O lugar era macabro, um castelo feito de pedras, úmido e escuro, iluminado por apenas algumas tochas fracas com distância de 10 passos entre cada uma, o limo cobria grande parte das paredes e as portas de madeira, grandes os suficiente para cinco humanos médios passarem juntos, estavam abertas – em uma podia se ver um lugar muito claro e talvez até aconchegante, na outra a noite caia fria, o céu era negro com alguns riscos vermelhos sem estrelas, um céu frio – olhei ao redor da sala e o que pude ver não foi agradável, a decoração era feita por instrumentos de tortura medieval, ouvi um barulho de correntes e de repente não estava mais sozinha ali, Jeremy e Chris estavam lá também, brigando. Eu sabia que eram eles e sabia que estavam lutando, mas não sei como, a única coisa que eu podia ver era dois feixes de luz, uma cinza e a outra branco-azulada, as luzes se entrelaçavam, separavam, faziam movimentos bruscos no ar, a cada vez que um movimento era concretizado eu sentia como se algo estivesse me sufocando, cada vez mais e mais, com o que restava de fôlego em mim, gritei:

–PAREM! –Como se tivessem ouvido uma ordem maior os dois pararam imediatamente, a figura de Chris eu via perfeitamente, via como tinha visto no outro sonho, com as grandes asas negras, porém Jeremy era um borrão, eu conseguia o reconhecer, mas a imagem dele não era tão nítida, a única coisa que gravei bem naquela imagem embaçada foram às asas que se projetavam, como em Chris. E foi exatamente Jeremy que quebrou o silencio:

–Você tem uma decisão a fazer. –Mesmo sem ele ter dito eu sabia que a decisão era entre ele ou Chris, ou o lado do Chris ou dele, por alguma razão aquilo me fez sentir medo e de repente foi como se eu tivesse dado voltas e voltas correndo de tão ofegante que eu estava, eu olhei para Chris, aqueles olhos castanhos cansados, cheios de lágrimas, parecia implorar para que eu acabasse com aquilo logo e que fizesse a decisão certa, no momento que meu coração dizia para eu acabar com a dor de Chris e andar até ele, me vi indo em direção ao Jeremy, olhei para trás, mas Christofer não estava mais ali. –Acordei ofegante como estava no sonho, aquilo, aqueles sonhos estavam me assustando e já fazia dias que eu não dormia tranquilamente, mas eu sinceramente não tinha esperado dormir tranquilamente depois da noite de ontem. Acordei e desci para tomar meu café, passei o resto da manhã inventando o que tinha acontecido na festa para a minha mãe, decidi não contar a verdade, muito menos sobre o Drew, então eu me vi obrigada a mentir, ela estava mais do que brava por eu não ter tirado fotos. Depois do almoço eu fiz as lições, arrumei meu quarto, desabafei com meu diário – sim, eu sou uma garota de 16 anos, que vive no século XXI, mas escreve em um diário, todos os dias. – a noite ia caindo e mamãe bateu na porta do meu quarto:

–Querida, vou ao super mercado. –O super mercado que mamãe gostava de ir era ao lado da praia, não seria uma má ideia dar uma passadinha por lá.

–Eu vou contigo mamãe, quero dar um pulo na praia.

–Tudo em, se apronte logo. –Prendi meu cabelo, coloquei um short e uma regata, meu chinelo e estava tudo perfeito, é.

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A praia estava vazia, o que era estranho para um dia quente, avistei um menino sentado sozinho, com o cabelo negro emaranhado pelo vento, cheguei mais perto e tive a certeza: Era Jeremy. Me sentei do lado dele.

–Oi. Eu queria me desculpar por ontem. –Ele me olhou e sorriu.

–Não foi tua culpa.

–Mesmo assim. –Eu insisti.

–Tudo bem. Mas, o que faz na praia a essa hora?

–Minha mãe foi fazer compras e eu vim pra praia, sabe? Espairecer um pouco. E você?

–Eu vim aqui, não sei porque vim aqui. –Ele deu uma risadinha. –Eu tenho que te contar uma coisa... –Eu gelei, talvez por causa do sonho dessa noite, enfim. –Eu vou estudar na Mediline High School a partir de amanhã. –Eu sorri surpresa e aliviada.

–Que bom Jer! Posso te chamar de Jer né? –Ele sorriu.

–Pode.

–Mas por que vai sair da escola de piano?

–Ah, minha mãe quer que eu fique mais perto da minha queria priminha.

–Argh, to vendo que a gente não vai se falar no colégio.

–Claro que vai!

–A Housh não vai deixar.

–E por um acaso ela manda em mim? –Eu sorri, ele era a primeira pessoa que queria mesmo estar comigo.

–Sabe que eu sempre quis aprender a tocar piano? Meu pai tocava, mas não teve a chance de me ensinar, o piano dele esta até hoje lá em casa.

–Eu posso te ensinar.

–Quer ir lá pra casa?

–Pode ser. –Esperamos mamãe sair do supermercado e fomos para a minha casa – tive a impressão, impressão corretíssima alias, que mamãe tinha adorado o Jeremy – Quando chegamos subimos primeiro para o meu quarto, ele queria ver meus discos do Radiohead. Eu mostrei os que eu tinha – ou seja, todos – e a gente ficou comentando um pouco sobre eles sentados na minha cama, eu estava me divertindo conversando com ele e eu não podia evitar o sorriso que me aparecia no rosto enquanto ouvia a voz dele, era involuntário - e eu tive aquela sensação de estar sendo observada de novo. Saímos de lá para o quarto do piano, eu me sentei ao lado de Jer e observei ele tocar graciosamente, ele até tentou me ensinar, mas eu era um tremendo desastre.

–Você tem que deixar a mão leve Nena. –Eu tentei de novo e foi horrível.

–Eu desisto! –Falei, indo sentar no sofá, cruzei os braços e fiz bico. Jer riu e continuou tocando, ele era lindo tocando. Ta, ele era lindo de todo jeito mesmo, é. Ele foi embora depois de uns quarenta minutos, afinal no outro dia tínhamos que ir pro lar do capeta, quer dizer, escola.

–Você disse que me amava. –Sussurrou Chris em meu ouvido.

–Você disse que nunca iria embora. –Eu sussurrei de volta, abraçando-o forte, mas assim que eu o toquei Chris desapareceu e eu me vi sozinha naquela imensidão branca, na verdade eu não estava sozinha, lá no horizonte eu vi alguém, pequenino por causa da distância, Jeremy. –O despertador tocou e eu acordei em um pulo, fiz a higiene matinal, coloquei uma calça jeans, uma blusa regata por baixo e minha camiseta do Radiohead amarrada de lado por cima, meu all-star surrado, minha mochila e desci para o café, comi um pouco e fui pra escola, me sentei no meu lugar habitual, estava entretida com meu Ipod até que algo aconteceu e todas as meninas da sala pararam o que estavam fazendo pra olhar, Anne Housh McOnel e seu querido primo Jeremy Housh Patz chegaram, Jeremy estava mais lindo do que o habitual com seu jeans surrado, all-star e sua camiseta do Radiohead, dava pra ver a maioria das meninas babando nele, ele sorriu pra maioria delas, mas fez algo surpreendente, caminhou até mim e sentou ao meu lado, eu fiquei meio sem reação, chocada – assim como Anne e todas as meninas da sala – ele me cumprimentou com um beijo no roto.

–Não me lembro de termos combinado de virmos com a mesma camiseta hoje. –Eu ri ao reparar que nossas camisetas eram iguais.