A Herdeira escrita por GrazielleAlessa


Capítulo 6
Capítulo 5 - Lar.




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Semanas passaram e o inverno foi anunciando sua chegada lentamente. Primeiro com ventanias cada vez mais fortes depois com a presença da neve gelada. Junto com o frio, chegavam também o Natal e todo o alvoroço em ter dois longos dias de folga depois de quase quatro meses de aulas cansativas.

– Como é o nome daquele bruxo das trevas? – perguntou Jenny a Rosa – Eu sempre esqueço.

– Voldemort. – respondeu Rosa.

Scorpion fez uma careta zangada para ela.

– Que foi? – perguntou ela dando de ombros – É só um nome e precisamos inclui-lo no trabalho.

– Não se deve falar o nome dele. – repreendeu Scorpion – Não é certo.

– Esse não é o nome dele de verdade. – disse Rosa despreocupada – Se te serve de consolo.

Scorpion voltou seus olhos para sua redação que já possuía dez páginas, mas ainda não estava perto da quantidade exigida pelo professor Miggans. Pelo menos a biblioteca estava aquecida e aconchegante e tudo parecia fluir mais rápido quando os quatro se ajudavam nas tarefas.

– Alvo. – chamou uma voz.

Ele ergueu a cabeça do livro de Feitiços para encarar Tiago.

– Hey. – saudou Alvo.

– Carta pra você. – disse Tiago entregando um envelope.

– Mamãe? – perguntou Alvo esperançoso.

– Papai. – respondeu Tiago.

Os olhos de Alvo brilharam ainda mais e rapidamente rasgou o envelope.

– Tem um pra você também, Rosinha. – disse Tiago entregando um segundo envelope à garota.

Ela agradeceu e apressou-se também em abri-lo. Tiago arrastou uma cadeira para ao lado de Jenny e sentou-se relaxado nela, esperando terminarem a leitura.

– E aí Jenny. – disse Tiago.

– Oi Potter. – saudou Jenny sem emoção.

– Achei que você ia começar a falar mais comigo depois da detenção. – disse Tiago fazendo beicinho.

– E por que você achou isso? – perguntou Jenny com a sobrancelha erguida.

– Por nada. – Sua expressão fingida havia virado decepção de verdade. – Aonde vai passar o Natal?

– Em casa. – respondeu Jenny voltando sua atenção para os livros, uma clara mensagem de que não queria ser incomodada.

– E você, Scorpion?

Jenny, Alvo e Rosa pararam suas leituras para encararem Tiago com desconfiança. Scorpion pareceu pensar por um momento antes de responder.

– Aqui mesmo. – disse Scorpion – Acho melhor.

– Ainda não contou pros seus pais que veio pra Grifinória. – Concluiu Tiago com um sorrisinho debochado.

– Isso pode esperar. – respondeu Scorpion fingindo despreocupação.

– É, esta na minha hora. – disse Tiago levantando da mesa bruscamente. – Até mais.

Ele saiu da seção quase que correndo como se estivesse atrasado para um compromisso muito importante, Rosa esperou ele desaparecer atrás das estantes antes de perguntar.

– O que foi isso?

– Ele esta aprontando alguma coisa. – concluiu Alvo desconfiado.

– Alguém acordou. – comemorou Jenny com palminhas exageradas.

– Pode não ter nada a ver com Scorpion. – disse Alvo pensativo – Mas ele vai aprontar alguma coisa.

– Tiago sempre vai aprontar alguma coisa. – disse Rosa.

– O que dizia a carta? – Jenny mudou de assunto abruptamente, estava curiosa desde quando Tiago havia aparecido com elas. Lamentou-se por não ter recebido nenhuma de sua Tia ainda, mas esta provavelmente nem saberia como mandar uma para Hogwarts.

– Meus pais vão viajar com Lílian. – explicou Alvo – Eles a devem essa viagem de presente de aniversário, e só agora conseguiram tirar férias do trabalho.

– E eles vão adiantar a do Hugo, pelo o que parece. – disse Rosa com tristeza olhando pra sua carta. – Acho que nosso natal não vai ser em casa.

Scorpion ficou feliz por dentro mesmo sem ter dito nada, não queria passar o natal sozinho no salão comunal da Grifinória.

– Tive uma ideia. – disse Jenny fechando o livro de Defesa contra as artes das trevas com um estrondo. – Venham passar o natal lá em casa.

– Bem. – disse Rosa – Parece que seria legal, mas temos que avisar aos nossos pais. Tudo bem pra sua tia?

– Vou mandar uma carta para avisa-la, mas aposto que ela não se importa. – disse Jenny pegando uma folha de papel em branco no meio de sua pilha de livros. – Vou mandar agora mesmo.

Ela usou um dos lados da folha para explicar a situação de Alvo e Rosa, pedindo para leva-los e prometendo arrumar a casa perfeitamente antes de retornar a escola. Ela virou a folha pensativa e escreveu uma lista de ingredientes necessários.

– Pra que isso? – perguntou Alvo lendo “Lista de Compras” no alto da página.

– Para ela comprar. – disse Jenny concentrada em escrever – Se eu não mandar vamos morrer de fome.

Scorpion sentia seu estomago afundando enquanto via Jenny escrever animadamente a carta. Não poderia explicar para seus pais que estava indo para o lar de uma nascida trouxa, muito menos que eram da mesma casa e que esta não era a Sonserina. Sentiu inveja por um momento de Alvo e Rosa, que com certeza receberiam a permissão para viajar.

– Se anime Scorpion. – disse Rosa – É melhor que ficar na escola.

– Eu... Eu não vou.

– Por que não? – perguntou Jenny.

– Eu não posso. – disse Scorpion – Meus pais não vão dar permissão.

– Mas você vai passar o natal na escola. – disse Alvo – Isso não parece muito justo.

– Não comemoramos o natal mesmo. – disse Scorpion – Não vai fazer muita diferença.

Jenny, Alvo e Rosa arregalaram os olhos instintivamente.

– Você nunca teve um Natal? –perguntou Rosa indignada.

– Eu nem sei o que é pra dizer a verdade. – disse Scorpion sem jeito. – Eu só sei que é feriado.

– Seus pais não precisam saber que você saiu. – disse Alvo tentando convence-lo.

Scorpion pareceu avaliar as opções por um instante, mas em sua cabeça já estava decidido: ia terminar os deveres e dormir mais cedo esperando que os dois dias passassem correndo. Não teria coragem para fugir para comemorar algo sem importância. Ele não deu uma resposta imediata a Jenny, dizendo apenas que iria pensar no assunto. Ela já havia colocado na carta que levaria três amigos e não teve intenção de corrigir vendo a confusão de Scorpion. Rosa levou dois minutos para escrever em dois pedaços de papel o mesmo pedido de permissão, Alvo assinou um deles e foram para o corujal entrega-los.

Depois de enviarem suas correspondências, foram para o salão comunal de sua casa para terminarem os deveres perto da lareira.

Depois de quase cinco horas terminando a redação de DCAT e um relatório complicado sobre uma experiência com poções, a janela fechada para bloquear o acesso da nevasca à sala quebrou quando uma coruja passou por ela com uma carta em seu bico. Sobressaltada, Rosa foi pegar a carta e consertar o vidro. A coruja pousou no braço do sofá onde ela sentou-se e olhou para ela esperando algo.

Rosa leu uma caligrafia caprichosa no verso do envelope onde dizia “Scorpion Malfoy”. Ela esticou o braço para Scorpion que olhou surpreso para a carta.

– Finalmente eles lembraram que eu existo. – Murmurou ele feliz abrindo o envelope. Ao desenrolar um pedaço de pergaminho que estava todo preenchido com a mesma caligrafia com tinta de pena, sua aparente felicidade se transformou em apreensão e depois desespero.

– Eles sabem. – disse Scorpion com a voz fria. – Eu vou matar Tiago.

– Que houve? – perguntou Jenny largando seus papeis e puxando o pergaminho da mão dele para ler.

Alvo e Rosa encararam os olhos de Jenny passando pelo papel e ficando mais indignados a cada palavra que liam.

– Aquele trasgo. – rosnou Jenny ficando de pé amassando o pergaminho nas mãos.

– Que Tiago fez dessa vez? – perguntou Rosa.

– Meus pais sabem que fui selecionado pra cá. – explicou Scorpion encarando o pergaminho com raiva – Pediram pra eu passar os feriados na escola, para eles terem um tempo para pensar.

Ok, não é tão ruim assim.” – pensou Rosa com alívio.

– Eles bloquearam meu cofre em Gringotes. – continuou Scorpion – E me tiraram do testamento da família. Eu também estou momentaneamente expulso de casa.

– Tudo isso por que não foi pra Sonserina? – perguntou Alvo incrédulo.

– Não. – disse Scorpion com um meio sorriso choroso. – Por andar com vocês e por ter sido seu irmão que mandou a carta. Isso é terrivelmente humilhante para eles. Sem ofensas, claro.

– Isso é horrível. – lamentou-se Rosa.

– Eu estou indo matar Tiago agora mesmo. – anunciou Jenny enfurecida andando em direção a saída do salão.

Alvo correu e bloqueou sua passagem.

– Já passou do toque de recolher – disse ele – Você vai ser pega.

– Tiago ainda não voltou. – respondeu Jenny com os dentes trincados – Eu tenho certeza.

– Ele anda perambulando por ai. – concordou Alvo – Mas talvez ele mesmo já tenha sido pego.

A porta atrás de Alvo foi forçada para dentro, o garoto cambaleou e saiu da frente de Jenny. Tiago acabara de aparecer frente à porta.

– Ainda acordados? – perguntou Tiago olhando o relógio de pulso. – Chega de deveres ou vocês vão enlouquecer.

Jenny avançou para cima dele arranhando lhe o rosto e chutando o quanto podia. Tiago acabou caindo no chão onde virou um alvo ainda mais fácil para o ataque. Alvo tentou segurar Jenny e acabou sendo atingido no braço. Ele olhou em direção a Rosa e Scorpion esperando algum tipo de ação, mas estes só encararam a briga com cara de tédio.

– Jenny. – pediu Alvo – Já chega. Por favor.

Ela soprou uma mecha de franja que caia sobre seu olho e encarou a figura de Tiago encolhido, rasgado e indefeso ao chão.

– Levante seu covarde. – provocou ela. – Não é mais tão engraçado, não é?

– Parece... – disse Tiago ofegante –... Que você sente falta do nosso tempo juntos durante a Detenção.

Alvo conseguiu segurar os braços de Jenny antes de ela tentar pular mais uma vez em direção a Tiago.

– Então eles falaram com você, hã? – perguntou Tiago levantando com dificuldade do chão.

Scorpion apenas o encarou com desprezo.

– Como você conseguiu fazer isso, Tiago? – perguntou Rosa indignada. – Você não viu que uma das suas brincadeiras teve sérias consequências?

– Ah é? – zombou Tiago – O papai cortou sua mesada, foi?

– Tente: “Te expulsou de casa.” – disse Scorpion com frieza.

O sorriso zombeteiro de Tiago automaticamente se apagou de seu rosto. Ele tocou seu braço onde Jenny havia arranhado e estava úmido com seu próprio sangue, e finalmente deu-se conta da dor. Ele franziu a testa e encarou o chão sentindo os olhares dos presentes o fuzilando.

– Eu achei que...

– É você achou. – disse Rosa com os braços cruzados. – Tio Harry vai saber disso.

– Não!– protestou Tiago erguendo a cabeça quase imediatamente. – Acho que podemos resolver aqui.

– Você não resolveu seu problema aqui comigo. – rebateu Scorpion – O que no máximo vai acontecer com você? O papai vai cortar sua mesada?

A zombaria de Scorpion foi aceita com um olhar semicerrado de Tiago. Jenny conseguiu se desvencilhar de Alvo e tocar uma ferida feia no braço do garoto.

– Me desculpe. – disse Jenny como se não sentisse culpa alguma. – Posso fazer um curativo em um minuto.

– Esquece. – disse Tiago sacudindo o braço para que Jenny o soltasse. Ele subiu as escadas numa marcha lenta e raivosa, fazendo grande barulho a cada passo.

Jenny suspirou fundo.

– E agora? – perguntou.

– Vamos deixar o Tio Harry sabendo. – disse Rosa simplesmente.

Ela escreveu mais uma carta endereçada aos Potter’s esperando um castigo prudente vindo do seu tio Harry - se havia alguém no mundo que saberia ser justo seria ele. Colocou a carta dentro do livro de DCAT e a levaria para o corujal na manhã seguinte. Um longo bocejo foi à deixa para que todos guardassem suas coisas e fossem para seus quartos.

Jenny remexia a unha incessantemente.

– Qual é o problema? – perguntou Rosa depois de um tempo.

– Você acha que minha unha vai cair? – perguntou Jenny com uma fingida preocupação. – Ainda tenho restos mortais de Tiago nela.




No dia seguinte, antes mesmo do farto café da manhã, Rosa já havia entregado a carta a uma das corujas da escola que levantara voo quase que imediatamente para cumprir seu serviço. O ar de Hogwarts mudara, todo mundo parecia mais feliz e motivado – até mesmo os professores que pareciam estar sempre com ar de cansaço e preocupação.

Rosa e Jenny foram abordadas por Matthew e Richard antes que pudessem alcançar Scorpion e Alvo.

– Oi – saudaram os dois em uníssono.

– Hey. – respondeu Rosa.

– E aí? – saudou Jenny.

– Hmm... – começou Richard – Vocês vão ao baile?

– Que baile? – perguntou Jenny – Ah Deus, O baile!

Rosa deu uma tapa na própria testa por ter esquecido. Como esquecera?

– O Baile de Aniversário de Hogwarts. – respondeu Matthew como se dissesse o óbvio.

Richard o censurou com um olhar e o garoto voltou a se calar.

– Então, querem ir com a gente? –perguntou Richard com um sorriso que mostrava todos os seus dentes.

– Desculpe. – disse Rosa tentando ser educada – Mas acho que não vamos ao baile.

– É. – concordou Jenny – Ficamos tão ocupadas com os deveres que não compramos vestido nem nada.

– Que tipo de garota são vocês? – perguntou Matthew rindo.

– Ângela não contagiou vocês com a dúvida do par, vestido e cabelo? – questionou Richard.

– Não falamos com a Ângela. – disse Rosa.

– Vocês dormem no mesmo quarto. – disse Matthew incrédulo.

– Não temos assunto. – rebateu Jenny – Estamos atrasadas, até.

Jenny arrastou Rosa pelo braço em direção a Alvo e Scorpion que estavam sentados na mesa da Grifinória vasculhando os arredores à procura das duas.

– Isso foi um sim? – gritou Richard esperançoso.

As garotas fingiram não ouvir e continuaram a cruzar o salão a passos rápidos até conseguirem sentar ao lado dos amigos.

– Richard e Matt estavam falando com vocês. Por quê? – perguntou Alvo.

– Estavam tentando nos convidar para o baile. – respondeu Rosa.

Scorpion cuspiu de volta ao copo o suco de abobora que estava na boca.

– O baile, cara. – disse Scorpion – Eu totalmente esqueci. É logo depois do natal, né?

– É. – confirmou Rosa – Não vou.

– Eu também não. – Scorpion apressou-se a dizer.

– Por que não? – perguntou Alvo – Não precisamos ir a pares como os idiotas mais velhos.

– Mas é pra isso que bailes servem. – argumentou Jenny – Para você ir com uma espécie de namorado ou candidato a um.

A menina balançou a cabeça como se reprovasse a ideia. Quão desesperado isso soa?

– Quantos bailes têm em Hogwarts? – perguntou Alvo – É algo que acontece só uma vez. Não vamos perdê-lo, por favor.

– Você parece uma garota. – disse Jenny rindo – Não quer perder o baile.

– Só acho que ia ser legal se fossemos os quatro como amigos. – argumentou Alvo ofendido.

– Mas não temos roupa – disse Rosa.

– Podemos compra-la no feriado. – Alvo tentou convence-la.

– Divirtam-se – disse Scorpion secamente.



A semana foi passando rapidamente, as respostas das cartas chegaram dois dias depois informando que Alvo e Rosa poderiam passar o Natal na casa de Jenny, e Tiago estaria de castigo: Totalmente proibido de visitar o vilarejo de Hogsmeade. Ele ficou enfurecido, mas ao menos não delatou Jenny como a autora das feridas que ele carregava no rosto e braços.

No dia 23 de dezembro, onde a maioria dos alunos já haviam preparados seus malões ansiosos para voltar pra casa, Jenny e Alvo brincavam de Snap explosivo (uma espécie de jogo com cartas que explodia quando menos se esperava) perto da lareira e Rosa lia um livro, sentada confortavelmente numa poltrona.

Scorpion havia recusado sair da cama e Alvo não insistiu para que ele levantasse, respeitando a vontade do amigo de ficar sozinho. Poderia entender por tudo que o garoto estava passando e sentindo.

Rosa olhou para o relógio e fechou seu livro.

– 20 minutos. – anunciou ela – Já podemos ir.

Alvo começou a catar as cartas (ou o que restou delas) e guardar no bolso, Jenny levantou seu pesado malão e o arrastou até a porta do salão comunal. Os alunos que iriam viajar haviam descido há algumas horas para esperar na biblioteca ou no saguão, mas eles preferiram o sossego do salão comunal na esperança que Scorpion mudasse de ideia.

– Não devemos nos despedir dele? – perguntou Jenny insegura.

– Sim, mas é melhor que eu o traga aqui. – disse Alvo – Vou chama-lo.

Antes que Alvo pudesse subir o primeiro degrau, puderam-se ouvir passos apressados e fortes batidas.

– Eu decidi. – disse Scorpion aparecendo com o malão. – Vou com vocês.

Jenny correu e abraçou o garoto. Rosa, mais contida, apenas sorriu. Alvo fez questão de bagunçar os cachos de Scorpion e carregar seu malão. Em menos de 10 minutos eles já haviam alcançado os demais alunos e embarcado na grande locomotiva vermelha.

A viagem até Londres foi longa e sossegada, Jenny adormeceu apoiada no colo de Rosa e os garotos mantinham uma longa discussão sobre o melhor time de Quadribol da temporada.

Quando chegaram à plataforma 9 ¾ , Jenny acordou sobressaltada quando Rosa a sacudiu. Os garotos as ajudaram a desembarcar os malões e os arrastar para fora do muro mágico.

Jenny sorriu quando viu um orelhão na ferroviária do lado trouxa, e correu para ele. Ela arrancou o telefone do gancho quase com violência, colocou uma moeda e discou. Seus amigos a seguiram e esperaram do lado de fora, dando privacidade a ela. Depois de quase 5 minutos conversando com alguém do outro lado da linha, a garota colocou o telefone de volta no lugar e saiu da cabine.

– Minha tia não pode vir nos buscar. – disse Jenny com um longo suspiro – Ela está de plantão. Vamos ter que pegar outro trem.

– Tudo bem. – disse Rosa – Você mora longe?

– Moro em Birmingham. – disse Jenny já esperando pelos protestos.

– A CIDADE? – perguntou Alvo incrédulo. – Achei que você morava em Londres!

– Hogwarts é a escola da Grã-Bretanha. – defendeu-se Jenny – Birmingham é na Inglaterra.

– Inacreditável. –reclamou Alvo.

– Ok, tudo bem. – disse Rosa tentando se acalmar mesmo que não gostasse da ideia de ir para outra cidade. – Pra qual plataforma devemos ir?

– Plataforma 5, fica a 10 minutos daqui. – informou Jenny – Se importam?

– Nós levamos os malões, você compra os bilhetes. – disse Scorpion tirando um galeão do bolso e entregando a Jenny.

Ela o encarou com vontade de rir, mas ficou tocada por ele ter oferecido mesmo sabendo que não poderia desperdiçar seu dinheiro.

– Aqui é só dinheiro trouxa. – disse Jenny tirando vinte libras esterlinas do bolso e devolvendo o galeão a Scorpion.

– Esperaremos você lá.

Eles arrastaram os malões ate a plataforma 5 onde aguardaram Jenny voltar com os bilhetes. Ela ajeitou seu cachecol vermelho e dourado ao redor do pescoço para proteger-se do frio e depois de enfrentar uma longa fila, apareceu na plataforma mostrando os quatro bilhetes na mão como se fossem troféus.

Eles embarcaram e encararam mais duas horas de viagem. Rosa estava preocupada e Alvo não fazia questão de esconder a irritação de ficar preso em outro trem, mas Scorpion parecia bem animado com a ideia de sair da zona de conforto. Não que ele se sentisse confortável aonde vivia...

Quando desembarcou novamente, Jenny correu em direção a uma mulher e a abraçou, deixando seus amigos e malão para trás.

Alvo se esforçava para arrastar seu malão e o da Jenny, e ao chegarem perto puderam ver as feições da mulher. Ela era alta e corpulenta, tinha cabelos loiros claros e olhos azuis. Não parecia com Jenny em absolutamente nada.

– Hey. – saudou ainda abraçada com Jenny – Então vocês são os amigos dela, hã?

Jenny afastou-se da tia para apresenta-la aos amigos. Sua tia não era só jovem, como tinha uma voz bem infantil.

– Essa é a Tia Kenzie. – apresentou Jenny.

– Prazer, Sra. Hudson. – disse Rosa educada.

– Senhora? – disse Kenzie fingindo estar ofendida – Quantos anos pareço que tenho, Jenny ?

– 25, tia. – respondeu Jenny rindo.

– Então como poderia ser senhora? – perguntou ela com as mãos na cintura.

– Desculpe. – disse Rosa sem graça.

– Tudo bem querida, não me importo. – respondeu Kenzie sorrindo abertamente. – O loiro é o Scorpion e os lindos olhos verdes é Alvo?

Eles sorriram em resposta. Ela pegou dois dos malões e arrastou para perto de um carro prata enorme. Era um Honda Xtreme 2017, o melhor da categoria. Scorpion não poderia saber o que significava, mas ficou de queixo caído quando viu o veiculo.

– Comprei algo para comermos. – disse Kenzie colocando os malões no porta-malas do carro.

– Por favor, diga que foi algo do Flars. – implorou Jenny esperançosa.

– E não é sempre de lá? – Kenzie revirou os olhos. – Aquele lugar ainda não faliu por sua causa, Jens.

– É porque a comida é boa. – protestou Jenny.

– Ok. – disse Kenzie – Pedi costelas com aquela batata para todos.

Jenny esfregou as mãos animadas. Ao ouvir falar em comida, Alvo nem pensou em protestar por estar entrando em outro meio de transporte. Dessa vez ficaram sentados por pouco tempo, chegando à casa da amiga em poucos minutos.

A noite estava escura devido a Lua nova. Eles só puderam admirar a casa contando com as luzes dos postes da rua. A casa era grande, possuindo dois andares e uma largura inexplicável. Ela era revestida de pedras escuras, como em Hogwarts, e possuía uma enorme torre exatamente no meio da construção. E quanto ao tamanho da casa, o quintal era incomparável: Havia grama e árvores por todo lado e até uma cerquinha branca limitando a propriedade.

– Você mora num castelo. – disse Alvo incrédulo.

– Não é um castelo. – corrigiu Jenny – Ela só tem uma torrezinha.

– A maioria das casas é assim por aqui, Alvo. – informou Rosa – Birmingham, a cidade medieval.

– Isso mesmo. – disse Kenzie piscando pra Rosa.

– É pequena. – observou Scorpion – Mas é muito bonita.

Pequena? – perguntou Alvo indignado – Por acaso você mora numa mansão?

– Morava. – corrigiu Scorpion com um longo suspiro.

A casa por dentro era muito diferente do que era por fora. Se a visão externa dava impressão de antiguidade, a visão interna apresentava o que poderia existir de mais moderno. Tudo era de inox e parecia ter vida própria, a tia de Jenny pisou no tapete e as luzes se acenderam, pegou um pequenino aparelho que podia ser escondido nas mãos e fez com que as chamas da lareira surgissem sem nem ao menos ter tocado na mesma.

– Jens, mostre os quartos a eles. – pediu Kenzie.

Jenny arrastou o malão com dificuldade até o segundo andar na casa, e mostrou os cinco quartos da casa pedindo para que eles se acomodassem em qualquer um.

– Não preciso de um quarto só pra mim. – disse Scorpion pensando no trabalho que levaria para arrumar todos. – Já estou acostumado a dividir com Alvo.

– Tudo bem, eu posso levar uma cama a mais pro meu quarto e Rosa dorme comigo. – disse Jenny dando de ombros.

Depois de devidamente instalados em seus quartos, eles desceram as escadas e se depararam com a mesa arrumada e com as quentinhas do restaurante sobre a mesma.

– Isso cheira bem. – elogiou Rosa.

– Então com certeza não foi a Tia K. que cozinhou. – riu Jenny.

– Você não deveria falar isso na frente deles. – disse Kenzie fingindo irritação – O que eles vão pensar?

Jenny riu novamente e sentou com seus amigos para começar a devorar as costelas com batata. Algo no bolso da Tia dela começou a apitar e ela levantou-se da mesa para checar o que era e ao encarar o aparelho, foi para o quintal. Quando voltou sua expressão estava desanimada e pedia desculpas silenciosamente.

– Jens, você pode cuidar da comida da ceia pra mim? – pediu Kenzie.

Jenny largou o garfo em cima do prato e encarou a expressão culpada da tia.

– Problemas?

– Terei que cobrir outro turno. – disse Kenzie mordendo a boca. – Devo voltar apenas de madrugada.

– Comprou o que eu pedi? – perguntou Jenny.

– Sim.

– Então tudo bem, vamos te esperar para comer. – garantiu Jenny com um sorriso compreensivo.


– Cuidar da comida? – estranhou Rosa quando estava arrumando sua cama improvisada.

– Eu sempre cuido, pra falar a verdade. – disse Jenny – Ela sempre põe fogo na cozinha.

– Você tem 11 anos! – protestou Rosa.

– Eu cozinho desde os 8 . –argumentou Jenny – No internato aprendíamos como cuidar de uma casa.

– Ok. – disse Rosa dando de ombros – Posso usar seu celular para ligar pra minha mãe?

– Claro. – disse Jenny pegando da gaveta do seu armário um aparelho cuidadosamente guardado.

Rosa discou o número e aguardou a mãe atender, torcendo para que ainda não estivesse dormindo.

– Alô. – disse uma voz sonolenta.

– Hey, mãe. – disse Rosa feliz. – Já estou na casa de Jenny.

– Legal filha. – respondeu Hermione – Chegaram direitinho?

– Sim. – respondeu Rosa – Só liguei pra desejar uma boa viagem.

– Eu quero te ver antes de ir. – disse Hermione – Pode me passar o endereço pra eu fazer uma visita?

Rosa mordeu a boca tendo absoluta certeza que iria levar um esporro por estar tão longe.

– Rua Walter, 145. Birmingham. – a última palavra saiu quase como um sussurro.

– Hmm, talvez devêssemos sair mais cedo de casa. – Concluiu Hermione – Alvo está com você?

– Sim. – respondeu Rosa.

– Scorpion também?

A pergunta a surpreendeu.

– Também.

– Ok. – respondeu Hermione. – Te ligarei quando sairmos de casa. Boa noite, querida.

– Boa noite, mamãe. – respondeu Rosa.

Ela devolveu o aparelho para a amiga.

– Tudo bem? – disse Jenny deitando em sua cama.

– Sim, ela vai passar aqui amanhã antes da viagem. – informou Rosa – Tem problema?

– Não. – respondeu ela – Talvez eu prepare um bolo para o lanche.

Jenny bocejou, juntou suas mãos – palma com palma - e olhou para o teto do quarto em silêncio. Rosa nunca entendera as manias da amiga e de todas, essa era a que ela ficava mais intrigada. Parecia um ritual que tinha que ser feito toda noite. Ignorando-a, deitou em sua cama e olhou ao redor do estranho quarto. Havia um jogo de espadas pendurado em uma parede e coisas inesperadas que você não veria em quarto de nenhuma criança normal. Mas quem queria enganar? Elas não eram normais e talvez nunca fossem - E havia certa beleza nisso.

– Boa noite, Rosa. – disse Jenny assim que terminou seja lá o que estivesse fazendo.

– Boa noite.



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Notas finais do capítulo

Acompanhem através do http://fanficaherdeira.tumblr.com/



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