamos estar aqui tão cedo. Antes de sabermos exatamente com quem estamos mantendo amizades.

Alvo ouviu um pigarro atrás de si e virou o rosto para encarar Jenny com as mãos na cintura com uma expressão indagadora. Rosa levava a mão na boca para esconder uma risadinha.

- Você acha que eu ia matar você? -perguntou ela se contendo para não rir.

- Chegou perto. – retrucou Alvo ficando de pé.

- No máximo ia arranhar a ponta do seu nariz. - disse Jenny

- Não acredito em você. – retrucou Alvo encarando-a com os olhos semicerrados.

- Você é muito dramático. – retrucou Jenny irritada dando um leve empurrão nele. Ele cambaleou e ela empurrou mais uma vez até ele cair sentado no chão. Ele a encarou com algo que beirava a ódio. – E é muito fraco também.

Alvo tentou se levantar e ela o empurrou mais uma vez. Ele caiu com as costas na grama lamacenta e encarou o céu nublado. Poderia algo ser mais humilhante?

- E eu tenho algo pra você. – A cabeça de Jenny apareceu impedindo a contemplação das nuvens cinza e parecia sorrir. Ela estava sorrindo?

Rosa jogou algo para Jenny e ela pegou no ar e cravou uma espada de esgrima ao lado da cabeça de Alvo. Ele encarou a ponta da espada que estava a um centímetro de sua orelha e depois Jenny – Ela definitivamente sorria.

- Com essa você pode brincar. - disse ela num sorriso que mostra todos os dentes – Vamos, eu vou ensinar vocês.

Ela esticava a mão para Alvo e este a olhou por alguns segundos antes de aceitar a ajuda. Ele ficou de pé e pegou a ponta daquela longa e fina espada que parecia mais uma antena do que qualquer outra coisa. Scorpion e Rosa já seguravam suas próprias espadas.

- Então, tente me dá um golpe. – sugeriu Jenny vendo o modo que Alvo empunhava a espada.

- Não acho que seja...

- Vai logo. – Jenny revirou os olhos, Alvo tentou investir um golpe na esquerda e ela se desviou com facilidade, tomando a espada de suas mãos. E uma hora se passou na brincadeira dos quatro, onde ela tentava ensinar os amigos ao menos a segurar a espada direito. Suados, com o ar gelado queimando seus pulmões eles entraram na casa para se lavarem.

O tempo esfriara ainda mais e finos flocos de neve começavam a embaçar as janelas da casa.

Jenny tentou inutilmente limpar as janelas da sala para que pudesse ver o que se passava na rua. Ela ajeitou o cachecol que protegia seu pescoço do ar gelado e foi fazer chocolate quente para se aquecer. A campainha da porta soou e antes que pensasse em atender, Alvo já passara correndo para abri-la.

- Feliz natal! – Jenny pode o ouvir gritar para um grupo de pessoas que sacudiam os pés sujos de lama e neve em seu tapete de “Boas-vindas”. Ela levou a mão à testa se amaldiçoando por ter se esquecido da visita. Olhando para os lados como se esperasse que alguém a dissesse o que fazer, ela correu para o armário mais próximo e tirou 20 canecas da coleção de sua tia e as alinhou em cima do balcão quebrando ovos em metade delas, misturando com farinha, açúcar e fermento e levando de três em três ao aparelho de micro-ondas.

- Onde está todo mundo? – ela pode ouvir uma voz feminina cansada perguntar.

Ela podia ouvir os visitantes se aproximando, mas continuou de costas pra sala agitando uma panela que fervia leite e achocolatado.

- Esse cheiro é bom. – disse uma voz atrás dela e ela pode sentir que a família de Alvo e Rosa a estava encarando apoiados no balcão americano de sua cozinha.

Ela virou para eles e sorriu sem jeito com a colher de pau ainda na mão.

- Eu sou a Jenny. – disse ela acenando com a mão desocupada. Ela pode perceber o rosto amável de quem ela achava que era a Sra. Weasley e reconheceu os olhos azuis do Sr.Weasley que ela via todos os dias na amiga. Ela sorriu para as crianças e depois voltou seus olhos curiosos para os Potter’s, era incrível como Alvo era a cara do pai – como uma miniatura.

- Eu falei com você no telefone. – Hermione sorriu – Onde está Rosa?

- Deve estar se trocando. – disse Alvo.

Algo apitou e Jenny correu pra tirar a ultima caneca do micro-ondas. Rony olhou desconfiado para o conteúdo da mesma.

- Isso é comida? – ele perguntou incrédulo.

- É bolo. – confirmou Jenny se desculpando com o olhar – Foi o que eu consegui preparar para o lanche.

Ela se virou para mexer o chocolate quente uma ultima vez na panela, e com uma concha encheu as outras 10 canecas e levou de duas em duas para a mesa da sala de jantar. Gina e Hermione se apressaram em ajuda-la a preparar a mesa para o lanche.

Scorpion havia chegado à mesa e, acanhado, não se pronunciou - apenas sentou numa cadeira mais afastada e com um garfo remexeu o seu bolo de caneca.

Rosa chegou a tempo de ajudar Jenny a levar as ultimas canecas para todos que já haviam se acomodado a mesa. Ela sorriu e correu para abraçar a mãe quase derramando o chocolate ao fazê-lo. Hermione a abraçou com ternura e logo o pai lhe deu um abraço de urso quase a tirando do chão. Ela riu como se nada no mundo a pudesse fazer mais feliz. Scorpion via a cena não deixando de sorrir e sentir uma pontada de inveja.

- Esse é Scorpion. – apresentou Jenny quando ninguém mais o fez, ela quase podia perceber receio nos olhos de Alvo e Rosa.

- Oi, Scorpion. – saudaram Hermione e Gina, gentis.

- Feliz natal. – desejou Harry erguendo sua caneca de chocolate com um sorriso acolhedor.

Rony bebericou seu chocolate e não disse nada. Hermione cravou seu salto no dedão do marido e com um muxoxo ele saudou Scorpion de má vontade. O garoto pareceu não perceber e desejou boas festas para os adultos igualmente.

- Então, Jenny... – disse Hermione – Sua tia volta que horas?

- Só na hora da ceia. – lamentou-se Jenny – Ela está cobrindo uma colega no hospital, parece estar faltando pessoal para cuidar dos doentes.

- Ela é uma curandeira? – interrompeu Scorpion.

- Ela é uma enfermeira. – discordou Jenny sem entender. Para ela, curandeira eram as mulheres da idade média que faziam chá com ervas plantadas no quintal para curar dores de cabeça.

- É a mesma coisa. – informou Hermione a Scorpion – É como os trouxas chamam as curandeiras.

Em outra situação, Scorpion ficaria constrangido com a explicação não requisitada, mas assentiu tranquilo com o sorriso da Sra. Weasley.

- Você vai ficar sozinha? – perguntou Gina preocupada.

- Já to acostumada. – respondeu Jenny dando de ombros – A vizinha da frente fica olhando a casa e liga pra saber se eu estou bem. Então minha tia fica tranquila.

- Onde está sua mãe ou seu pai? – perguntou Rony encarando sua xícara. Hermione pisou novamente em seu pé.

- Minha mãe morreu quando eu nasci. – disse Jenny com um nó na garganta – Meu pai morreu há um ano num acidente do trabalho.

- Sentimos muito. – disse Gina com um olhar irritado voltado para o irmão.

- Tudo bem. – disse Jenny forçando um sorriso despreocupado – Sem drama.

Hermione levou sua xícara de chocolate à mesa e passou um guardanapo na boca para limpá-la de um bigode de achocolatado.

- Eu trouxe presentes. – disse ela dando um sorriso animado.

Rosa e Alvo levantaram ao mesmo tempo da mesa. Hermione deixou o guardanapo em cima da mesma e foi para fora, com as crianças logo atrás. Gina pegou sua bolsa em cima do sofá e Rony também saiu da casa. Scorpion e Jenny continuaram a comer o bolo de caneca com dificuldade de desgrudar a massa da caneca.

Harry estava parado na porta da sala e encarava os dois como se esperasse algo. Jenny levantou os olhos da caneca e o viu.

- Vocês não vêm? –perguntou ajeitando os óculos.

- Estamos bem. – respondeu Jenny.

- Mas tem presentes pra vocês também. – disse Harry e acrescentou quando viu a expressão de Scorpion – Pros dois.

Eles levantaram tentando não parecer muito apressados e seguiram o Sr. Potter até a porta da rua onde uma van estava estacionada. O Sr. Weasley tirava grandes caixas do porta-malas e a Sra. Weasley as entregava para Alvo e Rosa. Quando Scorpion e Jenny se aproximaram, ela estendeu duas caixas para os dois.

- Não comprei nada pra vocês. – lamentou-se Jenny encarando a caixa.

- Considerarei o bolo um presente. – disse Hermione com uma piscadela. Jenny sorriu e aceitou o presente, Scorpion também pegou o dele com receio. E quando notou que as crianças ainda não tinham aberto as caixas, ela acrescentou – Não é uma bomba, podem abrir.

Jenny tirou a tampa da caixa e o laçarote cor-de-rosa que o enfeitava e se deparou com o vestido mais bonito que vira na vida. Ele era de um rosa cintilante que a deixara de boca aberta. Havia também um par de sapatos pratas encrustados de pedras que fazia conjunto. Ela ergueu os olhos procurando Rosa para compartilhar o presente e a amiga estava deslumbrada com o próprio: Também um vestido, de modelo diferente e um tom azul que lembrava a cor de seus olhos. Os olhares entre as duas se cruzaram e elas sorriram animadas – O baile estava salvo. Elas não faziam questão de ir, mas agora a ideia não parecia ruim. Alvo e Scorpion encaravam desconfiados para os Smokings idênticos que tiraram de suas caixas.

- Vocês vão ficar parecidos com o meu Ken. – comentou Lilian, a irmã mais nova de Alvo.

- Posso falar com você? – perguntou Harry a Scorpion. Ele assentiu e os dois se afastaram dos outros e o Sr. Potter falou num tom baixo e discreto.

- Você pode voltar pra casa. – disse ele sério – Tudo foi resolvido.

- Não sei como isso é possível, senhor. – respondeu Scorpion sem entender.

- Eu falei com seu pai no ministério. – Quando Scorpion ouviu isso ele sentiu um aperto no coração. Não queria nem imaginar como estaria o pai. – Ele me devia um favor há alguns anos, achei uma boa hora pra cobrar. – Favor? Ele estava perdido. Dois delitos: Ter contato com os Potter’s e ainda mandar um deles cobrar favores. –... Uma maneira de me desculpar pelo o que Tiago fez. Por favor, diga algo.

- Eu não acho que tenha sido uma boa ideia. – disse Scorpion

- Mas agora você pode ficar tranquilo. – disse Harry.

- Não sei não... – disse Scorpion – Obrigado mesmo assim.

O Sr. Potter sorriu sem entender e voltou para a família. Scorpion foi até Jenny e recebeu seu presente da Sra. Weasley.

- Obrigado. – agradeceu ele – Mesmo.

- De nada. – disse Hermione o abraçando – Aproveitem o baile.

Harry e Rony já preparavam o carro para partir novamente enquanto todos se despediam com vários “Boas festas”, “Obrigado” e “Boa viagem”. Lilian e Hugo acenaram e entraram na van, Harry e Gina os seguiram. Hermione sentou no banco carona, enquanto Rony dava a volta para ocupar o posto de motorista. Com um ronco alto a van partiu deixando as marcas de sua roda na estrada congelada.

As crianças voltaram para a casa e foram olhar seus presentes com maior atenção. Jenny pegou o seu vestido cor-de-rosa e colocou em frente ao corpo para Rosa opinar. Por mais lindo que fosse, parecia fino demais para o inverno e os sapatos também não forneceriam calor suficiente para os pés.

- Ela lhe comprou saltos. – observou Rosa com uma risadinha. Jenny olhou o par de sapatos que estava em uma das mãos e depois viu as sapatilhas que a amiga ganhara.

- Por que eu preciso de salto? – perguntou Jenny confusa.

- Talvez Rosa tenha comentado na carta que você era pequena. – Alvo deixou escapar, ela lhe deu uma cotovelada.

- Eu não sou pequena. – discordou Jenny olhando para seus pés e depois para os amigos – Eu praticamente sou da sua altura, Rosa.

Quando Rosa levantou do sofá para ficar de frente pra Jenny ela viu que isso não era verdade. A amiga era pelo menos um palmo mais alta. De repente ela sentia-se minúscula.

- Você ainda vai crescer. – disse Scorpion com um sorriso que tentava demonstrar um consolo. Jenny fechou a cara. “Vocês também vão.”

***

Com ajuda dos amigos, Jenny conseguiu montar uma pequena árvore de natal postiça e enfeita-la. Ela estava brilhando com seus inúmeros pisca-pisca ao lado de um pequeno presépio. Scorpion parecia muito interessado em estudar as esquisitas esculturas que mostravam criaturas aladas, ovelhas e cinco pessoas que encaravam o chão.

- O que eles estão fazendo? – perguntou Scorpion apontando para o presépio.

- Esperando o natal chegar. – disse Rosa com seu ar de sabe tudo.

- Como a gente. – confirmou Jenny – Tia Kenzie daqui a pouco está ai, vou esquentar a comida.

Alvo, Scorpion e Rosa tentavam ajustar a temperatura da lareira para deixar a sala mais quente enquanto o Jenny manuseava o forno e micro-ondas. Um tilintar metálico anunciou a chegada de Kenzie na casa – Ela estava com um rabo de cavalo frouxo, o rosto demonstrava cansaço e seu uniforme inteiramente branco faziam-na parecer um fantasma. Ela carregava enormes sacolas que jogou em cima do sofá, despreocupada.

- Olá crianças. – disse ela desanimada – Feliz Natal.

- Feliz Natal. – Alvo, Scorpion e Rosa disseram em coro.

- Ta cansada, né? – perguntou Jenny entregando uma xícara de chá para a Tia. Ela sorriu em agradecimento e tomou um gole no chá antes de responder.

- Foi um dia difícil no hospital. – disse Kenzie – Mas agora eu vou lá em cima, trocar de roupa e desço pra te ajudar arrumar a mesa. – ela bebeu o restante do chá em uma golada e entregou a xícara para Jenny. Já adivinhando que a sobrinha iria olhar curiosa para as sacolas, ela acrescentou – Não mexa em nada ainda!

Jenny riu e começou a arrumar a mesa com a ajuda dos amigos, quando sua tia desceu com um longo sobretudo vermelho e um gorro combinando na cabeça, a mesa estava com a horrorosa toalha enfeitada de figuras do papai-noel, com o chester estava no centro, saladas e purê de abóbora espalhados por todo canto. Havia também algumas balas em forma de bengala – tudo muito festivo.

A tia sorriu.

- Jens, você é demais. – ela elogiou abraçando a sobrinha – Eu morreria por você, bebê.

- Eu sei. – respondeu Jenny correspondendo o abraço. – Eu morreria por você também.

Os amigos não entenderam a declaração, mas sorriram vendo o momento fraternal. Eles sentaram e provaram de cada travessa até seus estômagos reclamarem do excesso de comida e foram dormir como pedras. Amanhã seria outro dia.



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Notas finais do capítulo

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